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Tradução: Note | Revisão: Ashford
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Capítulo 06: Parte 01
A primeira sensação que toma conta dos sentidos de Ayame é a dor aguda na sua cabeça. Essa sensação não é incomum, se bem que acordar de tal fato seja. Uma dor de tal calibre seria suficiente para despertar quase qualquer pessoa de um sono indesejado – alguém tão dura quanto ela não é exceção.
A segunda é o jeito que seus olhos têm dificuldade para abrir, suas pálpebras pesadas com um movimento vagaroso e forçado ajustando-se à escuridão do cômodo que a cercava era difícil o suficiente como estava. Mas quando os arredores eram iluminados por apenas uma escassa e solitária lâmpada pairando sobre sua cabeça, parecia menos com um quarto e mais com um vazio negro.
A sensação final é uma que a preocupa um pouco mais, que é a realização desconcertante de que não podia mover os braços ou pernas. Um pânico frio e cego corre por ela por um momento, ao passo que assume o pior; o pensamento horrível de que ela deve ter sido desmembrada enquanto estava inconsciente.
Por sorte, essas preocupações foram rapidamente descartadas pela visão de suas pernas, mesmo que essas pernas estivessem amarradas à cadeira em que atualmente estava sentada. É claro, lutar contra essas amarras se provou inútil.
Ah, caralho. Onde eu estou…?
Conforme o questionamento duvidoso de uma localização incerta chacoalha pelo seu crânio dolorido, Ayame descobre que não lhe é concedido nem um momento de descanso tranquilo para refletir sobre onde ela está, ou apenas quem poderia tê-la atacado, antes que a pergunta seja respondida para ela.
A resposta vem na forma de uma gargalhada perfurante, emitida de um dos cantos escuros da sala. O olhar penetrante de Ayame é atraído na direção do som, e os impulsos violentos que ela pode sentir por dentro estão se emergindo como uma temível bolha de fúria.
Quem, em toda Kyoto, teve os culhões de erguer uma mão contra ela? Quem era estúpida o suficiente para pensar que poderia sequestrar uma das herdeiras do sindicato Tokugawa sem repercussões? A culpada deve ser mesmo uma idiota.
A risada só continuou a crescer, seguida por sons de uma cadeira arranhando a madeira opaca do chão; e, à medida que os passos lentos ecoando através do cômodo vazio começaram a desacelerar até uma parada, finalmente foi concedida a Ayame a visão completa de quem essa misteriosa assaltante era.
Nenhuma das perguntas de Ayame foi respondida, visto que ela não reconheceu a mulher que estava diante dela.
“Quem caralhos é você?” Ayame perguntou com um tom rosnado. A mulher enfiou as mãos nos bolsos da jaqueta com um sorriso convencido e tomou seu tempo ao andar em direção a Ayame.
“Quê? Você não me reconhece?!”
“Não posso dizer que reconheço.”
Ela tinha uma aparência bem marcante, isso Ayame tinha que admitir.
A mulher tinha um cabelo longo e ruivo derramado em suas costas, e franjas que descansavam logo sobre seus olhos. Estava vestida em um conjunto completamente branco, uma jaqueta branca com detalhes em pelo preto, calças brancas e sapatos brancos elegantes para combinar.
O sorriso que ela usava era selvagem, afiado e desequilibrado; era como encarar a boca de um animal raivoso. Porém, o que mais se destacava para Ayame, eram os olhos da mulher. Até ali, debaixo da luz opaca desta sala estéril, suas íris eram quase um branco pálido – leitoso, translúcido e de aparência quase frágil, mesmo que sua expressão fosse nada além do completo oposto.
“Você deve ser burra pra caralho se não sabe sobre mim!” A mulher riu. “Vamos lá. Olhe bem. Uma vadia da Yakuza igual você nunca me viu antes? Ou ouviu falar de alguém que se encaixa na minha descrição?!”
Ayame balançou a cabeça.
“Sinceramente, não tenho a mínima ideia de quem caralhos é você. Acho que, seja qual for o filme de que participou, foi cancelado.”
O sorriso da mulher caiu em um rosnado de desaprovação.
“Então permita que eu me introduza!”
Ayame ouviu o tapa agudo em seu rosto ecoar pelo cômodo antes mesmo que ela o sentisse. Ela piscou em surpresa, não doeu exatamente, mas a havia pego desprevenida. Ela cuspiu um fio de sangue do impacto.
“Sou a Hazuki Mishima,” a mulher continuou, e flexionou as mãos depois. “Tenente do Clã Mishima. A porra do prazer é todo meu!”
Os olhos de Ayame finalmente piscaram com o vago reconhecimento.
Ah, é mesmo. As irmãs Mishima são um par de ruivas bonitas que se vestem de forma chamativa e agem como loucas, não são? Acho que ela se encaixa ao pé da letra.
“Ah, uma Mishima…” Ayame respondeu com uma indiferença que sabia que irritaria alguém tão impetuoso. “Se não é a Mirai, deve ser a idiota de pavio curto de que tanto ouvi falar. O que você quer comigo?”
Ayame foi tratada com um segundo tapa pela falta de respeito com Mishima. Infelizmente, para ela, esse foi muito mais forte que o último e fez com que Ayame cerrasse um pouco os dentes pelo impacto.
“Se eu sou a idiota, o que isso faz de você? Uma idiota que estava rondando perto do território Mishima e foi pega por mim! HAHA! Sua sorte realmente é uma merda! Primeiro por ter nascido na família Tokugawa, e agora porque essa sala será o seu túmulo!”
Ayame ironizou e virou os olhos. A expressão confusa de Hazuki se transformou na de um rosnado de pânico.
“Desde quando a Família Mishima detém qualquer área perto do território Tokugawa? Você não está fazendo nada para ajudar a provar que não é a estúpida aqui, sabe.”
Dessa vez, ao invés de um tapa, Ayame teve que aguentar um soco no rosto. Ela grunhiu pelo impacto e Hazuki apanhou uma mão na parte de trás do cabelo bagunçado de Ayame, puxando sua cabeça para trás.
“Diga o que estava fazendo no templo Tejima tão tarde da noite.” Hazuki resmungou, inclinando-se para perto do rosto de Ayame. Apesar de todas as suas travessuras violentas, pelo menos um cheiro agradável pairava ao seu redor, uma mistura inebriante de perfume caro e álcool destilado que pairava sobre as roupas de Hazuki.
Perdida pelo que dizer, Ayame suspirou.
“Estava fora caminhando.” ela finalmente respondeu. Quero dizer, pelo menos era a verdade.
“BESTEIRA! Besteira, besteira! O maior! Monte! De besteira! Que eu já ouvi.”
Hazuki violentamente chutou os calcanhares de Ayame com cada palavra. Aquilo era algo realmente machucava, mas ela fez seu melhor para não demonstrar.
“… Eu gosto de templos e parei naquele enquanto estava fora tomando um ar fresco.” Ayame explicou de forma simples, com sua cabeça pendendo para baixo. Nessa posição, tinha pouco mais que ela podia fazer para se explicar, e ela certamente não estava no clima de gritar e chorar por uma punk assim.
Ela estava se surpreendendo com o quão calma estava se mantendo, apesar de tudo que estava acontecendo. Talvez fosse pelo fato de que, apesar dos surtos violentos e o comportamento desequilibrado de Hazuki, Ayame não se sentia nem um pouco intimidada por ela.
Hazuki se ajoelhou e então agarrou o queixo de Ayame, forçando sua cabeça para cima para encontrar os olhos selvagens que traíam o sorriso doce e gentil que estava estampado em seu rosto.
“Escuta, Tokugawa… estou tendo um dia bem ruim hoje. Minha querida mãe levou sete balas na cara e agora eu tenho que desperdiçar um dia, indo ao funeral daquelas vadias amanhã.” Hazuki explicou, mantendo seu tom de voz doce e açucarado que dava nos nervos de Ayame. “Então, se você puder colaborar e me dizer o quero saber, nós duas podemos sair daqui com nossas vidas. Certo?”
Ayame parecia atordoada com a natureza francamente sincera do que Hazuki estava dizendo. Ela quase esqueceu, no meio de tudo, que Hazuki era a filha da recém falecida matriarca Mishima. E se referindo à mãe sem nenhum carinho…
Ayame pausou pelo pensamento no meio de suas emoções tempestuosas.
Posso apenas imaginar as emoções estranhas correndo pela cabeça dessa garota hoje… Acho que só vou continuar a irritando.
“Ah, Ryuko Mishima, certo… ouvi falar.”
Hazuki permaneceu quieta, para variar. Ayame continuou, sorrindo com uma risada tossida.
“Você não parece estar se importando, então eu deveria me dar ao trabalho de oferecer minhas condolências?”
Ofendida por uma observação tão irreverente, Hazuki atacou Ayame com outro chute violento desenfreado; dessa vez, diretamente no joelho.
“Mantenha suas gentilezas para você, bastarda. Não me importo em ouvi-las, e ela não as merece.”
Não as merece, hah… Imagino pelo quê essa garota teve que passar.
“É, sentiria o mesmo se minha mãe caísse morta amanhã. Elas parecem estranhamente similares. Sua mãe e a minha, quer dizer.”
Por um momento, Hazuki vacilou com o equilíbrio inesperado da conversa; antes de um ágil gancho no queixo fez os dentes de Ayame se cerrarem brutalmente.
“NÃO fale como se entendesse minha situação.” Hazuki gritou enraivecida, apesar de que Ayame poderia dizer que isso foi mais uma retaliação com carga emocional do que qualquer outra ação até agora. “Sua vadia presunçosa!”
Essa pequena troca deu início a pelo menos uma hora de violentas idas e vindas entre Hazuki Mishima e Ayame Tokugawa. Hazuki demandaria para saber porquê Ayame estava no templo Tejima, e sempre que Ayame repetia sua resposta verdadeira ou optava por não dizer nada, ela era atingida em algum lugar diferente.
Ayame definitivamente podia ver como a reputação de tortura do clã Mishima procedia. Era claro que Hazuki sabia de todos os pontos macios e mais dolorosos do corpo, e certamente onde cada junta era mais afetada quando atingida. Cada parte de seu corpo parecia tremendamente dolorido, e Hazuki não mostrava nenhum sinal de desacelerar, até que tivesse o que queria.
Foi uma irritação longa, dolorosa e prolongada, mas ainda sim, Ayame se sentia tudo, menos amedrontada. Não era nada comparado com o que teve que aguentar em casa diariamente.
“PORRA! Odeio vocês, vadias Tokugawa! Vocês são irritantes pra caralho!”
E pensar que fui ordenada a ficar em casa para uma noite tranquila. Como diabos se tornou nisso…?
Depois que algum tempo havia passado, ambas Hazuki e Ayame estavam atingindo seus limites.
Ayame estava finalmente começando a ficar cansada por ser acertada repetidamente, o que significava que, pela parte da Mishima, era muito menos divertido continuar a atormentando. E a dita Mishima, por outro lado, apesar de ainda estar emanando energia, estava começando a ficar cansada da situação em que tinha se prendido.
Ayame a observou silenciosamente.
Era fascinante o jeito que Hazuki parecia como se estivesse totalmente perdida sobre o que fazer ou para onde ir quando as coisas não saíram do jeito que havia planejado. Resmungando e murmurando sob a respiração, andando erraticamente para frente e para trás, chutando as paredes com um xingamento alto nas horas mais estranhas… muito raramente, ela tirava seu celular do bolso e fazia uma chamada frenética e apressada que duraria um minuto no máximo.
Ayame se encontrou imaginando só o que aconteceu na vida diária de Hazuki Mishima – talvez mesmo em sua educação num geral – que a fez agir de forma tão bizarra e imprevisível.
Era estranho. Em qualquer outra situação assim, Ayame estaria xingando o tempo todo, ameaçando seu sequestrador a cada passo do caminho, esperando ansiosamente o momento que ela deixaria sua guarda baixa para que pudesse usar toda sua força para ensiná-las uma lição. Mas tinha algo sobre Hazuki Mishima que fazia Ayame sentir pena dela, mesmo depois de tanta violência.
Era o olhar morto atrás de seus olhos? Ou eram os modos óbvios pelos quais estava processando o luto por alguém que claramente a amedrontava no passado?
…. Um pensamento atingiu Ayame enquanto estava sentada em silêncio com Hazuki diante dela, e de repente, pareceu como se uma peça finalmente se encaixasse no quebra-cabeças.
Talvez seja porque não somos tão diferentes. No final de tudo… ela é alguém como eu, não é?
Pela primeira vez em sua vida, Ayame experimentou um breve momento de lucidez conforme assistia Hazuki desferir outro soco.
… É assim que eu pareço para as outras pessoas?
“Por que está fazendo isso?”
Hazuki se virou para olhar para Ayame com um clique selvagem; o primeiro som de sua voz em horas a pegando desprevenida.
“Quê?”
“Por que está fazendo isso?” Ayame repetiu calmamente. “Descontando suas frustrações em mim desse jeito. Porque é óbvio para mim que é isso que está fazendo aqui.”
Como se uma chave tivesse virado, cada traço errático de imprevisibilidade evaporou de Hazuki em um instante. Sua expressão, sua linguagem corporal, sua voz; em um mero momento, era como se tivessem sido retornados ao normal.
“Bem… eu tenho muito ressentimento acumulado em relação à minha mãe morta e preciso de um escape para toda essa energia negativa. Sou uma garota muito triste. Uma triste, triste garota que só precisa de atenção.”
Apesar de Hazuki ter falado de modo uniforme, Ayame podia perceber que algo estava… errado.
Suas sobrancelhas franziram em confusão à medida que observava Hazuki procurar algo dentro de sua jaqueta; o suave som familiar do clique das maquinações de uma arma alcançaram os ouvidos de Ayame.
E bem assim – era só uma questão de momentos antes de Hazuki Mishima eliminar sua presa com uma pistola.
“Sua maldita psicóloga de poltrona de merda!” Hazuki fervilhou, atingindo Ayame novamente. “UGH! Achei a PIOR filha da puta possível para amarrar em uma cadeira! Me psicanalisando? Estou cansanda da mera visão de você, quer saber?! Estou meio decidida a atirar em VOCÊ sete vezes na cara e acabar com isso!”
Uma ideia surgiu para Ayame. Uma ideia que, se apresentada a ela quando estava se sentindo especialmente inundada de adrenalina, ela a aceitaria com um sorriso no rosto.
Ela de algum modo se inclinou para frente na cadeira e lançou um sorriso provocador para Hazuki.
“Se é assim que realmente se sente, por que não achamos um jeito prazeroso de resolver isso?”
“Eu não quero transar com você, se é aí que está querendo chegar.” Hazuki disse rapidamente.
“Quê?! Qu– não. Não é nem perto de onde eu queria chegar.” Ayame respondeu vividamente. “Porra, não.”
“Ah… espera, o que quer dizer com ‘porra, não’?!”
“Por que está soando tão decepcionada?!” Ayame hesitou. “Ugh, só escuta. Eu quero lutar com você. Sem truques, sem armas. Só você, eu e nossos punhos.”
Hazuki zombou alto.
“Você deve mesmo achar que sou uma idiota do caralho em proporções épicas. Por que eu soltaria você dessas amarras para me socar?”
“Você está me dando uma surra há horas, Mishima. Você obviamente tem uma vantagem aqui, já que não estou na minha melhor forma, não concorda?”
Hazuki mordeu seu lábio inferior, seus dedos contraindo maníacamente contra a área de gatilho da pistola que estava segurando, conforme seus pensamentos faziam hora extra. Mesmo que ela não tenha respondido verbalmente de imediato, Ayame podia dizer que ela estava ao menos considerando a proposta.
“A não ser que você seja uma covarde de merda para me enfrentar. Acho que minha reputação me procede, mesmo nos círculos Mishima.”
“E o que eu ganho com isso?”
Ayame conteve um sorriso. Quase a peguei.
“Farei… o que você quiser, eu acho.”
De repente, Hazuki parecia bem séria.
“Qualquer coisa?” Ela perguntou, curiosa. “Está falando sério? ”
“Você tem minha palavra.” Ayame a tranquilizou. “Pela minha honra como Tokugawa.”
Hazuki parou, e repentinamente, seus olhos morteiros começaram a se acender com uma promessa de algo verdadeiramente espetacular.
“Então, se eu ganhar… você vai desertar dos seus idiotas no sindicato Tokugawa e se juntará às Mishimas!”
Ayame piscou, enquanto Hazuki gargalhava.
“… Hã? É isso que você quer?”
Ayame soltou um pequeno ruído de surpresa quando Hazuki pulou para trás da cadeira e começou a desfazer os nós que a seguravam no lugar.
“Preciso de alguns recrutas fortes na minha família,” Hazuki disse com um risinho. “e você se encaixa bem. Você resistiu a um ataque considerável por um tempo! Uh, mas não tome isso como um elogio.”
“Ah, certo. Não irei.”