⋅•⋅⋅•⋅⊰⋅•⋅⋅•⋅⋅•⋅⋅•⋅∙∘☽༓☾∘∙•⋅⋅⋅•⋅⋅⊰⋅•⋅⋅•⋅⋅•⋅⋅•⋅
Tradução: Note | Revisão: Bibi
⋅•⋅⋅•⋅⊰⋅•⋅⋅•⋅⋅•⋅⋅•⋅∙∘☽༓☾∘∙•⋅⋅⋅•⋅⋅⊰⋅•⋅⋅•⋅⋅•⋅⋅•⋅
Capítulo Sete
Pelos próximos três dias, tanto campistas quanto conselheiros foram chamados para o escritório do Sr. Black para dar seus depoimentos sobre a guerra de comida, como se fosse uma investigação oficial. Todas as fofocas na hora das refeições eram sobre quem seria pego e que tipo de punição eles ganhariam. Eu escutei o Mike dizendo que, da última vez que uma guerra de comida dessa magnitude aconteceu no acampamento, os campistas foram expulsos para sempre; nem os filhos dos filhos deles seriam aceitos em Maplewood. Isso não podia ser verdade por causa de uma guerra de comida estúpida, não é? Vivian disse que eles só ganharam avisos. Pareceu o jeito perfeito de ser expulsa do acampamento, mas a única coisa que estava contra mim eram as testemunhas e, se elas tivessem visto o campista que era mesmo responsável, deixariam de acreditar em mim imediatamente.
O Sr. Black queria descobrir quem causou a bagunça sem atrasar as atividades diárias do resto do acampamento, então continuamos nosso cronograma normalmente, esperando pela nossa vez de sermos entrevistados por ele, o que significava que agora estava presa fazendo atividades no grupo dos Castores com a Vivian e o resto do meu grupo.
Olhar para a parede de escalada de seis metros de altura fez ácido subir na minha garganta. Se eu soubesse que faríamos escalada hoje, teria tomado meus remédios. Desde o dia que fiquei presa naquela árvore, se subisse nem que fosse em uma cadeira, eu congelava em medo. Uma sensação esmagadora de fluidos gelados se espalhava pelo meu peito a uma velocidade que me preocupava. A madeira no exterior da parede de escalada estava desgastada, quase apodrecida, como o cerne de uma maçã depois de só ter levado uma mordida – marrom e machucada, mas ainda firme. Sinais de alarme tocaram na minha cabeça, implorando aos meus pés para dar diversos passos para longe dessa atividade desafiadora.
Eu tropecei em alguém conforme me afastava da parede e ouvi um risinho extremamente familiar. Uma careta se formou no meu rosto enquanto esperava o pior possível acontecer comigo. “Ah, droga.” murmurei, já sabendo quem era só pelo cheiro dela. “Desculpa, não te vi aí.”
“Ajudaria se você andasse para frente, e não para trás. Você é incompetente até mesmo nas coisas mais simples.” À medida que encarava a parede de escalada, um vídeo rolava na minha cabeça, mostrando o que aconteceria se meu corpo fosse forçado a escalá-la – ele entenderia isso como uma deixa para gritar igual uma criancinha, com a possibilidade de choro. Vivian estreitou os olhos com meu movimento repentino e arrastou o olhar de mim para a parede e para mim novamente. “Você detesta desesperadamente qualquer coisa que envolva movimento, não é?”
“Se eu disser sim, você não vai me obrigar a fazer?”
“Todo mundo tem que fazer.”
“Então para que falar sobre isso, em primeiro lugar?”
“Você adiciona um certo prazer ao meu dia quando se contorce em desconforto.”
Vivian estava determinada em me mostrar todos os aspectos horríveis do acampamento logo nas primeiras semanas.
Claro, poderíamos estar ao ar livre, mas esse exercício de escalada em particular tinha uma rota única. Estávamos sendo protegidos por uma corda presa no topo da parede e recebíamos ajuda de uma pessoa no chão que aplicava tensão na corda, para reduzir a distância até o chão. Tínhamos que escalar a rota com a corda conectada aos nossos equipamentos, nos permitindo afastar da parede com os pés e cair com a pessoa segurando a corda retirando a tensão.
Escolhemos uma pessoa para competir contra e uma para nos proteger com a corda no chão. Eu queria competir com a Gwen, mas ela precisava de um rival digno à natureza de macaco dela para subir a parede, e essa pessoa definitivamente não era eu. Mike assumiu o desafio. O rosto dela estampava animação enquanto ela disparava pela parede. Ela confiou em mim para trazê-la para o chão segura, sob a supervisão e ajuda da Vivian. Quando foi a minha vez de subir, me encontrei procrastinando ao colocar o equipamento devagar, esperando que o tempo acabasse antes de que tivesse que subir a montanha que era aquela parede. O único castor restante para competir comigo era a Jessie.
“Ei, Emma.” Jessie passeou até mim. “Está parecendo meio pálida. Talvez você deveria ficar de fora dessa. Sei como as alturas te assustam.”
“Como sabe disso?”
“Você está exatamente com a mesma cara do dia que ousou passar por cima do muro para pegar a bola. Não é como se meu equipamento estivesse conectado com o seu ou algo do tipo. Pode tomar seu tempo. E não se esqueça da quantidade de vezes que você descreveu nas suas cartas sobre como as escadas te assustavam.”
“Estou bem.”
“Claro, você está.” ela disse. “Você já foi chamada para a sala do Sr. Black?”
“Não, por quê?” Perguntei, suspeita.
Ela manteve sua atenção no chão. “O que vai falar quando for lá?”
“A verdade.” O penúltimo par de campistas começou a escalar a parede, me fazendo contorcer. “Toda a verdade e nada além da verdade.”
“E qual é a verdade, exatamente?”
“Ah, agora entendi.” Eu ri. “Sério?”
“O quê?” Os olhos de Jessie se arregalaram e ela tentou parecer inocente.
“Vocês começaram. Vocês começaram?”
“Não.” ela negou. “Não, por q– o quê? Não?”
“Lauren jogou aquela laranja na Gwen.” disse com confiança.
“Como sabia?” Ela entrou em pânico. “Emma, você não pode falar para o Sr. Black! Ele vai fazer a Lauren ir embora do acampamento. Depois do ano passado, ele disse que teriam consequências severas se acontecesse outra guerra de comida. Podemos ganhar avisos disciplinares. Você não quer isso, não é? Os castores dissolvidos assim?”
“Obrigada pela confirmação, Jess. Gostei muito da nossa conversa.”
Colocando os dedos em volta do equipamento, cambaleei para longe dela, deixando-a boquiaberta.
O que começou como um acampamento infernal com minha melhor amiga de infância se mostrou ser um acampamento infernal sendo atormentada pela amiga dela e a minha ex-companheira assistindo de lado.
Ponderei o que fazer com a informação. Revelar o culpado da guerra de comida tinha tudo de positivo, incluindo talvez forçar a Lauren a deixar a Gwen em paz. Livrar o acampamento da Lauren resolveria muitos problemas. Vivian assistiu pacientemente enquanto Abby e Bennie pulavam do último suporte e tiravam a corda dos seus mosquetões.
“Próximos.” ela disse.
Jessie passou por mim e começou a prender a corda. “Vamos, Emma. Você é minha parceira. Todos os outros já competiram.”
“Por que iria querer me associar com uma simpatizante de valentões?”
“Não sou uma simpatizante de valentões.” ela disse.
“O que se considera então?”
“Não como uma simpatizante de valentões, com certeza.” ela bufou.
“Então você provavelmente deveria agir diferente de um.”
Eu relutantemente fiquei ao lado da parede e silenciosamente protestei contra a atividade, me recusando a conectar a corda ao meu equipamento. Apesar de que, mesmo quando me recusava a vestir o uniforme da escola, meu pai ainda me forçava a entrar no ônibus da escola de pijamas. O mesmo brilho determinado estava nos olhos de Vivian, e então eu vagarosamente me afastei da parede.
Vivian acabou na minha frente, arrumando o equipamento por si mesma. “Não podemos ser pessoas civilizadas e conversar sobre isso?” Eu disse.
“Você vai escalar essa parede, Emma.”
“Isso pode até ser civilizado, mas… não é muito educado.”
Meus pés só obedeceram meu cérebro quando me encontrei com os olhos de Jessie, que olhavam para mim com pena e raiva. Eu não ia confrontar essas emoções, e o jeito mais rápido de escapar dela era escalar o mais alto que conseguia. Isso se provou impossível. Quanto mais alto eu subia, mais tenso meu corpo ficava.
“Vai com calma, Emma, vai acabar passando mal.” Jessie avisou, respirando pesado.
“Se eu for mais devagar, vou vomitar, e você será o alvo se isso acontecer.”
“Não vomite na sua oponente.” Vivian exigiu, soando enojada ao simplesmente imaginar. “Isso valeria um aviso formal e você não tem espaço sobrando para nenhum desses, Emma.”
“Projétil de vômito não é exatamente uma escolha.”
“Por favor, não vomite em mim.” Jessie implorou.
“Não é minha culpa se a reação a uma fobia real é vomitar.” eu disse.
Jessie ficou quieta. Na necessidade de me distanciar dela, escalei mais alto do que previ. Antes, o papo do vômito era só isso. Papo, uma piada. Eu senti como se meus olhos estivessem girando incontrolavelmente. Escalar tão alto era uma conquista. Sabia disso, no fundo da minha mente; ter chegado até aqui era o mesmo que um milagre. Mas tudo depois disso, a falta de sucesso para respirar e o jeito que a Terra girava manchou o pequeno minuto de vitória inacreditável.
Não pareceu ajudar saber que haviam pessoas esperando que eu completasse a atividade para que pudessem ir embora e almoçar. Basicamente, todo o grupo estava no chão, assistindo cada movimento meu. Os sussurros ficavam mais e mais altos, como se eu estivesse presa em uma caverna com ecos reverberando de parede a parede e meu peito começou a pesar, com cada pulso batendo mais forte até que isso fosse a única coisa que conseguia ouvir.
“Você consegue, Emma. Respire fundo.” Gwen chamou suavemente. “Estou aqui. Pode confiar em mim para te descer em segurança.”
Mike esbarrou os ombros nela, já descendo Jessie da parede. “Isso aí, você já fez a parte mais difícil.”
Gwen assentiu. “Agora tem que descer.”
“Eu meio que gosto daqui de cima,” disse.
“A vista deve ser es-pe-ta-cu-lar.” Vivian arrastou sua voz. “Acho que, se não conseguir fazer isso sozinha, terei que mandar alguém para te pegar. Parece que você não tem as competências para completar essa simples tarefa.”
“Que…” Raiva ferveu meu sangue. “Competências? Vou te mostrar as competências. Quem é que fala competências fora de uma reunião de negócios?”
Sem estar consciente do que meu corpo estava fazendo, pulei como uma profissional de apoio em apoio e pousei facilmente nos meus pés. Talvez o pouso tenha sido meio desajeitado. Talvez tivesse uma pontada no meu tornozelo, mas tive certeza de não demonstrar nada disso no meu rosto.
Eu me soltei e cambaleei para longe. “Estúpidas competências. Parede estúpida. Estúpida…”
Uma mão estava no meu ombro direito conforme eu estava com ânsia de vômito. Era a Vivian. Provavelmente a única pessoa que eu não queria que testemunhasse o resultado da minha bravura momentânea. “Emma, você está horrível.”
Sufoquei outra ânsia. “Eu… vo… agora.”
“Você está bem?”
“Melhor impossível!”
Corri e vomitei no arbusto. Mas eu consegui. Eu cheguei ao chão. Mesmo que a Vivian tenha me seguido e contraído em horror à medida que colocava meu estômago para fora. De repente, Vivian me ofereceu um lenço, deslizando-o para fora da sua jaqueta de conselheira e esfregou minhas costas conforme eu tomava lufadas de ar profundas e longas enquanto limpava a boca. Tudo em que pude pensar sobre, enquanto praticava um exercício de respiração sugerido pelo meu antigo terapista, era a Vivian e seus modos estranhos e antiquados. Ela era uma garota que nasceu na era errada, com suas palavras rebuscadas e seus lenços à prontidão.
Estava feliz por não ter faltado na atividade, afinal, porque consegui a confirmação da Jessie que foi a Lauren que começou a guerra de comida. Mesmo que não tenha sido a Lauren que roubou meu celular, ela era a garota que jogou aquela bendita laranja na cabeça da Gwen, que a caçoou pelas costas, que desenhou imagens ruins dela, zoando seu cabelo. Agora eu tinha munição para fazê-la ser punida, mesmo que não fosse expulsa do acampamento. Já era alguma coisa, pelo menos.
Quando a Vivian me direcionou para o escritório, depois de todo o fiasco do vômito, seu rosto estava cuidadosamente vazio, como uma máscara perfeitamente estruturada; era muito difícil entender através dela e é por isso que não a incomodei com perguntas de como o Sr. Black conduzia as entrevistas, ou se ela ainda estava do meu lado sobre eu não ter começado a guerra de comida. Era um desperdício de tempo tentar atravessar sua armadura quando ela a vestia tão bem.
Quando entramos na sala, a única iluminação era a luz do sol esmaecida passando por entre as brechas das cortinas. Comparada com a enfermaria, o escritório do diretor era muito mais frio. O escritório dele era preto e elegante e a superfície refletia o olhar desaprovador do Sr. Black. O olhar distante nos olhos dele me lembrava dos de Vivian. Lauren se sentou relaxada em uma das duas cadeiras opostas à mesa dele. Vivian ficou na entrada, obviamente tão curiosa quanto eu do porquê ambas eu e Lauren precisávamos estar no escritório ao mesmo tempo quando todos os outros foram entrevistados separadamente.
Ao invés de ir embora, Vivian se sentou no sofá do fundo da sala. “Gostaria de presenciar a conversa para adicionar minha própria perspectiva. Se estiver tudo bem por você.”
“Isso pode ajudar, sim.” O Sr. Black bateu uma caneta contra uma caderneta com a página cheia de anotações. “O que fazer, o que fazer.” ele murmurou sob sua respiração.
“Sr. Black, por que estamos aqui? Por que ainda estou aqui? Já te disse que não tive nada a ver com a guerra de comida.” Lauren disse.
“Você está aqui, Srta. Peterson, porque, de acordo com os testemunhos dos campistas e dos conselheiros, vocês duas criam uma atmosfera tensa entre seus colegas. Isso é exatamente o oposto do que estamos tentando fazer aqui no acampamento Maplewood.”
“Eu não fiz nad–” Lauren começou.
“Com todo respeito,” interrompi. “Eu discordo. Ela começou na guerra de comida. Lauren jogou uma laranja na Gwen.” Continuei, mantendo meu tom de voz: “Você sabe sim. Não se envergonhe tentando negar.”
“Você que está se acobertando. Pense sobre isso. Não sou que tem dois avisos.” Ela se virou, suplicando ao Sr. Black. Um sorriso doce doentio estava em seu rosto.
“A Emma está tentando se proteger. Só isso. Ela está colocando a culpa em alguém que ela não gosta.”
“Eu estava ocupada demais ganhando no Pokémon para focar na comida. Ou melhor, em jogar comida.” Como um balão ficando murcho, meus ombros cederam. “Olha, Senhor, levar a culpa por algo que eu fiz e ser expulsa? Eu topo isso. Essa zona? Desculpa, mas não. Não vou forçar a barra. Não fui eu. Traga a Jessie Anderson. Ela confirmou, logo antes de vir para cá, que foi a Lauren.”
“Emma está falando a verdade.” Vivian disse. “Ela estava consumida demais pelo Pokémon para sequer ter pensado em começar a guerra de comida. Você realmente come que nem um urso.”
“Não como não.” Contestei, encarando-a diretamente.
Houve um pigarreio, terminando nossa pequena discussão. O Sr. Black usava óculos de leitura e um dedo para passar pelas suas anotações. Ele assentiu para si algumas vezes, como se estivesse reafirmando os pensamentos que teve. Ele estalou a língua e chamou Vivian para a mesa. Ela ficou atrás de seu pai, uma mão na cadeira, lendo os mesmos documentos.
“Esses são os relatos do que aconteceu? Alguns…” ela disse, pausando: “… são completamente inventados. Há uma tensão entre a Emma e a Lauren. Isso eu posso confirmar. Uma coisa é certa, e é que a Emma não começou a guerra de comida.”
“Como pode estar tão certa disso?” ele perguntou.
“Infelizmente, eu sentei ao lado deles enquanto ela e o Walter jogavam Pokémon.”
Antes que o Sr. Black pudesse responder, Walter abriu a porta do escritório. Ela bateu contra um gabinete cheio de vinho, forçando uma prateleira a abrir, permitindo que papéis escapassem do topo, fazendo um redemoinho de caos temporário. O gentil gigante não pareceu incomodado com a destruição que causou. Ele andou em direção ao seu pai atordoado antes de bater, com vontade, suas mãos contra a mesa.
“A Emma é inocente! Nós jogamos Pokémon.” ele gritou.
“Houve uma menção de Pokémon.” O Sr. Black inclinou sua cabeça.
“Antes que pergunte, não, não estávamos sassaricando.” Seus olhos ficaram aflitos com o endurecimento dos olhos de seu pai.
“Sem fornicação.” Concordei, contorcendo o nariz.
“Nope, nada disso também.”
Seu pai disse: “Walter…”
“A mãe nos deu permissão para jogar Pokémon.” Walter choramingou.
“Sua mãe?”
Vivian olhou pela janela e grunhiu: “Infelizmente, sim.”
Nesse momento, o Sr. Black pareceu como um tolo apaixonado. Alguém como a Julie, com uma alma genuína e gentil, merecia esse amor épico. Foi profundo de se ver, especialmente por meus pais não compartilharem esse tipo de compreensão ou conexão espiritual.
“Ações precisam ser tomadas, tanto para o papel de Lauren na guerra de comida, quanto para suas animosidades uma para com a outra, especialmente quando se viraram uma contra a outra em atividades em equipe. Em qual que foi? Queimada? Isso precisa parar. Por que não lidar com as duas de uma vez só? Esse conflito precisa ser resolvido e o que é melhor que isolamento?”
“Expulsá-la?” Sugeri.
“Não, pai.” Vivian reclamou, virando a cabeça em sua direção. “Isso não é puni-las, é me punir.”
“Vocês serão levadas para a floresta para uma viagem de uma noite de acampamento. Somente vocês três. Se uma solução para o seu conflito não surgir, ficarão mais uma noite. E de novo, se não for resolvido. E assim vai.”
Meus olhos começaram a arder porque, sim, o medo me consumiu. Minha respiração ficou mais profunda e curta, mas não era o suficiente. Não conseguia respirar o suficiente para satisfazer meus pulmões.
“Você está bem?” a voz abafada de Vivian perguntou.
“Ótima.” eu afirmei, levantando do meu assento.
A mão enorme de Walter pousou no meu ombro. “Você parece pálida. Não seria melhor se você se sentasse?”
“Não, estou bem. Estou… Preciso ir… agora.”
Descontroladamente, peguei a maçaneta da porta e a empurrei. Antes que andasse um metro, o Sr. Black disse: “Siga-a. Garantam que ela está bem.”
A madeira das cabanas, gravetos no fogo e a casca das árvores cercando as proximidades estavam me cercando. Folhas empurradas pelo vento com o tempo e o sol queimando em um profundo âmbar. Só podia pensar em um lugar onde tudo não era tão aberto – o barracão. Tudo que sabia por certo era que uma bola se alojava na parte de trás da minha garganta e minha língua era inútil, parecendo que ela poderia ser engolida por minha garganta, criando uma imagem de eu engasgando até a morte. Eu repeti minhas ações anteriores: grampo, destravar, porta do barracão aberta e finalmente estava segura dentro de suas paredes metálicas e sobre o chão metálico gelado.
Sabia que o surto na minha pulsação, o repentino excesso de suor e o tremor eram um ataque de pânico. Estava incapaz de tocar no chão, os galhos espetavam a parte inferior das minhas costas e tinha a cara despreocupada da Lauren, me deixando completamente sozinha no escuro e na chuva.
Uma mão deslizou contra minha bochecha, segurando-a. “Emma, olhe para mim. Vamos, olhe para mim.”
Meus olhos desesperados se ergueram, encontrando-se com olhos de ouro derretidos. Meus pensamentos estavam se intensificando a cada segundo. “Estou b-bem.” Arfei, me afastando.
“Você não está.” Vivian disse severamente. Ela inclinou meu queixo para cima, para que a encarasse novamente. Nada era ameaçador sobre o jeito que ela me olhava. Havia somente confusão. “Você precisa respirar, Emma. Olhe para mim.”
“Não consigo.”
Levei minha mão para meu pescoço, tentando fazer a bola diminuir ao massageá-la.
“Seus pensamentos,” ela disse suavemente: “esses pensamentos disparando, eles são vários ‘e se’. Possibilidades. Incertezas. Do que você tem certeza?”
“Eu não sei.” disse, engolindo duro, de novo e de novo.
“Você sabe.” ela encorajou.
“Por favor, só me d-deixe em paz.” Virei minha cabeça para o lado, para que talvez ela não visse as lágrimas aflorando em meus olhos.
Ela pegou a minha mão e a colocou no peito dela. “Você tem certeza de que meu coração está batendo, caso estivesse se perguntando. Você tem uma obsessão com o meu coração, lembra? Aí está, provendo vida. Agora, e o seu?”
Permaneci quieta quando ela empurrou minha mão contra o meu peito. Sua mão permaneceu por cima da minha.
“Está batendo rápido, mas é regular.” ela me disse.
“Rápido não é irregular?”
“Mesmo assim, você não está morrendo.” Ela segurou minhas bochechas de novo, continuando a inspirar e expirar, puramente para o meu benefício. Tentei imitá-la. “Bom. Isso é bom, Emma.”
Vivian mudou sua posição, de ajoelhada na minha frente para sentada ao meu lado. Ela pegou minha mão entre as duas dela e continuou a tomar respirações profundas, esfregando seu dedão contra as costas da minha mão simultaneamente aos movimentos. Ficamos sentadas em meio à escuridão silenciosa, com exceção do ar saindo e retornando para os nossos pulmões.
Sabia, com certeza, de três coisas: Um, apesar do exterior frio da Vivian, ela genuinamente se importava com o bem-estar de seus campistas, o que eu deveria saber desde a primeira vez que ela me levou para a enfermaria. Dois, mesmo no meu momento mais vulnerável, eu conseguia abrir fechaduras igual uma profissional. Três, essa idiotice com a Lauren precisava acabar antes que as coisas se escalassem para algo além de guerras de comida.
“Como está se sentindo agora?” ela perguntou suavemente.
“Estou bem. Minha garganta… ainda está esquisita.”
“Emma, você acabou de ter um ataque de pânico.” O aperto de Vivian na minha mão se intensificou. “Não é fraqueza admitir que está qualquer outra coisa que não seja bem.”
Puxei minha mão. “Eu deveria ir.”
“Isso importa?” Ela suspirou. Ela escaneou o interior do barracão com um casual dar de ombros. “Você não deveria ter invadido aqui. Mas invadiu. Não uma, mas duas vezes. Não deveria ter levado seu celular. Mas levou. Não deveria estar no acampamento, mas você está.”
“Onde quer chegar?” Perguntei, me sentindo desconfortável.
“Fique e explique o porquê passar um tempo em isolamento com a Lauren causou essa reação.”
“Não tenho medo da Lauren.” neguei, zombando.
“Certo.” ela arrastou a fala, ainda não olhando para mim. “Aceito essa resposta. Então, a questão é, o que causou isso?” Vivian esperou pacientemente.
“Se eu te contar… promete que não vai rir?”
“Prometo ocultar minha diversão, sim.” ela concordou.
“Tenho medo de acampar.” Eu pausei. “Tudo a ver com acampar.”
“Sabe, isso explica muita coisa.”
“Explica?”
“De fato.”
“Você parece tão destemida.” comentei.
“Em algum momento, você tem que sorrir para as sombras, Emma.”
“Sorrir para as sombras.” repeti. “Parece assustador.”
“Tente em algum momento e veja.”
“Vou te falar como foi.” prometi.
“Estarei lá com você, lembra?”
“Ah, certo, sim. Isso não é puni-las, isso é me punir.” zombei dela sobre antes, no escritório. “Vou para esse isolamento com vocês duas, mas não posso prometer não surtar. É uma coisa estar nas cabanas. Outra coisa é ter somente uma tenda entre as árvores e eu.”
Vivian bateu no meu joelho e se levantou. “Agora que estou ciente da sua questão, tenho certeza de que se tiver um problema, poderemos resolver entre nós.”
“Tenho meus remédios para ansiedade na cabana. Tenho tentado usar as técnicas que meu terapeuta me deu, já que estou quase sem medicações agora, exceto algumas para alívio de curto prazo para ansiedade. As técnicas têm funcionado, mas acho que estar no acampamento me jogou em um loop.”
“Compreensível. Vamos parar primeiro na sua cabana. Pode pegar seus remédios para se acalmar se necessário, então vamos pegar algo rápido para comer e começar a fogueira.”
Peguei a mão dela e a deixei me impulsionar para cima, não soltando de imediato. “Obrigada por…”
“A qualquer momento.” ela disse, apertando minha mão. “É um problema para amanhã de noite.”
Foi um dia longo e exaustivo com a parede de escalada, ter sido chamada para o escritório do Sr. Black e o ataque de pânico. Meus pensamentos corriam pela minha cabeça – delírios infindáveis de mortes macabras na floresta. Não haveria um dia em que me sentiria confortável sobre compartilhar essas imagens saltantes e preocupações com alguém. Como Vivian me prometeu, comemos nossa comida rapidamente, já que a maior parte do jantar foi gasta no escritório do Sr. Black e no barracão. Na hora que chegamos no refeitório, pouco depois das sete e meia da noite, estava vazio, com exceção da Sra. Black, que estava limpando atrás dos balcões. Vivian não me deixou sozinha, mas sentou comigo na mesa dos conselheiros e se certificou de que comi. Apesar de não termos falado mais sobre o tempo que passamos no barracão, era bom tê-la ali.
Só porque havia tomado minha medicação, não significava que eu também não poderia me acalmar assumindo o controle da minha respiração. Inspirar fundo, segurar a respiração, expirar e prolongar o tempo para inalar novamente em alguns segundos. Ao repetir essa técnica durante o jantar, o estresse que havia se acumulado no meu corpo foi embora. Eu era maior que esse medo. Eu era maior que essa ansiedade. Tinha todo um mundo que não envolvia estar sobrecarregada.
Uma hora depois, sentada perto do fogo crepitante com a Vivian do outro lado na minha frente, a vergonha de ter disparado do escritório do Sr. Black se dissipou.
Os castores estavam sentados em troncos, ao redor de uma fogueira maior do que sei-lá-o-que, tostando marshmallows. Estávamos tão dispersos que o crepitar do fogo engolia as vozes de todos, exceto da Gwen, que estava sentada no mesmo tronco que eu. O único motivo de eu estar ali era que a fogueira não era nos limites do acampamento, perto da natureza e seus elementos sujos. Por acaso, ficava bem ao lado do edifício principal. Gwen e eu estávamos amontoadas para nos aquecermos e havia um senso de segurança nisso.
Gwen pegou o espeto do meu colo e fincou um marshmallow na extremidade. “Vou tostar um para você.”
“Como você é tão energética a essa hora da noite?” Perguntei.
Ela ergueu o espeto acima do fogo. “Emma, mal são nove da noite.”
“Nós não paramos quietas o dia todo.” insisti.
“Quanto mais energia você usa, mais energia você tem. Quer conversar sobre o quê está te deixando tão rabugenta?”
“Não tem nada me incomodando.” disse com as palavras soando vazias até mesmo aos meus ouvidos.
“Você é uma péssima mentirosa.” Ela ergueu seu próprio espeto sobre o fogo, segurando facilmente os dois. “A boa notícia é que você não foi expulsa do acampamento. Egoisticamente falando, é claro. Mas você parece como um cachorro que caiu do caminhão de mudança e eu não gosto de ver isso.”
Eu pausei, não querendo ofendê-la. Puxei o espeto das chamas. “Seu pai vai colocar eu e a Lauren no isolamento.”
“Isso explica a sua cara. Também explica o porquê minha irmã está mais mal-humorada que o normal.”
“Acho que ela está com receio de que vou fazer algo estúpido.”
“Você vai?”
“Não.”
“Talvez devesse dizer isso a ela?” Gwen sugeriu, inocentemente.
Gwen interpretou minha hesitação como se eu não tivesse ideia de que modo comer o marshmallow e me forçou a assisti-la enquanto ela descascava o lado de fora e mordiscava lentamente a bagunça pegajosa por baixo. Apesar da minha aversão a porcarias, eu a copiei e reclamei de dor – por dentro era muito mais quente do que eu esperava.
“Posso te perguntar uma coisa, Emma?”
“Manda.” disse, esperando acalmar os nervos dela.
“Você tem amigos?”
Eu bufei. “Claro, com certeza.”
“Quem?”
“Você.”
“Eu não conto.” ela negou, mas pareceu feliz.
“É claro que conta, somos bffs agora.”
“Fico feliz.” Mas o comportamento tímido continuou. “Você é incrível. Irritadiça, mas maravilhosa.”
“Obrigada?”
“Não quero que deixe de mostrar isso para as pessoas.”
Eu me virei para que ficasse de frente com ela. “Não entendo, Gwen.”
O espeto de marshmallow dela abaixou. “Você é incrível e eu não quero impedir sua interação com os outros. Eu gosto de você e…” Ela estava tentando terminar a amizade comigo?
“Vamos deixar algo claro.” Eu disse. “Eu detesto pessoas, mas você é uma pessoa que eu não detesto. Eu gosto de você também.”
“Você gosta mais de mim do que da minha irmã?”
A gosma do marshmallow deslizou para baixo dos meus lábios. Meu cérebro deu uma parada nervosa, me deixando boquiaberta. Gwen não poderia mesmo pensar que eu gostava romanticamente da irmã dela, não é? Meu coração disparava ao redor da Vivian? Claro. Talvez eu encarasse um pouco demais o rosto dela enquanto ela falava? Sim. Ela tinha um rosto agradavelmente simétrico. Algumas vezes eu queria alcançar e segurar a mão dela? Mas é claro. Somente para olhar as unhas fenomenalmente estilosas dela. Isso tudo significava que eu tinha um crush?
Talvez.
“Emma? O que está fazendo?” ela perguntou, parecendo entretida.
“Nada?”
“Sinceramente, Em.”
Meu corpo deslizou para fora do tronco até que eu estivesse esparramada pelo chão, olhando para o céu, onde cores laranjas e rosas suaves estavam bem longe e ficávamos com nuvens dispersas. Por um momento, senti que estava deitada no meu pequeno quintal em Boston. Não importava onde estava no mundo, o céu permanecia constantemente fora do alcance e lindo em seu fluxo de cores e constelações. Era um cobertor confortável, denso e imutável que parecia vivo e vigilante com a lua e o sol revezando e patrulhando a Terra.
Rolei para minha lateral e joguei meu espeto no fogo. Quando me virei, estava cara a cara com a garota de quem não conseguiria escapar por um dia inteiro. Ou dois, se não resolvêssemos nossas merdas.
“Emma,” Lauren disse. “Quero me desculpar e esclarecer o clima antes de amanhã, para que não fique estranho.”
“Já vamos ficar presas na floresta juntas por vinte e quatro horas, fale comigo lá, então.”
“Estou sendo genuína aqui.” ela disse grosseira. “Não sei você, mas realmente quero conseguir um trabalho aqui no próximo verão. Isso significa que preciso ser impressionante, agir madura. Já estou em gelo fino por conta de umas merdas do ano passado. Essa viagem com a Vivian – é vergonhosa, ok? Quero impressioná-la, não irritá-la para caralho.”
“Pensei que tinha dito que seria impossível conseguir o trabalho por conta da Gwen?”
“Não quero arruinar minhas chances. Você não pode aceitar minhas desculpas e seguir em frente?”
Eu inclinei minha cabeça para o lado. “Pelo bem das aparências?”
“Exatamente.”
“Nah.”
“Emma!” ela gritou para mim, conforme eu pulava em pé e saía da área da fogueira.
“Emma!” zombei sob minha respiração.
Enquanto todos estavam ocupados se divertindo perto do fogo, disparei para dentro da cabana e comecei a virar colchões, arrancar fronhas dos travesseiros e jogar cobertores das duas outras camas. Não tinha sinal do aparelho em lugar nenhum e agora eu tinha destruído o quarto. Comecei a arrumar as camas enquanto fazia outra varredura rápida sob os colchões e as únicas coisas que achei foram uma meia perdida debaixo da cama da Lauren e um elástico de cabelo aleatório perto da cama da Abby. Meu celular não podia ter desaparecido no ar.
Depois de me trocar para uma camiseta larga e algum shorts, subi na minha cama e afundei no colchão, não me preocupando em pegar o cobertor do chão, já que estava fervendo dentro do quarto, especialmente depois do esforço de limpar a bagunça que tinha feito.
A porta rangeu aberta e não me surpreendeu nem um pouco quem entrou.
“O que posso fazer por você, Srta. Black?”
“Não me chame assim.” Vivian murmurou, sentando na cama da Lauren, do outro lado da cabana, debaixo da janela, cruzando as pernas. “Por que não está lá fora com todo mundo? De acordo com a minha extensa pesquisa de trinta segundos, você não deveria ser deixada sozinha com seus pensamentos.”
“Você organizou isso para que eu ficasse ocupada?”
Houve um momento de silêncio. “Foi um dos fatores que motivaram isso. E também deixar os campistas cansados para que sejam mais fáceis de lidar amanhã enquanto eu estiver fora.” Ela zombou. “Sabe o que eu não entendo? Você está cercada pela sua fobia, mas está frequentando o acampamento. Pagando por ele, até. Não faz sentido. É essencialmente tortura mental para você.”
Sentei e balancei minhas pernas para fora da lateral da cama. “Você tem razão?”
Ela inclinou a cabeça na porta. “Você se contorcerá em pensamentos incertos enquanto poderia estar dançando com os outros, ou comendo. Fazendo algo além de tortura auto-infligida. Volte para fora.”
Quando a Vivian mencionou dança, pensei que era uma tentativa de piada. Mas lá estavam eles, dançando ao redor do fogo, como idiotas ao som da música que tocava do celular da Vivian, sem coordenação ou movimentos graciosos. Exceto por Gwen; ela poderia fazer com que comer um lanche monstruoso parecesse refinado. Não tive tempo de escapar, porque assim que percebi, Gwen tinha me puxado para piruetas desajeitadas que eram tanto atordoantes quanto animadoras. Infelizmente, o feitiço acabou quando as pessoas perceberam a minha presença, deixando meus movimentos rígidos e estranhos. É… chega de dança para mim.
Quando me sentei, Vivian se juntou a mim. Depois de um momento, eu disse: “Ser conselheira deve ser um saco.”
“Não usaria essa palavra. Mas preferiria passar o meu tempo em outro lugar.”
“E por que não passa?”
Primeiramente, achei que ela não iria me responder, mas então ela disse: “Eu poderia.”
“Você quer estar aqui?”
“De certo modo.” Ela bateu os dedos de leve na sua perna e olhou para as estrelas. “Eu poderia estar trabalhando atrás de um balcão, recebendo um salário mínimo, ou poderia trabalhar de graça aqui, poupar o dinheiro dos meus pais e continuar a faculdade sem interrupções. Escolhi a solução menos complicada.”
“Preferiria estocar prateleiras do que lidar com a gente o dia todo.” Comentei.
“Esse pensamento passou pela minha cabeça em mais de uma ocasião.”
O ritmo da música diminuiu para a voz rouca de uma mulher misturada com o crepitar da fogueira. A fumaça que saía alta no ar se misturava com o cheiro de terra usual do acampamento. O combo suave de crepitar e música fez o som dos galhos e ramos batendo e estalando um contra os outros parecerem batidas de tambor. Do farfalhar das folhas aos campistas estranhos que quebravam galhos sob os sapatos, tudo acrescentava ao estilo elemental de música que, de algum modo, não me assustava.
“Você faz faculdade de quê?”
“Estudos Sociais.”
“Quer ser assistente social ou algo do tipo?”
“Sim.”
Pensei sobre o que aconteceu antes e uma medida de precaução adentrou minha mente.
“Vivian, você me faria um favorzinho?”
Ela parecia cautelosa. “Qual é o favor?”
Peguei as chaves da cozinha do meu bolso e as entreguei. “Você poderia…”
“Não, não vou buscar um lanchinho para você.”
“Ia perguntar se você podia mantê-las em segurança para mim. Dar para mim quando a Sra. Black não puder preparar a comida nas manhãs. Somente quando eu precisar delas.”
Vivian me estudou por um momento antes de pegá-las da minha mão. “Certo.”
“Não vai perguntar o porquê?”
“Vou assumir que não confia em si própria com elas e não deseja decepcionar minha mãe. Aceito essa.” Ela as colocou na bolsa. “Por quê?”
“Meu celular foi roubado.”
Ela olhou para longe devagar. “O que você acabou de dizer?”
“Meu celular foi roubado?”
“Está falando sério agora?” Assenti. “Isso que você me acusou de roubar. Agora, vou me aventurar a adivinhar que acha que a Lauren o roubou. É outro drama que vamos ter que resolver na viagem de isolamento. E isso é mais trabalho para mim. Se ela não roubou, isso significa outra pilha de trabalho para eu achar o aparelho.”
“Ou a sua irmã pegou.”
“A Gwen não faria isso.” Vivian aumentou o volume da música no celular dela e se inclinou para perto do meu rosto. “É melhor ela não vir chorando para mim sobre você não confiar nela, porque você terá que lidar comigo. Entendeu isso, Emma?”
Gwen girava por aí como uma bailarina enquanto o resto dos Castores dançavam juntos em um grande amontoado desengonçado de membros, balançando para frente e para trás em grupo ao som da música. A avaliação rápida de Vivian sobre a situação foi exatamente precisa. Não tinha possibilidade da Gwen mentir para mim assim.
Eventualmente, os Castores cansaram de suas danças e Vivian encerrou a noite, nos mandando para nossas cabanas, lembrando a todos de que ela não estaria disponível no dia seguinte depois do café da manhã e que deveriam se encontrar com o Walter e os Águas-Vivas perto da quadra de exercícios atrás das cabanas. Naquela noite eu tentei dormir, os grilos cantavam sem parar e tive esperança de que nada nem remotamente parecido do que aconteceu da primeira vez que me lembro de ouvi-los cantar fosse acontecer.