⋅•⋅⋅•⋅⊰⋅•⋅⋅•⋅⋅•⋅⋅•⋅∙∘☽༓☾∘∙•⋅⋅⋅•⋅⋅⊰⋅•⋅⋅•⋅⋅•⋅⋅•⋅
Tradução: Note | Revisão: Bibi
⋅•⋅⋅•⋅⊰⋅•⋅⋅•⋅⋅•⋅⋅•⋅∙∘☽༓☾∘∙•⋅⋅⋅•⋅⋅⊰⋅•⋅⋅•⋅⋅•⋅⋅•⋅
Capítulo Dezoito
Tinham quatro dias restantes de acampamento, e sentar na beirada de uma fogueira, na floresta, ao invés de perto do edifício principal, teria me deixado trêmula algumas semanas atrás. A ideia não me perturbou quando nos sentamos nos troncos. Não foquei na aspereza do tronco sob a pontas dos meus dedos ou nas folhas esvoaçantes nas árvores. A chama crepitante e estalante era dominante com suas chamas sibilantes. Não fui forçada a estar lá fora de modo algum, pois era um horário fora do cronograma que tínhamos para nós mesmos. Os Castores decidiram escutar a histórias debaixo da sombra das árvores. Gwen queria ir e, com o meu tempo no acampamento em contagem regressiva, onde ela ia, eu ia.
O cheiro de suor e terra contribuíram para a sensação do nó no meu estômago. Foi principalmente pelo fato de que eu não podia me sentar ao lado de Vivian. Ultimamente, estar perto dela me fazia esquecer que eu estava na floresta. Ela tinha escolhido ficar de fora para ter algum tempo só para ela. Mas outro contribuinte para os meus nervos era a Lauren, que pegou uma lanterna e a segurou debaixo de seu queixo, iluminando seu rosto. Eu não podia exatamente enganar meus olhos a verem uma pele verde ou dentes afiados. Ela não era um monstro. Ela era uma adolescente com a ambição de se tornar conselheira no próximo verão, mas lidou com isso das formais mais erradas possíveis.
Depois de tê-la rejeitado, ela não disse mais que uma palavra para mim. Ela nunca retaliou. Dividir a mesma cabana que a Lauren não era tão ruim quanto poderia ter sido, mas o fato de que eu saía escondida na maioria das noites e ficava com a Vivian ajudava muito. Mas se eu fosse a Lauren e ela me rejeitasse, eu não demoraria muito para ver se poderia mudar de cabana.
“Você já rejeitou alguém antes?” Murmurei para a Gwen, aproximando-me dela.
“Uma vez. Tenho quase certeza. Não revire os olhos. Tinha um aluno intercambista no meu primeiro ano. Sean. Ele era bonito. Lindo, na verdade. Os olhos dele, Emma? Cinza nebulosos. Ele era a única pessoa que se sentava comigo no almoço. Tinha só um problema. Eu não entendia uma palavra do que ele dizia. Pelo que eu sei, ele talvez me chamou para sair.”
“De onde o Sean era?”
“Irlanda.”
“Gwen. Eles falam inglês.”
“Sim, mas ele tinha um sotaque muito forte.”
“Então, você tirou a conclusão que, antes dele voltar para a Irlanda, ele talvez te chamou para sair?”
“Sim! Porque, do contrário, não, Emma, eu nunca rejeitei ninguém. Então, seu jeito sutil de pedir conselhos sobre a Lauren? Sou inútil. Você e eu precisamos nos sentar na frente da TV em algum momento e descobrir essas coisas juntas.”
“Será que eu deveria mudar de cabana? Sabe, para ser legal? Ter consideração?”
Gwen bateu seu ombro contra o meu, abafando uma risada. “Você vai embora em menos de uma semana, lembra? Falando nisso, já contou para a Vivan?”
“Estou chegando lá! Tomando coragem. Contar para você já foi difícil o suficiente. Vamos parar de falar de mim. Você tem alguma história de terror para contar?” Perguntei. Cutuquei o ombro dela. “Você seria uma boa contadora de histórias. Olhos cinza nebulosos.”
Paramos nossos sussurros porque a Lauren apontou o feixe amarelo da lanterna na nossa direção.
“Vá e pegue o que é seu. Foi isso que a Laurel pensou.” Lauren focou a lanterna novamente em si. “Faça todo o possível para conquistar seu sonho. Valeu a pena destruir as coisas que a tornavam quem ela era para conseguir o que queria? Talvez. Ela falhou em seduzir uma irmã para que ela lhe oferecesse uma oportunidade na… empresa… e falhou em fazer a outra tão miserável a ponto de não pegar a oportunidade para ela mesma. O que havia restado para fazer além de admitir a derrota e reduzir as perdas? Pedir desculpas?”
“Isso é… isso é um pedido de desculpas?” Gwen murmurou.
“Não faço ideia.” Respondi.
Mike soltou um bocejo enorme. “Chato.”
O sentimento de ofensa tomou conta do rosto da Lauren. “É um prólogo.”
“Um prólogo chato.” Ele pegou a lanterna das mãos dela. Então mexeu as sobrancelhas. “Então, enfim, Abby, história de terror–vai.”
“Voltar para a minha cabana toda noite.” Abby disse sem um segundo de hesitação. “E acordar na cabana toda manhã.”
“Ai.” Ele disse, batendo na lanterna com a palma da mão, já que a luz falhou. “Lauren. Emma. Respostas?”
“Em minha defesa, eu não bagunço lá há eras, se é a isso que está se referindo.” Eu disse.
“Era tão ruim assim?” Mike perguntou.
“Eu sentei no vaso sanitário numa manhã e de repente tinha ketchup na parte de trás das minhas pernas. Emma implantou os pacotes debaixo do assento.”
“Foi mal. Não vai ter que me aturar por muito mais tempo.”
“Quê?” Abby perguntou. “Não disse isso para que mudasse de cabana. Posso ainda ter pesadelos sobre o ketchup, mas virou algo engraçado… um dia.”
“Abortar conversa.” Gwen sussurrou, lembrando que eu ainda não tinha contado para a irmã dela, e contar a todos antes de Vivian era um não.
“Estou brincando. Estou naquela cabana à longo prazo.” Menti. “Falando da cabana assustadora, vou para a cama.”
Voltar para a cabana foi uma má ideia; sabia disso, mas meus pés traçaram o caminho através da floresta até os espaços abertos e entrei. Meu celular não estava ao meu alcance. Não que eu culpasse a Vivian por mantê-lo na cabana dela. Tudo o que tinha que fazer era pedir e ele seria meu.
Sentei na minha cama, balançando as pernas para frente e para trás, com o desconforto atingindo a entrada do meu estômago. Essa cabana não oferecia nenhum semblante de conforto. Desde o primeiro dia, tudo o que queria fazer era fugir desse lugar. Tudo o que fiz para sair do acampamento afetou minhas colegas de quarto de algum modo. O pedido de desculpas da Lauren deixou isso muito claro; ao fazer truquezinhos como colocar pacotes de ketchup debaixo do assento da privada ou passar papel higiênico por toda a cabana, tudo que via era meu objetivo final. Foi um caso ruim de visão em túnel. Na hora, não importava como isso afetava os outros desde que minhas chances de sair daqui melhorassem.
Eu devia um pedido de desculpas a elas. Um dos grandes.
A porta da cabana abriu, e eu estava pronta para me enfiar debaixo dos cobertores para evitar conversar com minhas colegas. Não estava mentalmente preparada para engolir a culpa e sinceramente me desculpar, mas Vivian estava parada na soleira da porta. A hesitação fazia sombra em suas feições. Inclinei minha cabeça para que ela entrasse.
“Cansada?” Ela perguntou, aproximando-se do beliche.
“Exausta.” Respondi honestamente. “E sentindo saudades do meu pai.”
“Mais tarde, venha para a minha cabana e ligaremos para ele.” Vivian pegou minha mão e a segurou perto de seu rosto. “Tem mais alguma coisa te incomodando?”
Pensando na história da Lauren e na grande mudança de atitude que ela tinha jogado na minha frente, eu franzi. “Sim, mas não precisamos conversar sobre isso agora.”
Vivian subiu na cama e se ajoelhou no centro. Meu braço automaticamente se estendeu até ela por estarmos em um lugar alto, e era estranho não me preocupar sobre meu próprio potencial de cair e me concentrar no de outra pessoa ao invés. “Você precisa se sentar assim?”
“Esse é o seu jeito de me pedir para me aninhar com você?” Perguntei.
“Não.” Conforme disse isso, ela se moveu para trás das minhas costas e deitou no colchão, com a bochecha pressionada contra o travesseiro. “Você pode ficar aqui. Não acho que o chão da cabana sobreviveria ao impacto do seu corpo, mas isso é só uma opinião.”
Tirei minhas pernas da lateral. “Por que você está na cabana de um campista tão tarde?”
“As histórias de terror. Todas falsas, é claro, mas vim me certificar de que não estava assustada.”
Eu me joguei de costas no colchão e virei para que estivéssemos cara a cara. “Sabe o que combate ser uma gatinha assustada? Contato físico.”
“Parece que alguém está carente.”
“Disse quem veio até a minha cabana.”
Vivian estava prestes a me responder, mas foi cortada por um: “Psst, gente!”.
A voz abrupta me fez girar para o lado, somente para me deixar pendurada na cama ao invés de espatifada no chão, já que a Vivian foi rápida o suficiente para me agarrar pela cintura e me manter pendurada na lateral do beliche. Fomos rápidas em nos recompor e olhamos para baixo da parte de cima da cama.
“A Lauren está vindo!”
“Gwen?” Vivian chamou. Seus olhos se concentraram em sua irmã quase imediatamente.
“Sem tempo para agradecimentos.”
Vivian pulou da cama, praticamente rolando no chão para que seu corpo deslizasse por debaixo da cama da Lauren, parecendo ter sido sugada para outra dimensão. Mas que diabos? Gwen arrastou sua irmã rapidamente para dentro do túnel que aparentemente estava debaixo das tábuas na hora que a porta da cabana abriu. De repente, Vivian estava do lado de fora da janela diretamente sobre a cama da Lauren.
Lauren caminhou e então se sentou, com as mãos unidas e seus lábios abertos como se quisesse dizer alguma coisa. Eu não dei a ela a chance. Desci da cama e saí correndo do quarto, o que foi particularmente imaturo da minha parte. Nenhum pedido de desculpas vai acontecer nessa noite.
Assim que estava fora de lá, olhei ao redor procurando alguma das irmãs Black, mas fiquei parada desajeitadamente entre a cabana da Gwen e a minha, sem ter certeza de onde o buraco começava e acabava. Ao invés de voltar para dentro, eu me aventurei em direção a cabana da Vivian e a encontrei sentada nos degraus. Ela ficou em pé assim que me viu e deixou a porta aberta depois de entrar.
Conforme a segui, disse: “Sabia que tinha um buraco, mas não sabia que era um bendito túnel.”
Quase imediatamente, fui puxada para a cama e de volta para nossa posição confortável, olhando uma para a outra. “Quer falar com o seu pai?”
Minhas sobrancelhas franziram. “Você não estava surpresa. Você que o fez?”
“Aconteceu de eu estar na mesma situação que você agora, dividindo a cabana com a Lauren, como sabe. Walter me ajudou a fazê-lo depois que nosso pai se recusou a me deixar mudar de cabana, para construir algo que eu aparentemente não tinha.”
“Paciência?” Adivinhei.
“Sim.” Vivian se sentou e pegou meu celular do criado mudo e o deixou no meu estômago. “Converse com o seu pai.”
“Certo.”
Fiquei confortável de costas e deixei meus olhos fechados. Sua voz rouca saiu do celular, soando convidativa e surpresa. Meu estômago revirou; era uma combinação do meu pai e do jeito que a Vivian trilhava um caminho com o dedo pelo meu pulso. Por alguns minutos, o mundo parecia perfeito. O toque super leve da Vivian, no qual, caso eu pensasse mais sobre isso, era uma tentativa de me fazer cócegas. Era bom ouvir sua voz grave de novo. Ela me envolvia em uma confortável bolha protetora. Caramba, fazia mesmo um mês? Nunca fomos de mandar muitas mensagens. Passávamos todos os dias com o outro cara a cara, então nunca precisamos. Toda vez que eu falava com a minha mãe pelo telefone ou depois de não termos nos falado há algum tempo, era estranho, mas com o meu pai? Era o completo oposto.
“Como está o Thomas?” Perguntei.
“Não vai perguntar sobre o seu tio?”
“Você só vai reclamar sobre algo estúpido que ele fez.”
“Você está certa.” Meu pai admitiu. “Menino Tommy, bem, ele gosta mais de mim, Em. Bastante. Ele é meu pequeno companheiro agora. Ele pode estar gostando mais de mim que de você!”
“Ah é? Ele não fugiu de você?”
“Ele senta como uma estátua e me encara à distância.” Ele disse, orgulhoso.
“Não pode ser! Ele pisca devagar?”
“Algumas vezes?”
“Ele te ama; está confirmado.” Cara, eu sentia falta desse gato.
“Ele está um pouco mais gordinho agora. Natural por estar ficando velho, eu acho.”
“Pai. Ele tem cinco anos. Gatos vivem até os vinte.”
“Vinte?!”
“Sim… então dê uma maneirada na comida, pai.”
Quando a Vivian voltou sua atenção para passar seus lábios contra o meu pescoço, dei um suspiro agudo e abri meus olhos.
“Tudo bem, guria?” Meu pai perguntou.
“Sim. É bom ouvir a sua voz.”
“Não quero ser invasivo, mas…”
“Sim, estou tomando minha medicação de ansiedade quando preciso. Não tenha medo de perguntar. O dia de hoje está sendo uma exceção, mas já faz um bom tempo desde que tive uma crise maior.” Disse honestamente a ele, sentindo os lábios de Vivian pararem por um segundo antes dela morder. “Tenho um novo diário em que estou escrevendo. É super fofo. Você sabe como pensei que aqueles exercícios de respiração eram balela? Bem, eles funcionam. Quem diria que mudar algo que precisa fazer todos os dias poderia ser uma coisa boa?”
“Que bom. Estou orgulhoso de você. E, uh, como está a sua mãe?”
Com aquela pergunta, eu me sentei e percebi que ele não tinha ideia de que eu estava no acampamento.
Minha boca caiu com meu esquecimento. Até mesmo fiquei surpresa por não ter percebido antes.
Vivian sentou e gesticulou com lábios ‘você está bem?’
Fiz uma careta e coloquei o celular no viva-voz. “Não estou exatamente ficando com a mamãe? Estou no Acampamento Maplewood, sabe… ainda em York, e ela meio que está em cruzeiro com o novo marido dela? Bem, não, o cruzeiro acabou. Ela está na Espanha agora.”
Teve outro silêncio prolongado. “Marido? Cruzeiro… acampamento… por que não me ligou?” Ele perguntou, respirando um pouco mais pesado. “Você está no acampamento?”
“Está tudo bem agora. É difícil, mas acho que consegui um amigo ou dois, e talvez tenha uma namorada.”
Vivan inclinou a cabeça para o lado e gesticulou ‘Namorada?’
“Você não quer que eu vá te buscar?”
Tentando cobrir o meu crescente rubor, coloquei um travesseiro entre o meu rosto e o da Vivian. “Estou bem, pai. Obrigada.”
“Em? Eu te amo.” Ele suspirou e então disse brincalhão: “Então, uma namorada, hein?”
Vivian me fez cócegas enquanto eu me esforçava para pegar o celular. “Também te amo. Tchau, Pai.” Eu virei para ela. “Por que está me olhando assim?”
“Namorada?” Vivian disse.
“Nah, você não pode me provocar com isso. Foi você que nos fez oficiais. Que vergonhoso para você.”
Uma sobrancelha se ergueu. “Sim. Que vergonhoso para mim.”