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Tradução: Note | Revisão: Bibi
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Capítulo Quinze
Ao acordar, o cobertor estava enrolado firmemente ao redor do meu corpo com o braço da Vivian jogado na minha cintura e nossas pernas entrelaçadas. Poderia existir uma manhã mais perfeita? Quando o calor dela saiu, deixando-me somente com um monte de cobertores, uma sensação de perda e entorpecimento preencheu meu sistema. Eu queria enterrar minha cabeça novamente no calor dela e nunca sair. Ela voltou para baixo do cobertor e sentou no meu estômago, com um murmúrio satisfeito. Uma sensação leve de formigamento se moveu pelo meu queixo, fazendo meus cílios tremerem levemente. Então se moveu para as minhas pálpebras, e finalmente para o meu nariz. Vivian estava com uma expressão moderadamente séria, em concentração, com os lábios e sobrancelhas franzidos. Era um momento tão simples que, por um breve segundo, forcei meus olhos a se fecharem, temendo a sensação de ardência que passava por eles.
“O que está fazendo?”
“Aprimorando o seu rosto, Emma.” Ela me informou rapidamente.
“Aprimorando meu…” Ela me deu um segundo para investigar antes de se afastar e continuar a desenhar. “Está usando o glitter. No meu rosto. Usando glitter no meu rosto.”
Outro movimento, um deslizar e um toque.
“Emma, Emma, Emma, isso é tudo parte da experiência de festa de pijama.” Ela disse. “Pulamos o filme, e eu me senti muito mal por isso. Simplesmente terrível. Tinha que me certificar que sua primeira festa do pijama fosse memorável.”
“Você.” Eu disse cutucando o peito dela. “Roubou minha ideia.”
“Sua ideia?” Ela parou de desenhar por um momento. Seus olhos estavam percorrendo pelo meu rosto. Ela pegou a tampa do pote de glitter e a rosqueou de volta. Ela deslizou para fora da cama. “Sabe, Emma, acredito que te cortejei o suficiente. Tenho mais de cinquenta pontos e tudo mais, mas você não. Você precisa ir embora.”
“Ah. Certo. Ok.” Eu me levantei e peguei minhas roupas de onde ela estava agora, pegando a pilha da mesa em minhas mãos.
“Vamos para o lago hoje.” Ela disse conforme sentava na cadeira e começava a pentear o cabelo, se olhando no espelho. “Não tenho exata certeza do que te forçarei a fazer quando chegarmos lá, mas pelo menos tenho uma ideia para hoje. Talvez eu deixe vocês se entreterem sozinhos, para variar. O que acha?”
“Claro.” Respondi.
Ela escovou um nó particularmente difícil. “Não que eu queira que você vá embora, Emma. Logo mais todos acordarão. Eles não podem te ver saindo daqui.”
“Isso vai ser complicado, não vai?”
Ela assentiu sabiamente. “Até mesmo nossas conversas mais simples são complicadas, Emma.”
“Mas são interessantes.”
“Sempre interessantes.” Ela concordou. “Ande, vista-se.”
Vivian colocou uma mão sobre os olhos e separou os dedos para espiar. Peguei um lençol da cama e joguei nela. Infelizmente, isso não iniciou uma guerra de travesseiros. Ela estava certa. Eu tinha que sair antes que todos — especialmente a Lauren — acordassem.
“Seu celular.” Vivian disse, girando na cadeira com ele entre os dedos. “Eu poderia tê-lo colocado de volta no barracão depois de confiscá-lo da Lauren. Eu o devolveria a você, mas isso seria favoritismo. Apesar de que, conhecendo você, acabaria acidentalmente expulsa do acampamento. A não ser que fizesse isso de propósito?”
“Não, não mais.” Confirmei.
“Fico feliz.” Ela pegou minhas mãos nas dela. “Você pode admirar o seu gato quando estiver aqui. Infelizmente, terá que passar o seu dia sem ver seu precioso rosto.”
“Ah, o horror!” Brinquei, saindo da cabana. “Certo, vou indo.”
Como a Vivian mencionou naquela manhã, fomos para o lago. E, diferente de qualquer outra vez que fizemos algo relacionado à água, como não iríamos para longe da terra firme, não precisaríamos usar roupas de banho, mas infelizmente para outros, não havia opção a não ser usar um colete salva vidas. Não tinha motivo para os campistas discutirem com a Vivian sobre como eram nadadores fortes. Quando nos inscrevemos no acampamento, todos assinalaram as caixas indicando se sabiam ou não nadar.
Andamos pela rampa de madeira que levava para dentro do lago e pulamos no trampolim inflável e portátil, que estava amarrado para que não pudesse sair flutuando da passarela. Vivian ficou na rampa e ela trouxe o meu celular, ao invés do dela, para passar o tempo. Fiquei com a Vivian por alguns minutos, apesar dos apelos da Gwen para apostar uma corrida com ela e pular na água.
“Sorria, Emma.” Vivian sussurrou.
“Está usando meu celular para tirar fotos minhas? Por que não usa o seu?”
“Está sem bateria.” Ela explicou. Então direcionou: “Venha aqui.”
“Não está vendo eu andar?”
“Mais rápido.”
“Ah meu Deus.” Fiquei na frente dela com uma pose incrível exibindo minhas mãos nos quadris e inclinando meu queixo para cima de uma forma convencida.
“Tudo do que precisa é uma capa.” Ela murmurou, tirando mais fotos.
“Nada de capas.”
“Perdão?”
“Você não viu Os Incríveis?”
“Não.”
“Nós com certeza vamos assistir isso. Tem tantas lições de vida nele.”
Vivian girou e ergueu o celular para que pudesse tirar uma foto de nós duas. Fui pega desprevenida, o que nunca deveria acontecer com uma super-heroína. Movi adiante e peguei o celular, tendo certeza de ficar de costas viradas para os campistas.
“Tem tantas fotos.” Comentei.
“São lindas, não são?”
“Centenas das suas selfies…”
“E…?”
“O suficiente para você se entreter enquanto empurro a Gwen do trampolim.”
O ponto de nove pessoas em um trampolim era o movimento constante. Mesmo se não quisesse participar, os corpos saltitantes faziam movimento suficiente para que seu corpo não conseguisse ficar parado. Miseravelmente, cruzei os braços conforme meu corpo era forçado a ir para cima e para longe do tecido preto e elástico abaixo, a única barreira entre as águas claras e eu.
Sonhar acordada em um trampolim era perigoso. Um corpo se chocou contra o meu ombro e me mandou voando para dentro do lago. A submersão sob um rápido flash de água, mais frio do que o esperado, matou qualquer pensamento racional, ativando meus instintos rápidos de sobrevivência. Tentei abrir meus olhos enquanto estava debaixo d’água e acabei vendo um borrão branco. Minha capacidade de pensar rápido em situações de alta pressão obviamente não era muito boa. Subi para a superfície chutando com as pernas o mais forte que consegui, então arfei, inalando ar demais para me sentir confortável.
“Desculpa, Emma, você estava viajando, e esse não é o melhor lugar para ficar fazendo isso.” Gwen cantarolou da posição dela na beira do trampolim. Eu fracassei. Ela me empurrou primeiro. “Você podia ter se machucado. Além do mais, seu rosto está cheio de brilhos! Achei que um mergulho rápido te faria bem.”
“Eu poderia ter me machucado. Poderia? Acho que você tirou o meu fôlego, e nem foi de um jeito bom.”
“Eu não sou minha irmã, Emmazinha.”
“Gwen.” Sibilei, me escondendo debaixo d’água.
“Eu me sinto poderosa aqui em cima com você aí embaixo.” As sobrancelhas de Gwen franziram conforme Jessie se chocava contra ela. Em uma fração de segundo, ela deslizou do trampolim e graciosamente caiu na água perto de mim. Ela emergiu à superfície e me ofereceu um risinho. “Eu provavelmente não teria feito bom uso daquele poder, não é?”
“Provavelmente não.”
“Sua fé em mim é impressionante.”
“Eu sei.” Disse, empurrando meu cabelo, agora molhado, para fora do meu rosto. “Então, como vai?”
Gwen fez pequenas ondas com o movimento dos braços dela e cantarolou inocentemente. “Ouvi de um passarinho que você saiu escondida do seu quarto ontem à noite. Certo, o passarinho fui eu. Eu era o passarinho, e estava com fome e… você não estava na sua cabana.”
Eu nadei até a beirada do trampolim e me segurei em alguma coisa. “E você sabe disso como?”
Ela flutuou de costas. “Talvez eu tenha olhadopeloburaco.”
“Como que é?”
“Nada importante.” Gwen murmurou, colocando-se de cara na água, afundando e depois aparecendo bem na frente do meu rosto. “O que é importante, Emma, é o jeito que você está viajando. Sua cara quando viaja. Não é tão sem expressão e ugh. Nem bleh. É mais como raios de sol e arco-íris. Não os arco-íris gays. Só aquela pureza. Certo, talvez alguns arco-íris gays.”
“A próxima coisa que vai me dizer é que está escrevendo uma fanfic sobre a gente?”
“Talvez esteja um pouco?”
Eu a empurrei. “Gwen.”
Ela me empurrou de volta. “Emma. Estou brincando. Talvez. Na maior parte.”
Virou uma guerra de água. Como mais poderíamos batalhar em um lago? Para uma garota tão pequena e de aparência frágil, ela com certeza criava umas ondas bem gigantes que acabavam me fazendo cuspir água quase toda vez.
Acabei me retirando de cima da superfície e nadando debaixo d’água. A camiseta do acampamento grudou na minha pele como uma segunda camada. Havia algo em me mover com os olhos firmemente fechados que era reconfortante, como se o peso que me forçava para baixo flutuasse para longe, enquanto a serenidade da água carregava seu fardo. Quando subi para tomar ar, estava perto da borda rasa do lago.
Ficando em pé, a água ficou na minha cintura. Gwen estava de volta no trampolim, pulando um pouco alto demais. Assim que ela me viu, mandou dois joinhas e uma piscadinha não tão sutil. Se eu focasse bem, conseguia ver os pontos de glitter brilhando da lateral do meu nariz. Eu me virei conforme as pessoas do trampolim pulavam, olhando para frente, apontando e sussurrando sobre a maravilha que estava o meu rosto. É. Isso foi trampolim suficiente para o dia.
Naquela noite, depois do jantar, Vivian e eu fomos para a parte de trás das cabanas dos conselheiros, perto das mesas de piquenique e balanços. Sentamos nos balanços e aproveitamos o sol conforme ele brilhava em nossos rostos, balançando as pernas para frente e para trás para ganhar impulso. Não muito tempo depois de tomarmos nossas posições, virou uma competição de quem podia ir mais alto. Vivian ousou ir mais alto que eu. Enfiei meu medo de altura secreto no meu bolso naquele momento, porque o soquinho que ela deu no ar, tão fora do esperado, quando me venceu, foi adorável demais.
Balançando à toa, Vivian alcançou sua bolsa com a ponta do sapato e conseguiu puxá-la para cima de seu colo, onde tinha fácil acesso. Ela pegou em mãos algo que brilhava e machucava meus olhos.
“Isso é chocolate, não é?” Perguntei, recebendo um murmuro. “Dê um pedaço para mim, e vou seguir com a minha promessa. Vou te contar uma história.”
No momento em que percebeu do que eu estava falando, ela me jogou um pedaço. “Você não precisa, Emma. Eu queria trocar histórias para te conhecer melhor. Gwen mencionou que aquelas cartas eram profundamente pessoais.”
“Eu quero trocar histórias com você também.” Coloquei o chocolate na minha boca, murmurando em apreciação. “Como sabe, antes de vir para cá eu não tinha amigos. As pessoas me evitavam como evitam uma praga. Elas nem se davam ao esforço de fazer bullying comigo nem nada. É meio o que os Castores estão fazendo com a Gwen — o isolamento.”
“Você tem amigos agora. Mesmo que sejam meus irmãos. Você tem a mim.”
“Eu sei.” Toda a família Black tinha me recebido de braços abertos desde o primeiro dia. “As cartas eram um jeito de desabafar. É assim que a Jessie e eu mantínhamos contato. Era como despachar meus problemas para uma estranha íntima.”
“Você ainda quer ter um diário?”
“Claro, mas terei que começá-lo novamente depois do acampamento, quando tiver uma chance de conseguir um.”
A Vivian parou ao mesmo tempo que eu. Ela levantou do balanço, pegou sua mochila e a colocou na minha perna. Ela pegou um caderno preto liso e veio ficar entre as minhas pernas. “Se quiser, pode mantê-lo no meu quarto para que não tenha como alguém bisbilhotar.” Ela entrelaçou os dedos atrás do meu pescoço e liberou um suspiro contente. “E se escrever não funcionar, estou aqui para você. Mesmo se balançarmos aqui por horas em silêncio, ou se quiser desabafar.”
“Aí vem as lágrimas.” Reclamei. “Estou aqui por você também. Agora é a sua vez — diga-me algo que faria nós duas chorarmos.”
“Eu tenho um segredo. Promete não ficar brava?”
Atei nossos dedinhos juntos e zombei de quando disse a ela sobre meu medo de acampar. “Prometo conter minha raiva.”
“Eu deliberadamente te fiz ficar no acampamento.”
“Não é surpresa alguma.”
“Mas eu nunca te disse o porquê.” Ela disse e evitou fazer contato visual, o que era difícil, já que estava em pé entre as minhas pernas. “Algumas vezes recebemos campistas que precisam de um pouco mais de ajuda que os outros. Você estava com tanta raiva do mundo. Isolada. Isolando-se de todo mundo. Eu não sabia, em um primeiro momento, que você tinha medo de acampar… mas é o meu dever como conselheira ajudar as pessoas, e você, Emma, parecia que precisava de ajuda. Se eu soubesse originalmente sobre os seus medos, talvez não teria me esforçado tanto tanto para te manter aqui, mas pense, no final do dia, estar aqui te ajuda. Quanto mais perto você chega das pessoas, Gwen, eu… parece que vale a pena. Você está quieta. Está brava comigo?”
“Eu achei que você me odiasse.” Eu disse, tentando processar seu grande discurso. “Obrigada por me contar sobre isso. Você está certa. Tem sido uma coisa boa — algo que eu não escolhi para mim, mas valeu a pena.”
Mais tarde naquela noite, na cabana, com uma Lauren exausta já roncando, já que seus deveres adicionais a deixaram tão cansada, eu escrevi sobre como meus dias continuavam ficando cada vez melhores. Eles eram praticamente livres de estresse, fora a ansiedade que vinha por conta do acampamento, mas até mesmo isso estava melhorando. Escrevi sobre a Vivian e nossas conversas íntimas, sobre as lições da Sra. Black na cozinha — nunca mencionando que eu queria ser expulsa do acampamento. Pela primeira vez, talvez na vida, eu me sentia positiva, como uma adolescente normal.