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Tradução: Gabrielfsn | Revisão: Gabrielfsn
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NT: O termo “Anciãs” foi alterado para “Anciões”.
Era um dos muitos finais, a conclusão de uma jornada de um passado distante.
Branquidão, em toda parte.
Nada além de sal pálido espalhado em todas as direções. Era mais denso que uma nuvem branca, mais áspero que um nevoeiro branco, mais sólido que areia branca, mais puro que luz branca.
Uma única espada transformou tudo sob os pés em pó. Quando as ondas colidiam contra a costa, a areia derretia lentamente no mar, eventualmente reduzindo o que outrora fora um continente para uma ilha solitária. Um momento atrás, o volume da ilha aumentou em precisamente o peso de uma garota adolescente, mas isso apenas daria mais alguns segundos.
Uma única jovem mulher caminhava pela grande extensão de areia que parecia toda a pureza do universo manifestada em um mundo de alabastro.
Ela tinha aproximadamente vinte anos, com cabelos vermelho-escuros que desciam até seus ombros. Seu rosto era plácido e enrugado, mas ainda não havia perdido sua juventude. Não havia nenhum indício de expressão em seu rosto enquanto caminhava em sua túnica anil de sacerdotisa.
Ninguém suspeitaria que ela havia matado alguém poucos momentos antes.
Como integrante da Faust, que adorava o Senhor, ela carregava uma escritura sob seu braço esquerdo. Por ser o dever de uma sacerdotisa carregar a escritura na mão esquerda, muitas delas se especializavam em armas de uma mão que podiam ser usadas com a mão direita.
Essa moça parecia não ser exceção, segurando uma espada em sua mão direita.
À primeira vista, parecia um armamento muito frágil, de fato.
Não era elegante, nem majestoso e nem parecia prático. A lâmina era mais fina que qualquer outra enferrujada ou corroída, tão frágil que poderia ruir com um toque ou até mesmo derreter se fosse exposta a chuva.
A Espada de Sal.
Essa arma que ela carregava tão casualmente em seus dedos era, na verdade, a espada mais aterrorizante que existia. Ela possuía o poder de transformar qualquer coisa que sua lâmina branca cortasse em sal.
Ela a havia usado minutos antes para apunhalar uma Ádvena.
Tais pessoas também eram chamadas de ovelhas perdidas, pois vinham de um país chamado Japão em algum mundo distante. Cada uma delas vinha portando um poder sobrenatural chamado de Puro Conceito. Às vezes, elas até adquiriam a imortalidade. Elas podiam usar conjurações poderosas ao custo de suas memórias e, se essas lembranças se esgotassem, se tornavam Erros Humanos que podiam facilmente destruir uma cidade inteira.
Porém, mesmo um humano com tamanho poder incrível, não podia escapar da Espada de Sal.
Sim, é assim que deve ser.
Abruptamente, a mulher lembrou-se dos momentos finais da pessoa que ela matou.
Sua vítima, que aceitou sua morte inevitável com um sorriso, era a amiga mais íntima que a sacerdotisa já conhecera. A donzela de cabelos pretos era uma intelectual perspicaz e adorava mistificar as pessoas com suas palavras. Elas viajaram até aqui juntas, e agora a sacerdotisa havia matado sua própria companheira mais querida.
Nenhuma conjuração no mundo podia impedir a erosão provocada pela Espada de Sal. Era absoluta e irreversível. Excluindo água, ar e sal, tudo que conhecia o beijo de sua lâmina reduzia-se a sal sem falha. Nem mesmo o detentor de um Puro Conceito era imune.
A sacerdotisa a trouxe até aqui, para a terra de sal, com o objetivo de matá-la. Foi para o melhor. Ela era uma Executora, uma vilã. Ela veio aqui para fazer o que era necessário e apunhalou sua amiga com a espada branca.
“Se é isso que você decidiu, então é a escolha certa.”
Ao perceber que logo se tornaria parte dessa extensão de branco, a garota sorriu.
“Por mim tudo bem este ser o fim, contanto que seja sua escolha. Embora… eu espere que esta seja a última vez.”
E com isso, a jornada terminou.
A garota que havia acabado de matar sua amiga parou de andar.
Ela estava no centro dessa ilha que outrora fora um continente—a origem da erosão do sal que se espalhou sem parar. Lá, ela enfiou a Espada de Sal de volta em seu lugar.
Sua tarefa estava concluída. Tudo que restava era voltar. A sacerdotisa se virou, seu rosto ainda plácido, e então parou.
Um homem apareceu diante dela.
Ele estava na casa dos trinta anos e seu terno abafado e chápeu-coco o tornavam muito conspícuo. Quando considerou que essa poderia ser a resposta direta dele ao comentário bobo de sua amiga sobre gostar de “cavalheiros,” ela sentiu um pouco de pena. Sua falecida amiga era mentirosa de muitas maneiras.
“Não me diga que…”, o homem iniciou, com seu olhar na Espada de Sal que a sacerdotisa havia acabado de enfiar no chão. Depois ele olhou em volta, confirmando que não havia mais ninguém acompanhando-a e continuou em um tom incrédulo. “Você… a matou?”
A moça assentiu silenciosamente e o homem cerrou os dentes em doloroso arrependimento.
“Entendo. Então chegamos tarde demais…!”
Isso não era bem verdade.
Eles chegaram bem na hora. Ele e seus amigos chegaram precisamente quando precisavam. Se a sacerdotisa tivesse esperado, então sua amiga provavelmente não teria morrido.
Foi por isso que ela acabou com sua vida.
Sem saber disso, o homem usando o terno abafado falou com uma luz determinada em seus olhos. “…Recebemos notícias da Sra. Orwell. Ela descobriu quem o Senhor realmente é. Como imaginamos, as escrituras servem como os olhos e ouvidos do Senhor. Duvido que ela esteja enganada.”
Evidentemente, o homem havia deduzido a identidade do governante deste mundo, aprendeu a verdadeira história e alcançou as raízes de todas as conjurações. É claro, a sacerdotisa não precisava ouvir nada disso. A verdade no coração deste mundo era uma completa bobagem, no que lhe dizia respeito.
“Nós vamos destruir a terra santa. Com você e a Srta. Orwell do nosso lado, nós da Fourth criaremos um novo mundo. No mínimo, será um melhor que este—um mundo onde sua amiga Ádvena não teria encontrado tal fim!”
Kagarma Dartaros, o Diretor.
Nascido sem qualquer conexão com a Faust e criado sem influência dos Anciões na terra santa, ele começou a duvidar da estrutura da sociedade e estabeleceu uma aliança chamada Fourth. Um líder brilhante, ele até recrutou o jovem monstro da Plebe, Genom Cthulha, e atraiu o soldado errante da Nobreza, Experion Riverse.
Eles reivindicaram uma nova posição na ordem estabelecida, brandiram grande potência e impulso suficiente para mover os tempos adiante.
Flare, uma Executora da Faust, lutou contra eles diversas vezes nesta jornada, bem como ao lado deles em certas ocasiões.
“Esqueça isso que carrega na mão esquerda. E descarte as roupas que está usando agora. Que bem pode vir segurá-los por mais tempo? Eu sei que você entende. Os malditos Anciões não têm utilidade para a sociedade. Muito menos o Senhor deles! Apenas permitir que eles continuem existindo é ficar parado e deixar sua corrupção se espalhar, o que eu nunca permitirei!”
Suas afirmações estavam, sem dúvida, corretas.
Porém, nenhuma delas ressoava com o coração dela.
“Junte-se a nós, Flare!”
Quando ele a chamou pelo apelido que ela recebeu nesta jornada, sua expressão mudou pela primeira vez.
Ela fez uma careta em aborrecimento óbvio e olhou para baixo.
Não havia razão para se preocupar com uma resposta. Afinal, ela não sentia que as ações dos Anciões estavam erradas. Eles estavam certos à sua própria maneira e, acima de tudo, nenhum método resolvia genuinamente os problemas fundamentais deste mundo.
Compaixão, pena, raiva… Seja lá o que ele e seus homens sentissem, ela não simpatizava nem um pouco.
Havia apenas uma coisa que a preocupava.
Especificamente, o que veio “em seguida.”
Ajudar esse grupo não seria o suficiente para impedir que a “seguinte” coisa acontecesse. Flare não foi a primeira e ela sinceramente duvidava que fosse a última.
Este mundo era totalmente sem esperança; não havia nada a ser feito.
Como ela deveria lidar com esse homem que a interpretou tão mal? A resposta veio do que ela segurava na mão direita.
“Você tem novas ordens.” soou uma voz da escritura que ela carregava. Ao ouvir isso, o rosto de Kagarma congelou.
“Flare… Certamente, você não…” A voz do homem oscilou enquanto ele falava.
Ela estreitou os olhos, descontente com sua reação. A palavra Por quê? que parecia pairar em seus olhos a irritava. Enquanto seus lábios ameaçavam formar a pergunta, ela se viu tentada a rasgá-los.
Quem no mundo ele pensava que ela era?
Ela era uma Executora, até o miolo dos ossos. Ela era Flare, a assassina.
A escritura em sua mão calmamente e friamente lhe deu a ordem.
“Você deve executá-lo.”
Não havia como desafiar suas ordens.
A Executora Flare ergueu sua espada como lhe foi mandado.
*
À medida que o trem desacelerava, sua consciência foi arrastada da visão de volta à realidade.
Ela estava sonhando com uma memória antiga.
Foi antes de Orwell se tornar a arcebispa. Quando ela ainda era uma integrante correta e exemplar do clero. Quase vinte anos atrás, antes do nome Flare alcançar o status de uma, assim chamada, lenda viva.
Seu humor estava amargo desde o momento que ela acordou e a escritura em sua mão esquerda falou com ela duvidosamente.
“Aconteceu alguma coisa, Mestra?”
“Só um sonho ridículo, nada mais.”
Flare fez careta para o antigo objeto, que estava quebrado há muito tempo.
Nos dias que se seguiram a esse evento, todos que estiveram envolvidos com a Fourth decaíram para sombras retorcidas de seus antigos eus. Isso incluía a própria Orwell. A diferença entre eles e Flare era que eles tinham esperança de um mundo melhor, enquanto ela nunca abrigou tais pensamentos, para começar.
“Sonhos ridículos são o que os fizeram acabar assim, em primeiro lugar.”
O trio que tinha sido o núcleo da Fourth, Flare a Executora e a correta Orwell.
Por um breve período, cinco pessoas que nunca teriam interagido normalmente convergiram e trabalharam mais ou menos juntas, tudo por causa de uma única ovelha perdida.
Aquele momento do seu sonho foi, sem dúvida, quando seu caminho separou-se do delas novamente. Elas ficaram presas em uma luta de dez anos desde então.
Flare estava confiante de que os outros alegariam que ela era a traidora.
E ainda assim.
“…Está vendo?” Ela murmurou. “Aí vem o próximo.”
Um passado desnecessário. Uma memória que nem equivalia a nenhum sentimentalismo. Mesmo que Mestra Flare pudesse voltar, ela não hesitaria em fazer tudo de novo. A única parte que ela lamentou foi perder a chance de matar o Diretor.
Orwell se tornou a arcebispa e caiu nas mãos de Menou, que era conhecida como Flarette. O fato de Orwell ter sido morta primeiro, apesar de nem estar lá na época, parecia uma ironia ridícula agora.
E agora, o Diretor, que havia abandonado tudo no fim da batalha sangrenta, aparentemente escapou por algum motivo.
“Não sei o que ele está tramando, mas não vai acontecer.”
Decerto ele desistiu há muito tempo, então o que ele estava pensando? Flare observou a paisagem da tarde pela janela do trem, mas nenhuma resposta veio a ela. O vidro apenas refletia seu rosto entediado.
Ela estava envelhecendo. Após comparar inconscientemente seu rosto na janela com seu eu mais jovem, ela se levantou, sentindo algo como uma depressão.
Um vento com cheiro de enxofre agitou seus cabelos vermelho-escuros quando ela desembarcou do trem parado.
A cidade onde ela estava era tranquila e rústica, com construções únicas de madeira ao longo das ruas.
“A única coisa a fazer sobre um sonho ruim é acordar na hora.”
Mestra Flare jogou a cabeça para trás e riu enquanto começava suas maquinações sinistras.