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Tradução: Note | Revisão: Ashford
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Capítulo: 05: Parte 01
Depois dos eventos que se desenrolaram dentro das paredes do escritório de Akira Tokugawa, ambas Ayame e Teru estavam mais do que gratas por estarem sentadas na sala de jantar com um baralho jogando cartas, dois maços de cigarro e um copo alto cheio até a borda com rum aguado para ambas.
“Blackjack? Ou Pôquer?”
“Vamos tentar Blackjack primeiro,” Ayame respondeu a Teru enquanto via sua irmã embaralhar as cartas com um ruído preciso e rápido das superfícies colidindo umas com as outras. “Eu não tenho energia para beber muito hoje.”
“Não brinca. Depois de ontem à noite, não estou surpresa.”
Teru começou a entregar as cartas e Ayame não pôde evitar olhar para a tatuagem recém feita que estava gravada no rosto de Teru.
“Cara. Qual é a dessa porra, mesmo? Você realmente achou que estampar ‘Endure’ na sua cara era uma boa ideia?”
(sfx: Endure = Aguente)
“O quê? Você não gostou?” Teru perguntou, com um cigarro equilibrado no canto da boca. “Qual foi, você não acha que é bacana? Eu acho que é bacana.”
“Não! Eu acho que você parece super durona e você não é nem um pouco.”
Teru riu.
“Aw, sou tão mole assim? Que pena. Por que você não faz uma tatuagem para combinar com a minha? As garotas não vão conseguir resistir ao nosso charme, sabe. Você deveria fazer algo tipo –”
“Nem fudendo. A tatuagem nas minhas costas é mais que suficiente para mim… sem mencionar a dor infligida a mim por ter que falar com todos aqueles merdinhas todo dia.”
“É…” Teru suspirou em irritação. “Bem, tente não pensar muito sobre isso. Aqui estão suas cartas.”
Ayame pegou as cartas com um ruído satisfatório ao arrastá-las pela mesa, apesar de que se ela quisesse impedir Teru de trapacear nesse jogo agora, o melhor jeito era simplesmente não jogar. Porém, ela queria esquecer sobre a sua vida por um momento e Teru – sempre profissional quando o assunto eram distrações – era a melhor pessoa para ajudá-la com isso.
“Mirai Mishima, hein…?” Teru disse pensativa, segurando a borda do copo enquanto girava os cubos de gelo devagar. “Ela é uma moça pra lá de assustadora, se o que estão falando é verdade.”
Ayame parou para pensar.
“Imagino se ela matou a própria mãe.”
“Mm… você não acha que algo do tipo não cairia bem para o grupo delas, mas as Mishimas sempre foram bastardas insanas.”
Ayame levantou uma sobrancelha com uma careta e colocou as cartas na mesa igual as de Teru.
“Eu realmente não quero ir a esse funeral,” Ayame confessou com um grunhido. “Parece que vai ser um circo de horrores.”
“Veremos se a mãe estava certa ou não sobre a Presidente ter um caixão fechado, né? Se eles forem adiante com isso, é como se admitissem que estão mentindo sobre a causa da morte.”
Ayame parou.
“Sabe de uma coisa, Teru? Eu concordo com ela.”
Teru levantou os olhos em surpresa e começou a entregar novamente as cartas para ela e Ayame com uma suave batida na mesa.
“Eu também acho. Mesmo que ela tenha me assustado para um caralho. Quando se está certo, se está certo.”
Ayame riu, apesar de saber que ambas as gêmeas estavam verdadeiramente assustadas naquele momento.
“Aquilo foi bem aterrorizante,” Ayame disse sem esforço.
“Pensei que nada a assustasse,” Teru provocou. O riso fraco de Ayame se transformou em uma carranca indignada.
“Cala a boca e me dê logo as cartas.”
No momento em que Teru ria e deslizava a última carta através do tampo da mesa, Ayame tinha, finalmente, conseguido tirar as memórias e sensações de ossos sendo cortados de sua mente.
Enquanto Teru tinha somente o desconforto da sua nova tatuagem para lidar, Ayame estava muito grata por ter o dia de folga. Uma ansiedade corrosiva começou a dar pontadas em seu estômago à medida que pensava se a busca pela tente Himekawa desaparecida já havia começado, até perceber que, levando em consideração sua dormência e desagrado, ela simplesmente não se importava.
Durante o jogo de cartas, muitas acusações de trapaça e injustiça foram feitas uma à outra. Teru tinha guardado cartas na manga, assim como Ayame. E, durante a quinta discussão do dia, a presença de um certo alguém apareceu para evitar que as alegações se agravassem.
“… Posso me juntar a vocês?”
“Hã…? Ah! Chinami!”
Ao lado delas agora estava Chinami Saizuki, arrumada, com suas mãos atrás de sua jaqueta bomber azul. Seu olhar curioso foi atraído para as cartas que estavam jogando.
“É claro, vem jogar! Quanto mais melhor,” Teru disse com um sorriso encantador. “Não é, mana?”
Ayame limpou a garganta e se levantou.
“Aqui… Deixa eu ver isso para você.”
As sobrancelhas de Teru se ergueram – um movimento que fez sua bochecha estremecer com a tatuagem incomodando seu olho – e as mãos de Chinami rapidamente saíram de trás de suas costas em protesto.
“A-ah, por favor, não precisa se incomodar por minha causa –”
Já tendo se comprometido com a ação, Ayame puxou desajeitadamente a cadeira de mogno de debaixo da mesa. Apesar de suas tentativas propositais de evitar contato visual com a sua irmã, Ayame sabia que Teru tinha um sorriso irônico estampado em seu rosto em resposta.
“Ahh..?” ela disse como se soubesse de algo. “Então é assim.”
“Quer morrer?!”
“… Obrigada,” Chinami disse em voz baixa, ainda um pouco surpresa de que sua chefe era tão gentil, então se sentou para as travessuras indisciplinadas de ambas as gêmeas Tokugawa, enquanto jogavam dia afora. “Sinto muito por ter me intrometido. Não tinha certeza do que fazer hoje, dada a situação.”
“Sem problema algum. Fico feliz que tenha vindo. Ayame tem trapaceado em todas as vitórias que já teve.”
“Claro que não…!” Ayame protestou com dentes cerrados e Chinami riu discretamente.
“Haha… entendi.”
Mesmo que Chinami tenha respondido de forma simples, ambas Ayame e Teru podiam ver que provavelmente queria dizer mais. Ayame desejou que o tivesse feito.
“Então?” Teru continuou, com sua afinidade natural e charme, intactos. “Quer jogar com a gente, ou só beber algo e fumar?”
“… Eu não bebo e nem fumo,” Chinami confessou, para a surpresa de ambas Ayame e Teru, “Mas vou gostar de ver vocês duas jogarem.”
Todos na mesa pararam.
“Só ver?” Ayame perguntou, curiosa.
“Hm, sabe…” Chinami começou, limpando a garganta. “Eu… acho difícil falar às vezes. Então…”
“Ah, é por isso que usa essa máscara?” Teru perguntou.
Chinami balançou a cabeça.
“Não.”
“A-ah…”
“Bem, certo… fique à vontade,” Ayame finalizou, quando, na verdade, queria continuar a ouvir a voz calma de Chinami. ‘Vamos continuar jogando e você pode nos julgar. Ou não.”
“Você pode ver se a Ayame está pegando todas aquelas cartas extras, como eu sei que está,” Teru disse com uma piscadinha.
“Não fode, Teru!”
Estranhamente, apesar dela dificilmente ser falante…
Ter a presença de Chinami na mesa somente acentuou o clima agradável atual.
As gêmeas estavam tão barulhentas quanto sempre; muitos punhos batidos na mesa devidos à indignação da derrota e muitos risos vitoriosos vieram de ambas Teru e Ayame individualmente. Os olhos de Chinami assistiram cuidadosamente, pegando uma boa imagem das pessoas que estavam sentadas na sua frente, e mesmo que ela soubesse que ela jamais soubesse as verdadeiras extensões do que elas estavam metidas – especialmente se a noite passada fosse parâmetro.
“Teru, mas que droga! Pare de ser um porre!”
“Não sou, sua merdinha! Devolva minhas cartas!”
No meio do caos… um celular começou a tocar em algum lugar dentro do cômodo.
“… Hã?”Ayame indagou, se apalpando, antes que Chinami fizesse seu primeiro som em duas horas.
“Ah…!” Ela exclamou. “C-com licença… preciso atender isso.”
“Claro…” Teru disse, e então sorriu quando perguntou a segunda parte. “Namorada?”
Ayame sentiu seu estômago tencionar.
“… Irmã.”
E do mesmo modo, seu estômago relaxou.
“Diga a ela que mandamos um oi!” Teru disse animada.
“Por favor, não diga isso a ela,” Ayame cortou em irritação e Teru riu da resposta. Chinami assentiu.
“Retornarei logo,” ela anunciou, e depois de deslizar sua cadeira para debaixo da mesa, Chinami atendeu seu celular e saiu pela porta do saguão.
“…Então? O que está penando, hein?”
Ayame piscou enquanto Teru a olhava com curiosidade nos olhos. “Quê?”
“Você deve achar a Chinami bem gata para puxar a cadeira para ela. Especialmente no meio de um jogo tão acalorado de cartas.”
“Tsc… não posso ser educada de vez em quando?”
“Nah,” Teru respondeu abruptamente, e Ayame não conseguia pensar em uma resposta para isso.
Quando o assunto eram suas emoções, Teru frequentemente sabia como Ayame se sentia até mesmo antes dela. Ela não tinha muita certeza de como tinha permitido se tornar tão dormente para algo tão direto quanto sentir, mas não precisava de gênio algum para descobrir que era provavelmente o resultado de algo entre traumas físicos e mentais.
Teru, por outro lado, sempre teve uma abordagem mais positiva na vida. Ela era charmosa, rápida em resolver qualquer problema e não deixava essa vida afundá-la por muito tempo.
Ayame pensou em como, somente assim, Teru era mais parecida com sua mãe, já que ela focava mais nos luxos e menos nas atrocidades.
Depois de alguns minutos e mais alguns goles de suas bebidas, Chinami voltou, e curvou sua cabeça se desculpando.
“Sinto muito pela interrupção. Minha irmã queria saber que horas eu voltaria para casa.”
“Sem problemas. Somos todas amigas aqui, não é?”
Teru atirou um sorriso através da mesa e Ayame se contorceu em seu assento. Chinami, ou não percebendo ou não se importando com Teru provocando sua irmã, sentou rapidamente em silêncio.
“Então, uh…” Ayame começou, e Teru acendeu um cigarro com um clique suave de seu isqueiro. “E-então…”
Ayame sentiu sua boca ficar seca e não conseguiu se fazer olhar para Chinami.
“… Hm?” Chinami perguntou, olhando curiosamente para Ayame.
“Como a sua irmã é?”
A voz não veio de Ayame, mas sim de Teru, que perguntou isso com uma larga quantidade de fumaça saindo de seus lábios. Ayame xingou e elogiou Teru internamente por ter perguntado primeiro.
“Hmm…” Chinami respondeu depois de alguns segundos. “Acho que… como eu. Porém… mais jovem.”
Teru piscou duas vezes, meio que esperando uma resposta mais longa, mas percebendo que não receberia uma.
“Não diga mais nada,” Teru riu.
“Certo.”
“N-não, é só um modo de dizer…”
“Ah.”
“Hahaha!” Teru gargalhou, e Ayame também não pôde evitar sorrir pela interação. “Você é engraçada, Chinami. Gosto de você. Você também gosta dela, não é Ayame?”
O intenso olhar de Ayame se virou para Ayame.
“Sim,” Ayame respondeu indiferente, apesar de ter sentido que ela e Chinami estavam dizendo muito mais em particular através desse olhar.
“Aposto que você e a sua irmã devam bater uns papos-cabeça na mesa de jantar.”
Chinami riu.
“… Parece que devo me desculpar novamente.”
“Ah, não… você não precisa fazer isso,” Ayame finalmente interveio, e acendeu um cigarro para si enquanto desviava o olhar de Chinami. “A Teru é uma idiota espertalhona às vezes.”
“Ei!” Teru reagiu, ressentida. “Quem disse que estava sendo espertalhona? Eu falo o suficiente por duas pessoas, então não me dou bem com outras tagarelas.”
“Tudo bem…” Chinami continuou. “Eu sempre… hm… tento ficar atenta para não falar fora da hora. Então…”
O olhar de Ayame suavizou enquanto olhava para Chinami, ao passo que Teru exalava outra lufada de tabaco.
“Você pode falar o quanto quiser aqui, Chinami. Não é problema.”
Chinami parou para pensar antes de assentir educadamente.
“… Obrigada.”
Depois que as faíscas de eletricidade haviam diminuído para um ambiente calmo e organizado, as três passaram a maior parte do dia jogando cartas dentro da mansão Tokugawa.
“A decoração desse lugar… é realmente impressionante,” Chinami murmurou atrás de sua máscara, os olhos viajando por todo o cômodo e basicamente todos os lugares fora a mão de cartas entregue por Teru.
“Detesto elogiar nossa mãe, mas ela realmente sabe como arrumar um cômodo.” Teru disse com um risinho. “Você nunca esteve aqui antes, Chinami?”
Chinami balançou a cabeça.
“Uma ou duas vezes. Mas nunca por tanto tempo. Eu não tinha notado os lustres de diamante antes… eles são muito bonitos.”
Ayame olhou também ao seu redor algumas vezes depois dessa declaração. Ela percebeu que ela nunca tinha olhado de verdade para esse lugar há muito, muito tempo. O papel de parede continuava sendo tão rico e extravagante quanto sempre fora; densas paletas de cores vermelhas e douradas, e como era no caso da maioria dos cômodos da mansão, retratos caros de animais e nobres estrangeiros adornavam as paredes.
As plantas internas eram de um vívido e brilhante verde e a lareira, em contrapartida, era imensa e extravagante. Uma grande televisão descansava sobre a lareira com um programa de variedades do mudo, e três outros membros Tokugawa sentados no sofá de couro preto, casualmente conversando entre si.
Ao mesmo tempo em que, em qualquer outro dia, surpreenderia Ayame ver os membros não fazendo nada a essa hora, hoje era o completo oposto.
“… Ainda é loucura imaginar que Ryuko Mishima está morta,” Teru disse, como se subconscientemente lesse a mente de Ayame. “Acho que é o maior choque, pessoalmente falando.”
“O funeral é amanhã, não é?” Chinami perguntou. “… Todas as famílias estarão lá?”
“Sim. Vai ter gente saindo do bueiro por essa aí,” Ayame respondeu com um aceno de cabeça. “Será muito interessante ver quem aparecerá.”
Teru zombou.
“Não me diga. Mas, não vamos pensar nisso agora. Qual foi… o que me diz sobre mais uma rodada de cartas, hein?”
“Mais uma rodada?” Ayame sorriu. “Vou acabar com você.”
“Me passe as cartas também. Quero participar dessa batalha.”
Ayame e Teru riram enquanto Chinami também recebia uma mão de cartas; e no restante da noite, até a partida de Chinami, as três continuaram jogando cartas juntas.
Conforme o tempo marchava adiante e o relógio de seu avô badalou sete horas da noite, Chinami abruptamente levantou, sua cadeira bateu em alguma coisa atrás de si. As gêmeas olharam para cima com um piscar curioso no momento em que ela curvou o tronco.
“Sinto muito por interromper o jogo, mas eu prometi para minha irmã que voltaria para casa às oito horas, então preciso ir.”
“Aaah, tão cedo? E você estava prestes a levar a Teru para o serviço de limpeza também,” Ayame zombou de sua irmã através da mesa.
“Ei!”
“… Queria não precisar ir,” Chinami confessou. “Hoje foi divertido. Aprendi muito sobre como esconder cartas nas mangas.”
“Se quiser aprender mais sobre arte sagrada de ser uma trapaceira suja, você sabe onde me encontrar,” Teru deu uma piscadinha.
“Gostaria muito disso,” Chinami respondeu. Apesar da declaração ter sido curta e doce, Ayame pôde sentir o sorriso formando as palavras, o que também a fez sorrir.
Ayame se sentiu remoendo uma vez que Chinami havia saído. Foi uma partida abrupta, não uma que Ayame podia enrolar, ou talvez cumprir essa urgência de dizer adeus a ela, como se estivesse mandando uma amada para o trabalho.