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Tradução: Note | Revisão: Bibi
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Capítulo Nove
Acordei sozinha ao som do fogo crepitando e o murmúrio baixo das conversas do lado de fora da barraca. Meu estômago roncou conforme saí do saco de dormir da Vivian e não parou de fazer sons irritantes até que minha cabeça estivesse fora do tecido escorregadio. Conforme puxei o zíper da barraca para escapar do isolamento, algo chamou minha atenção no canto da minha visão. Era o brilho de um reflexo logo atrás da parte de cima do saco de dormir da Lauren, de algo digital, mecânico e definitivamente meu.
Enfiando o objeto no bolso do meu moletom, emergi do ambiente quente para o frio da manhã. Meu bendito celular! Todo esse tempo, Lauren estava com o meu celular. Agora que o tinha de volta, não havia motivo para guardar rancores da Lauren. Especialmente porque estávamos prestes a sair do acampamento isolado. Além do mais, ela não tinha um carregador. Com certeza ele morreu há eras. Nenhum dano verdadeiro havia acontecido além de atrasar meu plano de fuga.
Colocando meu chapéu no topo da minha cabeça, andei através do nosso pequeno acampamento em direção às outras duas campistas. Perguntei: “Não vamos ficar aqui outra noite, vamos? As acomodações não estão de acordo com meus padrões.”
“Emma, permitir que você dormisse no meu saco de dormir, ao invés do seu, foi nada além de uma bênção.” Vivian respondeu.
“Ele cheirava mesmo a rosas.” Admiti.
“Sua obsessão com rosas e corações podem dar a impressão de que você é romântica…”
“É isso que pensa de mim?”
“Você não é nada mais que uma arruaceira.”
“Vamos ficar aqui ou não?”
A pergunta fez Vivian direcionar sua atenção para a Lauren, que esteve anormalmente quieta. Ela respondeu: “Isso não depende de mim. Lauren?”
“Eu não sei…” ela parou. Com um levantar sutil da sobrancelha da Vivian, ela soltou um suspiro derrotado. “Acho que não. Não.”
“E qual é o porquê disso?” a conselheira pediu, claramente aproveitando vê-la se contorcendo.
“Olha,” Lauren começou. “Sinto muito. O motivo de ter sido horrível com você foi–”
“Eu sei.” eu interrompi. Bem, eu não sabia o porquê dela ser uma valentona num geral, na verdade, mas sabia o que ela tinha feito. Ela roubou meu celular.
Vivian perguntou, virando para mim, com os olhos estreitos em descrença. “Acho isso difícil de acreditar.”
“Você sabe?” Lauren disse, não acreditando em mim enquanto eu assentia.
“Sim, não é grande coisa. Tudo está resolvido agora. Eu te perdoo. Então por que não voltamos e esquecemos de tudo?”
Lauren, claramente não entendendo, perguntou: “Esquecer de tudo e seguir em frente?”
Meu chapéu estava se movendo de um jeito estranho com a intensidade com que eu estava assentindo. “Aham.”
Elas pareceram silenciosamente concordar em seguir em frente. Arrumamos nossas coisas rapidamente e trilhamos pela floresta até que chegamos de volta à área principal do acampamento. Era um alívio tão grande ver as cabanas novamente. Por algum motivo, uma pontada de decepção correu pelo meu sistema e eu não soube dizer o porquê. Eu surtei no meio da noite, mas não tinha nada a ver com o meu entorno. Tinha mais a ver com a Lauren e a me sentir vulnerável. Meu pulso correu à velocidade da luz quando a Vivian me tocou, mas isso era irrelevante. Eu ainda estava respirando – viva e bem depois de passar toda uma noite na floresta. Considerando que todos os pensamentos anteriores ao isolamento eram sobre sair desse acampamento o quanto antes, era um milagre que o meio da minha fuga – meu celular – estava lá e esperando para ser usado. No entanto, não havia aquela onda de conquista correndo em minhas veias.
Com todos andando pelo terreno, incluindo os funcionários, era hora de fazer a coisa que tinha me prometido, e aparentemente para a Vivian, desde o primeiro dia. Peguei meu celular do bolso e comecei a acenar com ele por aí como uma lunática.
“Mas que diabos acha que está fazendo?” Vivian falou brava, pegando o celular das minhas mãos. “Pensei que tinha perdido?”
“E tinha.” Franzi a testa.
“Estávamos no acampamento isolado por um dia. Se o tivesse encontrado antes, então o teria balançado por aí. Onde estava?”
Lauren estava se misturando com os Castores, seguramente fora do alcance de nossas vozes. “Debaixo do travesseiro dela.” Disse. “Posso pegá-lo de volta?”
“Não.” Ela recusou. “Desculpa, mas você ultrapassou o prazo de usar isso como um modo de escape. Pontualidade é importante em todos os aspectos da vida.”
“Prazo? Você impôs um prazo secreto?”
“Não é mais tão secreto.” Ela enfiou o aparelho dentro do sutiã dela com uma expressão desafiadora. “Ir atrás dessa coisa poderia ser visto como assédio. Pense cuidadosamente.”
“Eu não te entendo.” Disse.
“Ótimo.” ela falou, satisfeita.
Ao vê-la ir embora com meu aparelho firmemente colocado em seu sutiã tive vontade de socar uma parede até que meus punhos estivessem crus e ensanguentados. Magicamente, eu havia encontrado meu celular sem nem tentar e então estraguei o plano que faria para quando o encontrasse: acenar por aí para alguém responsável que não fosse a Vivian Black. Quão estúpida eu era?
Vivian se juntou aos outros conselheiros conforme andavam em bando para o edifício principal e todos os grupos de campistas estavam agrupados juntos do lado de fora de suas respectivas cabanas. Conforme tropecei pelo caminho até os Castores, Gwen comemorou no lugar, sozinha. Mesmo sem a voz constante da Lauren mandando no resto deles por aí, eles seguiam as ordens dela de ignorar a Gwen.
Gwen me cumprimentou como se não percebesse. “Você está de volta!”
“Surpreendentemente ilesa e não assustada pelo resto da vida.”
“Você está mesmo sorrindo.” Ela notou, inclinando a cabeça para o lado, como se fosse a coisa mais peculiar. “Você tem um belo sorriso.”
“Não é uma ocorrência tão rara, sabia. O que aconteceu nas últimas vinte e quatro horas?” Eu disse.
Ela me cutucou. “Fora o Walter me implorando para te substituir nas partidas de Pokémon?”
“Ele fez isso? Aquele traidor.” Eu disse, secretamente feliz.
“Se vale de alguma coisa, não sou uma oponente digna.” Gwen disse. “E então nada mais de excitante. Teremos uma inspeção nos quartos. Poderia ser terrível se você tivesse algo a esconder. Você tem menos… de trinta segundos para resolver isso. Pode ser menos, porque minha irmã anda rápido. Olhe só para ela.”
É claro, quando olhei sobre meu ombro, todos os conselheiros estavam vindo para as cabanas. Vivian deslizou sobre as pedras, como se os pequenos obstáculos incômodos não fossem um problema para ela. Especialmente naquela velocidade, eu teria tropeçado pelo menos seis vezes.
Tomando dois passos largos rápidos, Gwen ficou em frente a sua cabana com uma expressão que fez o momento parecer que era o fim do mundo. Tentei oferecer um tranquilizante e sutil acenar de dedo, porque ela mal sabia, mas Vivian já estava com o meu celular.
Nossa cabana, azarado número treze, era a primeira. Não era tão surpreendente. Vivian não considerou as cabanas catorze e quinze e só tinha olhos para a nossa conforme vinha para cá.
Vivian colocou uma mão no meu peito e me empurrou antes que eu pudesse entrar na cabana. “Não quero que o espaço fique tumultuado. Fique aqui fora.”
“É, Lane, fique aqui.” Lauren concordou, me empurrando para fora do caminho, para que ela ficasse na porta ao invés de mim. Vivian voltou e prontamente bateu a porta na cara da garota. Lauren se virou para mim, não parecendo rejeitada, mas parecendo quase tímida? “Emma, sobre mais cedo…”
“Pensei que tivéssemos concordado em esquecer sobre isso. Está tudo perdoado.” Especialmente agora que Vivian tinha confiscado meu celular de mim uma segunda vez. “Mas isso não significa que temos que ser amiguinhas.”
“Talvez.” Ela disse, parecendo quase sincera, “deveríamos?”
“Eu e você? Amigas?”
Antes que Lauren pudesse responder, a porta da cabana balançou aberta e Vivian marchou para fora, segurando meu celular na mão. Os olhos de Lauren quase pularam da cabeça dela quando ela o viu.
Vivian empurrou por entre nós duas e mostrou o celular. “Qual das senhoras é dona disso?”
Eu franzi a testa, imaginando onde ela queria chegar – o tempo todo confiando o suficiente para seguir seu exemplo e agradecendo que minha tela inicial fosse uma mensagem de texto dizendo “Ahahaha você não sabe minha senha” e que eu o havia bloqueado. Ninguém passaria pelo meu código numérico. Quem adivinharia 1234?
“Nunca vi essa coisa a minha vida toda.” Eu disse.
“Lauren, ele foi encontrado debaixo da sua cama.” Vivian disse. “Não sei você, mas acho que as regras do meu pai são bem fáceis de se seguir. Parece que você não levou esse aviso a sério.”
“Isso é da Emma, não meu.” Lauren afirmou, virando-se para me encarar.
“Parece o meu, mas como ele foi parar na sua cama?” Apontei. “Qual foi, Lauren. Me fazendo tropeçar. Jogando bolas de queimada em mim. Espirrando suco em mim. Tentando me incriminar pela guerra de comida… agora roubando de mim? Quando isso vai acabar? A última vez que vi meu celular foi quando foi levado para ser trancado em um barracão escuro e fedido, ou algo do tipo.”
“Vamos, Lauren.” Vivian abriu o caminho entre nós com os ombros. “Você não quer um espetáculo público.”
Os sussurros começaram imediatamente, conforme a campista, emburrada, seguia a conselheira, que parecia muito mais feliz do que a situação implicava. Antes que eu pudesse bater minha mão contra o meu rosto, porque tinha perdido minha chance de ser expulsa, Gwen agarrou meu pulso e o segurou contra o peito dela.
“Você… acha que ela será expulsa?” Gwen perguntou, espremendo minha vida para fora da minha mão.
“Provavelmente. Acha que se eu correr rápido o suficiente conseguiria reivindicar o celular como meu, antes que chegassem no escritório do Sr. Black?”
“Acho que você teria um ataque cardíaco depois de correr dez passos. Além do mais,” ela disse e deixou minha mão cair do seu peito, “Eu te derrubaria no chão. E, falando de tendências violentas…” ela parou e me levou para dentro da minha cabana para se sentar comigo na cama de cima. O resto dos campistas estavam ocupados demais prestando atenção no desastre público da Lauren para notarem para onde fomos. “Percebi uma coisa e acho que você não vai gostar.”
“Você pode falar qualquer coisa para mim, sabe disso, Gwen.”
“Sabe como os garotos puxam os rabos de cavalo das garotas e as tratam mal quando são crianças e gostam delas?”
“Merdinhas. Tenho conhecimento.”
“Bem… a Lauren tem puxado seu rabo de cavalo desde que veio para o acampamento.”
A Lauren gostava de mim? O ar quente do verão pareceu se transformar em um vento gélido, sufocando o ar dos meus pulmões e formando um nó ao redor do meu pescoço. A teoria selvagem e amarga da Gwen atingiu diretamente meus ossos e agarrou meu cérebro em suas garras congelantes. Balançar meu corpo não ajudou a afastar a ideia e o frio repentino dos meus membros. Tarde demais. A teoria virou gelo e se recusava a derreter.
“Você sabe o quê? Está certa. Não gostei nem um pouco disso.”
Gwen amaciou meu travesseiro e se aconchegou nele. “Mas você acha que estou certa?”
Pensei por um momento. “De jeito nenhum. Que tal você? E se ela gostar de você?”
“Detesto explanar para você, Emma, mas o jeito que ela me trata é bem diferente do jeito que ela trata você. Sou alguém para se ignorar, ridicularizar pelas costas, alguém para ser a esquisitona excluída, para que possa ter uma panelinha dentro do grupo de campistas.” Ela disse e pressionou a mão contra a minha boca para que não a interrompesse. “Ela é totalmente confrontadora com você. Física. Quase procurando atenção. Você não acha?”
“Não sei…”
“Reflita um pouco nisso.” Ela disse. “A propósito, Emma? Eu não shippo.”
E nem eu.
Antes que soubesse, era hora do jantar – isso significava vestir um avental e uma redinha de cabelo e servir as pessoas no balcão novamente. Ao contrário da primeira vez, não havia nervosismo, porque a Julie era a pessoa mais legal que já viveu. Sua paixão pela comida competia com o amor dela pelos filhos e, de todo modo, ela tinha compaixão; o tipo de pessoa que, somente com seu sorriso, poderia tranquilizar qualquer um. A Sra. Black preparou hambúrgueres caseiros e batatas fritas. O molho barbecue que ela fez para acompanhar a comida tinha um cheiro delicioso.
“Você sabe se a Lauren Peterson foi expulsa do acampamento?” Virei para pegar outro prato.
“Não houve nenhuma menção disso na reunião sobre o isolamento com a Vivian nesta tarde.” A Sra. Black murmurou. “Sabe, querida, se tiver quaisquer problemas, com ela ou qualquer outro campista… sabe onde estou.”
Conforme me virei para trás novamente para encarar outra pessoa esperando pela comida, lá estava Lauren, impacientemente tamborilando os dedos contra o balcão.
“Oi, Lane.” Lauren me cumprimentou, batendo as mãos para ganhar minha atenção. Do canto da minha visão percebi Vivian olhando para nós.
“Que diabos ainda está fazendo aqui?”
“Digamos que Vivian e eu fizemos um acordo.” Ela me disse com uma piscadinha antes de sair para se sentar com os Castores.
Ela e Vivian fizeram um acordo. Não somente a Vivian tinha meu celular, ela roubou meu plano de fuga, deu-o para a Lauren e eles, de algum modo, chegaram à conclusão de que a Lauren deveria ficar no acampamento. A piscadinha estava insinuando alguma coisa… sexual? Precisava lavar meu cérebro. Não consegui tirar essa imagem da minha cabeça pelo resto do jantar. Gwen errou o palpite de longe! Por mais que eu não me shippasse com a Lauren… isso não significava que queria que ela ficasse com a Vivian. Vivian merecia um ser humano decente. Alguém com quem pudesse se divertir. Uma pessoa tranquila para balanceá-la. Quem era a pessoa mais tranquila que eu conhecia? O que significava que meu nome era o primeiro a surgir na minha cabeça? O acordo. Isso era mais importante, não meu pânico com a ideia da Vivian estar com alguém como a Lauren. Lauren e Vivian? Credo. Shippar? Quem eu era? Gwen?
Com cada colherada de comida, minha mente vagava – meu plano de fuga estava arruinado e Lauren ficaria por aqui. Agora eu tinha que lidar com toda a situação das cartas. Com a permissão da Sra. Black, fiz uma pausa de dez minutos e acenei para a Jess, do lugar dela ao lado da Lauren, para uma mesa vazia.
Assim que sentamos, fui direto ao assunto. “Lauren disse que você deu minhas cartas a ela. Não, Jessie, não quero nem discutir sobre isso. Não preciso te dizer o quão fodido isso é. Você já sabe. Eu inspecionei minha cabana diversas vezes, então teria notado se a Lauren estivesse com elas. Isso significa que ainda estão com você, e eu não confio mais em você. Eu as quero de volta.”
“Eu… Emma, na verdade elas não estão comigo.”
“Olha, estou te dando uma chance aqui, antes de eu reportar isso para a Vivian. Devolva-as para mim ou você e a Lauren provavelmente serão expulsas por bullying.”
“Emma,” ela disse apressadamente. “Estão com a Lauren! Eu juro.”
“Não me importo com quem estão. Você que vai devolvê-las para mim, porque foi você quem vazou minha privacidade. É o mínimo que pode fazer, amiga de pena.”