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Tradução: Note | Revisão: Bibi
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Capítulo Vinte e dois
Era um sentimento estranho sentir-se conectada às paredes de uma cabana que abrigava uma das pessoas mais complexas que eu já havia conhecido. Era a mesma cabana que a Vivian tinha destruído, criando o icônico buraco embaixo das tábuas do chão. Era o mesmo buraco que a Gwen usou para entrar de fininho durante as noites para me importunar para fazer sanduíches. No começo, eu fui forçada pela minha mãe a frequentar o Acampamento Maplewood. Agora, no meu último dia, não consegui achar dentro de mim a vontade de encontrar as coisas que talvez tivesse deixado para trás na pressa de me mudar para uma nova cabana.
Eu me permiti aproveitar um pouco enquanto escaneava a cama de solteiro vazia. Era um pequeno alívio que a Lauren tenha saído do acampamento antes de mim. Depois de todos os esquemas — eu tentando ser expulsa e a Lauren tentando ficar para outro ano como conselheira — era engraçado como, no final, ambas conseguimos o oposto do que queríamos.
Minha garganta doía, e não era porque tinha chorado horrores nem nada do tipo. Doía porque eu me forcei a permanecer sem lágrimas. Ver propriamente a minha mãe pela primeira vez em um mês e pouco e, antes disso, todo um ano, bem, eu não queria que a destruição da minha vida fosse exposta na frente dela e do novo marido dela. Eu não queria deixá-la saber quanta influência ela tinha sobre mim, porque esse era o poder que não queria que ela detivesse, e mesmo assim ela o tinha. Ela era a minha mãe, e estava aqui para o meu aniversário. Ela realmente se lembrou. Isso tinha que valer para alguma coisa.
Alguém bateu na porta, tirando-me de meus pensamentos. Vivian estava lá, inclinada contra a parede. Ela evitou contato visual, e eu não podia culpá-la. O que havia para ser dito além de despedidas? Isso não era algo que eu queria.
“Vivian.” Eu disse, levantando. “Isso está prestes a ficar sentimental, não é? Vamos, estou pronta. Manda ver.”
“Você que pediu. O quer que você faça, onde quer que você vá…” Ela sussurrou, movendo-se na minha direção até que pudesse colocar suas mãos nos meus quadris. Ela respirou vagarosamente e fechou os olhos. “Por favor, Emma, não deixe que eu me torne uma memória esperando para ser esquecida. Porque eu não vou te esquecer.” Ela entrelaçou as mãos atrás do meu pescoço e aconchegou o rosto na minha garganta, respirando e me segurando como uma manifestação física de amor. “Nunca, nem na minha imaginação mais maluca, eu previ que seria forçada a sorrir enquanto tenho que dizer uma palavra tão cruel: Adeus. Vou sentir sua falta.”
“Esse adeus não significa nada. Boba.” Eu a senti congelar em meus braços, fazendo-me suspirar. “É um prelúdio para o incrível olá que direi a você logo mais.”
“Quando é esse logo mais de que está falando?”
“Espero que amanhã de manhã.” Eu expirei, trêmula. “Pelo celular.”
“Feliz aniversário, Emma.” Ela disse, movendo-se para trás o suficiente para ver o meu rosto.
“Eu não choro no meu aniversário. É por isso que curtimos ontem.”
“Feche os olhos.” Ela disse.
Deixei-a deslizar para fora dos meus braços. Parecia errado. Minha respiração parecia mais aguda e dolorosa agora que ela não estava pressionada contra mim. O cheiro de rosas invadiu o meu espaço, fazendo com que eu inclinasse minha cabeça para o lado. Mãos lentamente deslizaram para cima em meus braços, fazendo-me arrepiar, e uma respiração gelada roçou contra os meus lábios. Houve uma risada antes que dedos deslizassem dentro do bolso da frente da minha camiseta, puxando a jaqueta para o lado, a jaqueta dela.
Antes de abrir os meus olhos, ela passou um dedo pela minha bochecha. Não podia acreditar. Eu senti a pontada, a felicidade conforme tomava meu sistema.
“Isso não é justo. Eu dei um avestruz deformado para você.”
“Uma coruja incompreendida, Emma.” Vivian mexeu as chaves em seu bolso, sorrindo.
“E aqui está você, confiando seu castor a mim.”
“Ele a guiará em seu caminho.”
“Ele vai me perseguir? Você com certeza escondeu uma câmera aqui, não é?” Brinquei, trazendo o boneco do pequeno castor para perto do meu rosto, lançando meu olhar entre a coisinha e ela. “Temo que a única coisa que esse carinha vai ver é o tecido em cima do meu–”
“Coração.” Ela me cortou.
“Pensei que era eu quem estava obcecada com o seu coração? E não você com o meu?”
“Talvez eu tenha pego certos hábitos de você.” Ela admitiu.
“A feiura do Mike manterá os esquisitos longe.”
“Um herói.” Ela respondeu, lábios curvados para cima.
“Não estou dizendo que você tirou a minha fobia.” Disse para ela, colocando o castor de volta no meu bolso, balançando nos meus calcanhares para frente e para trás. “Mas você conseguiu me ajudar a controlá-la. Eu não faço isso, não me conecto com as pessoas, mas nós conseguimos. Você sabe o quão excitante isso é? Você também sente?”
Vivian inspirou profundamente. “Sinto, eu te amo.”
Ignorando a estúpida lágrima correndo pela minha bochecha, eu disse: “Deixe a Gwen roubar o seu celular de vez em quando.”
Ela zombou. “O Walter já tentou pegar seu número de celular.”
“Você não deu para ele?”
“Não olhe assim para mim.” Ela disse. “Isso não é ciúmes ou algum jeito distorcido de desgostar da sua estranha amizade. Ele quer pedir a você para enviar presentinhos — mais especificamente, sanduíches. Ele só vai ficar cada vez mais obcecado com você.”
“Eu estou meio que obcecada por todos vocês. De um jeito agradável com ele. De um jeito de melhor amiga com a Gwen.”
“E o meu coração.”
“Você e o seu coração.”
Saímos da cabana somente para ter que andar até a dela. Ao longo das últimas semanas, as coisas que eu deixei lá aumentaram cada vez mais, fazendo parecer que era o nosso quarto. Eu tive que engolir lágrimas pesadas quando tudo foi para as minhas malas. A única coisa que podia me acalmar era segurar a mão dela, e é exatamente isso o que fizemos.
Era uma conquista andar pelo acampamento sem um rosto machucado ou corpo ferido. No dia em que cheguei, pensei que minha única rota de escape era em um carro funerário. Eu nem percebi os campistas encarando nossas mãos unidas até que fiz contato visual com a Jessie, que tinha uma expressão meio triste, meio feliz. No fim, ela me ofereceu um joinha torto. Algumas vezes, as amizades não devem ser reacendidas, e tudo bem.
Colocamos minhas malas perto da saída e me inclinei contra a barreira que nos separava no acampamento do mundo real. Um carro apareceu, e tudo no meu sistema, cada instinto, estava se segurando mais forte à mão de Vivian. Ela teve uma reação muito familiar.
Os portões se abriram e, alguns segundos depois, minha mãe e o meu padrasto entraram.
“Emma.” Minha mãe disse calorosamente, puxando-me para um abraço.
“Mãe.” Eu sorri, um pouco.
“É bom te ver de novo.” Ethan disse, oferecendo uma mão.
Eu olhei para ela, para o rosto dele, para o rosto da minha mãe, e finalmente olhei para o rosto espetacular da minha namorada, e segurei a mão dela, porque isso nunca podia dar errado. Aparentemente, foi a escolha errada, mas não era a minha perspectiva.
“Emma.” Minha mãe sibilou e passou um braço ao redor da cintura do Ethan. “Sei que você ainda está surpresa e confusa sobre o Ethan, mas você entenderá, quando conseguir um namorado para você, que, às vezes, relacionamentos são sobre depositar confiança em uma pessoa…”
“Você nunca ouve nenhuma palavra que eu digo.” Murmurei.
“O que foi isso?”
“Emma!” Uma voz profunda, parecida com a de uma criança, gritou. “Está indo embora sem dizer adeus?”
“Já nos despedimos, Walter. Lembra que nós comemos todos aqueles sanduíches?”
“Seus sanduíches de aniversário não contam.” Ela me puxou para um abraço mesmo assim, forçando-me a soltar a mão da Vivian.
Minha mãe suspirou. “Oh, querida, você tem dezoito anos! Minha garotinha, uma adulta. Vejo que finalmente conseguiu um namorado. Olhe para ele e essas covinhas. Escolheu bem. Está toda crescida.”
Walter assumiu uma expressão de confusão. “O… da Emma…” Claramente pensando que estava prestes a me expor, ele continuou: “Quer dizer, ela não é minha namorada. Somos amigos, e ela é uma garota. Sem fornicação, eu prometo, Sra. Lane.”
“Sra. Hank.” Ela corrigiu.
Cobri meu rosto com a mão conforme ele repetia exatamente a mesma sentença que usou para explicar ao pai dele, e então eu disse: “Sabe, eu fui meio estúpida por ter acreditado que teria que me assumir só uma vez. Você tem que fazer isso com pessoas diferentes o tempo todo. Mas o que não previ foi ter que me assumir repetitivamente para a mesma pessoa e ter a mesma reação todas as vezes. Pela última vez, mãe, eu sou gay.”
“Emma, por favor, eu dei a você todo o verão para pensar sobre o que conversamos.”
“Essa mão que eu estou segurando?” Peguei e segurei a mão da Vivian para cima. “Pertence à minha namorada.”
“Eu diria que é um prazer conhecê-la, Sra. Lane, mas é o exato oposto.” Vivian insistiu.
“Como ousa?” Minha mãe ficou incrédula.
“Mãe, qual é, não vamos fazer uma cena.” Eu disse.
Ela expirou pelo nariz. “Não sou eu que está fazendo uma cena, Emma. Olhe ao seu redor, não é a mim que eles estão encarando. Você está esfregando esse… esse absurdo na cara deles. Você não precisa mais se rebelar mais, querida, estou aqui agora.”
“Acredito que quem está ganhando a atenção é aquela que está espalhando ódio, Sra. Lane.” Vivian disse.
“Pela última vez, é Sra. Hank. Como você gosta dessa garota, Emma? Ela nem consegue respeitar o meu desejo de ser chamada pelo meu nome.”
“Imagino onde podemos ver um paralelo?” Vivian soltou uma risada e se aproximou de mim, conforme eu franzia o cenho para minhas botas, sem saber o que dizer. Ao longo dos anos, disse tudo o que podia. “Como você não respeitando sua filha por quem ela é?”
“Eu não preciso me explicar para você.”
Dei um passo para longe de todos, evitando seus olhares, e me sentei no chão ao lado das malas. A Vivian podia cuidar bem de si mesma. Se eu não conseguia fazer minha própria mãe me ouvir e aceitar o que eu dizia a ela, como poderia fazê-la respeitar a minha namorada?
Todos começaram a discutir. Gwen e os pais delas apareceram em certo momento, mas a minha desatenção tinha me vencido por quase cinco minutos.
Olhei para as malas, para a minha mãe e o Ethan, senti o pequeno castor no meu bolso da frente, e cheguei a uma conclusão. Algo que tanto me assustava demais, quanto oferecia uma solução ao mesmo tempo.
“Tenho dezoito anos.”
“Emma, vamos, temos que pegar nosso voo. Vamos pedir para o seu pai mandar as suas coisas que precisarmos.”
“Tenho dezoito anos, mãe.” Eu repeti, sorrindo igual uma idiota no chão.
“Sim, desculpa, esqueci do seu aniversário. Podemos fazer algo durante o final de semana, tipo compras?”
Julie se soltou do seu marido. “Acredito que o que a sua filha esteja tentando dizer é que ela é uma adulta e não precisa ir a lugar algum com você.” Julie disse para ela, conforme colocava uma mão sobre o meu ombro. “Emma, receio que ficarei em desvantagem sem você na cozinha.”
“A Emma não sabe cozinhar.” Minha mãe zombou, soltando um pequeno riso depois.
“A Emma é, na verdade, uma cozinheira popular aqui em Maplewood, tanto que gostaria de oferecer um emprego efetivo imediatamente.” Julie disse.
O rosto da minha mãe ficou vermelho. “Isso é ridículo. Vamos, Emma, precisamos ir.”
“Não posso fazer isso. O que vai acontecer com a gente, mãe? É bobo ter esperanças que você acordará um dia e vai sentir falta de mim e de como éramos antes?” Perguntei. “Porque eu sinto a sua falta. Sinto falta de você desde que tinha doze anos e me assumi para você, quando você desapareceu completamente, até mesmo quando moramos juntas na mesma casa. Quando meu pai me disse que estava indo para York nesse verão, sabe o que eu pensei? Que esse verão mudaria tudo entre nós, mas você me abandonou! Agora você quer que eu mude minha vida de novo conforme a sua vontade? Eu não entendo, mãe. Ajude-me a entender.”
“Emma…”
“Você precisa decidir. Fazer um compromisso, ou não fazer.”
“Estou aqui para buscá-la. Você me terá por um mês. Podemos… Eu também sinto a sua falta. Mesmo. De verdade. Seu pai me ligou. Ele me fez perceber que eu desperdicei todos esses anos. Você é a minha filha, Emma. Roma pode ser bom para nós. Todos nós.”
“Não posso ir enquanto você ainda não me aceitar por quem eu sou. Não posso fazer isso comigo mesma.”
“Eu estou tentando aqui, Emma. Eu estou.”
“Sabe de uma coisa? Entre em contato comigo quando estiver pronta para me aceitar por completo. Quando estiver pronta para ser uma mãe para mim. Mas por agora, acho que é melhor que descubra isso sozinha. Sem mim.”
Eu peguei as malas apesar dos vários protestos e joguei uma mochila nas costas. Comecei a assobiar conforme dei as costas para a minha mãe e caminhei de volta para a área do acampamento. Houve um momento de silêncio atrás de mim antes de vários passos contra os cascalhos me seguirem.
Uma mão relativamente grande, pertencente ao Walter, pegou a mala de mim e a carregou. Com meu braço recém livre, Gwen me ofereceu um álbum contendo todas as fotos que todos tinham tirado no meu celular. E o braço da Vivian se entrelaçou ao redor da minha cintura.
Nossa jornada no Acampamento Maplewood continuou.