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Tradução: Gabrielfsn | Revisão: littlemarcondes
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Capítulo 3: Kaede Kamieda e a Sedutora da Família Kuriyama
Kaede Kamieda está conturbada. A razão envolve a conquista de Mayu Asakawa. Sua infiltração no Ambrosia, que era o início do seu plano, está correndo extremamente bem.
Para ter o coração de Mayu em suas mãos, ela precisava persuadir o trio que a cercava de qualquer jeito. Mais precisamente, Maya Itsushima, Ririko Nishiura e Ayaka Natsuki. Portanto, ela se aproximou de cada uma individualmente e forçadamente as fez abrirem seus corações. Os dados coletados por Sumire foram de grande utilidade.
Foi decidido que ela não poderia pegar poder emprestado dos membros da gangue para questões referentes a Mayu Asakawa, mas o trio de garotas não estava incluído nesta regra. Devido a isso, Kaede utilizou efetivamente as informações pessoais do trio. E dessa forma, convenceu as veteranas sem dificuldade. Isso não significa que ela as ameaçou ou algo do tipo. Na verdade, ela simplesmente conversou, ressaltou e brincou um pouco com elas.
Essa foi a primeira experiência de Kaede, que no fim, percebeu que obter a confiança de homens e de pessoas do mesmo sexo não são muito diferentes. A maior parte do que ela aprendeu também é prontamente efetiva com mulheres. Com isso, não havia mais nenhum obstáculo no caminho até Mayu Asakawa. Tudo estava correndo mais do que bem… ou deveria estar.
“Obrigada por aguardar. Aqui está seu conjunto de omurice da felicidade e suco de laranja, mestre.”
Apresentado o prato para um cliente homem, Kaede sorriu radiantemente.
“E agora, vou adicionar o ketchup para o senhor.”
Confirmando a anotação do pedido sobre a mesa, Kaede abriu o frasco de ketchup com um estalo. Um dos serviços que os mestres podem solicitar é preparar algo de antemão para ser escrito com ketchup. Em algumas ocasiões, mestres mais travessos solicitam algo muito complicado como “魑魅魍魎”, mas dessa vez era um pedido normal.
“Fique delicioso~, fique delicioso~”
Kaede, com um sorriso que lembra o de uma Mãe Santa alimentando um bebê com uma mamadeira, escreveu “Recheado de Amor das Maids”.
“Prontinho, mestre.”
O cliente observa Kaede, fascinado. Após ela chamar por ele dizendo “mestre?” algumas vezes, ele recuperou seus sentidos e seu rosto ficou corado enquanto ele expressava sua gratidão. Independente de ser um mestre ou uma mestra, 80 por cento dos clientes que são servidos por Kaede têm essa reação. Os outros 20 por cento se transformam em criaturas capazes de dizer nada além de “Uwa~… Tão pura~…”.
Ela foi exaustivamente ensinada a chamar uma funcionária veterana quando encontrasse algum cliente perigoso, mas felizmente, Kaede tem sido abençoada com mestres gentis. Ou melhor, talvez ficar de frente com Kaede afaste qualquer pensamento perverso… Isso é o que a gerente da loja diz. Quando o número de clientes diminuiu consideravelmente, lhe foi dito para ter um intervalo de 30 minutos. Ao entrar na sala de descanso, ela se deparou com Mayu.
“Ah, Kaede-san.”
Mayu ficou imóvel e observou o rosto de Kaede.
“O-o que foi? Está incomodada com alguma coisa?”
Ela tem algumas preocupações. Mas trata-se de um assunto que ela não pode discutir com Mayu em particular.
“Por enquanto, tudo bem. O trabalho é divertido.”
“I-isso é ótimo!”
De fato, o trabalho no maid café é divertido. Tanto na parte de servir os clientes, quanto na de conversar com as colegas. Neste lugar, ela pode ser tratada como uma pessoa totalmente comum. Passar o tempo como uma garota normal a faz se sentir confortável. Ela sente uma sensação de libertação, como se tivesse largado metade do fardo pesado que carregava. Especialmente graças à Mayu.
Embora ela obviamente não tenha esquecido que ela é o alvo, atualmente elas são plenamente íntimas, e chegaram ao ponto de conversarem sem se reservar. Porém, esse era o problema.
Kaede fez sinal para Mayu se aproximar com a mão. Mayu, sem um pingo de vigilância, entrou no espaço pessoal de Kaede com um ‘?’ flutuante sobre sua cabeça. E então, Kaede segurou a garota.
“Assim, assim”
“Ah… Uu~…?”
Sendo gentilmente acariciada, Mayu baixou seus ombros e se encolheu. Seu cabelo lustroso possui uma maciez semelhante ao de um vestido novo em folha.
(Tão fofa.)
Kaede pensou sem exagero. Desde quando ela salvou Mayu do grupo da Itsushima, a garota passou a confiar totalmente em Kaede.
Kaede, que esconde sua verdadeira natureza quando passa o tempo na escola, até então nunca havia conversado sinceramente com alguém além dos membros da gangue. Então o desamparo de Mayu, assim como seu primeiro brinquedo de pelúcia, conquistou o coração de Kaede instantaneamente.
Ela se contém, já que a garota é o alvo de sua infiltração. Porém, para Kaede, Mayu é tão fofa que ela não consegue evitar. Se ela tivesse uma irmã mais nova com a mesma diferença de idade, certamente se sentiria assim.
“Coça, coça.”
“Eh, ah… O-o quê? Isso~…”
Ela move a ponta dos dedos e coça o queixo de Mayu. Mayu fica corada devido à sensação de cócegas e contorce os quadris. É como se ela não conseguisse resistir de modo algum.
(Eu…)
Ela sente que Mayu abriga uma afeição pura e sem pretensão. Precisamente por conta disso, Kaede estava conturbada.
(Eu tenho que seduzi-la, não é…?)
Ela não consegue aceitar isso. Mayu é, ou pode-se dizer, uma amiga.
Por exemplo, quando se trata de interações entre um homem e uma mulher, o que pode ser feito? Cada pessoa tem suas diferenças, mas um relacionamento com uma intimidade física dessa proximidade pode ser alcançado com uma chance de 7 ou 8 em 10 após a declaração.
Tocar o rosto é uma ação que carrega um significado distinto de tocar as mãos ou os ombros. Existem pessoas que não resistiriam a abraçar outra garota mesmo em público, e Mayu é uma delas.
(Eu não sei…)
O objetivo final da disputa é levar Mayu para a própria casa. E ao mesmo tempo, as garotas precisam anunciar à mãe dela que ela é “minha namorada” e ter a aprovação de Mayu. Contudo… Quando ela olha intensamente para Mayu, a garota desconfortavelmente arruma seu cabelo, nervosa. Essa impressão a faz lembrar de algo.
(…É como todos os membros da gangue.)
Em suma, a filha da chefe e os subordinados da chefe. Era “respeito”, algo inconfundível com sentimentos amorosos. O que significa roubar o coração de alguém? O que é amor? É como se ela tivesse chegado a um beco sem saída.
(Com parceiras mulheres, como posso obter essa confirmação?)
Kaede se esbarrou com algo que não havia pensado previamente.
“Ei, Mayu-chan, você gosta de mim?”
“Ehh!?”
Ela tenta perguntar de maneira franca, Mayu fica completamente nervosa e seu rosto ferve em vermelho.
“B-bom, e-e-e-eu, eu gosto!?”
(…Eu não entendo.)
Mesmo essas palavras representando uma inesquecível declaração, não há como Kaede adivinhar o que ela realmente está pensando. Kaede cedeu e deixou escapar um suspiro.
“Mayu-chan, você diz isso para qualquer um?”
“Ehh!? Eu estou sendo repreendida!?”
Como uma profissional, ela reflete sobre esse embaraço.
(Apesar disso… A situação atual não está ruim, não é?)
Isso não era um treinamento, mas uma disputa. Ou seja, havia uma oponente. Porém, ela ainda não se fazia presente. Diante de Mayu, a qual Kaede exibe um sorriso cativante para cada movimento que faz, Kaede recorda-se de outra mulher.
(É injusto, mas já acabou, Karin.)
Naquele momento, mesmo que a representante da Kuriyama-gumi aparecesse, não haveria espaço para competir.
(A partir de agora, a liderança é inalcançável…)
Naquele mesmo momento, a porta dos fundos se abriu, permitindo a entrada de luz. Na frente dessa luz, há uma garota de aparência desleixada. A garota, que carrega uma bolsa no ombro, fala com uma voz alongada, como se estivesse se espreguiçando “Bom~ Dia~.” E então, como se fogos de artifício houvessem estourado, seus olhos se encontram. A garota exibe um enorme sorriso, como uma donzela que vai de encontro ao seu amado.
“Kaede~~~~~♡ ”
Ela se aproxima numa velocidade incrível e se agarra ao pescoço de Kaede.
“Ueehー”
Da boca de Kaede, uma voz imprópria de uma linda garota emergiu. A garota veio com tanto vigor que não seria estranho ouvir o barulho de um osso se quebrando. Obviamente, Kaede não conseguiu suportar totalmente o impacto e ambas caíram juntas. A garota acima dela sorri radiantemente.
“Há quanto tempo! Como vai você?”
“ーKarin.”
Karin Kuriyama. Nas pupilas da garota sorridente, se encontra o reflexo de Kaede.
“Estava esperando por mim, Kaede?”
O sorriso expressivo de Karin se intensifica. Kaede afasta Karin, segurando seus pulsos e colocando peso contra ela.
“Nem um pouco. Você demorou tanto, que eu pensei que tinha desistido.”
“Ahaha, isso é ridículo. Desistir é o mesmo que perder, não é?”
Karin faz um sinal de paz em sua bochecha e sorri.
“A partir de hoje, eu também trabalharei aqui, então por favor, cuide bem de mim, Kaede. Como boas amigas de infância, vamos voltar a nos entender.”
Enquanto seu coração grunhe, já que ela nunca se entendeu com essa garota uma vez sequer, Kaede desvia seu olhar.
“…Seja bem-vinda.”
Ao lado delas, Mayu está tremendo enquanto testemunha Karin pular no pescoço de Kaede, “Awawawawawa, uma garota bonita com uma garota bonita, colegas bonitas fazendo uma garota bonita…!”
*
“Eehh!? Então, vocês duas são amigas desde crianças?”
Era hora do intervalo. Incluindo Mayu, as três estão sentadas à mesa. Mesmo numa sala de descanso um pouco suja, Karin é tão linda que nem chega a ser desagradável, como se ela fosse a líder do local.
Se Kaede parecia uma fada, Karin se assemelha a uma sedutora. Ambas são adoráveis e lindas, mas cada uma lembra uma pintura religiosa com conceitos completamente diferentes. O cabelo glamouroso de Karin é fino ao ponto de a luz conseguir atravessá-lo, fazendo ela brilhar. Seus olhos, cheios de curiosidade, piscam e se movem de uma forma graciosa. Sua impressão como um todo, é como a de uma sedutora enviada para corromper os humanos, e todos os seus gestos são encantadores, como se estivesse pedindo por carinho. Seu charme impertinente reveste seu corpo inteiro com uma cor pastel, mas às vezes o ar que ela exala é excessivamente picante. Autoconsciente do poço sem fundo que iria engolir quem se envolvesse com ela, a garota controla seu charme.
Misturando tudo isso, o produto final é Karin Kuriyama, aquela que Kaede detesta.
“Isso mesmo. Aah, a Kaede quando pequena era tão fofa que parecia uma boneca.”
“Hee~!”
“…”
Ao lado de Mayu, que está com os olhos brilhando ao escutar sobre sua infância, Kaede vira o rosto em desprezo. Karin coloca uma mão em seus lábios e ri como se estivesse testando esse lado da Kaede.
“Ué~? Não gosta desse tipo de conversa, Kaede?”
“Não em particular. Seja qual for o assunto, não me incomodo.”
“Mas não acha que está demonstrando uma atitude muito extrema~?”
De fato, ela estava incomodada. Se Kaede pudesse segurá-la pelo cabelo e atirá-la no chão, seu humor melhoraria um pouco. Mas o preço a se pagar por um momento de impulso seria alto demais. Ela perderia a disputa de armadilha de mel. Ser menosprezada por sua família e gangue, faria Kaede criar a ideia de que nunca triunfaria sobre Karin pelo resto da vida. Portanto, ela não se deixará abalar por Karin.
(De qualquer forma, a Mayu-chan gosta de mim. Então mesmo que esteja aqui agora, já é tarde demais.)
Sempre que Karin faz suas brincadeiras, como uma criança inquieta em um trem, é melhor não dar atenção.
“Bom, naquela época, a Kaede e eu não tínhamos muitas amigas. Nossos pais se conheciam, então às vezes nós visitávamos a casa uma da outra. Mas você sabe como essas conversas entre pais são chatas para crianças, né? Então ficamos íntimas dessa forma.”
“Hee~! Que legal!”
Karin, provavelmente para atrair o interesse de Mayu, continuou a história sobre sua infância com Kaede. Certamente, Mayu imaginou um banquete pacífico como aqueles entre parentes no interior. Isso não quer necessariamente dizer que não era pacífico, mas na realidade, se tratava de discussões barulhentas entre a Kamieda-gumi e a Kuriyama-gumi. A respeito disso, Karin parece não ter mencionado de forma expressiva.
Karin colocou seu cotovelo na mesa e refletiu nostalgicamente sobre o passado.
“Naquela época, nós brincávamos muito juntas, mas aos poucos ficamos distantes~. Graças a isso, eu seeempre me sinto entediada. Aah, não é solitário~?”
“Sei.”
Sendo ostensivamente mencionada, Kaede brinca com seu cabelo enquanto continua olhando para outra direção. Não havia necessidade real de socializar com sua adversária. Ela ambiguamente reage aos comentários. O fato de Mayu, que está espremida entre as duas, estar tão empolgada com tudo aquilo está sendo sua salvação, por assim dizer.
“Mas, para você ter se dado o incômodo de escolher o mesmo emprego que a Kaede-san, você deve gostar muito dela, Karin-san!”
Karin sorriu radiantemente, com seu rosto perfeito, que ganharia 100/100 em uma avaliação.
“Aah~ É tão óbvio assim? Mas realmente, eu adoro a Kaede~”
Karin entrelaça seu braço com o de Kaede, que sente um calafrio na espinha.
“E-ei.”
“De agora em diante, quero estar com você em todo lugar e a todo momento! Não quero largar de você um segundo sequer!”
“Waー”
Se isso fosse a propaganda de um filme, seria intitulado como ‘Uma competição de recital entre duas atrizes invejáveis.’ Profundamente comovida com a visão do contraste das duas lindas garotas grudadas uma na outra, Mayu puxou seu celular.
“P-posso tirar algumas fotos?”
Diante da garota com uma expressão agitada, Karin fez um sinal de OK com seus dedos.
“Mas tem que ser fofas~!”
“Mais fofas do que a pessoa real será impossível.”
“Vamos, Kaede, sorria comigo.”
Karin olha de relance para o rosto de Kaede, que está em choque, como se tivesse sido acordada de repente. Karin forçadamente puxa suas bochechas e tenta fazer um sorriso com seus dedos branquinhos. Kaede a empurra.
“Já chega.”
Após se mover por reflexo, ela se deu conta do que havia feito. Mayu olha para ela com uma expressão preocupada.
“Kaede-san…?”
Foi um erro, ainda mais para uma especialista como ela.
“Calma aí, Kaede.”
Mas antes de se desmotivar, ela se recompôs. Se ela fosse estimulada ainda mais negativamente pela Karin, não haveria como saber o que ela faria em seguida.
“Me desculpe. Estou suada, então não quero ser tocada… Vou passar um desodorante.”
Sua boca se moveu muito arbitrariamente, considerando que foi uma desculpa instantânea. Seu coração acelera e fica cada vez mais alto, fazendo Kaede buscar refúgio no vestiário.
Para acalmar seu coração, ela respira profundamente repetidas vezes.
“Por que…?”
Kaede grunhiu, contorcendo seu rosto. Sua reação de rejeição se tornou mais discernível do que no passado. Mesmo após muito tempo e ambas já estarem com 17 anos.
“Nesse ritmo, ela vai se tornar um obstáculo para a missão… Pelo menos, preciso fingir que não estou incomodada…”
Ela raciocinou consigo mesma.
“Me pergunto se o tempo que passei com a Mayu-chan, me fez baixar tanto a guarda…”
A prioridade principal era a missão. Alterar a ordem das prioridades não era permitido. A porta se abriu com um clang, alguém veio atrás dela.
“Mayu Asakawa. Ela é mais fofa em pessoa do que na foto, não acha?”
“…”
Era Karin, com um sorriso incolor. Era apenas um sorriso qualquer estampado em seu rosto.
“Digo, há quanto tempo, Kaede. O que tem feito? Já perdeu sua virgindade?”
Seu humor foi perturbado por aquele comentário vulgar. Esse era o truque dessa mulher. Kaede concentra toda sua força no abdômen.
“Este é o meu primeiro serviço, e também é o seu, não?”
“Bom, é. Vejo que ainda tem esse corpo milagrosamente puro, mesmo tendo que ajudar nos afazeres domésticos da sua mansão.”
Karin encolhe os ombros.
“Por outro lado~, nesse meio tempo que não nos vimos, você ficou atrevida, né~? Aah~, para onde foi aquela Kaede fofinha, clamando “Karin-chan, Karin-chan~♡ ”?”
“Por favor, não falsifique nossas memórias a bel prazer. Naquela época, nós brigávamos sempre que nos víamos. Sua mentalidade é muito conveniente para si mesma.”
Se Mayu não estivesse presente, Kaede poderia contra-atacar.
“Para começo de conversa, essa história de nos darmos bem é um mito seu. No máximo, nós nos víamos algumas vezes por ano. E isso só começou depois de entrarmos no primário.”
“Pois é~, será que isso não é culpa de uma certa pessoa que viveu me evitando?”
“Eu simplesmente não queria lhe fazer companhia.”
Apesar de ter sido rejeitada tão firmemente, Karin estreitou seus olhos, parecendo ainda mais entretida do que antes. Talvez ela goste de ser abusada? Seria melhor se ela guardasse isso para si mesma.
“A partir de hoje somos colegas, então não pode ser um pouco mais amigável? Seu rosto sorridente é bem mais fofo.”
“Escutar isso de você me dá calafrios, então eu já decidi que não vou sorrir de novo.”
“Bom, seu rosto insensível ou zangado também é charmoso, eu diria.”
“……”
Karin vai até seu armário e começa trocar de roupa. Karin não acha que ser serviçal combina nem um pouco com ela, mas seu uniforme de maid combina tanto que chega a ser espantoso. É como se tivesse reforçado a iniquidade de Karin. Ela segura as bordas de sua saia e dobra ligeiramente os joelhos, fazendo reverência.
“Que tal? Combina comigo, né?”
“Não sabe dizer por si mesma?”
“Uma coisa que tenho de sobra é orgulho. Também fica bom em você, Kaede, mas obviamente não chega aos meus pés.”
A gaveta de lembranças que Kaede pensava ter trancado no fundo de sua mente, se abre facilmente. Era assim desde sempre, quando elas se encontravam, Karin sempre reivindicava sua dominância. Semelhante a um gato que reclama a posse de seus brinquedos. Já houve vezes que Kaede foi provocada ao ponto de chorar.
Kaede achava Karin, que era precoce comparada com suas colegas, difícil de lidar e desagradável, e ela nem se dava o incômodo de cumprimentá-la.
(Extremamente desagradável…)
Ela deveria ter amadurecido, mas esse não era o caso, o que a fez sentir uma lâmina perfurando seu peito.
A deslumbrante e sorridente Karin, mesmo aos olhos de Kaede, era a personificação de perfeição em aparência. Seu esforço em superar Kaede talvez não passasse de um passo de tartaruga para a garota. Mas apesar disso, deixá-la agir como se o território fosse dela era impossível. Pelo bem de sua família, pelo bem de sua gangue e pelo bem da vitória. Tudo estava chegando a uma conclusão.
Mesmo se sentindo acovardada, Kaede olha fixamente Karin.
“Só que não.”
Colocando uma mão em seu peito, Kaede não a encara, ela sorri.
“Eu sou muito mais linda que você.”
Karin segura sua respiração por um instante. Nada mais natural. Independente do quão grandiosa Karin fosse como oponente, não havia necessidade de Kaede negar seus próprios esforços. Ela foi criada dessa forma, todos da família Kamieda fizeram parte disso. E o resultado foi Kaede Kamieda. Olhando para Kaede, que estava com o peito estufado de orgulho, Karin, pela primeira vez na vida, aflorou um sorriso do coração.
“Uhum… Realmente, é a Kaede.”
“…O quê?”
Karin levou suas mãos às costas e balançou a cabeça horizontalmente.
“Me refiro à sua motivação. Eu não pensei no que faria em seguida se você tivesse perdido seu espírito.”
“O mesmo vale para você, está dez mil vezes mais barulhenta.”
“Que ridículo. Você gosta de latir, totó? Devo treiná-la de novo?”
Sentindo que estava prestes a ser acariciada na cabeça, Kaede deteve a mão de Karin.
“Alvo errado. Quem você precisa conquistar é a Mayu-chan, não?”
“Nnー”
Karin balança seu corpo e aponta para as costas de Kaede.
“Ahー, o que é aquilo?”
“Hã?”
Kaede virou a cabeça para trás, imediatamente em seguida, Karin corre e abraça Kaede pela frente.
“Espera, o quê?”
Os braços e pernas de Karin a entrelaçam. Ela sente um arrepio percorrer todo o seu corpo.
“Aah~… Tão esbelta, tão suave. Um rosto perfeito, se ficasse de boca fechada, seria a melhor~ garota.”
“Para com isso!”
Kaede para de revidar, se continuasse com aquela agitação violenta, poderia arruinar seu uniforme.
“Quando você põe força no que faz, parece que está prestes a quebrar… Ei, Kaede. Se eu vencer essa disputa, você vai me escutar direitinho, não vai?”
“Me solte!”
Uma mão de Karin apalpa um dos seios de Kaede.
Karin sabia que não era um ato honesto. A garota estava fazendo isso simplesmente para fazer Kaede se sentir desconfortável.
“Você será minha, certo?”
“ーDo que está falando?”
Ela ficou espantada.
“De jeito nenhum, mesmo que você seja da Kuriyama-gumi.”
“Tem certeza?”
Karin enterra seu rosto no pescoço de Kaede, que responde com uma voz rouca.
“É… óbvio.”
“Sei. É mentira.”
“…Hã?”
“Não farei uma promessa dessas. ‘Se eu vencer a disputa, então você atenderá minha exigência’, eu menti. Mas, você tem certeza de que é impossível?”
“Tenho. Eu jamais seria capaz.”
Kaede balança a cabeça teimosamente. Porque…
“Eu já terei sido dispensada disso, então viverei uma vida normal.”
“ー”
Kaede é empurrada por Karin e suas costas colidem com o armário. Ela não sente dor, mas fica assustada pelo impacto.
“Do nada isso, o que foi agora…?”
“Do que está falando, Kaede?”
No interior dos olhos de Karin, brilha uma chama de ódio.
“Até parece que vai conseguir se livrar dessa vida. Nós nascemos fazendo parte de gangues, então pare de dizer coisas convenientes para si mesma.”
“É possível, minha mãe disse.”
“Eh…?”
Kaede presencia uma mudança que nunca havia visto antes. Karin, com um rosto desprovido de qualquer expressão, olha para Kaede.
“Por quê?”
“…Porque…”
Suas palavras estagnaram.
“D-de qualquer forma, eu serei normal. Farei coisas como ter amigas e passear com elas depois da escola, trabalhar meio expediente… Então, não me amole.”
O rosto de Karin se distorce. Era um rosto semelhante ao de alguém tentando ao máximo ridicularizar algo.
“…Sem chance, o que você disse, ser normal? É tão ridículo que não consigo segurar a risada. Onde quer que vá, você está destinada a ser excluída.”
“Não quero ouvir isso de você.”
“Está me dizendo que alguém além de mim pode ser verdadeira com você? Tudo que aqueles membros da sua gangue sabem fazer é te mimar com comentários inconsequentes. Não tem como você se tornar normal. É impossível.”
“É possível!”
Semelhante a uma briga entre crianças, as duas respondem uma à outra, ofegantes. E então, a porta abre.
“Ah. Com licença, como a Karin-san estava se trocando, eu tentei ao máximo não entrar, mas… Eu escutei uns barulhos altos e fiquei preocupada…”
Timidamente, Mayu coloca a cabeça para espiar. Kaede e Karin estavam agarrando o pescoço uma da outra, mas na visão de Mayu, elas pareciam estar nada mais do que se abraçando.
“Eh, ehhh!?”
“Mayu-chan, isso não…”
“Quê!? Espera, hã? Uma coisa dessas durante o dia e no vestiário!?”
Um mal-entendido natural. Mayu coloca uma mão em seus lábios e seu rosto fica avermelhado. Eu tenho que me justificar, contrária ao que Kaede estava pensando nervosa, “Aha”, Karin riu.
“Que tal? Estamos praticando Yuri service no chão. É mais ou menos assim, não é?”
De todas as desculpas, ela escolheu uma dessas, Kaede rangeu os dentes e afastou as mãos de Karin. Mas a pura Mayu, ainda parecendo um camarão vivo, acena agitadamente.
“E-eu achei a coisa mais maravilhosa do mundo!”
***
A primeira vez que Kaede visitou a mansão da família Kuriyama foi no seu primeiro ano do ensino primário, numa manhã de neve.
Era uma mansão grande ao ponto de não ganhar ou perder para a mansão Kamieda. Ela ainda se lembra, encorajada por sua mãe, ela formalmente cumprimentou os adultos. Ao ser elogiada com palavras como, ‘Nossa, que fofa’ pelas pessoas fora de sua família, seu humor melhorou. Mas uma vez que sua apresentação acabou, o que veio em seguida foi completamente tedioso.
Naquela época, ela conheceu uma garota com a mesma idade dela.
“Bom dia.”
Quando Kaede levantou sua voz, a garota com cabelo preso ficou ligeiramente surpresa e então devolveu o cumprimento ‘Bom dia’. A garota, que parecia ser tímida com as pessoas, estava distraidamente sentada ao lado de Kaede, nem muito perto e nem muito longe.
“Então… Você é uma criança desta família?”
“Hm, talvez. Ah, digo, sou.”
“Certo. Então, quer brincar?”
“Eh? Nós podemos?”
“Talvez.”
De forma parecida, ambas responderam com ‘talvez’ e riram disso. Foi a primeira vez que ela fez uma amiga da sua faixa de idade. A garota pegou a sua mão e foi rapidamente convidada para o seu quarto. Parecia uma escolta forçada, mas ela não se importou.
“Ei, você já jogou Hanafuda?” (NT: Um estilo de cartas de baralho japonesas.)
“Não.”
“Então vou te ensinar.”
O rosto sorridente da garota parecia gentil. Talvez possamos nos dar bem, Kaede pensou naquele momento, ingênua. Mas depois ela se deu conta de que a garota que ela pensava ser dócil, era na verdade uma criança problemática.
A garota joga as cartas em suas pequenas mãos sobre as cartas em cima da almofada.
“Isso, hanami-zake~! Eu ganhei~!”
“…Mesmo só com uma carta, eu poderia ter conseguido um sankou…” (NT: Nessa parte, elas estão jogando Koi-Koi usando Hanafuda. Hanami-zake é uma combinação de cartas que vale 5 pontos, Sankou vale 6 pontos.)
Kaede estava jogando seguindo as regras que lhe foram ensinadas, mas estava em uma montanha de derrotas consecutivas. O que ela não conseguia compreender era que mesmo quando ela perdia, nunca era uma completa derrota. Ela sempre perdia quando justo o que ela precisava era tomado diante de seus olhos.
“Hanafuda é um jogo de roubo mútuo, sabe? Como na vida real, um adulto disse uma vez. Talvez você entenda quando crescer, Kaede.”
Desde sempre, Kaede não gostava de coisas como brigar ou competir com outras pessoas. Por isso, ela gostava de jogos no qual a competitividade era inexistente. Contudo, era frustrante ver aquela garota diante dela sorrir tão orgulhosamente, então ela repetia inconscientemente ‘Mais uma, mais uma.’ Mesmo que fosse apenas uma vez, ela queria fazer a garota admitir a derrota.
“Se esse é o seu plano, então dessa vez eu vou roubar de você.”
“Se acha possível, faça o seu melhor. Fufu~”
Ela desafiava a garota sempre que se encontravam. As estações passaram, os anos se empilharam, e mesmo assim, ela não conseguia triunfar.
Ambas cresceram e passaram de estudantes do primário para colegiais, com seus corpos se desenvolvendo e se tornando mulheres. Karin, tanto no Fundamental II quanto no Ensino Médio, possuía uma aura adulta evidente. Ela era linda ao ponto de ser deslumbrante. Quando elas se encontravam, às vezes ela demonstrava uma conduta sedutora de homens, foi quando Kaede tomou consciência de que Karin estava sendo criada para ser uma agente semelhante a ela mesma.
“Então, Kaede. Hoje você vai demonstrar que pode me derrotar, não é?”
Karin falou, lambendo os lábios.
“Definitivamente.”
Como de costume no quarto da garota, elas se encaram, com uma almofada entre as duas. Karin senta-se com as pernas cruzadas, apoiando sua bochecha com um dos braços apoiado na perna, enquanto observa o rosto de Kaede agradavelmente.
Diante de suas longas pernas brancas, Kaede inconscientemente desviou o olhar. Karin estava provocando Kaede mais intensamente que o usual.
“Já que é assim, então vamos apostar.”
“…Como assim?”
“A vencedora poderá dar uma ordem para a perdedora, qualquer coisa vale.”
“Qualquer coisa?”
“Sim, qualquer coisinha.”
Do fundo dos olhos ofuscantes de Karin, emerge um reflexo suspeito.
“O que acha?”
“Isso…”
“Você vai vencer hoje, não vai?”
“…Tudo bem. Eu aceito.”
E então, Kaede—.
E daquele dia em diante, ela nunca mais visitou a família Kuriyama novamente.
*
Minuciosamente, as memórias que ela havia selado ressurgiram.
(É mesmo, eu a odiava. Desde sempre, eu a odiei.)
No fim do expediente, a Kaede, agora com suas roupas normais, sai do vestiário.
(Sempre se deixando levar, se divertindo em maltratar os fracos… Dessa vez, eu não vou perder de jeito nenhum.)
A Kaede usual, raramente revela seus verdadeiros sentimentos quando está zangada ou triste com algo. Isso acontece porque ela criou o hábito de separar a si mesma dos arredores com uma fina camada de filamento e encarando as coisas objetivamente.
Devido a sua aparência e linhagem por natureza, Kaede, seja na escola ou em casa, sempre foi concedida grande autoridade. Como se ela fosse da realeza.
Ela constantemente sentia-se conturbada sobre como ela mesma, que sempre foi tratada de modo especial em todo lugar, deveria se comportar para corresponder a sua posição. A partir de um certo ponto, ficando atenta aos seus arredores, isso se tornou natural para Kaede; consequentemente, ela selou seus sentimentos pessoais.
Mas ela já deu adeus a esses dias. Em breve, Kaede viveria uma nova vida. E pelo bem disso, ela está lutando para não sentir nenhum arrependimento.
(Tenho que descartar a Karin… Isso é entre mim e a Mayu-chan. Eu preciso pensar na questão da Mayu-chan cuidadosamente.)
Se Kaede perdesse para Karin, os membros da Kamieda-gumi ficariam descontentes. A Kamieda-gumi seria colocada abaixo da Kuriyama-gumi para sempre, o que significa que Kaede também seria menosprezada por Karin. Dado o tipo de mulher que Karin é, Kaede teria que suportar a desonra da derrota, algo que não pode acontecer.
(Preciso fazer a Mayu-chan me reconhecer como sua namorada e me levar para conhecer sua mãe.)
Antes de sair, ela se dirigiu até Mayu com intenção de ter uma pequena conversa. Foi quando ela escutou uma voz.
“Então…”
A voz da Karin ressoa bem em qualquer lugar. Kaede sentiu uma má premonição e acelerou seus passos. Mayu, que estava contra a parede perto da entrada, estava trocando olhares com Karin. Suas bochechas macias fervem e sua grande pupila umedece como se estivesse tendo um sonho.
“ーVamos sair, apenas nós duas.”
Mesmo não sendo possível, Kaede sente que cruzou seu olhar com o de Karin, que estava focada em Mayu.
(Ehー)
Fui roubada de novo? Kaede congela, perplexa.
(Isso é…)
No entanto, ela prontamente deu um passo adiante.
(ーImperdoável)
Eu lhe mostrarei a diferença desde a última vez.