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Tradução: Note | Revisão: Bibi
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Capítulo Catorze
Dois dias se passaram e, de repente, era dia dezoito de julho. Estava há três semanas nesse acampamento e ainda me encontrava lidando com o fato de que tinha uma crush de verdade pela primeira vez na vida. Ter uma paixão em alguém era um dos sentimentos mais otimistas e felizes do mundo. Era como uma pequena bolha que ninguém podia estourar, porque esses sentimentos eram seus e um segredo muito bem guardado. Ele ter se transformado em algo mais profundo e recíproco me deixava abismada, porque não era mais apenas um segredinho feliz; era a minha realidade, e a coisa assustadora em escapar da fantasia era a imprevisibilidade da vida.
E ninguém era mais imprevisível que a Vivian Black.
A teia de aranha balançando no canto do teto sobre a minha cama não me impediu de encarar o espaço por um tempo depois do jantar, revisitando cada momento com a Vivian na minha cabeça, de novo e de novo, até que eles parecessem nada mais que um devaneio bobo. Eu me virei de lado ao mesmo tempo que a Lauren se mexeu na cama dela. Desde quando ela tinha voltado? A Abby ainda deveria estar na aula de yoga.
“Emma, você interpretou errado muitas coisas que acho que preciso explicar.” Lauren disse calmamente.
Repentinamente fiquei consciente da nossa última conversa. “A Vivian explicou para mim. Não se preocupe.”
“Tenho certeza de que ela explicou.” Lauren sentou na lateral de sua cama e bateu as mãos. “Somos compatíveis, Emma. É um daqueles relacionamentos de amor e ódio que eventualmente resultam em um relacionamento romântico.”
“Não estava ciente de que tínhamos uma situação de amor e ódio.” Admiti.
“Nem eu. Não até conseguir descrever em palavras a tensão constante entre nós.”
“Pois é, essa tensão entrelinhas que sente? Acho que é só você sente.” Esfreguei minha testa. As rejeições de candidaturas de emprego feitas por email são pontuais e curtas, certo? É o que precisava ser feito aqui. “Obrigada pelo seu interesse, mas não estamos, quer dizer, eu não estou procurando pelo o que está me oferecendo neste momento. Nossos interesses não estão alinhados.”
O silêncio imediato me forçou a abrir meus olhos e espiar o resultado das minhas ações. Lauren estava na mesma posição, com seus dedos entrelaçados em seu cabelo, congelada. “Você nem me deu uma chance. Sei que disse isso por conta daquele dia… quando te deixei naquela árvore, mas você trata o Mike como se isso nunca tivesse acontecido.”
“O Mike se desculpou comigo.” Eu disse.
“Que tal a Jessie, então? Também vi vocês duas conversando há alguns dias.”
“Ela também se desculpou. Mas isso não significa que, automaticamente, viramos amigas de novo. Não é assim que funciona.”
“Eu sinto muito.”
“Sabe, eu poderia ter acreditado nas suas desculpas se não fosse pelo fato de ter invadido a minha privacidade. Primeiro foi meu celular. Então você coagiu a Gwen com as minhas cartas? Seja honesta comigo. Por quê?”
“Você nunca leu um livro realmente bom e quis que ele nunca acabasse?” Ela perguntou. “Ler as suas cartas foi assim para mim. Você anda pelo acampamento com a Gwen e se distancia de todos os outros, mas, quando li suas cartas, tive uma visão de dentro da sua cabeça. O jeito que fala da sua mãe… sobre não te aceitar por quem você é. Por largar você, esquecer dos seus aniversários, e as discussões entre os seus pais, caramba, você até mesmo se culpa pelo divórcio deles por ter se assumido aos doze anos, Emma.”
“Não preciso de um resumo da minha vida, Lauren.”
“Sinto muito. Nós nos entenderíamos. Meu pai… ele é igual a sua mãe. O jeito que você desesperadamente odeia o acampamento e quer ir embora para passar tempo com o seu pai? É o exato oposto para mim. Quero ficar aqui para não ter que lidar com ele todos os dias do verão. Parece que estou lentamente morrendo por manter esse segredo escondido a cada segundo quando estou ao redor dele. Mas é melhor do que ser deserdada por ele por ser gay. O acampamento sempre esteve aqui para mim. Cada verão, sem falha.”
“Sinto muito por seu pai ser assim.” Disse, sabendo que pais homofóbicos são bem complicados. “Por que fazer que todos ignorem a Gwen?”
“É sempre sobre ela, certo?” Lauren perguntou. “Ela tem tudo. No próximo verão, poderia liderar esse lugar junto com a família dela, se quisesse. Não precisou ler as suas cartas para te conhecer. Por que ela pode ter tudo sem nem tentar? Precisa ter um equilíbrio. Se ela tem você, não deveria ter o resto dos meus amigos também. Não posso ter uma coisa para mim?”
“Você a tratava desse jeito antes mesmo de eu estar na jogada, Lauren.”
“Só tem uma vaga para conselheiro do acampamento no próximo verão, e esse lugar é gerido pelo nepotismo. Por que ela iria querer ser uma conselheira no próximo verão se odiasse estar aqui esse ano?”
“Por que está me contando isso agora?”
“Você perguntou, e eu queria ser aberta com você, para mostrar que você pode se abrir comigo também, que é algo possível. Além do mais, com certeza não há chances de eu conseguir aquele trabalho ano que vem. Não mais.”
“Esse é o tratado que fez com a Vivian, certo? Você conseguiria a vaga no ano que vem se deixasse a Gwen em paz?”
“Isso mesmo.”
O ar na cabana, de repente, ficou insuportavelmente denso e quente. As únicas janelas que tinham aqui estavam acima da cama da Lauren e no banheiro — ambas longe demais. O único som na cabana eram os tiques rítmicos do meu relógio. Não podia dar nove horas logo, para que a Abby entrasse e nos distraísse com conversas fiadas sobre o que aconteceu na aula de yoga? Por que tinha que ser sempre assim? Eu, contando os segundos ao redor da Lauren, agora que sabia que ela gostava de mim?
Vivian esteve no meu lugar antes e rejeitou a Lauren.
“Ei…” Eu disse, cortando o silêncio tenso. “Quando chamou a Vivian para sair, você não gostava dela de verdade, não é? Só queria um jeito de conseguir a vaga de conselheira.”
“E se eu dissesse que sim?”
“Eu diria que esse acampamento não é um lugar saudável para você estar.”
“Vou me desculpar. Vou me desculpar com todo mundo. Com você. De verdade.”
“Em troca de quê?”
“Você me dá uma chance.”
“Desculpa, Lauren, não posso.”
“Não pode ou não quer?”
Ambos, considerando que eu tinha alguma coisa com a Vivian, mas não podia dizer isso. “Sinto muito, Lauren, mas não. Entretanto, isso não significa que não podemos ser cordiais, certo?”
Se nossos papéis estivessem invertidos e ela me rejeitasse, eu iria querer ser deixada sozinha ao invés de ficar ansiosa nesse clima estranho em uma cama a alguns passos de distância dela. Mesmo com os olhos dela em mim, eu pensei que tinha sido ligeira quando saí da cama e consegui puxar a jaqueta da Vivian de volta para o meu corpo. Seu cheiro parecia uma bolha protetora, quente e macia.
A porta rangeu enquanto se abria um pouco antes que fosse fechada por uma mão acima da minha cabeça. Foi forte o suficiente para ela vibrar e alto o suficiente para ter sido ouvido por qualquer um que estivesse passando pelo lado de fora. Meu olhar se demorou nas juntas brancas da mão pressionadas contra a parede.
“Solte a porta, Lauren.” Ordenei, me virando.
“É isso, então? Você me rejeita e sai correndo para seja lá quem esteja esperando por você?” Ela se inclinou para mais perto, zombando. “Você está sempre saindo escondida daqui. Sei que você tem um companheiro de cama, quem é?”
“Especulação não é um jeito bom de descobrir as coisas, Lauren. Além do mais, você acha que tem direito de saber dessa informação por…?”
“Não é sobre ter direito.”
“Então é sobre o quê? Porque você se sentiu no direito de pegar meu celular e minhas cartas. Talvez seja o tamanho do seu ego depois da rejeição? Sinto muito, mas não gosto de você desse jeito. Sinto muito, mas não gosto.”
“Vou descobrir com quem está se encontrando.” Ela declarou com um olhar feroz em seus olhos. “E quando eu descobrir…”
“O quê? Vai espirrar suco de maçã no meu cabelo? Já passei por isso, já fiz isso.”
“Emma, se você não me contar—”
Eu a empurrei para longe de mim e não parei por aí. Enquanto ela tropeçava por conta de um sapato, andei adiante e a empurrei de novo com um grunhido de esforço. Ela não conseguiu encontrar nada para se agarrar e equilibrar seu peso e, consequentemente, caiu de bunda.
A porta da cabana abriu, e assim que Abby entrou, ela notou a Lauren e ficou ao seu lado em segundos.
“Mas que diabos, Emma? Você está bem, Lauren? Sinceramente, gente.” Abby disse. “Vocês estão destruindo a cabana toda manhã por semanas e perseguindo uma a outra durante o dia. Eu só tive paz quando vocês foram naquela viagem de isolamento. Vocês precisam se resolver. Isso está me enlouquecendo.”
“Sinto muito, Abby.” Eu disse e então me retirei da situação, escapando para fora da cabana e saindo em direção à cozinha.
Joguei o capuz da jaqueta da Vivian sobre a minha cabeça, arrastando os pés. No canto do meu olho, luzes do lado de fora de uma cabana se acenderam, interrompendo meu trajeto. Mesmo que estivesse longe, congelei como um animal selvagem no trânsito. A porta da cabana foi chutada e Vivian saiu com as costas arrepiadas como um gato caçando, pronta para arranhar qualquer coisa que entrasse em seu caminho.
“Toc, toc.” Anunciei minha presença, me balançando para frente e para trás com meus calcanhares. Vivian se assustou.
“Por acaso você alguma vez não vaga durante a noite?” Vivian falou irritada. “É contraditório – você tem medo de acampar, da floresta, de animais, e aí está você, vagando pelo acampamento durante as horas mais perigosas.”
“Somente nas noites em que não estou irritada.” Admiti.
“Mas você sai na maioria das noites.” Ela apontou.
“Estou em um estado constante de irritação. Por que você está aqui fora? Não te deixa assustada ficar aqui sozinha, nessa cabana?” Perguntei. “Estou presa com a Lauren, e até isso parece mais seguro do que estar sozinha.”
“Gosto de ter meu próprio espaço.”
“Não me diga que tem uma aranha aí dentro.” Provoquei. “É por isso que está fora da cama? Uma aranha?”
“Só estou cansada. Tenho certeza que pode simpatizar com essa situação.”
“Com certeza. Geralmente é porque meu cérebro está ocupado demais pensando. Então, a questão é, sobre o que você está pensando?”
“Você não adoraria saber?” Ela disse maliciosamente. “E você? O que vai fazer enquanto usa minha jaqueta?” Ela perguntou.
Coloquei uma mão na maçaneta da porta da cabana ao invés de responder à pergunta dela. A Vivian claramente não tinha nenhuma intenção de me parar, e eu precisava investigar. O quarto estava escuro, então empurrei a porta o suficiente para que o luar iluminasse o interior. As botas da Vivian pisaram contra as pedras, saindo de perto da cabana. Do nada, alguma coisinha preta correu pelo chão, fazendo com que eu tropeçasse em mim mesma e tivesse dificuldade de sair da cabana.
Girei e agarrei o corrimão com ambas as mãos, me equilibrando enquanto arfava. “Que diabos foi aquilo?”
Vivian estava nas pedras, de braços cruzados, fazendo uma carranca. Conforme ela murmurava alguma coisa, me inclinei contra o corrimão para me aproximar. “O que você disse?”
“Você estava certa, é uma aranha.” Ela sibilou, batendo os pés. “Uma criatura minúscula apareceu lá para transformar minha vida num inferno. Você quer ganhar a competição, não quer?”
“A essa altura, não acho que consiga me alcançar.” Bati nos dedos dela para que ela soltasse. Eu me inclinei contra o corrimão, me esforçando ao máximo para não colocar minha mão sobre a dela, que estava agora agarrando a parte da frente da minha jaqueta. “Está sugerindo que eu chute aquela porta como um cavaleiro de armadura reluzente e salve o dia? Que clichê, não acha? Pedir para a garota que tem medo de, literalmente, tudo isso?”
“É um inseto.”
Ela não ia dormir aquela noite com aquela coisa ali. “Quer que eu mate aquela besta imunda?”
“Estou pedindo que educadamente peça que o meu intruso se retire. Faria isso por mim, não faria?”
O luar fez o cabelo da Vivian parecer mais macio que qualquer outra substância imaginável da Terra. Eu me ouvi falando antes mesmo do pensamento se originar na minha cabeça. “Tudo bem.”
Eu me atrapalhei por alguns minutos, jogando as coisas para fora do caminho para pegar a aranha com um lenço, então a joguei fora na porta da frente. Vivian estava sentada com as pernas debaixo da última barra do corrimão, com os cotovelos encostados na barra do meio, e o queixo no topo de suas mãos abertas. Suas bochechas estavam rosadas.
“Sobre o que está pensando?” Perguntei.
“Você.” Vivian respondeu. Ela se levantou de sua posição na plataforma de madeira e veio em minha direção. Abriu o zíper da minha jaqueta, afastou o tubo de glitter no meu bolso da camiseta e colocou o chaveiro de coruja ao lado. Então ela pegou minha mão. Vivian me puxou em direção a porta da cabana dela e inclinou sua cabeça para dentro. “Não tenho medo de ficar sozinha aqui fora, mas prefiro ter companhia. Sua companhia.”
O olho da pequena coruja se destacou sob a lua. “Você gosta de mim.”
“Infelizmente.”
Vivian pressionou um dedo na lateral da luminária ao lado da cama dela três vezes, e uma luz amarela iluminou o pequeno espaço. Eu estava relaxada agora que estávamos do lado de dentro e andei para trás em direção ao meio do cômodo até que senti a extremidade da cama, então me joguei nela. À direita, pendurada em uma parede, estava um mural de uma grande árvore de bordo, mas ao invés de um número esmagador de folhas laranjas, tinha uma variedade de cores, como um arco-íris.
Estava no meu lar, mesmo longe dele. Eu considerava o meu quarto em casa meu próprio porto seguro, com bugigangas e confortos que eram meus. Essa cabana emitia a mesma sensação; parecia que tinha encontrado uma porção do cérebro da Vivian, e era incrível.
“Você sabe dos meus lanches de madrugada. Você com certeza esperou lá fora até que eu passasse.”
Vivian chutou umas roupas do caminho conforme atravessava o quarto e se sentou delicadamente na extremidade da cama, unindo as mãos. “Agora, isso é o que chamamos de paranóia, Emma. Você claramente não tem dormido muito. Não faça acusações que não consegue sustentar.” Ela provocou, passando a mão pelos lençóis. Suas bochechas estavam levantadas no que pensei ser um riso malicioso. “Aprendi algo sobre você hoje. Algo fundamental para decidir se quero ou não continuar com esse cortejo.”
“E o que foi?” Perguntei, caindo para trás, para que minhas pernas ficassem penduradas para fora, mas minha cabeça descansasse no meio da cama.
“Você é corajosa.”
Meus olhos se fecharam. O acampamento me fazia sentir o exato oposto, mas estar aqui com a Vivian? Ela me tornava corajosa. “Uma aranha é literalmente um pequeno obstáculo na vida, Vivian.”
“Você é corajosa porque, nenhuma vez, mencionou em voltar para as cabanas e sair da floresta antes de encontrarmos a Jessie. O pensamento nem passou pela sua cabeça e, mesmo que tivesse, você não o externalizou.” Um murmúrio de satisfação soou da minha garganta enquanto ela passava os dedos pelo meu cabelo. Ela continuou: “Você vai explicar os motivos por trás das suas fobias algum dia?”
“É besteira.” Admiti.
“A maior parte das coisas relacionadas a você são, mas eu não me importo.”
Eu ri um pouco. “Enquanto crescia, adorava estar ao ar livre. Eu gostava de cochilar em uma cadeira de jardim ou em um trampolim, sentindo o sol contra o meu rosto. Um dia, meu pai decidiu que era a noite perfeita para armar uma barraca no jardim da frente. As discussões entre os meus pais eram infindáveis, então aproveitei a chance de separá-los por um tempo.”
“Quantos anos você tinha?” Vivian perguntou.
“Dez. Um segredo: eu costumava amar, e eu realmente quero dizer amar, subir em árvores.”
“Acho difícil acreditar em você.” Ela me disse. “O que aconteceu?”
“Então eu vim para o acampamento.” Virei minha cabeça para o lado conforme ela revirava os olhos. “Lauren e Mike queriam dar uma volta no acampamento na nossa última noite aqui. E quando ouvimos alguém vindo, subimos nas árvores o mais alto do que eu já havia subido na vida. Eu juro, Vivian, parecia que o mundo ia acabar. Eu não conseguia respirar. Tudo continuava girando ao meu redor. Então, estou lá, em um galho, congelada e incapaz de falar, e eles desceram e me deixaram lá.”
Os dedos de Vivian circularam bem abaixo da minha orelha e ela perguntou: “O que você fez?”
Encarei o teto novamente e fechei os olhos. “Basicamente chorei. Estava frio, úmido e miserável, e não pude fazer nada sobre isso.”
“Está omitindo alguma coisa. Você subiu. Por que não pôde descer?”
“Tinha um galho acima de mim, um dos últimos no topo, que estava balançando sem parar.”
“Estava com medo de que fosse te acertar?”
“Primeiramente, até que notei o que tinha no galho. Era um ninho de vespas. Eu sentei lá por horas com a cabeça travada para cima, sentindo a chuva contra o meu rosto, mas não me importava, porque estava petrificada pelo pensamento das vespas me picando até que eu morresse. Mesmo quando o vento parou, senti que se eu gritasse, ou fizesse qualquer outro som, as vespas acordariam, ou algo do tipo, e me atacariam. Seu pai eventualmente me tirou de lá.”
Ouvimos o tamborilar da chuva leve contra o telhado, então Vivian disse: “Estou com tanto dó de você que estou até mesmo disposta a deixar que durma na cama, e não no chão.”
“O que os vizinhos pensariam?”
Vivian enrolou uma mecha do meu cabelo, mudando de posição para que seu rosto estivesse acima do meu. “Tenho certeza de que eles continuarão consumidos pela visão hétero da vida deles e não pensarão duas vezes sobre o assunto.”
“Vai me deixar passar a noite aqui?”
Ela tomou uma respiração funda. “Conceda-me a vitória do cortejo e veremos.”
“Nope.”
Ela colocou meu cabelo atrás da orelha e começou a organizar suas coisas. Assumi que o único motivo dela não ter surtado era por serem suas roupas de conselheiras que estavam jogadas por aí, e não suas roupas pessoais.
Levei mais tempo do que gostaria de admitir para sair do transe em que ela me colocou ao mexer com o meu cabelo e me levantar para ajudá-la a colocar as coisas de volta em seus respectivos lugares. Levamos somente alguns minutos porque estava claro que esse quarto geralmente era mantido impecável, e ajudou que as únicas coisas que foram jogadas enquanto eu perseguia a aranha estavam facilmente acessíveis.
Vivian andou em minha direção, abriu minha jaqueta e então a tirou de mim, colocando-a nas costas da cadeira perto da mesa. Ela voltou e pegou o glitter e o chaveiro do bolso da minha camiseta. Ela os colocou na mesa também, sem dizer uma palavra, então jogou um par dos pijamas dela para mim.
Tudo que ela teve que fazer foi se livrar das botas e então subir na cama e esperar. A única luz restante no quarto vinha da luminária ao lado da cama dela. Uma das minhas mãos descansava em meus quadris, e a outra segurava os pijamas que ela me deu.
“Vou fechar os olhos.” Ela me garantiu.
“Não ia pedir isso, mas é uma boa.” Sussurrei, me trocando desajeitadamente no meio do quarto.
“Você está nervosa.” Ela deduziu, soando um pouco entretida. Um momento se passou sem que nenhuma de nós duas falasse nada. Troquei minhas roupas do acampamento pelo pijama e fui até o final da cama. Ela quebrou o silêncio, sugerindo: “Pense nisso como uma festa do pijama.”
“Nunca tive uma festa do pijama antes.” Revelei relutantemente.
“Posso?”
“Sim, desculpa.”
“Bem.” Ela disse, abrindo os olhos e olhando diretamente para mim, fazendo meu coração acelerar. “Você já se imaginou numa?”
“É claro.”
Vivian bateu no outro lado da cama depois de puxar o cobertor. Segui sua instrução silenciosamente e deslizei para debaixo do cobertor. Deitar de barriga para cima, rígida e sem me mover não era parte do plano, mas foi o que aconteceu. Ela não se moveu para desligar a luminária. Ela se deitou de lado, para que sua bochecha descansasse contra seu travesseiro, e sorriu para mim. Vagarosamente, como se estivesse com medo de que eu mudasse de ideia e fosse embora, ela esticou sua outra mão em minha direção e gentilmente a colocou em minha bochecha, virando minha cabeça para que olhasse para ela.
Seus olhos praticamente brilhavam. “Conte-me sobre como imaginou uma festa do pijama.”
“Como nos filmes.” Eu disse. “Amigas compartilhando segredos, não tendo filtro porque escolheram estar ali. Pipoca. Não do tipo de queijo ou qualquer porcaria esquisita. Amanteigada. Pipoca de verdade, sabe? Filmes de terror, cobertores, não sei.”
“Podemos não ter pipoca, podemos não ser exatamente amigas, mas você escolheu estar aqui.”
“E o compartilhamento de segredos?”
“Algo que queira compartilhar?”
“Eu te considero como uma amiga. Uma melhor amiga, talvez, se não estou louca.”
“Melhores amigas cortejando uma à outra.” Ela murmurou, pensativa.
“Acho que tudo que resta é o filme de terror.” Disse.
“Ache o controle, e podemos, com certeza, assistir algo assustador.” Ela se ajeitou mais fundo no cobertor e deixou a mão roçar pela minha bochecha, queixo e pescoço, até que finalmente curvou uma mão ao redor da minha cintura e fechou os olhos. “Meu segredo é: prefiro muito mais ficar nessa posição.”
“Caramba.” Sussurrei para mim mesma. “Você é boa nisso.”
“Boa em quê?” Ela perguntou, tão presunçosa quanto é possível.
“Cortejar. Acho que posso desmaiar de tanta emoção.” Eu disse. “Caramba. Não acho que, em festas do pijama, uma participante fique encarando o lábio da outra. Provavelmente tinha muitas mensagens subliminares nesses filmes. Provavelmente saberia o que fazer agora se essas mensagens subliminares fossem, sabe, claras e explícitas ao invés de escondidas nas sombras.”
“Emma.” Ela disse com a voz rouca. “A mensagem subliminar pode rapidamente se tornar explícita se você continuar tagarelando sobre o que tem em mente.”
“De novo, isso não ajuda muito.”
“Conceda.” Ela murmurou.
“Não mesmo.”
“Conceda.” Ela repetiu, gentilmente me virando para minha lateral, para que sua mão se curvasse debaixo da minha camiseta e descansasse contra a pele das minhas costas. Meu corpo foi puxado para muito mais perto, até que conseguíssemos sentir a respiração uma da outra. “Conceda.”
Ela me beijou, e o mundo desapareceu. Foi lento e macio, confortável de um jeito que palavras nunca seriam. Seus dedos vagarosamente trilharam seu caminho para cima e para baixo nas minhas costas, até que saíram. Então seu dedão acariciou minha bochecha por um momento antes que voltasse sua mão para a minha coluna, deslizando os dedos para baixo e me puxando para mais perto, até que não houvesse mais espaço entre nós. Eu podia sentir as batidas do coração dela contra o meu peito.
O cheiro de rosas girava ao nosso redor, até mesmo à medida que ela removia seus lábios dos meus, para que eles se separassem.
Abrindo meus olhos, eu disse: “Uau.”
Ela descansou sua testa contra a minha. “Agora que você concedeu, e eu ganhei esse cortejo, acabou.”
Eu pisquei. “O que isso significa?”
“Estamos oficialmente juntas.”
“Bacana.”
“Bastante.”