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Tradução: Note | Revisão: Pandine

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Capítulo Um

 

Meu pai manteve suas mãos na parte de baixo do grande volante. Isso me enlouqueceu quando ele tentou me ensinar a dirigir (e falhou miseravelmente), ele insistia para que mantivesse minhas mãos nas posições dez e dois do relógio. Mas isso foi no passado e não fui eu quem dirigiu direto por uma hora. Não podia reclamar pelos meus músculos rígidos e doloridos, pelo menos não em voz alta – a menos que estivesse disposta a ouvir seus murmúrios em troca.

Alguns dias antes dessa viagem, ele sentou ao meu lado e disse que, não importasse o quê, ao final de junho, tínhamos que fazer uma viagem de Boston para o Maine para visitar minha mãe. Agora, vendo a praia ao longo do porto de York, as famílias felizes surgindo de seus acampamentos e abrindo caminho pela praia rochosa, fez eu me arrepender da escolha de ter vindo. Uma vez nós já fomos eles, passando dias quentes de verão juntos, nadando no mar e tomando sorvete. Não precisávamos pegar essa rota para chegar em York Heights, mas é como se meu pai sentisse que precisava de alguns minutos para absorver que estávamos de volta. A brisa salgada acariciou meu rosto através da janela aberta e memórias de nós como família me inundaram. 

A costa não duraria para sempre e a van achou seu caminho para York Heights, passando pela minha antiga escola do fundamental e então para a rua que levava até a casa da minha mãe. Tendo árvores altas dos dois lados, oferecendo para a longa fileira de casas algum senso de privacidade. Eu me acostumei tanto com a cidade – os edifícios grandes, as massas de pessoas, as grandes calçadas – que me esqueci que morávamos tão desconfortavelmente perto da natureza.

De certo modo, eu senti falta da costa da praia de York – Esse pequeno bairro no Maine e como sempre parecia ser verão. Não que me lembrasse de muita coisa. Quando tento imaginar os rostos dos meus antigos colegas de classe, eles são somente imagens borradas e uma imagem quase decente da minha melhor amiga de infância, Jessie. No dia que fomos embora dessa cidade para nos mudarmos para Boston, seu rosto com sardas de seis anos de idade tinha lágrimas escorrendo pelas bochechas e suas mãos emaranhadas nos seus cabelos castanhos enrolados. Quando voltamos brevemente por oito meses, quando tinha quinze anos, ela ter mandado fotos pelo correio ajudou. Eu e a Jessie não tínhamos muita conexão – grande coisa para os amigos para a vida inteira que deveríamos fazer aos seis anos – e eu fiz poucos amigos. Ninguém particularmente memorável.

Meu pai estacionou ao lado do muro de pedras cinzas de um metro de altura que separava a rua da casa da minha mãe. Quando ele desligou o motor, o barulho das ferramentas tilintando na parte de trás do carro parou. Com todas as viagens que ele fez a trabalho, sempre era uma surpresa que nenhum de seus equipamentos ou projetos se quebrassem em pedaços. Ele tem essa van azul de trabalho há anos e ela sempre brilhou, tratada com cuidado, assim como em todos os aspectos da vida dele, incluindo eu. Não fizemos nada, nem ao menos nos movemos para sair da van. Não podíamos acreditar que era assim que nosso dia estava indo.

“Certo, estou disposta a me comprometer,” Eu disse, quebrando o silêncio.

“Emma, estamos na porta da sua mãe. Acho que é um pouco tarde demais para se comprometer. Você terá o verão para se atualizar com a Jessie. Vai ser divertido.”

“Pai, para começar, nem somos tão próximas assim. Eu sentei com ela no almoço às vezes, e só.”

“Você tem trocado cartas com ela desde que foi embora. Vocês provavelmente são mais próximas do que acham.”

“Escrever para alguém e ser amiga são coisas completamente diferentes,” eu insisti.

“Vocês costumavam ser próximas. Não se lembra?”

“Quando tínhamos uns seis e não tanto quando tínhamos quinze.” Eu o dispensei. “Estou disposta a passar duas semanas do verão com a mãe.”

“Emma,” ele disse, e então suspirou.

“Duas semanas é um tempo considerável.” Cutucar sua perna com meu tênis o fez virar no banco e olhar para mim. Seu rosto estava relutante e eu sabia que ele não queria me deixar aqui. “Duas semanas com você? É um piscar de olhos. Duas semanas com ela? Só a ideia de piscar dói. Com constantes brigas, possivelmente choro – lágrimas de ódio, é claro – portas batendo, xingamentos infindáveis…”

“Desde quando você bate as portas?”

“Não bato,” pontuei.

Sua expressão estava devastada e ele murmurou para si: “Esse era o combinado, Em. Se não cumprirmos…”

“Faço dezoito perto do final do verão. Serei legalmente uma adulta. Ela não pode pedir direitos sobre mim.”

“Pense assim – mais um verão e então você é uma adulta. Nem sua mãe, nem eu, poderemos te dizer o que fazer. Mas eu claramente não quero você desaparecendo no ar quando isso acontecer. Ouviu?”

“isso nem ao menos é um acordo,” eu reclamei.

“É tudo que tenho,” ele disse. “Você está sendo impaciente porque está deixando alguém importante para trás?”

“Nope.” Engasgando na minha própria risada, eu continuei. “Sabia que a depressão pode e vai impedir as pessoas de interagir com você? Nem mesmo os valentões. A falta de reação os assusta. Além do mais, ser educada em casa por um ano não me deu muitas chances de conhecer ninguém. Ou reencontrar ninguém, na verdade.”

No final, meu pai ter ganhado minha custódia e me levado para morar com ele quando tinha quase dezesseis anos, foi a decisão certa. Ele agiu e contratou para mim um professor particular em casa enquanto cuidava da minha saúde mental. Passei meu ano de veterana, meu último ano escolar, em casa.

Ele bufou, desviando para esfregar sua mandíbula. “Você está bastante reativa esses dias. Não revire os olhos. Você pode se reunir com a civilização no ano que vem, se quiser,” ele ofereceu. “Você não precisa entrar na faculdade por um ano.”

“Não é que não esteja pronta – eu honestamente não sei o que quero fazer da vida.”

“Você está pronta.” Meu pai disse. “Você pode se esforçar o suficiente para fazer piada disso. Está muito melhor agora. Você vai me ligar se… não conseguir? Sempre estarei aqui para você.”

“Aham, pai. Eu vou.”

“Então, sem namoradas?”

“Sem namoradas,” eu confirmei.

Depois que saímos da van, ele me ajudou com minha bagagem. Junto com as minhas coisas estavam todo tipo de equipamento: uma caixa de ferramentas com martelos, chaves de fenda e pregos; uma serra com cabo enferrujado; e vários cinzéis pretos e amarelos, um lembrete constante de que carpintaria era uma forma de arte. Tinha esse último projeto: uma cama com estrutura de madeira. O cheiro e o pó me fizeram sentir aquecida por dentro – era familiar, caseiro; era ele. Eu já sinto falta dele, até mesmo do suéter roxo feio que ele insistia em usar toda manhã, mesmo que fosse praticamente verão.

Na minha frente estava a casa que tirava toda a alegria da minha vida em uma tacada só. Foi onde passei seis anos da minha vida e períodos aleatórios de férias sempre que minha mãe estava disponível, mas a memória da última vez que tentei morar aqui era uma sombra da qual não conseguia escapar. A casa sempre foi dolorosamente quieta. Durante o dia estava na escola, minha mãe passava o tempo dela fora e também estava fora durante a noite, fazendo sabe-se lá o que. De acordo com o organizador na geladeira, ela ia para o clube do livro, degustações de vinho e quaisquer eventos sociais dos quais ela nunca me falava. A única vez que coloquei uma reunião de pais e professores no organizador dela, ela escreveu por cima e perdeu a reunião.

Meu pai colocou minha mala na soleira da porta e estava tão relutante quanto eu em tocar a campainha. Com um grunhido, ele virou de lado e bateu o ombro na campainha. Quando nada aconteceu, ele bateu de novo e dessa vez ela tocou.

“No próximo verão, você pode deitar no sofá e não fazer nada. Mas pode se voluntariar em algum lugar. Sei que perto de casa, a Elizabeth sempre precisa de uma mãozinha na associação de cadeirantes. Sair por aí, ter experiência real de vida e ajudar as pessoas. Soa tentador, não é?

“Não parece a pior das ideias,” admiti.

“Mas e o resto do seu tempo? Jogo justo.”

“A mãe não sabe que meu passatempo preferido é ficar deitada.”

“Vai ter um afundado no sofá dela. Uma semana e ela descobrirá.” Compartilhamos um sorriso.

A porta se escancarou. Tive só tempo suficiente para pegar o puxador da minha mala antes que minha mãe me arrastasse para dentro. A porta bateu atrás de nós. A última vez que veria meu pai por dois meses foi interrompida bruscamente à medida que ela me arrastava pelo corredor sem uma palavra.

A casa mudou muito desde a última vez que estive aqui. Nova pintura, móveis quase sem uso, um cheiro refrescante de pinho e quaisquer fotos que incluíssem meu pai ou a mim, estavam no depósito ou no lixo. Só havia fotos da minha mãe com os amigos e dos pets que ela teve ao longo dos anos. A rejeição me cobriu como um manto que se estendia pelas minhas costas e continuava por quilômetros. Minha mãe me sentou no sofá da sala de estar.

“Emma, querida,” – ela afundou no sofá oposto – “como pode ver, estou meio esgotada. Vamos para um cruzeiro pelo verão. Animador, não é? Não desfaça as malas.”

“Um cruzeiro?”

“Sim, vamos sair assim que nossa carona chegar.”

“Ce-e-e-erto,” eu arrastei. “Por quanto tempo é esse cruzeiro?”

“Duas semanas,” ela respondeu. “Então provavelmente iremos para outro lugar pelo resto do verão. Espanha, talvez? Roma também é bacana, não é? Talvez iremos a ambos.”

“Acho que sim.”

Ela andou pela casa pegando coisas de higiene e carregadores de celular e os enfiou em uma das várias malas espalhadas pelo chão e dentro de sua bolsa, em cima da mesa de café. A televisão estava ligada na previsão do tempo, então não era tão estranho. A falta de conversa não era grande coisa, já que nunca fizemos contato visual. Na verdade, a pausa nas interações facilitou para o meu cérebro fingir que não tinha mais ninguém na sala.

Quando um carro buzinou em frente, minha mãe e eu colocamos as malas do lado de fora. O motorista foi gentil em nos ajudar a colocar tudo no porta-malas. Eu me distraí enquanto elas se chocavam umas contra as outras e então sentei no banco de trás. Minha mãe sentou no banco de passageiro ao invés de sentar- se atrás comigo. Mas que diabos?

“Ouvi falar muito de você, Emma,” o motorista disse. “Vai ter um verão divertido. Ar fresco e, com certeza, bastante sol –”

“Acho que minha mãe pede bastante pelos seus serviços?” Praticando jogar papo fora, para quando estivéssemos em um hotel flutuante em mar aberto, onde estaria presa em um quarto pequeno com a minha mãe. “Claro. Talvez quando o choque passar, eu seja capaz de processar melhor.”

“Serviços…” ele murmurou.

“Falando de surpresas, mãe, você deveria ter me falado sobre esse cruzeiro quando te liguei duas semanas atrás. Preciso do meu passaporte?” A bolsa no meu colo ficava cada vez mais pesada. “Eu trouxe as coisas certas? Temos tempo para compras? Inferno, para onde estamos indo? É uma surpresa adorável, mas seria bom estar preparada.”

“Eu tenho seu passaporte na minha bolsa,” ela disse.

“Ainda não venceu?” Perguntei. “Tenho quase certeza de que venceu em março?”

“Não está vencido, Emma. Relaxa, tenho tudo que precisamos.”

Seu tom não acalmou meus músculos rígidos. “Para onde o cruzeiro vai? Onde vamos embarcar? Para onde vamos?”

“Tenho o itinerário aqui, um segundo.” Ela procurou com calma pelo panfleto na bolsa. “Aqui está. Vamos partir de Boston, não bufe para mim, Emma…” Ela mereceu – poderia ter esperado ela me buscar para essa grande surpresa em casa. “… vamos partir às quatro. São onze, não é mesmo? Temos bastante tempo.”

“Você é a planejadora, me diga você,” eu disse, “mas para onde vamos? Com o cruzeiro.”

“Para o Caribe – São Thomas, Ilhas Virgens; São João, Antígua e Barbuda; Bridgetown, Barbados; Castries, Santa Lúcia; Basseterre, São Cristóvão e Nevis; e Tortola as Ilhas Virgens novamente,” ela leu a lista. “Serão alguns dias no mar, vai ser divertido, não acha?”

O buraco de ansiedade no meu estômago se dissipou aos poucos e minha cabeça foi preenchida por música circense e lampejos de imagens de longos dias explorando diferentes ilhas com praias arenosas enquanto comia frutas exóticas em belos resorts.

“Não ouvi falar de você por um tempo.” Minha mãe ignorou o motorista e se virou no banco para olhar para mim. “Alguma novidade? Namorados dos quais precise saber?”

“Ainda sou gay, mãe. Suponho que o termo correto seria lésbica, mas gay meio que soa melhor.”

“Emma, por favor. Não na frente do nosso companheiro.”

“Ele leva as pessoas aos lugares – Tenho certeza que já ouviu coisa bem pior que garotas se amando.”

O motorista encarou a estrada e a atmosfera no carro ficou mais desconfortável. Não podia culpá-lo – ficar preso num carro com clientes discutindo era um saco. Minha mãe ligou o rádio e colocou um CD aleatório. Aparentemente, ouvir músicas natalinas em junho era melhor que falar sobre minha sexualidade.

Tinha que ter algo positivo nessa situação.  Por exemplo, estar em um cruzeiro significa atividades constantes, exploração e espaço. O tempo em que eu e minha mãe estaríamos confinadas gritando uma com a outra seria mínimo. Especialmente nos dias em que fôssemos explorar, em que, com sorte, estaremos cansadas demais para conversar quando voltarmos de qualquer que seja a aventura que tivemos. Com esses pensamentos passando pela minha mente, logo adormeci.

O carro parou abruptamente, me acordando do meu cochilo rápido, de quinze minutos – definitivamente não era o suficiente para estarmos perto do porto de Boston. Me senti impaciente por ter passado tempo suficiente em um carro de manhã, horas não seriam necessárias e não estava pronta para essa viagem redundante. Pegando as bolsas ao meu redor, saí do banco de trás. O carro tinha estacionado em um grande e vasto estacionamento gramado do Acampamento Mapplewood, o lugar mais odioso da Terra. Meio dormindo e só percebendo onde estávamos agora, não queria acreditar nisso.

Talvez tenha sido necessário minha mãe levantar meu queixo para que visse a placa e entendesse a mensagem. Esse sentimento tão familiar de apreensão voltou com uma vingança. O melhor modo de evitar decepções é não esperar nada de ninguém. Ainda sim, minha mãe mandou meu cérebro em um frenesi de animação e expectativa de viagem e então tomou de volta cedo demais. Minhas expectativas foram jogadas no chão e pisoteadas até estarem soterradas.

“Eu não vou para o cruzeiro, não é? Quis dizer que você ia,” disse calmamente.

“Bem…” Ela bateu na sua mala e fechou o porta-malas. “Não exatamente, querida.”

O motorista saiu do carro, se inclinou em uma das portas e disse: “Não sou o motorista particular da sua mãe, Emma.”

Ele pegou a mão da minha mãe e a luz refletiu perfeitamente em seus anéis. Foi uma sorte poder culpar meus olhos enevoados pela careta vendo a prata. Antes que pudesse me recompor, minha voz fez um som esganado, hurumpfff. A expressão ofendida do motorista não me fez sentir nem um pouco culpada, ele era um completo estranho. Era desconfortável que uma pessoa importante na vida da minha mãe soubesse sobre mim e eu não soubesse nada sobre ele. Eles eram casados. Eles tiveram um casamento. Nunca recebi um convite. Não importa o quanto machucasse que ela não tivesse pensado em me convidar, ainda mais para um dos dias mais importantes da vida dela, me machucava mais e não era um choque. O golpe do divórcio dos meus pais também não tinha vindo dela, veio somente do meu pai. A maioria das notícias era assim.

Esse não era só um cruzeiro.  Era uma lua de mel. Outro golpe, outro pisão e a luz final saiu. As reviravoltas continuavam a se empilhar, e junto com elas, meu peito pesava com o esforço para respirar. O rosto do meu novo padrasto, os anéis, as sufocantes e grandes árvores – tudo queimou meu cérebro até que tudo que eu visse fosse vermelho.

“Me deixa ver se entendi direito,” eu disse, dentes cerrados. “Você está indo para um cruzeiro com o seu motorista. Seu marido. Você está me abandonando aqui? No Acampamento Mapplewood? Quando você só me tem de julho a agosto.”

“Querida…”

“Pare de me ignorar– o ponto. Você está me deixando em um acampamento. Que é responsável pelo meu TPST?”

Nota: TPST = Transtorno de Estresse Pós-Traumático.

Depois da placa estava um planeta totalmente diferente. Tudo sobre ele me aterrorizava, desde o assobio do vento sob o luar, até as gotas de chuva que caíam nas folhas ou no tecido da barraca. Até mesmo os telhados das cabanas sob as estrelas me davam urticária. A lista continuou com uma linha infindável de coisas que contribuíam para esse sentimento sombrio que se acumulava na boca do meu estômago. Talvez fosse a constante tensão no meu pescoço enquanto me preparava para o ataque. Talvez fossem os seres rastejantes assustadores que corriam no escuro.

“Pensei que já tivesse superado essa fase difícil a essa altura.” Essa afirmação causou uma punhalada no meio do meu peito. Outro tiro foi dado. Ela jogou para o marido dela, cujo nome eu ainda não sabia, um olhar, como se o estranho realmente me conhecesse. “Seu pai sempre te prendeu demais. Ele te tirou da escola. Ele te tirou de York. Ele nunca te encorajou a expandir seus horizontes, Emma.”

“Ele se concentrou em coisas mais importantes, como conseguir ajuda para mim e mostrar preocupação pela minha saúde mental?!”

“Essa é uma oportunidade para você finalmente fazer alguns amigos, ver Jessie de novo. Depois dela, você não fez esforço algum para interagir com as pessoas. Quero isso para você, sem seu pai interferindo e te mimando.”

“Foi necessário, mãe. Eu era um zumbi quando morava aqui.”

“Você parece bem para mim.”

“Sim, agora, depois que meu pai me ajudou.” Silêncio. Falando de ajuda, onde estão meus remédios para ansiedade? Eu vasculhei a minha bolsa e achei o vidro. Bom. Mesmo que eu planejasse continuar usando as técnicas que a minha terapeuta me ensinou, era bom saber que eles estavam aqui para alívio de curto prazo caso eu precisasse. Eu admiti, “Somos colegas de carta, eu e a Jessie.”

“Que bom que mantiveram contato, mas interação cara a cara é bem melhor. Confie em mim. Isso será bom para você,” minha mãe prometeu. “Ethan, ajude a Emma a carregar as malas.”

“Claro,” Ethan disse.

Meus dentes se cerraram e eu tremi à medida que nos aventuramos pelo território do acampamento e ficamos na fila para o cadastro do lado de fora do edifício principal, não muito longe dos carros. Muitas crianças estavam sendo deixadas aqui pelos pais, os meus não eram exceção; olhando de fora, parecia tão normal, mas era tudo, menos isso.

Eu sabia que tinha que ligar para o meu pai e peguei o celular no meu bolso. Ele planejava ficar com o irmão dele no interior para trabalharem juntos. O sinal de celular lá era terrível, então tinha que ligar agora, antes que ele chegasse na casa do meu tio nas próximas horas. Estava prestes a ligar quando minha mãe pegou o telefone das minhas mãos.

“Ei,” eu protestei.

“Você acabará me agradecendo por isso,” minha mãe prometeu. “Um dia, você vai.”

“Você não pode forçar meu pai a te dar acesso a mim no verão, não usar esse tempo e então restringir minha comunicação com ele.”

“Eu não tenho a menor noção de onde você puxou essa sua natureza dramática, Emma,” minha mãe disse, desligando o celular. Ela o manteve preso em sua mão conforme andávamos na fila. “Eu peguei o celular de você porque as regras do acampamento dizem que não são permitidos celulares aqui.”

“Dramática? Mãe, não fui eu quem casou com o Ethan aqui e nem contei para a minha filha. Foi você. Eu quero falar com o meu pai. Ele vai me escutar.”

“Não queríamos que fosse grande coisa, Emma. Sinto muito. Eu não achei que você fosse querer ouvir esse tipo de notícia.”

“Você achou um cara que te faz feliz, estou feliz por você. Mas não vê o porquê estou brava? Uma coisa é não me deixar ir junto ao cruzeiro, que não teria me magoado se tivesse me deixado ficar com o meu pai, mas estou na droga do Acampamento Mapplewood.”

“Estou pagando os olhos da cara para você estar aqui, Emma. É uma oportunidade.”

“Eu nunca pedi por isso,” eu exclamei.

“E quem sabe? Talvez ache um namorado para você.”

“Um o quê? A viagem de carro de quinze minutos não me fez hétero de repente, mãe.”

Ela fez uma cara e me silenciou enquanto íamos para frente da fila. Minha mãe entregou meu celular para o diretor do acampamento, o Sr. Black, que estava no comando desde a última vez que estive aqui. O Sr. Black colocou meu celular numa caixa cheia das variadas tecnologias dos outros campistas. Em troca, me foi dado um documento de registro e o cronograma do dia. Depois que me inscrevi com sucesso, deixei minha bagagem com a de todos dentro do corredor do edifício principal. Eu assisti à medida que meu único caminho para a liberdade era carregado para além da vista – o único modo de sair dessa bagunça saiu com o Sr. Black.

Minha mãe me puxou para um abraço e o cuidado e calor do meu pai daquela manhã, que ainda permaneciam, se esvaíram pelo ar. Nenhum traço da segurança do meu pai ficou para trás para me fazer companhia.

“Isso será bom para você,” minha mãe disse. “Eu juro.”

“Não tem jeito de mudar sua decisão, não é?”

“Receio que não. Seja boa, ok? Sorria, querida, é o começo de uma aventura!” Aquelas foram suas palavras finais antes dela deslizar para dentro do carro e ir embora com o Ethan – o cara que não era só o motorista da carona.

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