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Tradução: Note | Revisão: Bibi
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Capítulo Dez
Nas primeiras horas da manhã, meu estômago começou a agir igual meu gato, o Thomas. Ele miava constantemente exigindo comida e me seguia por toda a casa até que sua missão estivesse completa. E nem era eu que caía nas manhas dele o tempo todo. Era meu pai que caía em suas cabeçadas adoráveis e charmosas.
O único problema era que nossa cabana não tinha lanchinhos e a cozinha estava trancada. Eu tinha tomado a decisão de confiar minhas chaves com a Vivian e não queria exatamente irritá-la às três da manhã. Saí da nossa cabana e andei até o refeitório. Geralmente, de noite, as luzes internas do edifício faziam todo o acampamento parecer iluminado e seguro, mas daquela vez era o oposto, já que as luzes estavam desligadas.
Aquele sentimento de inquietação não foi embora até eu abrir a fechadura do refeitório e entrar, deslizando por trás da área de serviço para ter acesso à cozinha. Justamente quando estava abrindo a porta da cozinha, uma mão cobriu minha boca e nos puxou até estarmos ambas dentro antes que fechasse a porta.
“Acalme-se, Emma.” Gwen sussurrou bem na minha orelha. Comecei a murmurar debaixo de sua mão fria. Ela me soltou e me virou para que eu ficasse de frente com sua expressão tímida. “Desculpa, acho que fiquei animada demais.”
“O que está fazendo aqui, Gwen?” Perguntei, passando por ela para ir para trás do balcão.
“Seguindo você, boba. O que mais estaria fazendo?”
“Talvez roncando noite afora com o resto do acampamento?”
“Eu não ronco, Emma.” Ela me repreendeu. “Nem mesmo dividimos a cabana.” ela apontou, deslizando para se sentar em uma mesa redonda. “Você está mesmo com fome, ou estava esperando que alguém te pegaria revirando o estoque de comida? Por favor, pare de tentar ser expulsa, Emma. Minha mãe te adora; você sabe disso.”
“Se você conseguir ficar quieta por mais de dez segundos, todas as perguntas serão respondidas.” Com os segundos restantes no relógio imaginário, comecei a fazer sanduíches com os suprimentos que peguei durante nossa pequena falha de comunicação — presunto, cheddar e um pouco de manteiga. Cortei os sanduíches em metades e então olhei para cima. “Viu?”
“Entendi.” ela disse, arregalando os olhos. “É por isso que a minha mãe te deu as chaves desse lugar? Tem fome crônica ou algo do tipo?”
“Não, ela confia em mim.”
“Mas ainda sim, você não usou as chaves para entrar.”
“Nunca disse que eu confiava em mim.” Coloquei os sanduíches em um papel alumínio e os enrolei até que estivessem completamente cobertos. “Não queria perdê-las igual meu celular, então…”
“Espera.” Gwen levantou e se moveu para o outro lado do balcão. “Não sei o que abordar primeiro. Conversas com você são exaustivas.”
“Talvez podemos começar mencionando como sua mãe é incrível?”
“Não, comece com como perdeu seu celular, sendo que supostamente não era nem para estar com você, ou como deu as chaves que foram confiadas a você.”
“Já achei meu celular. Dei as chaves para a Vivian.”
“Onde o encontrou? Você confia na minha irmã?”
“Lauren estava com ele na nossa viagem de isolamento. Como que isso foi uma boa ideia, de todo modo?” Balancei a cabeça e pensei na minha segunda resposta. “Não sei. Ela é nossa conselheira. Tem que ter algum tipo de confiança nisso. Essa conversa dois-em-um é meio confusa.”
Enfiando um sanduíche em uma mão e deslizando o outro pelo balcão, contornei o balcão e gesticulei para Gwen me seguir para fora do refeitório. A porta era uma daquelas que trancam automaticamente quando são fechadas. As chaves só permitiam o acesso.
Com nós duas mastigando sanduíches de queijo com presunto, a calada da noite não era tão assustadora, mesmo que a única coisa que eu pudesse ver fossem as sombras do rosto da Gwen.
Subimos para nossas cabanas e ficamos no corrimão da minha.
“A Lauren pegou seu celular…” Gwen me encorajou a falar.
“A única coisa incriminante naquele aparelho é a quantidade exagerada de fotos do meu gato Thomas.” Considerando que Vivian tinha acesso a carregadores de celular, essas seriam as únicas imagens que ela poderia acessar também. “Peguei o celular de volta e, naturalmente, a Vivian o pegou de mim. Sua irmã é estranha, sabia?”
Gwen me ofereceu um toque de concordância no ombro antes de limpar uma migalha do lábio inferior. “O que ela fez para você dizer isso?”
“Ela enfiou meu celular no sutiã dela.”
“A Vivian sempre enfia coisas lá.” ela me disse. “Bolsos. Quem precisa deles? Ela não, com certeza.”
“Ela colocou meu celular na cama da Lauren durante a inspeção da cabana.”
“Não é como se ela não o tivesse roubado.”
“Mas por que a Lauren ainda está aqui? Dormindo bem ali naquela cabana.” Virei e cutuquei a porta com o pé. “Tipo, bem aqui, cara. Dormindo. Babando. Existindo. Sem ser mandada para a rua nem nada?”
Gwen abriu a boca para responder, mas a porta da cabana abriu violentamente. O som da batida contra a parede parou qualquer pensamento que ela tinha em mente. Era a Abby, com seus óculos desajeitadamente equilibrados no nariz. Quando ela nos notou, ela ficou com a expressão mais estranha possível. Eram só três e meia e ela poderia ter tido pelo menos mais três horas e meia de sono se não a tivéssemos acordado. Eu era a pior colega de cabana.
Abby acenou sua mão entre nós. “Estou interrompendo alguma coisa aqui?”
“Nós te acordamos?” Gwen disse. “Desculpe sobre isso. Acordo cedo e a Emma foi muito gentil em me fazer companhia.”
“Eu sempre sou gentil.”
“Claro, claro que é.” Gwen concordou, o seu tom estava ainda mais agudo do que um sino comum.
“Estou sentindo sarcasmo.” disse.
“Você confundiu isso com sinceridade.” Ela me disse, esticando a mão para acariciar meu braço. “Não fique paranóica com a gente agora, Em.”
“Você é atrevida, sabia disso?”
As sobrancelhas da Abby franziram. “É, eu interrompi alguma coisa.”
“Não ligue para nós. Comunicamos nossos pensamentos de um jeito não convencional.” Gwen balançou seus calcanhares para frente e para trás e acenou em direção ao edifício do acampamento. “Por acaso, vocês sabem o que faremos hoje? Minha irmã se recusou a me dizer o que vamos fazer no exercício de união.”
“Arco e flecha.” Abby bocejou. “Vou voltar para a cama.”
Gwen deu uma grande mordida em seu sanduíche. Mastiguei o meu também e, apesar de ser o melhor sanduíche que já existiu, ele não me ajudou a responder às minhas questões sobre o porquê a Vivian quis, de repente, fazer acordos com a Lauren. Talvez meu tempo seria melhor gasto se eu fosse até a cabana da Vivian e exigisse saber ali naquela hora mesmo, ao invés de encarar o vazio. Ou melhor ainda, acordar a Lauren. Não. Já tinha interrompido o sono da Abby uma vez, não seria de bom senso fazer isso de novo.
Depois do café da manhã, os Castores foram levados para um campo aberto com nove alvos colocados à distância. Havia uma linha de tiro claramente colocada no chão perto de nós. Arco e flecha parecia legal, mas o combinado desconhecido entre a Lauren e a Vivian fez com que fosse difícil de relaxar. Elevei um arco até o meu braço, puxei a corda como se fosse um violão e assisti conforme os outros pulavam de entusiasmo por se tornarem “guerreiros”.
Ao invés de tomar a liderança como geralmente faz, Vivian se sentou em um cobertor por perto no chão, fora do alcance dos tiros, mas perto o suficiente para manter a vigilância sobre os campistas e nosso professor temporário, um cara chamado Ryan, que o Sr. Black trazia todos os anos.
“Deixa eu adivinhar, esse também não é muito seu tipo de atividade?” ela zombou conforme eu andava até ela para dizer oi.
Desajeitadamente em pé ao lado do cobertor, eu disse: “Tem um motivo para eu querer sair do acampamento, sabe.”
“Você está brava.” Ela disse. “Eu sei.”
“Não, não estou brava. Estou tentando fazer uma limonada com os limões que a vida me deu, eu acho.”
“Eu obliterei seu plano de fuga e você não está brava?” Vivian perguntou.
“Por que a Lauren ainda está aqui?” Perguntei, mantendo minha voz baixa. “Acho que você não a reportou. Seu pai foi muito claro sobre o que aconteceria se fizéssemos algo estúpido de novo. Até perguntei para sua mãe e ela também não fazia ideia.”
“Como eu lido com insubordinação não é exatamente da sua conta, não é?” ela disse, me dando uma flecha que estava perto de seus pés. Ela deslizou os óculos de sol do topo da cabeça e cobriu os olhos. “Para variar, se esforce um pouco. Talvez você acabe se divertindo.”
Tomei as palavras como o que eram, uma dispensa, e fui até lá para ficar entre a Lauren e o Mike, o único espaço disponível. Mike se ofereceu para me mostrar como usar o arco e flecha, mas optei por observar o professor demonstrar na frente de todos, já que ele era um profissional.
Deveríamos erguer nossos arcos somente quando ele desse o sinal. E então iríamos andar em direção aos alvos, atirar e recolher nossas flechas. Não tínhamos permissão para mirar em qualquer direção que não fossem os alvos. A logística disso parecia simples, mas, na prática, lidar com o arco e flecha era pesado e desajeitado. Depois de ver o professor demonstrar algumas vezes, deixei a corda ir, mas a flecha disparou por alguns centímetros e caiu em cima do meu pé. Tentei de novo arrumar a flecha no arco, mas alguém agarrou meu braço.
“Não acho que você esteja fazendo isso certo.” Lauren disse.
“Não preciso da sua ajuda, Lauren.” disse, afastando-a.
“Diga isso para o seu braço mole.”
“Não preciso de uma flecha para ficar mole.” Eu disse incisivamente, olhando para minha região inferior.
“É assim.” Ela rapidamente pegou a flecha e ficou atrás de mim para que pudesse guiar meu braço para a posição correta para mirar. Irritantemente, sua respiração atingia a parte de trás da minha orelha. “É incrível o que se pode fazer na posição certa.”
“Já entendi. Cai fora.”
“Espera.” ela colocou as mãos nos meus quadris e vagarosamente separou minhas pernas, me fazendo congelar no lugar, incerta de como fazer ela sair de perto de mim. “Sua postura precisa se soltar um pouco.”
Minha mão agarrou o arco um pouco mais forte. “Lauren, eu já entendi.”
E ela de repente sumiu. Poof. Fora do meu espaço pessoal como se nunca tivesse estado lá.
“Você acha que o acampamento contratou um professor qualificado para essa baboseira?” Vivian retrucou, conseguindo fazer o corpo todo de Lauren enrijecer até voltar para o próprio lugar, o tempo todo encarando. “Não. Esse nível de desrespeito não será tolerado.”
“Estava mostrando para a Emma—”
“A Emma parecia pronta para enfiar a flecha no seu coração. Talvez uma aulinha de consentimento deveria ser ensinada novamente no acampamento, apesar da conscientização de todos os anos.”
Meu corpo estava estático. A única coisa que podia ver, ao invés do olhar usual de admiração que a Lauren frequentemente dava para Vivian, era nada além de puro ódio.
Segurei a flecha e murmurei: “Você fica melhor mole”.