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Tradução: Note | Revisão: Bibi
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Capítulo Vinte
Naquela manhã antes do café da manhã, Gwen e eu estávamos caminhando pelo acampamento e talvez tivéssemos sido meio intrometidas quando notamos que o pai da Lauren estava do lado de fora da minha antiga cabana, com a bagagem empilhada ao lado dele, conversando com o Sr. Black. Lauren estava indo embora do acampamento. Os olhos dela estavam vermelhos de tanto chorar. Jessie a abraçou, sussurrando alguma coisa no ouvido dela, então Lauren seguiu o seu pai até o carro e foi embora. Enquanto todos comiam o café da manhã, o Sr. Black tomou a oportunidade de fazer uma pequena assembleia para os campistas para explicar o porquê a Lauren teve que sair, e para reforçar que bullying, chantagem e outros comportamentos deploráveis não eram aceitáveis no Acampamento Mapplewood. Ele também frisou que ele e os conselheiros do acampamento sempre estavam de portas abertas caso alguém precisasse conversar.
O acúmulo de estresse na última semana, à respeito da minha culpa sobre meu comportamento com minhas colegas de cabana, Lauren rapidamente voltando a fazer qualquer coisa para ser conselheira do acampamento no próximo verão, mantendo em segredo que eu sairia do acampamento quase duas semanas antes do esperado, e então ver a Vivian descobrindo isso da pior maneira possível? Nós merecíamos um dia de folga do drama que me seguia onde quer que fosse. Os socos não acabariam até que a minha mãe viesse ao acampamento, mas tínhamos uma pequena quantidade de tempo para respirar novamente, e eu não planejava fazer isso enquanto a Vivian agia como minha conselheira nas atividades do dia a dia.
Durante o café da manhã — composto da minha usual maçã e uma mochila cheia de comida que havia pegado do refeitório, com a permissão da Sra. Black — Peguei o Walter se afogando com uma caixinha de suco do lado de fora enquanto encarava o nada.
“Bom dia.” Ele disse. “Pensei que ainda estaria dormindo.”
“Eu normalmente estaria, mas quero lhe pedir um grande favor. Quero amarrar você com o resto dos Castores enquanto levo sua irmã a um encontro.”
Ele tomou um gole de sua caixinha de suco. “O que eu ganho com isso?”
“O conhecimento de que sua irmã está tendo um ótimo dia?” Ofereci. Não é tentador o suficiente. “Certo. E uma assistente de sanduíches à sua disposição até eu ir embora.”
“Você vai embora em dois dias.”
“Pense em quantos sanduíches você poderia ter!”
“Temos um acordo.”
Uma brisa quente circulava ao redor do acampamento, tornando o barracão apertado e abafado muito pior do que já era. Invadi-lo já havia se tornado um hábito tão grande — desde o primeiro dia, ao meu ataque de pânico e entrar aqui com a Lauren — que eu me arrisquei a entrar enquanto ainda estava claro. Na minha última procura pelo lugar pequeno e fechado, eu tinha notado um objeto relativamente grande ocupando um espaço consideravelmente grande, que era difícil de ignorar. É por isso que acabei aqui de novo depois de arrastar a Vivian do refeitório para ir comigo a este encontro. Eu puxei o grande lençol branco da grande cesta de piquenique e a admirei. Era um lugar fofo para guardar toda a comida que havia pego do refeitório. Era assim que eu ia compensar a Vivian por não contar que iria sair do acampamento em breve.
Levei a cesta para o lado de fora com puxões constantes e rapidamente me deleitei com a expressão que a Vivian tinha conforme a colocava no chão, gesticulando para o outro lado, para que ela me ajudasse a carregar a coisa. O olhar dela era uma mistura de descrença, leve choque, e um brilho de conhecimento, como se deveria ter esperado algo do tipo de mim. Sucesso.
“Qual é exatamente o seu plano aqui?” Ela perguntou.
“Estou levando você para um encontro de um dia todo — só você e eu. Sem drama! Sem toques secretos. Sem campistas ao redor para nos pegar olhando secretamente uma para a outra.”
“E sobre…”
“Walter está com os Castores hoje.” Eu respondi. “Bem, você não vai me ajudar?”
Ela perguntou. “Por que você não arrumou isso antes de me arrastar aqui para fora?”
“Você que disse que eu precisava melhorar meu jogo de cortejo.” Apontei. “Aqui estou eu. Melhorando e esperando, e meus sentimentos estão machucados. A cesta de piquenique podia ter sido descoberta enquanto eu fosse te buscar. Descoberta por animais. Roedores. Pior ainda, os Castores. Não, espera. Pensei em algo pior ainda. O Walter. Quer saber? Eu até concedo a você, tipo, dez pontos por me ajudar a carregar essa coisa.”
“O cortejo acabou.” Ela me lembrou, pressionando sua mão contra o meu peito, fazendo meus joelhos vacilarem um pouco. “Nós já concordamos que eu ganhei.”
“Um cortejo entre nós realmente acaba?”
“Nunca.”
A relutância se agarrou a ela até finalmente aceitar minha ideia. Ela pegou a outra alça com um suspiro exagerado, deixando a cesta afundar um pouco no chão. Eu joguei um beijo para ela e atravessamos o terreno, com pedrinhas esmagadas sob nossos pés, cabelos ao vento e bochechas coradas do sol, da brisa e do exercício. Um sinal que dizia que o Acampamento Maplewood nos acolhia antes de entrarmos na trilha e descermos por entre as árvores altas.
Ouvi um suspiro atrás de mim, fazendo com que diminuísse o ritmo e perguntasse. “O que foi agora?”
Ela suspirou novamente, dessa vez mais dramática. “Não consigo acreditar que convenceu o Walter a pegar meus campistas.”
“Às vezes até eu me impressiono comigo mesma.”
Vivian suspirou mais alto e repetiu. “Estou abandonando meus deveres para carregar uma cesta obscenamente pesada. Com você não segurando sua parte do peso.”
“Calma aí. Eu estou sobrecarregando meu coração até o limite.”
“E nem ao menos sou permitida a tocar na comida com cheiro delicioso.”
“Paciência, Vivian.”
Com minha respiração ligeiramente ofegante, músculos da panturrilha tensos e aumento de calor em todas as partes do meu corpo, posso admitir que não me preparei ou pensei muito nessa rotina de exercícios. Era muito mais fácil quando eu era mais nova para subir numa bicicleta, nunca ficar com medo e correr pela casa incontáveis vezes, ou na rua, nunca nem suando. Era totalmente diferente, aos quase dezoito anos, estar tão sem fôlego na floresta. E se eu precisasse correr para um lugar seguro por algum motivo? Eu já tinha desperdiçado tanta energia.
Vivian estava lá. Tudo bem. Quando chegamos no local em que a caça ao tesouro aconteceu, o lugar em que nosso relacionamento oficialmente começou, a queda repentina da cesta ao lado da árvore em que nos acostamos enquanto discutíamos desajeitadamente sobre nossos sentimentos uma pela outra me fez soltar um maravilhoso suspiro de alívio.
A área era como eu me lembrava. Só que dessa vez, ao invés de me preocupar com os campistas olhando em nossa direção, estávamos seguras. Não tinha ninguém por perto procurando animais de pelúcia ou pessoas bêbadas e perdidas na floresta.
Meu corpo caiu no chão e minha cabeça se inclinou para trás. Através de uma estranha visão de cabeça para baixo, vi a Vivian remover a tampa da cesta.
“Suponho que você estava certa. Esse encontro é especial. Seja lá o que fizer, não pense sobre o fato de termos que viajar de volta para o acampamento mais tarde.” Ela me lembrou, tocando no meu nariz e, subsequentemente, me fazendo ter uma expressão horrorizada em meu rosto. “Não pense mesmo nisso.”
“Que seja.” Grunhi.
Depois de tirar um cobertor da cesta, colocá-lo no chão e nos sentarmos uma ao lado da outra encostando no tronco, eu imediatamente me contorci para ficar em uma posição onde a casca não cravasse nas minhas costas, e Vivian começou a servir nossa comida, levando alguns momentos para inspecionar cada item que saía da cesta. Ela empurrou um milkshake de chocolate na minha direção e levou o canudo do seu milkshake de morango até os lábios e tomou.
Peguei meu canudo e mexi o líquido. “Olha só isso, somos perfeitamente capazes de ir a encontros normais.”
“Se, por normal, você quer dizer agir igual crianças de dez anos. Você fez esses milkshakes?”
“Sim, estão bons, não é?”
Vivian ficou em silêncio, avidamente tomando seu milkshake, oferecendo-me sua resposta. Encostei de volta no tronco. Éramos só nós duas, sentadas lado a lado em uma toalha, petiscando alguns sanduíches. Não tínhamos medo de sermos pegas. Não era mais sobre os pais dela. Eram os campistas. Eles pensariam nisso como tratamento especial. E talvez fosse.
Eu nunca tinha tido um encontro de verdade antes, então tive que me apoiar em todos os filmes heterossexuais e no que seus primeiros encontros implicavam. O que eles faziam? Faziam perguntas um para o outro? Isso era diferente porque já nos conhecíamos há um mês e pouco. Como um encontro deveria ser diferente de estarmos juntas no dia a dia? Como deveríamos agir agora que os outros não estão por perto?
Comece com o simples. Faça uma pergunta. Veja como flui.
“Vivian. Diga alguma coisa sobre você. Algo que ninguém mais sabe.”
“Que cliché.” Ela comentou, tamborilando os dedos na cesta. “Que sou pansexual?”
“Incrível. Eu sou gay. Então, agora quer me dizer algo que eu realmente não saiba?”
“Certo, certo.” Ela disse, reclamando. Ela tomou alguns minutos, mas eventualmente pensou em algo. “ Sabe como você tinha medo do futuro?”
“Tinha? Gata, eu ainda tenho.”
Com isso, ela bateu de leve no meu braço e admitiu: “Eu também tenho medo de algumas coisas. Tem um certo modo que eu ajo em York, e tem um modo que eu ajo na faculdade. Uma diferença tão grande que tenho medo que talvez você não vá—”
“Vivian, deixe eu lhe fazer uma pergunta.” Eu interrompi. “Você é você mesma quando está comigo?”
“Sim.”
“Você tem medo de estar comigo enquanto está na faculdade?”
“Não.”
“Você mencionou que o acampamento era algo previsível para você. A faculdade não é. Estou imaginando que você é livre lá sem o julgamento das pessoas dessa cidade pequena. Vivian, no mínimo, nós seremos felizes lá.”
As sobrancelhas dela se franziram. “Nós? Você vai para a minha faculdade?”
Eu tossi. “Er- tem uma escola de culinária perto de lá. Sua mãe tem uma amiga que é chef, e disse que conversaria com ela sobre me treinar. Estava pensando em ir para a faculdade ano que vem.”
“Eu estou significativamente menos… aterrorizada. Obrigada, Emma.”
“Você terá sua chef por perto, não se preocupe.”
Meu joelhos batiam indo de um lado para outro, fato que não percebi até que uma mão prendeu meu joelho em sua pegada e se recusou a soltar. Eventualmente, Vivian se inclinou para frente, mantendo minha perna presa, e deslizou sua outra mão para cima da minha. “O que está levando você a fazer tudo isso?”
“Você quer dizer a carranca de cabeça para baixo?”
“Sim, sua carranca de cabeça para baixo. O que causou isso? Você está–” Ela pausou, observando-me. Então, depois de chegar a algum tipo de conclusão sozinha, ela agarrou minha mão livre, ignorando meu beicinho conforme eu era privada do acesso ao meu milkshake. “Você está tímida, Em-ma?”
“Claro que não.”
“Por que ainda está sorrindo assim?” Ainda olhando para mim como se eu fosse fofa ou alguma merda do tipo, ela soltou as minhas mãos, liberando minha perna presa, e puxou o milkshake dela para o meu lado da toalha, instantaneamente batendo na minha mão quando tentei pegá-lo. Ela levantou seu joelho e envolveu as mãos ao redor de sua perna. Vivian descansou sua bochecha contra sua palma e disse. “Diga-me.”
Eu imitei a posição dela e fechei meus olhos. “Eu te amo, só isso.”
Lábios quentes e com gosto de morango pressionaram-se contra os meus, derretendo na minha língua como açúcar. Então eles se foram, deixando uma sensação quente no meu peito. “Então, esse é o motivo dos olhos de coração?”
Meu nariz franziu. “Você arruinou o momento.”
“O momento em que expressamos nosso amor uma pela outra?” Ela perguntou, trilhando um dedão pelo meu queixo. “Bem, eu te amo também.”
Eu me inclinei e a beijei na bochecha. Suguei meu milkshake e encostei minha cabeça no ombro de Vivian, e estava contente em ficar lá em silêncio. Um pequeno farfalhar chamou minha atenção. Era uma coruja, mas não qualquer coruja; parecia igual a uma ilustração. Era uma coisinha fofa com seus pios baixos e orelhas peludas. Elas pareciam pertencer a um ursinho por sua cabeça ser redonda. A coisa mais intrigante sobre essa coruja eram seus olhos. Conforme a luz do sol passava através das árvores, seus olhos castanhos ficavam cada vez mais proeminentes, com círculos escuros os envolvendo. A coruja combinava exatamente com a cor do meu chaveiro com suas penas cinza amarronzadas e bico amarelo, a única diferença sendo que essa coruja tinha dois olhos ao invés de um.
Eu agarrei a coxa da Vivian e silenciosamente apontei para a coruja, para que ela pudesse vê-la. Ela estava no meio de uma mordida em um brownie, então me ignorou num primeiro momento. Assim que ela a viu, a coruja soltou mais pios e grandiosamente abriu suas asas antes de alçar voo no ar e ser carregada pela brisa, pousando em outra árvore.
“Isso é lindo.” Eu murmurei.
“Nunca tinha visto uma coruja antes?”
“Não. A única vez que cheguei perto foi fazendo aquele chaveiro.” Admiti. “É propício, você não acha? Ver uma agora? Você está aqui comigo, vendo essa coruja, é como um compromisso uma para com a outra. Você me beijou pela primeira vez e tinha aquele chaveiro. Agora? Não sabemos o que o futuro nos reserva — Vou estar fora pelo resto do acampamento, então você estará na faculdade. Quem sabe onde eu estarei? Poderia estar de volta a Boston. Talvez sua mãe me arranje aquele trabalho. O ponto é, nós não sabemos, e ainda sim estamos aqui juntas, observando essa coruja, e parece tão certo. Aqui e agora e espero que no futuro também.”
“É um símbolo do nosso relacionamento.”
“Não importa o que aconteça, corujas sempre serão o nosso lance.” Conforme eu me levantei, a coruja voou completamente para longe. Agarrei a mão da Vivian e a impulsionei para que ela levantasse. Enquanto arrumamos o lixo na cesta, eu disse. “Esse encontro não acabou, senhorita.”
“Essa é a infeliz verdade sobre pesadelos — a habilidade de acabar com um não existe.”
“Considere meus sentimentos machucados.” Brinquei. “Vamos.”
“Considerarei me mover se me disser o que faremos.” Ela exigiu.
Eu saí andando sem ao menos um olhar para trás ou um pingo de hesitação. “Você me seguirá, Vivian, porque eu sei, no meu coração, que não será capaz de escapar da curiosidade que eu sou.”
Por um momento achei que meu blefe tinha sido descoberto, mas então ouvi passos andando atrás de mim — bem, ela pisoteou através da grama e suspirou até estar andando ao meu lado, e então, ela chutou pedras. Era a birra mais fofa de todas.
Agora que os conteúdos da cesta haviam sido devorados, ela estava muito mais leve. Eu a balançava para frente e para trás como se não pesasse nada. Inclinei minha cabeça para trás e, por entre as frestas das folhas, as nuvens estavam fofas e brancas no céu. As folhas farfalhavam sob o sopro da brisa, mas na hora de entrar em contato com a minha pele parecia relutante, circulando pelo meu corpo como se temesse que eu estendesse a mão e o estrangulasse. O cabelo da Vivian imitava as folhas; a brisa amava correr por entre as mechas de seu cabelo e contra a sua pele. Ela era perfeita, e então tinha eu — de bochechas queimando e morrendo, no entanto, foi ela quem reclamou do esforço. Literalmente não fazia sentido.
“Nunca estive desse lado do lago antes.” Eu disse, e trotei para cima de uma ponte, pulando no primeiro degrau antes de me virar para olhar para a Vivian.
“Talvez você não fique viva para ver mais se não prestar atenção para onde está indo.” Vivian avisou e me agarrou pelo braço à medida que estava prestes a cambalear para trás e cair de bunda.
Balancei uma mão e pulei em pé sem, de algum modo, cair e quebrar a perna. “A morte tem medo de mim, não se preocupe. O número de vezes que eu deveria ter tropeçado e morrido é tão grande que perdi a conta.”
“Isso é levemente preocupante.” Vivian murmurou conforme trilhava uma mão pela beirada da ponte, e um grande pedaço se desprendeu e caiu na frente de seu pé. “Correção. Essa ponte é preocupante. Vamos logo.”
Eu propositalmente parei de andar para trás, peguei o pedaço de madeira e o joguei dentro da cesta. “Não é de se surpreender o porquê a Gwen te chama de rabugenta o tempo todo.”
“Tem algum motivo para você ter guardado esse pedaço podre de madeira?”
“Uma lembrancinha da sua maldade de hoje.”
“Talvez um lembrete de que cruzamos a ponte vivas.” Ela murmurou em resposta conforme me virava usando uma mão e me empurrou levemente.
“Nunca mude, rabugenta.” Quando ela deu um peteleco na minha orelha, eu arfei dramaticamente. “Quer dizer, uma Vivian Black reformada, não mais Zangada, mas que outros anões existem? Feliz?”
“Isso deve fazer de você o Soneca.”
“Posso aceitar isso.”
“Ou o Dunga.”
“Não mesmo.”
“Olha só você, caminhando na minha frente, com as mãos nos bolsos, está até mesmo assobiando.” Ela pulou do último degrau da ponte e entrelaçou o braço no meu antes de dizer. “Você está me irritando hoje. É a sua disposição alegre. Você me lembra da Gwen.”
Ao invés de pensar sobre o jeito que ela me comparou com a energia literalmente infinita que era a Gwen, eu alcancei seu bolso de trás e peguei seu celular. “Sorria, Viv.”
“Um dia desses seu coração vai entrar em combustão.”
“Só porque você sabe o efeito que você tem em mim não quer dizer que precisa apontá-lo.”
“Esse é exatamente o motivo do porquê eu preciso.” Vivian pegou a minha mão, me girou e me encostou contra o tronco de uma árvore. O rosto dela estava ficando cada vez mais perto, até que seus lábios roçaram contra os meus. “Eu amo isso.”
“É mesmo?” Eu disse antes de passar por debaixo do braço dela e sair de seu espaço pessoal.
“Fugindo, Emma?”
“Você iria atrás de mim?” Eu estiquei meus braços acima da minha cabeça e girei meu calcanhar conforme ela absorvia cada movimento meu, calculando o que estava planejando. Quando ela não respondeu, eu casualmente apontei em uma direção e disse. “Vamos naquela direção.”
“Em direção a mais árvores.” Ela disse, carrancuda.
“O que está além das árvores, Vivian? Pense nisso.”
Ela não teve tempo de descobrir o que eu estava prestes a fazer porque saí correndo. Sabia que a Vivian não resistiria a tentação de me colocar no meu lugar e se intitular como vencedora de qualquer tipo de competição que fosse — porque de modo algum mencionei regras ou regulamentos. Eu corri, puramente e simplesmente.
“Emma?!”
Folhas caídas giravam ao vento com meu rastro. Fazer Vivian me perseguir tinha soado como uma ideia divertida na minha cabeça. Parecia até romântico. Mas a realidade era que eu não estava acostumada a correr ou mesmo a me mover rapidamente em geral. Eu não tinha coordenação suficiente para virar o pescoço e ver onde Vivian estava, mas eu pensei que correr para trás era uma ideia brilhante. Eu me mexi e virei, girando em um círculo, e um rosnado emergiu do peito de Vivian, me fazendo rir. A árvore pareceu duvidar do meu compromisso e se recusou a sair do caminho, então derrapei para o lado dela para evitar bater no tronco e me derrubar. Chutando uma nuvem de sujeira com um “Com licença” murmurado e continuando na curva.
Uma dor aguda entrou em meu estômago e me fez pular para cima e para baixo enquanto corria para diminuir meu movimento até que me inclinei e engasguei, jogando minha mão sobre o local, como se minhas entranhas fossem emergir do meu estômago se eu não as segurasse no lugar. O lago e os barcos a remo nem foram notados. Eu ofeguei — e de repente o ar que eu estava sugando tão desesperadamente foi arrancado de mim em um grunhido.
Fui derrubada no chão. Coloquei minha mão no ombro de Vivian para me levantar. Afastando seu cabelo do rosto, tossi alto.
“Você está bem?” Ela perguntou rapidamente e examinou todo o meu corpo como se não pudesse acreditar no que tinha feito. “Eu derrubei você.”
“Fico feliz que não seja a única tendo um momento de mas-que-diabos.” Disse com uma risada. “Mas, como de costume, você me deixou sem ar, então, ao invés de ir até a canoa, como eu tinha planejado…” — Soltei um grande suspiro e deitei estirada de costas ao lado dela, deixando minha cabeça em seu colo — “…podemos ficar de boa aqui.”
“Você tem um ponto, não é?” Vivian correu seus dedos pelo meu cabelo, e a presunção que ela estava exalando nem me incomodava. Ela foi sumindo aos poucos até ficar com uma expressão séria. “Você está certa. Aquela coruja é o símbolo do nosso compromisso, mas isso vai além de hoje. Seja lá o que decida fazer, se estiver em Boston, em York, ou a dez minutos da minha faculdade, não importa. Estou nisso a longo prazo, Emma. Essa é a minha promessa para você.”
“Primeiro encontro e estamos praticamente pulando de cabeça.”
“Pare.” Ela disse, puxando meu cabelo. “Seja séria.”
“Estou nessa, Vivian. Estou tão nessa. Você me derrubando no chão respondeu bem literalmente que você iria atrás de mim não importa o quê.”