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Tradução: Note | Revisão: Ashford
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Capítulo: 05: Parte 02
Além da natureza turbulenta do jogo de cartas jogado por Teru e Chinami, a mansão ficou estranhamente quieta hoje. Se ambas as mulheres não estivessem disponíveis pelos propósitos da distração, Ayame não podia deixar de imaginar como seu dia teria sido cheio de nada além daquelas imagens horríveis em sua mente de novo.
Não apenas a excursão da última noite, mas incidentes que já passaram há tempos; assim como pensamentos intrusivos e violentos das coisas que virão. Pensar sobre todo o sangue e odores era dificilmente uma boa memória de se abrigar. O trauma era um fantasma que permanecia por tempo demais no abismo da mente, e era algo de que Ayame Tokugawa era dolorosamente familiarizada com, ao ponto de se enfurecer descontroladamente.
O apelo de jogar cartas desapareceu depois que Chinami se retirou, deixando ambas Teru e Ayame rigidamente entediadas no salão. Teru se moveu para se sentar no sofá com alguns outros membros do clã para assistir à televisão estúpida, enquanto Ayame havia optado por ficar sentada à mesa, folheando um guia de viagem de Kyoto que alguém havia deixado por lá.
Mesmo que ela tenha pego o folheto com a mente dormente de tédio, Ayame se encontrou estranhamente atraída pelas fotos da arquitetura histórica contidas do guia; mesmo que cobrisse grande parte do entretenimento e cultura que Kyoto tinha a oferecer, os tempos, em particular, ainda a encantavam.
Para o grande deleite de Ayame, o templo pelo qual frequentemente passavam no caminho para a cidade, tinha um pequeno parágrafo dedicado a ele. Era chamado templo Tejima, e apesar de ser relativamente pequeno e diferente de alguns dos templos mais conhecidos de Kyoto, era famoso do seu próprio jeito.
Tejima era reconhecido não apenas pela mata particularmente bonita que o cercava, mas também por abrigar uma das estátuas mais antigas do município de Shiisa. Ayame se viu incapaz de tirar seus olhos da página, cuidadosamente estudando a fotografia e deixando a tranquilidade de tal lugar lavar seu próprio ser.
É claro que, como sempre, justo quando ela finalmente começou a se sentir em paz, a porta do salão foi imprudentemente aberta com um ruído desagradável. Ela nem precisava se virar para saber exatamente quem era.
“Ah, ótimo…” Ela murmurou.
“Ah? Minha nossa, parece que hoje nós realmente não conseguimos ficar longe uma da outra, Ayame-chan.”
Virando-se novamente para a fonte familiar da voz, Ayame foi cumprimentada pela expressão desagradável que Dona consistentemente usava. Ela tinha talento para aparecer nos piores momentos possíveis.
“Você de novo? Você está realmente me dando nos nervos hoje.”
Dona riu. A luz através de seus olhos permaneciam mortas, como sempre.
“Aww, não seja assim…” ela disse com um tom de voz doce e falso. “Como pode falar tão cruelmente com o amor da sua vida?”
Ayame permaneceu quieta, mesmo que sua mandíbula estivesse visivelmente rígida. Apesar de todos os sinais, Dona continuou a cutucar o urso.
“Aquele olhar terrível em um rosto tão bonito… Eu realmente te amo, Ayame-Chan.”
De repente, pareceu como se um graveto tivesse se quebrado com um ruído alto debaixo dos pés de Dona.
Agarrando-a de forma bruta pela garganta com um impacto rápido como a luz, os dedos de Ayame se curvaram ao redor da pele e a bateram contra a parede com um baque violento. Um bando de suspiros ecoaram dos membros sentados no sofá, olhos agora colados na cena que se desdobrava diante deles.
“A-Ack…!”
“Ayame!” Teru chamou, pulando em pé; mesmo que essa fosse a Ayame que ela nunca alcançaria com palavras.
Rapidamente pressionando seu corpo contra o de Dona para mantê-la no lugar, Ayame sentiu uma sensação crua de violência tomar conta de seu corpo conforme ela lutava contra a habilidade de resistir da mulher debaixo dela.
“Me chame de Ayame-Chan mais uma vez…” Ayame começou, “e vou ouvir o som da sua traquéia sendo esmagada nos meus dedos com um sorriso no meu rosto.”
Dona riu, mesmo que Ayame a segurasse violentamente contra a parede. Teru observava com bastante preocupação.
“Você… tem reflexos impressionantes… não é? Mesmo eu… não pude ver isso viindooo–! Ghaah…!”
O aperto de Ayame se intensificou conforme a típica expressão inabalável de Dona começou a ficar vermelha. O sorriso em seu rosto desvaneceu imediatamente.
“Você entendeu? Eu realmente vou te matar… mesmo que eu tenha que sofrer a punição por isso.”
“Ayame, solte-a logo!”
O sorriso irônico de Dona começou a sumir por desespero.
“E-eu entendo…! Escute… escute sua irmã…!”
Conforme o rosto de Dona começou a assumir todas as cores do arco-íris, Ayame soltou o aperto e Dona caiu de joelhos. Teru soltou um suspiro pesado.
“Sério…” ela resmungou e sentou-se no sofá, como se nada tivesse acontecido.
Dona engasgou e se contorceu miseravelmente no chão, antes de olhar para cima e ver Ayame com um sorriso irônico e um rubor delirante espalhado pelo seu rosto pálido.
“Aah… se apenas… Se apenas você não fosse a filha da minha chefe,” Dona riu.
“eu faria com você o que sonho acordada o tempo todo.”
“Que é?”
Dona riu, apesar da dor na garganta.
“Eu cortaria esse seu rosto bonito em tiras.”
“Hmph… acho que não posso impedi-la de sonhar, não é?” Ayame respondeu seca para o sorriso permanente e deslocado sorriso de Dona. “Pervertida.”
“Aah… você vai me deixar toda excitada se falar desse jeito…”
“Credo.”
Dona se levantou novamente, levemente cambaleante conforme ficava de pé. Como se nada tivesse acontecido, ela tinha retornado para o seu risinho habitual em um instante, balançando nos calcanhares enquanto dava uma boa olhada ao redor do salão
“Ah, eu quase esqueci em meio ao nosso momento de paixão! Você viu a
Chinami-chan?”
Um flash branco de raiva momentaneamente cegou Ayame; uma pessoa que ela odiava tanto mencionar alguém que ela gostava muito simplesmente não a agradava.
Teru também observou com atenção do sofá, por cima do som do game show que passava na televisão diante dela.
“Não.”
“Aah, mesmo? Mas eu tenho algo muuuito importante que preciso pegar dela…” Dona choramingou, fingindo inocência enquanto balançava as mangas de seu quimono para frente e para trás.
“Experimente checar as salas de banho.” Ayame mentiu descaradamente. As salas de banho ficavam no segundo edifício, no completo lado oposto da propriedade Tokugawa; uma boa caminhada de vinte minutos que manteria Dona fora do seu pé por algum tempo.
Todos na sala sabiam que aquilo era mentira, no entanto, ninguém disse uma palavra sequer sobre o contrário.
“Certo… Presumo que você não queira se juntar a mim no banho, Ayame-chan? Vou lavar suas costas para você, e se mais ninguém estiver lá… poderíamos até… ehehe…”
Ayame se virou para olhar para a risonha Dona, em pura descrença.
“Você não sabe mesmo a hora de parar, sabe? Dá o fora daqui.”
Dona tinha saído despercebida da sala antes mesmo que Ayame tivesse tempo de finalizar sua sentença. Teru lançou um joinha para sua irmã, mesmo que parecesse que toda a energia positiva que ela e Chinami haviam ajudado a construir no coração de Ayame havia evaporado com a mera visão de Dona.
O que diabos ela quer com a Chinami, afinal?
“O que diabos ela quer com a Chinami, afinal?”
Ayame quase gritou ao ouvir Teru dar voz aos seus pensamentos.
“Quem sabe? Estou feliz que ela já foi embora.”
Ayame não tinha nem percebido que estava cerrando os dentes brutalmente durante sua interação. Aliviar a pressão na mandíbula fez a dor se instalar terrivelmente. Teru percebeu seu abalo e a observou quieta, com as sobrancelhas se unindo em preocupação.
“Você está bem? Sinto que você precisa de assistência médica toda vez que a
Dona chega de mau humor…”
“E você estaria certa.” Ayame murmurou. Ela ficou em pé, enfiando as mãos nos bolsos conforme se dirigia à saída do salão. Teru a seguiu com um murmúrio interrogativo, sua visível confusão apenas aumentava à medida que Ayame se colocou de frente para as portas da frente da mansão.
“Ei, você não está pensando em sair hoje à noite, certo…?”
“E o que você tem a ver se eu estiver?”
Teru deu de ombros e alguns fios de cabelo soltos que faziam cócegas em sua testa rebateram contra ela com o movimento. Apesar dela ter soado entretida, a preocupação estava estampada nas suas expressões.
“Só não é do seu feitio ir contra as regras, eu acho.” Ela admitiu. “Para onde está indo? Vou com você.”
“Só vou dar uma volta para descontrair. Não vou longe o suficiente para entrar em problemas, então não se preocupe comigo…”
“Não me preocupar com você? O que as irmãs são, se não para se preocuparem umas com as outras? Além do mais, às vezes você é burra igual uma porta, então alguém tem que tomar conta de você.”
“Sinto que deveria me sentir ofendida, mas sei que quis dizer com amor.” Ayame disse, mesmo que não conseguisse esconder o sorriso genuíno que a preocupação descarada conseguiu colocar em seu rosto. “Sério, fico fora por uma hora, no máximo. Prometo.”
“Mas enfim, que tipo de situação do avesso é essa? Eu fiz uma tatuagem nova e você que está quebrando o toque de recolher?”
Ayame riu, acenando uma mão para trás, ela já estava do lado fora da porta, antes que qualquer um pudesse impedi-la.
Era bom sair da agitação da mansão Tokugawa em qualquer momento do dia, mas especialmente depois do ponto em que Ayame sentiu a vontade incontrolável de estrangular a Dona para ganhar um pedacinho da sua vida.
O ar frio da noite do lado de fora era um alívio bem-vindo, como sempre havia sido; e na mente de Ayame, tinha apenas um lugar ao qual realmente queria ir, que se tivesse admitido para Teru, ela provavelmente ganharia mais que alguns risos e um olhar de descrença.
Templo Tejima – um lugar que sempre chamou sua atenção, assim como antes de Dona estragar tudo de novo.
Depois de uma caminhada rápida e animadora, Ayame sentiu suas pernas finalmente desacelerarem até uma parada gradual à medida que seus olhos se encontraram com o que, para qualquer outro a pessoa, seria uma vista assustadora. Talvez fosse a natureza saindo, ou talvez fosse o fato de que ela era um tipo de garota anormal; mas a visão de um templo escuro de noite deixava sua mente tão em paz que frequentemente refletia se moraria aqui se pudesse.
“… Graças a Deus.” ela exalou baixo e começou a subir os degraus, enquanto seus cabelos dançavam ao vento.
Pulando de dois em dois, Ayame descobriu que ela mal podia conter sua alegria em um lugar assim. A natureza imparcial dos templos em relação ao mundo horrível ao seu redor não era nada além de um perfeito conforto, e um que ela saboreava quanto mais ficava aqui.
Ela podia sentir o cheiro do calor do verão pendente no ar conforme se apressava nos degraus, fechando os olhos para imaginar como deve ter sido ver a brilhante luz do sol nas folhas que agora cercavam cada movimento seu e, eventualmente…
“Uau…!”
Ela chegou no topo da escadaria; e diante dela estava o templo Tejima em toda sua glória.
Uma visão linda de se ter, Ayame se sentiu surpresa com a visão da luz iluminando seu entorno. Se esse fosse um local mais rural, não há dúvidas na mente de Ayame de que esse tipo de área seria um breu, mas como era mais próximo do centro da cidade, ela estava grata de que haviam luzes esparsas para guiar seu caminho.
As altas vigas vermelhas dos portões do templo a envolviam enquanto passava por debaixo delas, e os pequenos edifícios de madeira ostentavam ricas tapeçarias da história que Ayame realmente queria conhecer. Ela não tinha encontrado o tempo de se devotar a ver sobre a história local ou qualquer coisa remotamente religiosa, então fazia sentido que aqui era exatamente onde suas paixões pareciam mentir. A ironia de estar tão investida na procura pela paz e tranquilidade não estava perdida nela, apesar de ser algo que frequentemente empurrava para o fundo de sua mente pelo bem de uma boa noite de sono.
Seus passos a carregaram ao longo do pavimento sem nem pensar para onde estava indo. Seus olhos estavam maravilhados com as visões de cores e quietude; um belo exemplo de fé, esperança e tradição unidos em um lugar cercado por poderosos vermelhos ardentes, e o verde vívido das árvores do verão.
“Queria que eu pudesse ficar aqui…” Ayame murmurou para si mesma e acendeu um cigarro, enquanto ficava na leve brisa da noite de verão. “Porra.”
Seus olhos pareciam tão cansados.
Pensamentos sobre o dia que teve correram pela sua mente. Dona,
Chinami, Teru, Akira. Tanta ansiedade. Hoje ela até mesmo quase viu Teru levar um tiro na cabeça pela sua própria mãe, e mesmo assim, cá estava ela, ainda de pé.
“… Para onde minha vida está indo?”
A pergunta que nunca havia passado pelos seus lábios saiu de repente em um soprar de fumaça.
Onde minha mente está? Para onde estou indo com essas coisas?
Eu quero isso?
Antes mesmo que Ayame pudesse refletir sobre o assunto de seus futuros anseios, ela de repente sentiu um enorme forte golpe na parte de trás da cabeça e o baque de seus joelhos conforme caiu no concreto.
Alguém tinha seguido Ayame até aqui… e esse alguém não tinha apenas violado o lugar sagrado do templo de Tejima, mas também se infiltrado em seu silêncio – e isso significava que, quando Ayame Tokugawa acordasse, eles teriam um inferno para pagar.