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Tradução: Note | Revisão: Bibi
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Capítulo Onze
No dia seguinte da aula de arquearia, eu dormi durante o café da manhã e continuei a dormir pela aula de artesanato, não me importando se a Marissa me daria mais tempo de serviço no refeitório. Na hora em que estava pronta para começar o dia, já era depois do almoço. Pontualidade nunca foi meu forte, e não era pela falta de preocupação para com aqueles que me esperavam. É isso o que acontece quando se tem tanto depressão quanto ansiedade – há uma discussão quase interminável entre me preocupar com algo que precisava ser feito, mas não ter motivação suficiente para me livrar do que fazia meus pensamentos ficarem decididos a me manter acordada à noite.
De novo, estar atrasada era totalmente minha culpa, mas eu marchei por Maplewood sem noção do que iríamos fazer de tarde. Esse era o problema em se acostumar a contar com os outros para me dizerem o que fazer todos os dias: eles eram humanos, como eu, e cometiam erros. Até alguém como a Gwen, que tinha energia infindável, não poderia ser responsável por mim o tempo todo.
Vivian me observou com atenção conforme eu fazia meu caminho até o topo da colina e olhava a quadra de exercícios. Gwen brincava com a bola de futebol sozinha enquanto o restante dos Castores estavam se divertindo em duplas. Vivian não me repreendeu por estar atrasada. Ao invés, ela ordenou: “Por que não pega uma bola e faz dupla com a Gwen?”
Todos os outros Castores tinham alguém para quem chutar a bola. Eles ficavam a pelo menos cinco metros um do outro e chutavam a bola de futebol para lá e pra cá. Eles usavam outras partes do corpo como quadris ou ombros para dominar a bola. Algumas bolas voavam para o topo de suas cabeças e alguns campistas iam em sua direção para cabeceá-las. Todos participaram. Todos exceto a Gwen.
“Vagabundos.” Disse sem expressão.
“Vagabundos.” Vivian concordou, cruzando os braços.
“A Gwen é a definição de um ser humano decente. Eles…” Pausei, finalmente sentindo uma pontada na minha mão. Eu a sacudi. “Você acharia que um cara enfiando o outro em um armário é ruim, mas as garotas são muito piores. Aquela diaba encarnada e todos aqueles covardes que ficam de braços cruzados. Ninguém merece ser ignorado, especialmente a Gwen. Não entendo. Por quê? O que está fazendo eles agirem assim?”
Vivian pôs os olhos em um grupo de três garotas, quando uma delas deveria estar com a Gwen: “Começou ano passado depois que fui para a faculdade. Foi só depois de me tornar uma conselheira este verão que percebi que também era assim para ela na escola. Que eu percebi que era assim.”
Automaticamente, minha mão a alcançou para tocar seu braço. “Isso é um saco, Vivian.”
“Assim como você, eu experienciei um tormento infindável ao dividir um espaço fechado com a Lauren.”
“Você dividiu uma cabana com a Lauren?”
“Com muita relutância.” Meus dedos acariciaram o braço dela. Vagarosamente, ela se afastou e sentou na grama. Ela só começou a falar de novo quando me sentei ao lado dela. “Eu tinha meus jeitos de escapar. De vários modos.”
“Está sendo enigmática de propósito?” Perguntei.
“Talvez um pouco.” Vingança exalava dela em ondas conforme ela pressionava as mãos contra as coxas. “A Lauren vivia quebrando os limites que eu tinha imposto. Muito parecido com o que ela faz com você. Persistentemente. Quando ela finalmente entendeu que eu não queria nada com ela, ela não fez de mim um alvo. Esperou e mirou na Gwen. Minha querida irmã mais nova nunca me contou. Fizemos várias ligações e visitas e ela agiu como seu eu usual. Fingiu.”
“Você só descobriu no acampamento.” Murmurei, balançando a cabeça.
“Ela se recusa a entrar em qualquer conversa sobre o assunto.” Vivian soltou um suspiro profundo, só escondendo sua irritação quando a Gwen acenou para nós. “Então você estava aqui, falando com ela e a fazendo sorrir. Ela não para de falar de você. É repulsivo. Emma, você está certa. Os espectadores são covardes, mas ninguém é mais covarde do que a Lauren.”
Descansei minhas mãos nos joelhos para evitar afundar as unhas nas palmas das minhas mãos ainda mais. “Como você colocou um fim nisso?”
Ela não me respondeu imediatamente. “Essa é uma história para outro dia.”
“Isso, por acaso, tem a ver com uma certa interação entre vocês duas no refeitório ano passado?” Perguntei e ela confirmou com um pequeno balançar de cabeça, uma implicação silenciosa de que ela realmente tinha rejeitado a Lauren. Mike estava falando a verdade. “Então, posso ouvir essa história?”
“Sim. Mas por agora, vá fazer dupla com a minha irmã.”
“Espera, isso significa que você não está ficando com a Lauren?”
“Quê?!”
“A Lauren disse que vocês fizeram um acordo.”
“E você assumiu que estávamos…”
“Mandando ver.”
“Não.”
“Obrigada por ontem, por tê-la afastado de mim.”
“Não é necessário agradecer.” Ela murmurou. “E, Emma? A Lauren e as atitudes dela…”
“Não se preocupe, Vivian. Eu entendi.” Prometi, não deixando que a invasão aos meus limites de ontem me deixasse com medo daquela bruxa.
Quando desci a colina, Gwen soltou a bola no chão e a chutou em minha direção. Ela assumiu a posição correta debaixo do meu pé. Com um chute na bola, mandando-a de volta para a Gwen, me aproximei dela.
Todas as vezes que meu pé se conectava com a bola, uma imagem da bola se conectando com o rosto da Lauren aparecia. Era tudo que podia fazer para não tornar a imagem uma realidade. Quando a bola rolou para debaixo do meu pé, dei alguns passos para trás. Estava na hora. Com uma corridinha rápida em direção à bola, a acertei em direção a Lauren, Abby e Jessie. Eu a segui com meus olhos até ela bater contra o estômago de Lauren, fazendo a garota se contorcer.
“Emma, mas que droga?” Gwen perguntou, agarrando meu braço. “Pensei que a viagem do acampamento isolado tivesse resolvido os problemas de vocês? Não disse que não ligava mais para todo o negócio do celular?”
“É o que pensei, também, até ela passar a mão em mim ontem.” Disse, percebendo que talvez houvesse outro fator em chutar aquela bola. “Ela não parou quando eu pedi, Gwen. Tudo que eu digo, ela distorce e, honestamente, dividir o mesmo espaço da cabana com ela está me fazendo perder a cabeça. Além do mais, ela é uma valentona que merece um pouco do próprio remédio, não acha?”
Gwen prestou atenção para o chão. “Não sei.”
Lauren veio até nós, segurando a bola que eu tinha chutado entre ambas as mãos. “Aqui, Gwen, acredito que seja sua.” Ela empurrou a bola na direção da Gwen, só para bater contra o meu braço.
“Nossa, na verdade.” Corrigi. “Obrigada por buscar para nós.”
“De nada, Emma.” Lauren me lançou o que parecia ser uma resposta genuína. Ela focou novamente na Gwen. “Olha, Gwen, temos um trato, lembra? Você deixa todos em paz, fica na sua e não nos incomoda. Mas… tive uma conversa com a sua irmã, então vou deixar você em paz. Ela não mencionou nada sobre mais ninguém. Entendeu?”
As mãos de Gwen se colocaram firmemente nas suas laterais. “Não? Eu não entendo?”
“Ela não chutou a bola em você, eu chutei.” Disse.
A testa de Lauren enrugou. “Você que chutou?”
“Chutei. E seja qual for a merda que está ameaçando fazer,” Disse: “Gwen, quieta. Juro por Deus, não é nada comparado a quando eu te der uma surra. Peça desculpas para a Gwen direito. Comece a tratá-la como a porra de um ser humano—”
“Tudo bem.” Lauren interrompeu, levantando as mãos. Fixando seus olhos arrependidos na Gwen, ela continuou: “Sinto muito, Gwen. Acho que é hora de expor tudo?”
“Não.” Gwen engasgou, empurrando meu braço para o lado e empurrando os ombros de Lauren. “Você pode vir atrás de mim o quanto quiser, mas a Emma? De jeito nenhum.”
“Gwen, o que está acontecendo?”
Com os olhos cheios de raiva e dor, a Gwen explicou: “Emma, eu tentei recuperá-las. Mas não consegui. Jessie achou que seria uma boa ideia trazê-las para o acampamento, não sei o porquê…”
“Trazer o que para o acampamento, Gwen?”
“Suas cartas, Em. As cartas que escreveu para a Jessie.”
O tempo desacelerou. Tudo que pude ver era o risinho vitorioso da Lauren, a ideia da Gwen me defendendo por sabe-se lá quanto tempo, mantendo a paz para que minhas cartas não fossem divulgadas. Minha mão voou rapidamente para bater no rosto da Lauren, mas alguém pegou meu pulso antes do impacto. Vivian mandou Lauren e o resto dos Castores em direção à próxima atividade perto do lago — todos exceto Gwen e eu.
“Você está bem, Emma?” Gwen perguntou.
Limpei a garganta. Meus olhos estavam ardendo. “Sim, de boa.”
“O que aconteceu?” Vivian perguntou, ainda segurando meu braço.
“Gwen. Você se defenda e vá para cima. Não se preocupe com a droga daquelas cartas estúpidas. Não ligo mais para elas.” Disse raivosa.
“Emma.” Gwen disse baixinho: “Não sou uma lutadora. E elas são pessoais.”
“Quem liga? A Lauren não vai mais chantagear ninguém a nada. Não entendo. Como você sabia sobre elas? O que ela te fez fazer para que ela não as expusesse? Não me diga que tem a ver com aquele trabalho idiota de conselheira.”
“Você lembra do dia em que você colocou aqueles sachês de ketchup debaixo do assento do banheiro? Quando eu fui pela primeira vez garantir que você saísse da cama? Encontrei algumas das suas cartas na nossa cabana e ouvi a Lauren falando das que ela tinha na cabana dela, então fui recuperá-las para você. Ela disse que se dissesse alguma coisa para você, ela as espalharia, e se ficasse na minha, manteria a palavra e não contaria a ninguém sobre tudo que você escreveu nelas. Ela queria a vaga de conselheira também.”
“Cartas…” Vivian disse com seu aperto ficando mais firme no meu braço. “Essas cartas estavam no seu celular?”
“Não.” Gwen e eu respondemos ao mesmo tempo. Continuei explicando. “Cartas que escrevi para a Jessie ao longo dos anos. Não é nada.”
“Elas são profundamente pessoais.” Gwen disse.
“Eu confisquei cartas que estavam debaixo do travesseiro da Lauren.” A voz da Vivian estava mais grave, mais confiante. “Quando inspecionei sua cabana, eu as peguei também, porque as cartas tinham o nome da Jessie no topo. Queria investigar o assunto adiante, mas você não tem com o que se preocupar. Nenhuma de vocês. Podemos conversar sobre isso mais tarde.”
“Eu poderia te beijar.” Admiti, provavelmente mais honestamente do que deveria.
“Isso é desnecessário.” Vivian disse.
“Bem.” Cocei a parte de trás do meu pescoço. “Mas eu posso mesmo assim?”
Vivian me estudou. “Suponho que ter pedido primeiro é educado.”
Dei um beijo inocente na bochecha dela. “E você ter cuidado daquelas cartas me salvou de anos de vergonha, então obrigada.”
Vivian saiu andando, acenando com a mão para que a seguíssemos.
Gwen gritou e sussurrou: “É isso. Vou colocar meu chapéu de capitã e juntar vocês duas? Está acontecendo.”
“Você está falando como se isso fosse o destino ou algo do tipo.”
“É porque é! Sou a assistente do destino.”
Se eu debatesse, tinha uma boa probabilidade dela já ter preparado os motivos pelos quais eu estaria errada.
Ultimamente, quando andava pela floresta, meu coração se mantinha tão estável quanto possível, considerando o tamanho do esforço. Tomar meus remédios para ansiedade quando tinha atividades perto da floresta treinou meu cérebro a não entrar tão em pânico quando visse as árvores. Ao invés daquele sentimento sufocante que vinha ao ver as folhas verdes e marrons, o ar fresco rejuvenescia meus pulmões. Nada parecia tão libertador quanto o momento em que empurramos os últimos galhos e chegamos ao lago.
Não tinha um moletom largo para me proteger dos galhos, luz do sol e interações cara-a-cara. Eu me parecia com todas as outras pessoas no acampamento usando nossos shorts e camisetas. A grande árvore de bordo perto do lago não chamava mais meu nome, já que eu queria ficar perto da Gwen e da Vivian. Eu queria participar, especialmente porque era uma atividade no lago.
Os Castores e as Águas-Vivas foram mandados para nossos armários nas cabanas para nos trocarmos para roupas de banho. Depois, ficamos em um semicírculo, ao redor dos conselheiros, conforme eles explicavam a atividade com a qual nos ocuparíamos pelas próximas duas horas. Deveríamos fazer duplas e correr até o outro lado do lago e voltar em pequenos barcos. Qual era o prêmio? A satisfação de ganhar, além de um pouco de doces. Então estava valendo.
Ao longo da plataforma no lago estavam todos os equipamentos necessários: os remos, coletes salva-vidas e, então, na beira do leito do lago estavam barcos pequenos e brancos que pareciam barquinhos fofos de pesca. Isso me fez apreciar todo o trabalho que os conselheiros faziam quando não estávamos olhando. Não sei como eles faziam isso e ainda conseguiam o suficiente do tão necessário sono.
“E se eu decidisse ficar em terra firme hoje?” Eu perguntei.
“Você não pode fazer isso, porque não quer decepcionar a Vivian, não é mesmo?” Gwen insistiu, com o beicinho firmemente no lugar.
“Sua irmã não gosta de mim.”
“Pense nisso, Emma. Ela se importa com os campistas, mas ela não fica toda pessoal com eles como fica com você. Você a deixa alerta. Vamos, por que ela se daria ao trabalho todo de te manter no acampamento? E antes que diga pelo meu bem, pense além disso!” Ela exalou profundamente e me fez ficar ao lado do último barco. “Não vou ser sua parceira se continuar com essa negação… não vou mais ser sua parceira de jeito nenhum. Tchau, Emma.”
“Espera, o quê?”
O fato de que a Gwen caminhou confiantemente até o Mike e perguntou se ele queria ser seu parceiro não foi nada menos do que incrível. Ela sempre galopou pelo acampamento como se estivesse ocupada demais, em seu próprio mundo, para perceber que era ignorada pela maioria dos Castores, mas dessa vez a confiança dela era verdadeira. Não havia o fardo de manter minhas cartas a salvo e Vivian tinha prometido resolver as coisas com a Lauren. Não muito tempo depois, Abby se juntou à discussão do grupinho. O reinado da Lauren tinha acabado.
“Ei, Gwen! Você é a melhor amiga de todas!” Gritei e murmurei para mim: “Mesmo que seja um pouco delirante.”
Peguei o colete salva-vidas e o empurrei pela cabeça, como todo mundo. Não me incomodei em amarrá-lo logo em seguida. Estava preocupada demais com quem iria se juntar a mim no barquinho isolado e manual pelos próximos minutos. Meu relógio puxou um pelo do meu braço — é claro que eu usaria algo incrivelmente inapropriado para esportes aquáticos.
“Só uma vez no acampamento, seria ótimo se não suspirasse como se estivesse prestes a morrer.” Vivian disse em pé ao meu lado.
“Você tem mais um mês para cumprir essa meta.”
“Não é algo que estou tentando fazer ativamente.”
“Mas você valorizará a ocasião?”
Vivian cantarolou evasivamente e examinou a área, de olho nos campistas. “Talvez não tanto quanto aquelas que você considera um insulto.”
“Fofa.”
“Você me acha fofa?”
Sim, mas não ia falar isso diretamente. “Não você, bem, sim, você, mas quis dizer seu comportamento. Às vezes.”
“Eu te tranquei em um barracão.”
“Mas não me dedurou por estar lá. Fofa.”
“Eu te forcei a sair da cama. Roubei seu celular. Posso estar intencionalmente mantendo as chaves da cozinha longe de você.”
“Com a intenção implícita de me manter fora de problemas no acampamento. Eu trabalho com a sua mãe por conta daquele acidente de arte. Ela é adorável também.”
Ela exalou lentamente, como se estivesse expelindo a estranheza dessa conversa. “Você acha a minha mãe fofa?”
“Procure a definição de fofa.”
O nariz dela franziu. “É só isso então?”
“Não. Isso não é tudo, e nem a busca por elogios. Mas acredito que preciso encontrar um parceiro.”
Assim que as palavras escaparam de meus lábios, eu me arrependi delas. Lauren era a única restante sem um parceiro. Agora, isso era assustador. Walter arrastou para cá uma Lauren relutante e sua velocidade era tão lenta quanto rápida, mas uma coisa era clara, era a dolorosa a quantidade de tempo dada para pensar demais sobre essa circunstância.
“Emma, percebi que não tem uma parceira, então… aqui está uma.”
Mexi no colete desamarrado. “Que gentil da sua parte.”
“Sem problema, cara.” Ele saiu andando novamente.
“Seu colete salva-vidas não está amarrado propriamente.” Lauren apontou, gesticulando para o dela. “Aqui, pode deixar.” Lauren foi alcançar, mas Vivian bateu na sua mão. “Ai?! Caramba, só estava tentando ajudar.”
“Sem contato não autorizado.” Vivian insistiu.
Meus lábios franziram enquanto tentava não sorrir e murmurei: “Fofa.”
Vivian pegou as cordas soltas do meu colete salva-vidas e se afastou um pouco, me puxando com ela como se fosse perfeitamente normal, e procedeu a amarrá-lo.
Quando acabou, ela encarou tanto a Lauren quanto o Walter e então pegou um remo do meu barco. Ela colocou a extremidade no chão e se inclinou contra ele. “A Emma está comigo hoje. Lauren, faça par com o Walter.”
“Só hoje?”
Walter riu. As sobrancelhas de Lauren formaram um vinco.
Vivian voltou seu olhar para mim. “Entre no barco, Emma.”
“Só hoje, então.”
Fiz como ela mandou e entrei no barco, com meu colete recém amarrado. O nó perfeito pode ou não ter feito minhas bochechas se aquecerem por lembrar o quão perto ela ficou e a expressão confiante dela, como se fazer essas pequenas coisas por mim fosse o esperado.
Conforme Vivian empurrou levemente o barco para a água, tirei meu relógio e o balancei entre meus dedos. Quando percebeu, ela o pegou obedientemente e o colocou junto com suas coisas ao lado de uma rocha. Os Castores e as Águas-Vivas a copiaram, colocando os itens de valor em suas pilhas de bolsas ou roupas antes de entrar em seus barcos. Normalmente, Jessie faria dupla com a Lauren em exercícios em grupo, mas dessa vez ela ficou no mesmo barco que a Abby. Gwen pulou no mesmo barco que Mike, piscando para mim depois de ver que seu plano havia sido um sucesso.
Walter liderou a atividade ao dar as instruções e dar uma pequena demonstração com Lauren em seu barco. Cada pessoa tinha dois remos e luvas para prevenir bolhas nas mãos. Atravessar a água parecia bem simples. Reme ao mesmo tempo que seu parceiro, se comunique, e você ficará bem. Meu peito doía ao tentar suprimir os soluços, que começaram de repente, me distraindo de perguntar para Vivian o porquê de ter trago uma bolsa para o barco.
“Qual o problema com você?” Vivian perguntou, olhando para mim de um jeito estranho.
“Alguém já morreu de tanto soluçar?” Perguntei.
Vivian, sentada do lado oposto do barco, colocou seus remos na água e entrou em posição de nado de costas. Estávamos cara a cara. “Imagino que haja uma possibilidade.”
Apertei fortemente o remo. “Sério?”
“Suponho que eu possa pesquisar.” Vivian disse.
“Com o meu celular.” murmurei.
“Duvido muito que esteja tão irritada pela falta dele na sua vida.” ela comentou, com lábios levemente puxados para cima.
“A não ser que você seja telepata.” Solucei novamente, quebrando meu comentário. “Droga.”
“Bem, não acredito em você.” ela provocou, inclinando a cabeça para o lado. “Pode estar com um pouco de dor no peito, mas soluços? Prove.”
“Certo, sua natureza desconfiada passou dos limites agora. Gosto do lago.” Disse com uma risada. Olhei ao redor, esperando uma câmera e equipe, já que era um momento tão absurdamente bobo. “Você quer que eu te prove que estou com soluços.”
“Sim, Emma. Prove.”
Desafio aceito.
Esperei pela inspiração espasmódica e continuei a esperar estranhamente. “Mas que diabos? Por que não estou soluçando?”
“É um truquezinho que aprendi quando era criança.” Ela me disse. “Um dos meus professores, lembra do Sr. Philips? Quando tinha um caso grave de soluços, ele me desafiava a continuar a interromper a aula e levar detenção e, de repente, não conseguia mais soluçar — até quando eu realmente queria. De nada.”
Remamos juntas como se tivéssemos feito isso dezenas de vezes antes, quando na verdade era minha primeira vez remando em um barco. O instinto agiu e trabalhamos bem juntas, garantindo que nós estávamos no mesmo ritmo. Admirando nossos movimentos por um momento, observei o lago, mas estava o maior caos ao meu redor. Alguns campistas estavam gritando com os parceiros, um remo ou dois flutuavam na água e outros campistas batiam seus remos violentamente tentando virar. Estávamos ganhando a corrida sem nem mesmo tentar.
Uma cutucada no meu joelho me fez focar novamente em nosso barco.
“Olha só a gente.” Disse, orgulhosa. “Somos boas juntas. Estamos ganhando essa coisa.”
Vivian escaneou a área rapidamente e colocou sua atenção de novo em mim. “Não graças a você.”
“Oi? Meus braços fariam uma refeição de macarrão perfeita com a maneira como estão trabalhando. Acho que ganhei mega músculos.”
“Essa flacidez força meus braços perfeitamente normais a fazerem todo o trabalho duro.”
“Gostaria que eu parasse com a minha parte nessa atividade?” Perguntei. Meus braços estavam ardendo e eu precisava de uma pausa.
“Eu nos trouxe até aqui.” Ela trouxe os remos de volta para dentro do barco, apoiando-os cruzados em seu colo. “Pode nos levar até o restante.”
Fiquei boquiaberta. “Se não vai remar, então também não vou.”
“Então vamos vagar no meio do lago.” ela disse, sem se importar.
Deixei meus remos caírem na água e, enquanto a Vivian os encarava, peguei os remos dela e os joguei na água também.
“Então no meio do lago ficaremos.” Zombei dela.
“Você se provou indigna de ser minha parceira. Então tem a falta de evidências do desastre dos soluços e agora estamos sem remos… está satisfeita consigo mesma? Não posso acreditar que escolhi compartilhar esse espaço confinado com você.”
“Não tem como voltar atrás agora.”
Ela murmurou: “Não, suponho que não.”
Talvez jogar os remos fora não tenha sido a ideia mais brilhante, especialmente quando os irmãos da Vivian decidiram que nos deixar lidar com isso sozinhas era a melhor opção. Os outros barcos passaram disparados por nós. A água ondulava pelo movimento dos barcos e, conforme os anéis diminuíram, a água do lago voltou a ficar irritantemente calma, e isso combinava com o silêncio teimoso da Vivian, não fazendo nada para ajudar os movimentos nervosos das minhas mãos.
Vivian pegou meu celular do bolso no seu shorts e começou a vasculhar como se tivesse permissão para fazê-lo e não estivéssemos em um barco, presas a menos que uma de nós fizesse algo sobre isso. Ela claramente não estava com pressa de pegar os remos da água. Ela já tinha adivinhado minha senha facilmente.
Vivian cruzou os tornozelos e encarou a tela do celular, então o colocou de volta na pequena bolsa dela perto de seus pés. “Quando disse que achava a falta da presença do seu celular na sua vida irritantemente duvidável, realmente quis dizer isso. Tem fotos suas e do seu gato. É tudo que consegui encontrar. Seu gato e você.”
“O Thomas é o amor da minha vida.”
“Thomas?” Sua expressão reflexiva se distorceu. “Você nunca mencionou um Thomas.”
“Ele tem os olhos mais adoráveis. Ah, e seus pés. Tinha que ver quando ele está sentado lá, se esfregando no sofá. Acho que tenho um vídeo aqui também.”
“Insanidade. Você me levou a isso e agora há uma possibilidade real do meu corpo mergulhar na água e nunca mais voltar.”
Bem, eu não quero isso. “Não acho que te irritar vai fazer você virar uma sereia.” Ela ainda estudava a água, como se estivesse pensando em pular nela para fugir de mim. Só esse pensamento já me deixou triste.
“Desculpa.” disse. “Não estou acostumada a… não sei. Compartilhar interesses com alguém.” Expliquei, trazendo meu punho para minha boca para esconder o quanto esse tipo de coisa me afetava. “Quer dizer, pensei que as pessoas se gabavam de seus pets para seus amigos. Ou conhecidos. Conselheiros. Pessoas. Estou fazendo isso errado.”
“Ah. Ele é o seu gato.”
Uma resposta tão simples e compreensiva.
Isso fez eu me sentir um pouco melhor porque ela ainda não olhou para mim, mas pelo menos sua expressão mudou de seu vazio. Nunca conheci alguém como ela — alguém que podia mostrar uma expressão tanto de desprezo quanto nada ao mesmo tempo. De certo modo, te deixava ciente do que ela estava pensando, mas deixava tudo inimaginável também.
Minhas pernas tremiam conforme eu tentava ficar em pé. A mão dela me alcançou e me estabilizou, segurando meu braço à medida que o barco balançava de um lado para o outro.
“Vou pegar os remos.”
Ela provavelmente nunca teve a intenção de ir buscá-los. “Não direi não a isso.”
Olhando para a água, perguntei: “O que você acha? Tem sereias flutuando por aqui?”
“Não estou ouvindo nenhuma cantoria.” ela disse.
“Certo.” Eu me equilibrei de novo e olhei de volta para ela. “Espero que não caia, sabe, pelas minhas ações heroicas nem nada do tipo.”
“Emma, estou te avisando…”
“Olhe para mim, em problemas com uma conselheira, de novo.”
“Faça isso e seu celular será destruído.”
“Como você falou tão sutilmente, a minha falta de vida social significa que não tem nada de importante para mim aí. Sei nadar, sabia.”
A água não parecia tão ruim. “Pode ficar com ele. Ele provavelmente seria usado melhor desse jeito, Viv.”
“Emma,” ela disse tão baixo que quase não dava para ouvir. Seu nariz franziu com o apelido. “Podemos trocar histórias se quiser.”
“Você quer ouvir sobre aquelas cartas, não quer?”
“Talvez.”
“Temos um trato, Vivian.”
Não dei a ela uma chance de responder antes de me lançar do barco para dentro da água. Ela apreciou minha conclusão que não, não haviam seres humanos aquáticos abaixo da superfície. Conforme colocava um remo de volta no barco, Vivian casualmente tirou um par extra de remos debaixo do assento e tirou o remo da minha mão. Não tinha necessidade de eu ter mergulhado tão heroicamente no lago para recuperar nossos remos. Empurrado o cabelo molhado do meu rosto, coloquei o remo para cima e bati nos dela. Ela facilmente me desarmou, fazendo o remo voar das minhas mãos e mais longe ainda do barco.
Com uma risada, ela condescendentemente bateu de leve o remo contra a minha bochecha. Era uma boa coisa que meu colete salva-vidas estivesse flutuando, porque seria uma bagunça tentar me manter na superfície e combater seus ataques. Com todos os remos flutuando sem rumo, só tinha um jeito lógico de se vingar. Meus dedos agarraram as beiradas do barco conforme ela me olhava com um brilho vitorioso nos olhos.
“Sabe… posso não conseguir cantar, mas posso cantarolar.” disse a ela.
Ela cantarolou provocativamente em resposta e se aproximou. “Sem uma voz sedutora, acho que você não nasceu para ser uma sereia, Emma. Cantarolar não atrai as pessoas para a morte. Cantar é um elemento essencial.”
“Sou obrigada a discordar.”
Rapidamente, usei a beirada do barco para me impulsionar e, na minha descida, agarrei a beirada do colete salva-vidas dela e a puxei de volta à água comigo. Já imaginando sua reação, fiquei debaixo da água o máximo que consegui, o que foi estranho. Meu queixo descansou contra meu peito enquanto eu flutuava verticalmente na água. Ela puxou meu queixo para cima, pegou meu rosto pelas bochechas e me encarou raivosamente nos olhos. Vagarosamente, as chamas âmbar nos olhos de Vivian começaram a queimar mais suavemente e seus dedos deslizaram para o meu cabelo. Meu peito queimou por segurar a respiração e minhas pernas ficaram mais fracas e amoleceram debaixo d’água.
Na verdade, a sensação quente de sua respiração, embora desestabilizadora, era convidativa. Conforme me inclinei um pouco, um jato de água me acertou no rosto. Vivian girou e começou a subir de novo no barco. Dei uma estranha risada engasgada enquanto processava o que havia acontecido.
Eu quase a beijei.
E ela sabia disso.
Peguei os remos e os enfiei no barco sem qualquer resistência desta vez. Quando voltei a estar totalmente ciente dos meus arredores e percebi que os lábios da Vivian não estavam a centímetros dos meus, ela estava no barco estendendo a mão para que eu pegasse. “Isso não prova nada.” Ela disse, me puxando para dentro. “Me puxar para fora do barco. Isso não significa que você é uma sereia.”
“Certo.” Eu disse e gesticulei em direção aonde o resto dos campistas tinha ido. “Vamos segui-los?”
“Não sei você, mas estou querendo tomar banho. E mais, por conta dessa brincadeira sua, estou te recrutando para me ajudar a arrumar a caça ao tesouro.”
“Na floresta?”
“Aham.”
“Droga.”
Remamos o caminho de volta e tudo em que conseguia pensar era naquele quase beijo. O fato é que Vivian tinha recuado. Ela jogou água bem na minha cara e fingiu que nada tinha acontecido. Ela era a Vivian, e eu era a Emma. Ela era uma conselheira. Eu era uma campista.
O beijo não aconteceu porque Vivian recobrou os sentidos e eu não. Importava quem fez o quê? O ponto é que aquilo não tinha acontecido. Tudo que tinha de fazer era voltar, tomar banho e me juntar à Vivian sozinha na floresta para arrumar a caça ao tesouro.
Meu Deus.