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Tradução: Gabrielfsn | Revisão: Gabrielfsn
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Prólogo
Com grupos de aparência durona que abarrotam o quarto com uma tensa atmosfera, há duas mulheres sentadas. As duas são líderes de suas próprias gangues. Suas idades estão na faixa dos trinta aos quarenta. A beleza de ambas, que parecem flores em plena floração, são como rosas que ferem a mão de quem as toca. Neste recinto preenchido de tensão, quem quebra o gelo é a líder da Kamieda-gumi.
“Não acha que está na hora de resolvermos essa disputa?”
A líder da Kuriyama-gumi sorri com um ‘Hum’.
“Bom, Kamieda-san, está na hora. Essa sua forma de falar deixa implícito que vocês estavam pegando leve conosco, não acha? Mesmo não parecendo que vocês estavam para brincadeiras, quanta gentileza.”
Veias de irritação emergem na testa da líder Kamieda. Por conta do tom que soou como uma provocação, a tensão circundante inflou ainda mais. É uma situação crítica a apenas um toque de desabar.
A Kamieda-gumi e a Kuriyama-gumi interagem em uma relação de dar e receber desde tempos idos. Mesmo atualmente, nenhuma delas se uniu à outra para formar uma organização maior, e elas realizam tanto ações em conjunto quanto separadas. Porém, exatamente por conta disso, não havia necessidade de decidir uma hierarquia preta e branca—quem era superior e quem era inferior.
“Já basta, sua raposa. O que eu quero dizer é que estou cansada de olhar para essa sua cara. Por que não se aposenta de uma vez e passa a liderança para sua filha?”
Dessa vez, o rosto da líder da Kuriyama-gumi contorceu.
“Da sua boca não sai nada além de besteira. Eu não vim aqui para conversa fiada. Vamos decidir logo isso—a partida final digna de comemoração, o sétimo método determinante.”
A Kamieda-gumi e a Kuriyama-gumi estão envolvidas em um conflito de sangue com sangue.
“Pelos meus membros sucumbidos, nós definitivamente não seremos derrotados.”
“Essa é a minha fala.”
De fato, existe um histórico de batalhas violentas. Em uma certa ocasião, enquanto estavam realizando um concurso de bebida, muitos membros de ambas as gangues foram levados devido à intoxicação aguda por álcool. Em outra, durante uma competição de resistência nas saunas, ambulâncias foram despachadas devido a graves desidratações.
Sem a intenção de causar mais problemas, elas mudaram suas abordagens. Contudo, mesmo quando uma competição de comida foi organizada, elas desperdiçaram comida. E em um duelo no karaokê, uma grande parcela de membros perderam suas vozes devido ao excesso de treinamento, e foram enviados ao hospital novamente.
“Ultimamente viemos causando um enorme alvoroço, no pior dos casos seremos os alvos principais da polícia…”
“Se não formos cuidadosas, é certo que alguns integrantes serão levados pela polícia como um aviso…”
“Levando isso em conta, não podemos terminar assim, não é?”
“Exatamente.”
A razão dessa preocupação, é pelo grande número de corpos, mas apesar disso, a Kamieda e a Kuriyama são gangues que se mantêm por serem bem estabelecidas. Elas são muito empenhadas em suas prevenções. Portanto, a batalha final será a resolução decisiva após as 3 vitórias e 3 derrotas de ambos os lados.
“Eu enviarei minha preciosa filha.”
“… Ara?”
A líder da Kamieda-gumi bateu na mesa com um bam, revelando uma foto. Nela está uma garota. Ela ainda é uma jovem adolescente. Seu nome é Kaede Kamieda. Sendo filha única da líder da Kamieda-gumi, ela é uma agente que foi preparada com um programa de instrução peculiar.
“Por que não? Em tempos urgentes, nossas filhinhas estão conosco, não é?”
A líder da Kamieda-gumi olha fervorosamente nos olhos de sua rival. As pupilas da líder da Kuriyama-gumi refletem a mesma luz.
“…Se chegou ao ponto de usar essa cartada, então sabe que é impossível se segurar, não é?”
“Eu planejei isto desde o começo.”
“Ela não é sua querida filha, alguém que você nunca cansa de mimar?”
“Eu nunca a deixaria aprender shamisen se ela não pretendesse tocar.” (NT: um tipo de instrumento de cordas.)
“Entendo.”
A líder da Kuriyama-gumi também é humana. Logo, ela sente uma leve hesitação. Porém, antes de uma mãe, ela é uma líder que assume a responsabilidade por sua gangue. Ao ver a mulher em frente a ela demonstrar tamanha determinação, sua resposta já estava decidida.
“Muito bem. Eu também enviarei a minha, Karin Kuriyama.”
Os membros da gangue engolem seco ao observar o confronto das duas. Finalmente, o método decisivo foi confiado às jovens moças. O conflito entre duas mulheres, duas gangues, duas yakuzas, chegou a este ponto, aproximando-se do seu estado final.
“Será tarde demais para se arrepender depois, raposa.”
“Idem, você deveria se preparar para refazer seu emblema. Eu a farei gravar o ‘Ku’ nele.” (NT: ‘Ku’riyama)
Em frente ao tremendo insulto, o rosto da líder Kamieda se distorce. No entanto, se ela decidiu uma disputa, então o que importa não são suas palavras, mas sim suas ações.
“Então, a disputa terá início no próximo mês.”
“Sim, acho justo. Kaede também terá provas no final deste mês.”
“É claro. Nessa idade, seja qual for o caminho que elas desejem trilhar, mais alternativas são sempre melhores.”
Ambos os lados acenam empaticamente, com expressões em seus rostos que lembram mães conversando sobre seus métodos de educação ao se encontrarem por acaso em um restaurante no almoço. Embora elas sejam líderes de gangue, elas também são mães. Contudo, para envolverem suas filhas em terrenos tão perigosos, do que se trata a disputa que exigiu essa ação desesperada? Batendo na meta com seu dedo, como se estivesse afirmando um checkmate, a líder da Kamieda-gumi, Tamaki Kamieda, declarou.
“A disputa é seduzir um alvo, aquela que obter sucesso primeiro será a vencedora.”
As duas mulheres e o submundo possuem um relacionamento indissolúvel. No começo, o jogo de chantagem era chamado tsutsumotase. Era uma palavra utilizada por apostadores para indicar fraude. Antes do termo “armadilha de mel” ser vastamente utilizado pela influência de filmes de espionagem, essas mulheres eram chamadas originalmente de kunoichi. Posteriormente, devido a cultura dos distritos de luz vermelha, é dito que as mulheres são doces como mel, e perigosas como armadilhas.
Os tempos mudaram, mas esse tipo de aliciação se manteve durante as gerações até o presente. A líder da Kuriyama-gumi, Kitsuka Kuriyama, também acenou com compostura.
“Minha Karin não perderá de forma alguma.”
Os grupos de aparência durona mais uma vez engolem seco. Finalmente, é chegada a hora. Agora, neste lugar, uma arte que estava enterrada nas sombras é reerguida para ver a luz do dia mais uma vez.
***
Após a decisão ter sido realizada na reunião, o assunto em questão foi repassado para Kaede Kamieda em sua casa. A casa Kamieda, a qual foi herdada no período Taisho (NT: de 1912 a 1926), é uma antiga mansão japonesa de andar único. Em um quarto privado, de frente com sua filha, sentada em uma postura seiza com suas costas retas, a mãe, Tamaki, começa a falar.
“É disso que se trata, Kaede. O que me diz, não acha que isso será um marco glorioso seu como agente?”
“Claro, mãe. Eu farei qualquer coisa para ajudar a facção.”
“…Eu sou uma péssima mãe. No fim, eu precisei de você para limpar minha bagunça…”
Olhando para sua mãe, que carrega uma expressão melancólica, Kaede sorri enquanto balança a cabeça.
“Não diga algo assim. Os membros da gangue sempre me trataram bem. E nós somos uma família, não? Para mim, isso é uma maneira de retribuir seus favores.”
Tamaki segura suas lágrimas que estavam quase tomando forma.
“…Heh, antes que eu percebesse, você cresceu tanto. Você falou bem. Certo. A grande disputa final está em suas mãos.”
Sua mãe sorri gentilmente enquanto lhe apresenta um envelope.
“Esta é a última. Quando isso acabar, poderá fazer o que quiser.”
Dentro do envelope se encontram as informações do alvo. Kaede verifica e… faz uma expressão extremamente confusa.
“Mãe.”
“Aah… Tem razão, é errado colocar um fardo como este sobre seus ombros mesmo sendo a mais jovem da nossa família.”
“Não é isso.”
Olhando para sua mãe, que estava refletindo sobre seus feitos na yakuza com um rosto sério, Kaede não sabia o que dizer. Ao escolher as palavras, ela decidiu mostrar o papel para a sua mãe.
“O alvo… é… uma mulher.”
“Sim.”
Seu nome é Mayu Asakawa. Ela não era um homem que mudou de gênero, mas sim uma mulher de fato. Kaede aprendeu a arte de seduzir o gênero oposto com sua mãe, Tamaki. Ela lapidou sua beleza, cultivou sua graciosidade, e foi dotada com educação. Na cabeça de Kaede, tudo se encaixava.
A natureza do homem, suas tendências, gostos e que tipo de mulher eles amam. Ela não teve exercício prático, mas se tivesse vontade, poderia trocar contatos com qualquer homem em uma loja de conveniência num instante. Contra esses oponentes que governam metade do mundo, ela é uma agente capaz de demonstrar uma força imbatível. Porém…
“Mas, eu… nunca aprendi sobre seduzir uma mulher…”
“Isso é verdade, pois eu nunca pensei em ensiná-la. Mas este alvo é uma pessoa comum. E óbvio, também não é uma pessoa que prefere especialmente mulheres.”
“Um começo do zero…?”
É um pedido irracional. Seria o mesmo que pedir a sua filha, que aprendeu a tocar piano, tocar violino por também ser um instrumento. Kaede continuou a questionar.
“……Por quê?”
Sua mãe, naquele momento, estava com os olhos brilhando assustadoramente, como se tivesse deixado alguém do mesmo ramo fugir de mãos cheias.
“Digamos que você seduziu um cara, e por acaso, vocês acabaram se casando, o que eu faria? Minha integridade iria pelo ralo depois do que eu faria com o sujeito.”
“Eh…? U-um.”
Ela pode ser a líder de uma gangue, mas para Kaede, ela sempre foi uma mãe boa e gentil…
Assim, com ambas as partes—aquela que irá seduzir, e aquela que será seduzida—sendo mulheres, uma partida de armadilha de mel sem precedentes ergue suas cortinas.