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Tradução: Note | Revisão: Bibi
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Capítulo Dezessete
Uma semana passou voando e, com o fim do mês se aproximando, faltando somente cinco dias até a promessa da minha mãe de me tirar do acampamento, me encontrei encarando as coisas, as pessoas, tudo, por mais tempo do que costumo fazer. Não queria admitir para mim mesma que eu saboreava cada pedaço desse lugar, mas era verdade, e isso era um saco.
As sextas eram separadas para fazermos o que quiséssemos, e Gwen não hesitou em usar essa oportunidade para me apresentar Jenga, um dos jogos favoritos dela. Não consegui encontrar em mim a animação para quebrar a animação dela por compartilhar esse jogo comigo. Seria como chutar um cachorrinho. O sol estava insuportavelmente quente naquele dia. Essa atividade requeria movimento em um grande pano colocado na grama. Meus ombros giraram em círculos, me incentivando a entrar na mentalidade do jogo, mas também a me divertir.
“Não posso acreditar que nunca jogou isso antes. Eu, Walter e Vivian costumávamos jogar isso por horas e horas quando éramos mais novos.” Gwen me disse, ficando de pé atrás com as mãos nos quadris, admirando a estrutura. “Quando Walter e eu jogávamos, a Vivian passava e derrubava o negócio todo, igual o Godzilla. Você já quis ter irmãos?”
“O tempo todo.” Disse honestamente.
“Vou ser ousada e dizer que você tem alguns agora.” Ela colocou as mãos nos meus ombros. “Eu aprovo o seu relacionamento com a minha irmã. Você é a minha primeira amiga de verdade fora da família. Minha melhor amiga. Sou sua primeira amiga de verdade também. Dá para saber. Ambas estamos descobrindo como isso funciona juntas, e nos divertimos demais fazendo isso. O que estou tentando dizer é, você me faz feliz. Você faz a Vivian feliz também.”
“Acho que uma nuvem decidiu chover acima da minha cabeça e na de mais ninguém.” Murmurei.
Gwen limpou minha lágrima. “Sinta a emoção, Emma. Pode fazer bem para você às vezes.”
“Vamos começar esse jogo de Jenga!”
A torre chegava na cintura da Gwen e, depois de puxar uma peça da estrutura, tínhamos que colocá-la no topo para deixar a estrutura maior, mas não tão alta a ponto de Gwen não conseguir alcançar o topo. Gwen era meio que uma mestre de Jenga. Ela cutucava e batia nas peças do meio, determinando se compensariam seu tempo antes de empurrá-las e colocar uma no topo. Só para irritá-la, eu a coloquei em uma posição perfeita.
Era a minha vez, e eu decidi copiar a técnica dela. Ao invés de escolher uma peça do meio, empurrei um dedo contra as três últimas peças e, com esforço, tirei uma da lateral, fazendo toda a estrutura balançar.
“Você é uma daquelas jogadoras, huh.” Gwen murmurou, andando ao redor da torre e coçando o queixo. “Você joga sujo, Em. O objetivo é deixar a estrutura sã e salva pelo máximo de tempo possível. Você removeu uma peça vital.”
“É estratégico.”
“É o que a Vivian fala também.” Ela murmurou. “Vocês são muito parecidas em algumas coisas e completos opostos em outras. É fascinante.”
Não deveria ter me surpreendido quando a Vivian passou por mim com seu braço esticado. Ele colidiu contra toda a estrutura do jenga, destruindo-a em menos de um segundo.
Gwen se ajoelhou, cercada por todas as peças. Ela se enrolou em uma bola, levando os joelhos no peito, enfatizando a traição dela ao acariciar um dos blocos. Ela caiu dramaticamente de costas, jogou uma mão sobre a testa, e sussurrou: “Ela está demonstrando algum remorso?”
Vivian simplesmente saiu de perto de nós e foi em direção ao refeitório.
“Nem um pouco, pode parar com a atuação agora.” Disse, oferecendo um aceno quando a Vivian parou na porta antes de entrar.
“Uau.” Gwen murmurou, parecendo satisfeita.
“Estou surpresa que não esteja histérica com essa bagunça.”
“Confia, eu estou, por dentro.”
“Então…?”
“Você não me parece bem.” Gwen tocou na minha perna, preocupada. “O que está acontecendo nessa sua cabeça, Emma?”
“Recebi uma ligação da minha mãe semana passada. Ela é meio homofóbica.”
“Como alguém pode ser meio homofóbico? Ou você é, ou não é. Não sei o que dizer, além de dizer que sinto muito por ela ser tão terrível.” Gwen subiu em um bloco para se sentar na minha frente de pernas cruzadas. “Isso que está acontecendo? Pensando sobre a sua mãe? Ela disse alguma coisa para você?”
“O habitual. Insinuou que eu tinha um namorado inexistente.”
“Mas não é isso, é? Não é isso que está te incomodando.”
Eu me ajoelhei ao lado dela. “Se eu te contar, promete ficar de boa sobre isso?”
Gwen pensou nisso por um momento. “Prometo.”
“Ela vai me tirar do acampamento. Ela quer viajar para Roma. Com o Ethan, o marido novo dela.”
Gwen rapidamente ficou em pé, fazendo com que eu entrasse em pânico e tropeçasse para alcançá-la. Ao invés de correr para só Deus saberia onde, como eu esperava, ela cerrou os punhos e chutou um bloco o mais forte que podia.
“Para Roma? Por que Roma? Quem é Ethan? Quando, na próxima semana? Você contou para a Vivian?” Ela disparou. “Você nunca mencionou um Ethan.”
“Tenho certeza que mencionei uma vez. Eu nem o conheço, além de saber o nome dele.”
“Não vamos nos aprofundar nisso agora.” Ela disse, ficando parada. “Quando?”
“Acho que no meu aniversário. Quarta-feira.”
“É seu aniversário semana que vem?” Uma nova onda de pânico atravessou a pequena garota, forçando suas pernas a se moverem novamente, numa velocidade muito maior. “Meu Deus, Emma! Tantos problemas, tão pouco tempo para resolvê-los. Por que só está me contando agora? Semana passada. Você falou com a sua mãe semana passada. Já contou para a Vivian?”
“Não.”
“Por que contou para mim?!” Gwen gritou.
Comecei a entrar um pouco em pânico também. “Você disse que amigas compartilham segredos!”
“Sim, eu sei!”
“Por que está brava comigo por contar um segredo?”
“Eu não sei!” Ela gritou de volta. “Nunca estive em uma situação assim antes, ok? Mas está em todas as comédias românticas, Emma. Eu aprendi tudo com a Netflix. Você conta coisas importantes para a sua parceira antes de falar sobre elas com a melhor amiga! Certo? Precisamos escrever algumas regras de amizade, porque somos uma droga nisso. Você vai contar para a Vivian. Porque você não é estúpida o suficiente para esconder isso dela. Mas estúpida o suficiente para contar para mim primeiro.”
“Você disse melhores amigas… você sempre fala sobre compartilhar opiniões pessoais e segredos. Pensei que isso se enquadrava nesse tipo de coisa.” Eu disse.
“Eu sei, mas você também é a melhor amiga dela.” Gwen se acalmou de novo e caiu no chão em um ataque de tristeza. “Caramba, Emma. Por que você tinha que se tornar minha melhor amiga e então se mudar para Roma? Nem mesmo no mesmo país! Mas para a Itália! Aposto que a pizza lá nem é tão boa. Nem me faça começar a falar sobre as massas deles.”
“Não vou me mudar para Roma. Mas não acho que eu conseguiria sair de férias e voltar para a última semana do acampamento. Caramba, perderei duas semanas de acampamento. Merda. Além do mais, sua mãe e eu fizemos pizza hoje de manhã. Eles não podem superar isso.”
“Vamos comer essa pizza significantemente melhor do que qualquer outra pessoa tem a oferecer.”
O surto emocional em resposta à minha confissão me deixou impotente. Não tinha certeza da razão por trás de ter compartilhado aquele segredo, mas precisava ter feito isso, e era tudo do que tinha certeza. Navegar pelos campos da amizade era difícil, e as respostas eram difíceis de prever. Agora, sentar em uma mesa aleatória que logo estaria ocupada pelos irmãos Black não era surpreendente. Ultimamente, estamos nos sentando juntos, e não parecia estranho porque eles são irmãos, e eu era amiga da Gwen.
O que quase me fez engasgar com o pedaço de pizza foi o fato de que a Vivian não se sentou na minha frente como geralmente fazia no refeitório. Ela se sentou bem ao meu lado, pressionada contra mim com a mão na minha coxa, como se fosse a coisa mais natural no mundo. Em um refeitório cheio de adolescentes, alguns na fila para pegar sua comida e outros nas mesas viradas na nossa direção, não havia privacidade em estar na mesa dos conselheiros e, na realidade, eu não deveria ser capaz de me sentar aqui mesmo.
Os irmãos se conheciam, então viram que Gwen estava quieta e tímida. Vivian e Walter compartilharam um olhar, e Vivian me cutucou por uma resposta. Enfiei quase uma fatia inteira de pizza na boca para evitar falar.
“Tudo bem aí, pestinha?” Walter perguntou, cutucando o ombro da Gwen.
Gwen olhou para cima desviando o olhar de suas mãos, colocou-as na mesa, olhou diretamente para os olhos da Vivian e disse: “É o aniversário da Emma semana que vem.”
Walter acidentalmente fez seu pedaço de pizza voar pelo cômodo.
Vivian levantou uma mão com um olhar ameaçador no rosto. “Se alguém sequer pensar em declarar uma guerra de comida, eu vou aniquilá-lo.”
As pessoas que se levantaram com combinações diversas de comida nos punhos quietamente se sentaram de novo.
Aquele olhar ameaçador se virou para mim. “O aniversário da Emma, você diz? E quando é esse aniversário dela?”
“Emma foi bem vaga sobre os detalhes.” Gwen mentiu.
“Primeiro de agosto. Quarta-feira.”
Vivian virou para me encarar e cruzou as pernas para melhor acesso. “Em cinco dias? Você sempre acha jeitos de me surpreender, Emma Lane.”
“Lembra que isso é uma coisa boa?”
“É uma memória distante.”
Ela saiu da mesa de repente, até mesmo roubando a última fatia de pizza do meu prato.
“Ah, qual é!” Eu a chamei. “Não desconte na minha pizza!”
“Tarde demais.”
Walter, Gwen e eu permanecemos sentados e compartilhamos o restante da nossa pizza. Gwen fez argumentações válidas sobre Roma. Não que eu fosse me mudar nem nada, mas, se eu ficasse no acampamento ao invés de sair para viajar, eu teria mais tempo para passar com eles. Teria sido muito diferente se nós estivéssemos indo para nosso último ano e soubéssemos que teria outro verão para nos reunirmos assim, ou se eu morasse em Maine com a minha mãe. Mas o fato é que nós todos estaríamos em lugares diferentes depois que o verão acabasse. Os três eram uma família, e eu não tinha tanta sorte; não tinha esses mesmos laços. A mesma frase sobre isso não ser justo ecoou na minha mente, de novo e de novo.