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Tradução: Note | Revisão: Pandine
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Capítulo: 04: Parte 02
“Ryuko Mishima? A líder do clã Mishima também está morta?!”
Akira exalou outro sopro de fumaça, ignorando por completo a exclamação de Ayame.
“Ao contrário da situação da Quarta Presidente Sugimoto… parece que ninguém sabe ao certo quem é o culpado por essa atrocidade.”
Graças a Deus não foi a Teru, Ayame pensou em alívio e imediatamente sentiu suas preocupações se dissiparem na atmosfera.
“Bem, quem mais se beneficiou da situação?” ela perguntou sem rodeios. “Siga a trilha e encontrará sua resposta.”
“Eu assumi o mesmo,” Akira disse eventualmente. “Porém… ambas as filhas de Ryuko estavam fora da mansão naquela noite, e seus supostos álibis provam isso.”
“…Entendi.”
Ayame olhava novamente com expectativas para sua mãe, e Akira se virou para sentar na grande cadeira de couro atrás de sua mesa de mogno.
“Não acredito na causa da morte dada a Presidente. Nem por um momento.”
Ayame piscou em surpresa, não habituada a ouvir sua mãe falar de modo tão honesto e pessoal sobre assuntos da Yakuza.
“É mesmo?”
“Você pensou o mesmo, não pensou?” Akira perguntou, e Ayame pausou.
Certeira como sempre, pelo que vejo.
“Sim, eu tive o mesmo pensamento, mas…”
“Achei mesmo. Eu me recuso a acreditar que a Presidente de toda a organização Sugimoto seria descuidada o suficiente, mesmo em suas fantasias sexuais mais selvagens, para deixar alguma gostosona zé-ninguém matá-la. Ryuko Mishima, por outro lado…”
A família Mishima… um grupo não-ortodoxo que se orgulhava em valorizar a tradição acima de tudo, mas faziam pouco para reforçar essa declaração.
Sem nem ao menos uma centelha sequer de compaixão ou humildade, elas são um grupo de assassinas brutas que não têm problema algum em cometer os crimes mais sombrios que a humanidade tem a oferecer. Com sua especialidade recaindo sobre um dos mais inumanos e ainda sim, mais chamativos métodos de tortura e homicídio conhecidos no mundo da Yakuza, não era segredo – se alguém queria que um assassinato tivesse um grande impacto, eles contratavam uma Mishima para o trabalho.
A princípio, Ayame presumiu que os anos cutucando vespeiros demais haviam alcançado Ryuko, mas…
“… O tempo entre essas duas mortes é pequeno demais para ser coincidência,” Ayame murmurou, finalizando seu pensamento em voz alta.
“Isso mesmo. Tenho certeza de que assim que ouviram as notícias sobre a morte da Sugimoto, um membro do clã Mishima decidiu fazer uma jogada pelo título de matriarca com algo que eles vêm planejando há algum tempo já. E agora com isso… outra sombra insignificante foi apagada.”
“Então quem você acha que foi?” Ayame perguntou, levantando uma sobrancelha. Akira exalou outra lufada de ar.
“Eu não sei,” ela confessou. “Mas o que eu sei é que é muito óbvio quem ganha mais com a morte da Ryuko.
Ambas Ayame e Akira pausaram.
“… Você está falando sobre a filha Mishima mais velha, não é?” Ayame eventualmente questionou. Akira assentiu.
“Mirai Mishima, sim. Ela tem tudo a ganhar com a morte da mãe dela. Ela também é a mais brutal de um lote já bruto. Eu não me importo com essas baboseiras de álibis. Aposto tudo nesse escritório que foi ela quem matou a própria mãe.”
Ayame cruzou as pernas enquanto sentava no sofá e acendeu um cigarro de um maço quase vazio que alguém deixou na mesa na sua frente.
As mulheres na família Mishima eram, sem dúvida, danificadas. Talvez até mais que nós aqui, Ayame pensou com uma carranca.
Ayame sabia muito pouco sobre Mirai Mishima, além de que ela era uma mulher misteriosa, perigosa e tão impressionante quanto linda. Serena, competente e completamente desequilibrada, ela sabia como finalizar um serviço e como governar seus subordinados com punhos de ferro. Por outro lado, Hazuki Mishima – a mais nova das duas irmãs Mishima – era conhecida somente pelo seu comportamento errático e pavio curto acima de quaisquer verdadeiros elogios. Ayame sentia pena dela.
Akira deixou sair um grunhido baixo enquanto apertava a ponte do seu nariz e Ayame deu uma tragada do seu cigarro. A fumaça se acumulava acima e preenchia o ar do cômodo, criando uma névoa confortável em meio à luz matinal que se esgueirava pelas janelas.
“E agora?” Ayame perguntou francamente.
“Nossa família foi convidada para prestar nosso respeito no funeral amanhã,” Akira disse, os cantos da boca virados em um sorriso confuso, “originalmente seria somente para Sugimoto, mas o clã Mishima não perdeu tempo em ter certeza de que se tornasse um evento duplo para honrar sua amada matriarca.”
“Como você acha que vai rolar?”
“Caixão aberto para Ryuko,” Akira respondeu imediatamente, “e caixão fechado para a Presidente.”
Ayame apertou os olhos.
“Está tão certa assim, hein?”
“Absolutamente positivo.”
Isso é surpreendente, Ayame pensou. Sua mãe era sempre confiante, mas esse era um tom de certeza que pegou até mesmo Ayame de surpresa.
“Ayame.”
A repentina mudança de tom não incentivou Ayame a erguer os olhos do carpete vermelho peludo abaixo de seus pés.
“…”
“O funeral será amanhã, então não se meta em problemas hoje à noite. Você deve ficar em casa e isso é uma ordem. Se você não aparecer em um funeral assim…”
“…Eu entendo,” Ayame respondeu, e Akira deixou sair um suspiro de alívio.
“Bom. Então finalizamos por aqui. Não vou te dar mais nenhuma ordem hoje.”
“Nenhuma…? Certeza?”
Akira franziu.
“Você é um fardo em horas como essa.”
Ayame sentiu uma pontada em suas emoções através dessas palavras. Ela franziu os lábios, incerta de como reagir conforme os segundos passavam.
“Eu não gosto que me digam coisas como essa.”
“Não seja insolente comigo.”
Ayame selou os lábios rapidamente. Akira exalou, como se percebesse que seu tom havia sido um pouco ríspido demais – mesmo que ela quisesse reforçar um ponto.
“… Escuta Ayame. Você é um fardo. Mas você também é um recurso incrível. Se você controlasse o seu comportamento só um pouquinho, você poderia facilmente ser a líder do clã Tokugawa nos próximos anos.”
Um toque gentil soou na porta, impedindo Ayame de falar mais.
“…Quem é?” Akira perguntou, rabugenta.
“Sou eu,” Dona respondeu com um tom cantado que fez Ayame revirar os olhos. “Teru acabou de chegar em casa, chefe. Devo pedir que ela suba?”
Ayame fechou os olhos.
Ela esteve fora a noite toda… Imagino em que diabos ela se meteu dessa vez.
“Acabou de chegar em casa…” Akira grunhiu. “Aquela garota… sim, mande-a subir.”
“Agora mesmo, chefe.”
Voltando rapidamente com Teru ao seu lado, Dona abriu a porta sem mostrar seu rosto e à medida que Teru entrava e atravessava o carpete, ambas Akira e Ayame olhavam horrorizadas para a mulher diante delas.
“… Seu rosto.” Akira pontuou com um tom inexpressivo em sua voz. “Mas que porra você fez com o seu rosto…?”
Ayame encarou abertamente, achando difícil aceitar a mudança repentina na aparência de sua irmã.
“Isso é real, Teru? Por favor, fale que não é real.”
Teru Tokugawa tinha voltado – e com ela, trouxe uma tatuagem recém feita bem abaixo do seu olho direito. Era uma fonte simples, cursiva e preta, em inglês, a palavra “Endure”. (sfx.: Aguente)
“Hehe… bacana, não é? Não achei que era possível eu ficar ainda mais gata, mas isso fez o truque.”
Teru estufou o peito, orgulhosa, aparentemente se vangloriando. Ayame não tinha certeza se devia ou não rir ou suspirar.
“Você está dispensada, Xiuying,” Akira disse calmamente, e Dona fechou a porta atrás dela com um leve escárnio.
Teru mudou o peso do corpo de um pé para o outro, incerta para onde mirar diante do olhar excruciante de sua mãe. O olhar de Ayame pulava da sua mãe para sua irmã, um nervosismo subindo novamente diretamente das profundezas do seu estômago até a cabeça. Uma tempestade estava certamente se formando.
“… Boa tarde, mãe.” Teru finalmente disse, tentando esconder o nervosismo com um agradável sorriso.
“Você se refere a mim como chefe,” Akira cuspiu. “Você não é filha minha.”
Teru piscou. Ayame, também, estava surpresa.
“O…o que te faz dizer isso m– err, chefe?”
Akira levantou de seu assento e cuidadosamente equilibrou seu cigarro em um dos muitos cinzeiros de cristal pelo escritório. O movimento foi vagaroso e deliberado e não era necessário ser um psiquiatra para ver as engrenagens de ódio girando furiosamente na cabeça de Akira.
“Mas que puta vergonha você é. Você faz qualquer coisa além de jogar fora os fundos da família em mulheres, bebidas e merdas inúteis? O seu comodismo vai de frente até mesmo com o meu.”
Teru permaneceu em silêncio, timidamente. Akira continuou.
“Você tem alguma ideia do que aconteceu no mundo real, nosso mundo, enquanto estava fora bebendo a noite toda? Ou estava ocupada demais com sua cabeça entre as pernas de alguma mulher?”
“M-mãe! Por favor…!”
Akira bateu seu punho na mesa e ambas as gêmeas contraíram visivelmente. Uma pontada de pânico tomou ambas quando Akira saiu de trás de sua mesa, diminuindo a distância entre ela e Teru com a feição trovejando.
“Sua pirralha inútil! Eu não daria a mínima se tivesse ficado a noite toda fora festejando se fizesse a porra de algum trabalho! O que você faz, em primeiro lugar?!”
Teru sentiu gotas de suor começarem a se formar em sua testa. Ayame continuou com a boca fechada, mesmo que um tremor nervoso corresse sutilmente pela sua espinha. Nenhuma das duas ousava dizer uma palavra enquanto Akira continuava seu discurso.
“Você está feliz ficando na base da cadeia alimentar?! Porque eu não tenho razão alguma para te promover e nem vou desgraçar o nome da família fazendo isso! Minha própria filha! Sua decepção do caralho!”
Akira estava furiosa.
Ambas Teru e Ayame sentiram o sangue ser drenado de seus rostos enquanto Akira tirava uma arma do coldre preso através do seu peito e pressionou brutalmente o cano contra a testa de Teru.
“E-espera, chefe! Por favor…!” Teru exclamou, mantendo suas mãos para cima enquanto Akira colocava o cano no lugar com um clique. “Eu– Eu não tinha ideia que você iria–”
Akira trouxe Teru para mais perto com um puxão no colarinho da sua camisa.
“Cala a porra da boca!”
Ayame não podia ficar em silêncio mais um momento sequer, seu coração batia como louco em seu peito enquanto ousava desafiar a mulher que mais temia nessa vida.
“Mãe, pare! Merda, não a mate!”
Akira parou, escutando o pedido repentino de Ayame. Teru estava visivelmente tentando o seu melhor para se manter íntegra, e falhando.
“Por que não deveria?” Ela perguntou francamente. Ayame arregalou os olhos. “Rápido!”
“Por quê…? Porque ela é a porra da sua filha, é por isso! Você não se arrependeria?!”
“Matar um desperdício de espaço desses? Uma sanguessuga constante nos fundos da família?! Ha! Não me faça rir!”
“Espera! Sinto muito!” Teru implorou, lágrimas surgindo nos cantos dos olhos. “Por que está tão brava?! Caramba! Eu não achei que ficaria tão puta assim…!”
Apesar da voz de Akira estar alta, sua mira era certeira. Ayame não tinha esquecido no meio da conversa matinal – não importa o quão enganosamente relaxada pode ter sido – que o humor de sua mãe podia mudar em um instante. Especialmente quando o assunto era Teru. Parecia que a mera visão dela levava Akira a um frenesi furioso, na maioria das vezes.
“Você não faz nada!” Akira rugiu. “Você não conquista nada! Você não é nada! Sua insolente–”
“Mãe! Por favor, pare!”
Akira exalou raivosamente enquanto Ayame implorava novamente. Vagarosamente, de modo angustiante até, ela começou a colocar a arma de volta no coldre.
“… Se eu pegar você com a mínima intenção de gastar o dinheiro Tokugawa com trivialidades como tatuagens e sexo sem nem sequer o menor indicativo de alguma porra de trabalho, eu mando te matar.” Akira disse agitada. “Entendeu?”
Teru assentiu – muito rápido. Akira sentou novamente em sua cadeira. Ayame sentiu cada um de seus membros tremer com a adrenalina de sua mãe prestes a espalhar os miolos da sua irmã no carpete do escritório.
“…Bom,” ela declarou com um ar de finalização, sugerindo que, toda essa experiência traumática para suas filhas, havia chegado a um fim.
Teru, sabendo melhor do que desafiar sua mãe quando está nervosa, sentou ordenadamente ao lado de sua irmã. O coração de Ayame doía com a tristeza esmagadora ao ver Teru, sua irmã que sempre sorria e sempre brincava, agora na beira das lágrimas.
Mas ela nunca chorou. Nenhuma das duas.
Depois de explicar bruscamente a situação para Teru novamente, Akira balançou a cabeça e apontou em direção à porta.
“Saiam da minha vista, vocês duas. O funeral é amanhã. Entrem em problemas essa noite e eu realmente terei a cabeça de vocês.”
“Sim, chefe.” ambas as gêmeas Tokugawa responderam solenemente e estavam somente gratas demais depois de tal repreensão em voz alta.
Parada do lado de fora do escritório, pareceu como se saindo de um mundo e entrando em um novo. Ayame sentiu como se finalmente pudesse respirar e ela pôde ver que Teru estava visivelmente tremendo. Uma parte dela sempre sentia empatia em momentos como esse, apesar de se sentir incompetente ao lidar com o coração. Os remédios de Ayame para seus problemas emocionais pessoais eram ou álcool ou solidão… mas sua tipicamente metida irmã se beneficiaria muito pouco de tais métodos autodestrutivos.
E então, ela fez a única coisa em que pôde pensar – ela deu um abraço em Teru.
Ela passou os braços ao redor de sua irmã e deu batidinhas gentis em suas costas à medida que a puxava para mais perto. Teru ficou estupefata com os braços pendurados ao seu lado por um momento, incerta de como reagir a tal gentileza que pareceu tão estranha para ela.
E então, conforme o calor e compaixão de outra pessoa permeava pelos seus ossos, Teru finalmente se permitiu a parar de se preocupar sobre as aparências e sentir, enterrou seu rosto – gentilmente – contra o ombro de Ayame.
Ayame fez o que podia para confortar sua irmã com uma expressão robusta e um abraço caloroso, enquanto Teru, em uma das primeiras vezes em sua vida, deixou suas lágrimas fluírem livremente.
O coração de Ayame cambaleava para fora de seu peito, diretamente para sua garganta, toda vez que sentia os pequenos soluços afundando a estrutura de Teru. Ela podia contar em uma mão o número de vezes que tinha visto sua irmã, sempre calma, perder a compostura desse jeito.
E finalmente, depois que o cobertor de silêncio emocional foi retirado das duas, Teru se afastou de Ayame com um exalar trêmulo, secando desajeitadamente seu nariz pingando e lágrimas na lateral da camiseta.
Ayame não podia evitar sorrir um pouco com a visão de Teru puxando a gola para cima a fim de esconder seu rosto como uma criança.
“Não faça isso, Teru… seus peitos vão ficar cobertos de ranho.”
“Eu já ensopei seu ombro com as minhas lágrimas, então essa é minha punição,” Teru disse por entre fungadas, recuperando com sucesso sua compostura às custas de uma piada que fez sua irmã rir. “Aí se vai a minha credencial de durona com você, hein?”
“Então, uh…” Ayame perguntou, coçando sua bochecha desajeitadamente, “Quer jogar baralho? Parece que estamos em prisão domiciliar por hoje, então podemos tentar nos divertir um pouco.”
“Eh, por que não?” Teru respondeu com um sorriso de canto, parecendo ter se acalmado notavelmente rápido. “Só me deixe trocar de camiseta primeiro…”
“Certo,” Ayame respondeu com um riso. “Estarei te esperando lá embaixo.”