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Tradução: Gabrielfsn | Revisão: Gabrielfsn
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Capítulo 2: Uma Parte da Vida de Mayu Asakawa
Mayu Asakawa, 23 anos. Uma freelancer… ou melhor, uma maid. Seu sonho de infância era “Não importa como, eu quero ser especial!”. Esse sonho foi meio realizado. Para um cliente regular do maid café, ela é a garota número um, mas em contrapartida, ela é apenas mais um indivíduo medíocre que pertence a uma massa de empregadas de maid café no Japão.
Porém, essa garota que é apenas mais uma entre várias funcionárias de estabelecimentos semelhantes, estava prestes a ter uma mudança em sua rotina.
“Haah, haah, haah…”
Neste momento, Mayu está correndo a toda velocidade até o Ambrosia. “Estou atrasada, estou atrasada, já está quase na hora.” Se ela se atrasasse, seria a terceira vez neste mês de Novembro. A gerente gentil já declarou que caso se atrasasse mais uma vez, sua rigorosa punição seria limpar os banheiros por um mês. Portanto, Mayu está utilizando toda sua força física para correr e chegar a tempo.
No entanto, faz anos desde que ela se formou no colégio. Com seu corpo embotado, correr de uma maneira que parece apenas um caminhar mais rápido é o melhor que ela consegue fazer. O seu eu interior repudia seu estado inestético por enésimas vezes, dizendo “É por essas e outras que em 23 anos da sua vida, você não conquistou nada”.
Ela sente uma ponta afiada de uma faca apontada para si mesma, mesmo sendo algo que ela normalmente desvia o olhar e apaga da sua mente.
(Mas, isso… não é verdade…)
Enquanto reflete, ela repete essas palavras para alguém, talvez divino.
Originalmente, Mayu desejava ser uma adorável Idol. Era um sonho que na sua juventude, quando ela acreditava que poderia ser o que quisesse, que brilhava em seus olhos. Ela acreditava que um palco com dezenas de milhares, ou até centenas de milhares de pessoas de todo o Japão, estava a seu alcance.
Após se formar no ensino médio, ela criou um grupo de Idols. Ao passo que elas realizavam shows fluentemente e múltiplas vezes, seus fãs foram crescendo. Mais um pouquinho e elas conseguiriam o debut que tanto desejavam. Ou era assim que deveria ter sido.
Um dia, uma das integrantes do grupo foi bombardeada com críticas e insultos após terem descoberto que ela havia falsificado sua idade em 10 anos, ter um momento romântico com seu namorado fotografado e exposto, e descobrirem que ela possuía uma conta secreta nas redes sociais. Consequentemente, o grupo foi desfeito.
Mayu, que não tinha mais para onde ir, vagou sem rumo e se fez presente quando convidada para algumas participações, mas quando se deu conta, já estava com 23 anos. E então, suas atividades como Idol foram suspensas.
A primeira coisa que ela fez foi arranjar um emprego, que foi neste maid café, onde ela encontrou um pouco de felicidade. O prazer momentâneo de ser nomeada e fotografada é sem dúvida irresistível! Mesmo que ela não seja o foco das atenções, está tudo bem.
Mas, ter uma vida de plena existência em um cantinho do mundo, enquanto inveja o brilho dos outros, é insuportável.
(Será que pensar tão alto assim é pecado…? Sou só mais uma entre o povo, devo me contentar com minha condição atual.)
Ela grita dentro de si mesma como se estivesse resistindo ao sufoco. O que era exatamente o ‘especial’ que ela queria ser quando criança?
Por exemplo, amor. Será que se ela se apaixonasse por alguém, ela se sentiria satisfeita? Guardando sua fantasia para o desconhecido, ela acha que encontrar um parceiro para se casar enquanto ainda é cedo provavelmente é uma boa decisão… Já houve dias em que ela entrou no seu quarto, e ficou refletindo sobre essas coisas enquanto segurava uma latinha de shochu highball (NT: um tipo de bebida alcoólica).
Mas o que realmente ocupa sua mente é a realização do seu trabalho. Atualmente, sendo empregada desse maid café, ela está se esforçando para ser nomeada e promovida sempre que pode, e finalmente, com um pouco mais de esforço, ela conseguiria alcançar a terceira posição no ranking de funcionárias da loja. Ao invés de ter delírios sobre coisas ambíguas como amor, ela foca em um objetivo mais realista.
…Porém, se ela fosse forçada a limpar os banheiros por um mês, até mesmo essa primeira experiência de alcançar o sucesso se tornaria um sonho impossível. Assim, suas angústias tomariam conta da sua cabeça, e ela voltaria à estaca zero. Em suma, isso é o que aconteceria se ela se atrasasse. Com toda a força de vontade que lhe resta, e sentindo que estava prestes a desmaiar, Mayu finalmente chega à porta de entrada para as funcionárias. Seu cérebro com necessidade de oxigênio, instintivamente a faz pedir desculpas.
“S-sinto muito! Estou atra—”
…Ela não estava atrasada. O ponteiro do relógio indicava que, por pouco, ainda estava no horário.
“Ainda bem~…”
Ela inconscientemente fica de joelhos. Ela sente que não consegue andar mais um milímetro sequer. Não, não, ela não pode relaxar. Ainda falta a ação decisiva. Ela deve inserir seu cartão de ponto. Mayu se levanta com fraqueza. Se ela corrigisse sua maquiagem, que estava bagunçada graças a todo o suor, ela ainda poderia servir os clientes. Ela poderia dar a seus queridos mestres que visitam a loja um amor inesquecível.
“Um momento, Asakawa.”
Ela foi chamada por alguém na sua frente quando estava sentindo alívio. Seu corpo treme enquanto ela olha para frente. Ela vê um grupo de garotas que estavam vestidas com o uniforme icônico de maid, e se sente intimidada pelo ar de feras da savana que elas emitem. Elas são colegas da Mayu: Itsushima, Nishiura e Natsuki. Diga-se de passagem, elas são as garotas em primeiro, segundo e terceiro lugar no ranking respectivamente.
“Ah, er, s-sim?”
Cercada pelo trio mais poderoso do Ambrosia, Mayu responde com a mesma postura de um hamster preso em uma gaiola. A líder, Itsushima, além de já estar com um olhar mais severo que o normal, fala com um tom ameaçador.
“É que o vaso do banheiro das funcionárias parece estar entupido, quero que resolva isso.”
“Hã, e-eu?”
Mayu ficou desorientada pela maneira excessivamente unilateral de falar da sua colega. Após abrir e fechar a boca esporadicamente, Mayu se levantou, cambaleando.
“E-entendi… Então, deixe-me apenas bater meu ponto.”
Seu caminho foi bloqueado.
“Hã? Mas eu quero que você vá agora.”
“Mas, se eu for agora, estarei atrasada.”
“E eu estou apertada, e aí? Vamos, vai logo.”
“M-mas, isso… Pelo seu rosto, você parece bem.”
“Por acaso você sabe quando uma pessoa está apertada ou não só olhando pra cara dela?”
“Uuh, então se é o caso, você pode ir ao banheiro da loja vizinha ou algo do tipo.”
“Pare de reclamar. Já falei para ir limpar, então vá. Agora.”
Além disso, ela também é apressada e repreendida pelas garotas que estavam logo atrás dela, dizendo coisas como “Rápido! Depressa!”, “Vai desobedecer?”. Embora ela tenha tentado resistir por alguns instantes, quando ela olhou para o relógio, seu horário de chegada já havia passado.
“Ah…”
“““I~sso, agora arrume o banheiro~”””
O poderoso trio anunciou. Mayu fracassou. Enquanto abraçava seu coração destroçado, ela foi até o banheiro. Estava deplorável. O horrível estado que o vaso estava, parecia que alguém propositalmente o entupiu com algo.
Ao voltar após terminar o serviço, mergulhada na tristeza, ela vê as mesmas três garotas conversando alegremente no vestiário.
“Er, eu terminei…”
“Aah, bom trabalho. Você é boa em limpar banheiros. Desejo-lhe sorte pelos próximos 29 dias.”
Ao escutar aquilo como se fosse algo já estabelecido, Mayu inconscientemente deixou cair o balde que estava levando de volta para o armário de material de limpeza.
“O… quê? Por quê?
“Não é sua punição por chegar atrasada? Eu já informei a gerente. Por sinal, ela escuta tudo que a número um, adorável e obediente aqui, diz.”
“Eeeh…”
Itsushima fala em voz alta, fingindo inocência. Seus apreciáveis seios são acentuados por baixo do uniforme. Apesar de ela não possuir uma boa atitude como recepcionista, utilizando-se de seu encantador e voluptuoso corpo, ela obteve reconhecimento rapidamente.
Por natureza, Mayu é fã de Idols, então ela gosta de garotas adoráveis. Até mesmo a Itsushima, na perspectiva de Mayu, possui uma notável beleza. Porém, por outro lado, enquanto testemunhava o reconhecimento que Itsushima ganhava tranquilamente, ela passou a se sentir rejeitada gradualmente. No fim, tudo no mundo se resume a um rosto e corpo bonitos? Mesmo isso causando discórdia quando estes recebem reconhecimento e premiações!? Incapaz de se conter por mais tempo, Mayu responde com uma afirmação.
“M-m-mas eu me atrasei porque você e suas amigas me pediram para fazer isso antes de eu bater meu ponto.”
Naquele momento, o olhar de Itsushima ficou sério.
“É o quê? Você está dizendo que a culpa é nossa?”
Até sua frágil amabilidade desapareceu. As outras duas ficaram do mesmo jeito. Sentindo como se tivesse pisado no rabo de um tigre, Mayu recuou.
“Não, não completamente, mas…”
Elas estalaram suas línguas para ela. Sua coragem enfraquece.
“Mas, eu… Uh…”
Ela deixa de expressar seus sentimentos em afirmações, e não diz mais uma palavra sequer. Lágrimas começam a brotar em seus olhos.
“Que foi, vai chorar agora? Que irritante… Ei, está na hora. Vamos para a reunião.”
Itsushima deixou Mayu para trás e apertou o passo. Mayu ficou sozinha, resistindo à torrente de emoções.
(Por que é sempre assim?)
Embora o trabalho como maid seja proveitoso, devido a vários acontecimentos como este, Mayu quase chega ao seu limite. Realmente, tudo nunca correu tão bem. Não havia razão para o grupo de Itsushima pegar no pé da Mayu. Apenas porque Mayu tem o rosto de alguém fácil de ser intimidada, elas o fazem como se fosse o natural a se fazer. Como ela sabe disso? Porque todo lugar que ela vai, isso se repete.
(Se a sorte fosse algo determinado pelo que a pessoa passa na vida, talvez eu estivesse relaxando em um jardim florido e colorido agora…)
Se ela realmente acreditasse nisso, provavelmente teria uma vida muito mais alegre.
Mayu entrou no vestiário com uma expressão semelhante a de alguém que derrubou sua carteira no esgoto enquanto vinha para o trabalho. Ela abriu seu armário e colocou seu formulário de tarefas que haviam preenchido para ela enquanto limpava o banheiro. Na aba de nomes, “Asakawa” estava escrito em caracteres grandes, ao ponto de sobressair. Enquanto ela olha para aquilo, uma tempestade se forma em seu coração.
Colocando o papel de lado, ela começou a puxar as roupas de maid penduradas no armário. Até suas oportunidades de usar este uniforme diminuiriam. Passar o resto da vida limpando banheiros, acabaria com o sonho de qualquer pessoa de ser especial. Se ela largasse seu trabalho, o que ela faria? Caçadas de casamento?
(Mas, mesmo se eu me casasse com alguém que eu considere o meu predestinado, não consigo imaginar um futuro no qual sou feliz… Sinto que seria traída, ou seria vítima de violência doméstica…)
Com essa tristeza abaladora, Mayu começa a se trocar.
Ela tirou as roupas que estava usando, vestiu uma saia balão e o vestido comodamente. Depois de inflar a saia, é a vez do avental. Ela entrelaçou as amarras nas costas e fez tipo um lacinho, e colocou uma tiara após arrumar o cabelo. E assim, ela está vestindo o traje de maid tradicional. O sorriso que ela verificou no espelho estava, obviamente, abatido e sem vida.
Ela então se recorda distraidamente da garota que veio até ela pedir ajuda outro dia. Ela se pergunta se aquela garota conseguiu entrar para o Ambrosia sem problemas. Sua base era adequada. Se ela tivesse mais confiança em si mesma, ela poderia ser uma ótima maid.
(…Acho que atualmente, eu não sou uma veterana adequada para ela… Não, não se menospreze, Mayu…)
Enquanto ela estava se consolando com seu reflexo, a porta do vestiário abriu abruptamente. Mayu pulou surpresa.
“Ah, o quê? G-gerente.”
O rosto da gerente, que está na casa dos trinta anos, sempre está tranquilo, como o de uma idosa tomando chá verde. Mas dessa vez, estava enrijecido.
“Eu sinto muito! V-vou limpar os banheiros imediatamente!”
Mayu cobriu o rosto em pânico com seus olhos lacrimejando.
E então, a gerente agarra seu pulso.
“Hii”
“Asakawa-san.”
“S-sim…!”
Mayu imagina o pior resultado.
(Demissão? Vou ser demitida de uma vez?)
Porém, não foi esse o caso.
“Venha comigo, depressa… Vou lhe apresentar a nova recruta que está começando hoje…”
“Eh…? C-certo.”
(Era só isso?)
Ela acena aliviada. A gerente murmura: “Ela é maravilhosa…” Essa é a primeira vez que Mayu vê a gerente tão empolgada. Elas foram até o escritório e um círculo já havia se formado ao redor da nova recruta.
“Com licença, prazer em conhecê-la…”
Timidamente, ela entrou no círculo por uma abertura. Ao olhar para o rosto das outras funcionárias ao redor, percebeu que Itsushima, Nishiura e Natsuki estavam com os rostos avermelhados.
(Quê? Hã? Hein?)
Aconteceu alguma coisa? Elas estavam com uma expressão encantada, como se tivessem acabado de apreciar um magnífico filme de amor. Mayu então olha para onde seus olhos estão focados, no centro do círculo. Quem está lá é—
“Estarei sob seus cuidados a partir de hoje. Sou Kaede Kamieda. Desde já, quero agradecer suas vindouras orientações e encorajamento.”
Era uma garota tão linda que parecia ter saído de um telão de cinema.
(E-ela é…)
Mayu, que já viu diversas garotas durante seu tempo na indústria do entretenimento, está extremamente surpresa ao ponto de ficar sem palavras.
(Sua aura de beleza é de 100%. Não, nem 200 é o bastante…! Q-quem é essa garota…? Uma Idol popular de passagem…?)
Ela exala uma ampla beleza, desde a ponta dos pés, até o último fio de cabelo. Qualquer parte que possa imaginar, é delicada e deslumbrante. Ela é idêntica a uma criatura lendária que foi criada apenas com pêssegos durante toda a vida (NT: Uma forma de dizer que ela foi criada de forma bem resguardada). Se alguém a encontrasse em uma aldeia distante em uma montanha, provavelmente a confundiria com uma donzela celestial.
“Wah… wah…”
Sem conseguir formar palavras diante de tamanha beleza, ela continua na mesma posição, suspirando e admirando. Seus olhos se encontram. A garota sorri agradavelmente.
(T-tão linda…!)
Apenas com isso, seus quadris perdem força, e ela sente que está prestes a cair.
(Não consigo expressar bem, mas ela é incrível… O poder do seu sorriso é incrível…!)
Comparada àquela garota, o sorriso de Mayu é simplesmente mostrar os dentes e estreitar os olhos. Ao invés de todas estarem empolgadas, elas estão completamente enfeitiçadas. Diante de uma garota verdadeiramente linda, humanos se tornam apenas espantalhos. Mas apesar disso, a gerente relembra seu objetivo original.
“Então, vejamos, a encarregada de instruir a Kaede será…”
Sentindo uma corrente elétrica percorrer seu corpo, a mente de Itsushima reinicia.
“E-eu! Eu a instruirei!”
Um instante depois, Mayu pensou “Ah!”, mas já era tarde demais. Não… Mesmo se tivesse se dado conta antes, ela não teria coragem de levantar a voz. O repentino golpe de sorte passou por Mayu completamente, subindo para o céu. No colégio, mesmo quando ela trocava de lugar, nada especial acontecia. Ela nem ficava perto das garotas que queria criar amizade, e nem dos garotos que achava bonitos.
(É mesmo, eu nasci para ficar na sombra dessas estrelas…)
Então ela desistiu, ou assim ela pensou.
“Há quanto tempo, Mayu-san.”
Seu nome emergiu da boca da garota.
“…Eh?”
Ignorando completamente a gerente e o grupo da Itsushima, a linda nova recruta—Kaede Kamieda—fez um arco com seus lábios, que se assemelhavam a uma adorável flor.
“Você me ajudou no dia que vim realizar minha entrevista de emprego. E agora, meu desejo se realizou e eu consegui entrar para o Ambrosia. Tudo graças a você, Mayu-san.”
Mayu pisca múltiplas vezes. Era completa e absolutamente inconcebível, mas aquela voz semelhante a um sussurro lhe soou familiar.
“P-por acaso, você é a garota daquele…? Hã, c-como!?”
Kaede, não entendendo a razão do ‘como?’, inclinou a cabeça, confusa.
(Não, não, não, não, será possível!?)
“Algum problema?”
“Não… Como posso dizer… sua impressão mudou, né…?”
Ela não teve escolha senão dizer de uma maneira indireta. De todo modo, você é uma pessoa inacreditavelmente linda, mas ela não consegue expressar o que pensou.
“Sim. Porque eu guardei em mente todas as suas orientações, Mayu-san.”
A garota faz um sorriso tão puro quanto uma camisa branca recém lavada.
“Eh…? M-mas eu não disse nada de…”
Embora ela não tenha terminado a frase, ela sentiu que estava sendo humildemente modesta. Kaede sorriu graciosamente. Ela estava prestes a se diminuir, mas pensou “Talvez eu realmente tenha ajudado ela a se tornar tão linda?”
(Eh? P-por alguma razão, meu peito está ardendo… O que é isso…!?)
Esta é a exaltação de estar envolvida na vida de uma linda garota, mesmo que só um pouco?
A gerente, que estava testemunhando a conversa entre Kaede e Mayu, colocou a mão na bochecha e disse.
“Bem… Asakawa-san, parece que ela é uma conhecida sua, então deixarei a Kaede-san em suas mãos.”
““Eh… Quêêê!?””
As vozes de Mayu e Itsushima harmonizam.
“É um prazer trabalhar com você, Mayu-senpai.”
Kaede abaixou a cabeça, e Itsushima, como era de se esperar, engoliu seus grunhidos. O coração de Mayu, mais uma vez, foi agarrado por aquele sorriso brilhante. Comentários autodepreciativos como ‘É impossível para mim’ instantaneamente se tornaram cinzas pela esperança.
“O-o-o prazer é meu!”
A única coisa que restou foi uma emoção que é extremamente clara para os humanos. O sentimento chamado “felicidade.”
“M-mas o que… Que irritante…”
Itsushima resmungou em voz baixa. Porém, Mayu, que estava rindo juntamente de Kaede, atualmente possui o QI de 1. Diante de uma garota tão adorável, sua mente é completamente ocupada com nada além de, “Aah, tão fofa…”
Dessa forma, Mayu foi nomeada como encarregada de instruir Kaede.
Claro, esse resultado estava de acordo com as expectativas de Kaede, mas não tem como a Mayu de agora saber disso, simplesmente sorrindo de orelha a orelha. Olhando para Kaede, que estava caminhando em sua direção, ela pensa em coisas como: Até sua forma de andar condiz com a de uma beldade. Seu cérebro para de funcionar corretamente.
“Bom, novamente, conto com você, senpai.”
“Ah, er, m-meu nome é Mayu Asakawa!”
“Sim, eu sei disso.”
Dessa vez, foi um sorriso de intimidade. O coração de Mayu acelera.
“E-então, Kamieda-san.”
“Pode ser Kaede.”
Sendo o alvo daquele tom de voz sussurrante, ela sente um calor emergir do seu corpo abruptamente. Se fosse medir, possivelmente sua temperatura estaria acima de 40 graus. Então é isso, essa é a verdadeira “sensação de ser especial”? Ela sente que está prestes a ser nocauteada por aquele intenso brilho que lembra as luzes de um estádio de beisebol à noite.
“E-então… Kaede…san.”
“Isso, Kaede.”
Kaede riu elegantemente, como uma noiva alegre ao ser chamada por seu marido pelo primeiro nome. De onde veio essa atmosfera amorosa?
“C-certo! Eu vou lhe entregar o seu uniforme, então vamos brevemente ao vestiário!”
“Está bem.”
Era óbvio que ela faria isso, mas Kaede estava seguindo-a. Uma beldade está escutando o que ela diz. Apenas com isso, seu desejo por reconhecimento parece ter sido realizado.
(Não, não. Estou me precipitando… Me precipitando até demais…)
As maids veteranas escolheram o momento errado para fazer Mayu ser despedida. Até então, eram elas que treinavam todas as novatas que entravam. Nesse ritmo, a adorável nova recruta iria—Não, mesmo sendo tão linda e com aura poderosa, trabalho é trabalho, então ela mesma teria que demonstrar resultados adequados.
Elas entram no vestiário. Mayu pega um traje de maid de sobra, uma das que foram passadas adiante por antigas funcionárias. Ao entregar para Kaede, suas mãos acidentalmente se encostam. Seu coração saltita.
“Ah, m-me desculpe.”
“?”
Por alguma razão, a beleza da garota faz o coração das pessoas ao seu redor se comportarem como garotos de fundamental II. Mayu estava desesperadamente tentando manter a compostura, mas ela não consegue fazer isso completamente.
“Er, então, seu tamanho é M, não é? Nossos uniformes apertam na cintura, então por favor, me avise se ficar muito apertado… Mas não acho que será o caso…”
Certamente, Kaede não é mais cheinha do que Mayu. Isso é tão óbvio quanto a lei da gravidade.
“Certo, muito obrigada. Pode me ensinar como vestir?”
“Ah, claro. Vou te ensinar direitinho, primeiro… direitinho!?”
Mayu se surpreende com sua própria frase. Enquanto Kaede olha curiosamente para ela, Mayu balança a cabeça, tremendo.
“D-digo, vou te ensinar brevemente como se vestir.”
“Está bem.”
Kaede começa a tirar suas roupas na frente de Mayu, peça por peça. Sua jaqueta, sua camiseta, seus shorts e sua meia-calça… Obviamente, não havia mais ninguém no vestiário além delas duas. Mayu sente uma leve vontade de tirar proveito de sua posição como senpai e obrigá-la a fazer algo irracional. Mas isso não é algo que eu faria com qualquer pessoa!
“Já tirei minhas roupas.”
“Pii!”
Mayu deixa sair um barulho semelhante a um passarinho.
Sem se sentir envergonhada, Kaede fica apenas de roupas íntimas. Ao se despir, a figura de seu corpo ficou mais clara, e é ainda mais delicada do que Mayu imaginava—ou melhor, que ela jamais imaginaria.
A esbelteza de sua cintura é especialmente algo a se exclamar, semelhante à de uma personagem de mangá. Sua pele, a qual é suave e macia em qualquer lugar, reflete a luz fluorescente e brilha como seda. Em seguida, Kaede levanta um de seus pés branquinhos para colocar o vestido. Suas partes baixas e a pura roupa íntima no formato de um triângulo invertido preenchem os olhos de Mayu. É uma cena que até então ela só tinha visto em sonhos. Este é o seu limite.
Ela não foi capaz de olhar mais que isso, e inconscientemente fingiu não ter visto.
“E-eu vou virar de costas!”
“Eu não me incomodo.”
Mayu queria, com todas as forças, que ela se incomodasse. “Você é uma jovem mulher com a idade ideal para casar-se, deveria ser menos modesta!”, era o protesto que estava prestes a sair de sua boca. Se Kaede gritasse neste momento e lugar, Mayu acabaria sendo presa… Ela estava certa disso. Sua imaginação continua a se expandir com o barulho de Kaede se vestindo, ao ponto de ser intolerável.
(Alguém, pode ser a gerente, ou até a Itsushima-san, só entre agora, por favor…!)
Porém, o resgate não chega.
“Então…”
Sendo chamada a atenção, Mayu ficou extremamente nervosa.
“O-o-o-o-o que foi!?”
“Mayu-san, por que você quis se tornar uma maid?”
Talvez sentindo a tensão de Mayu, Kaede inicia uma conversa.
“E-eu? B-bom… parecia divertido…”
Isso não era nada além de uma impressão boba. Ela tentou forçar um pouco mais o cérebro.
“N-não, não é isso. Desde sempre, eu gostei de garotas fofas e coisas fofas… Eu até quis ser uma Idol, ah, e já fui uma… É vergonhoso, então peço que não vasculhe mais a fundo, mas eu, hm, gosto de usar roupas fofas.”
Sua forma de falar foi bem bagunçada. Mayu respondeu com dificuldade.
“Sabe aquelas ocasiões especiais? Como aniversários ou formaturas, os quais você tem a errônea percepção de que é a protagonista? Eu gosto dessas coisas especiais, quanto mais de roupas fofas, e sinto que pertenço a elas…”
Suas palavras fluem suavemente, como se o barulho da Kaede se vestindo tivesse desaparecido.
“Por isso, eu achei que ser uma maid parecia divertido. Então, eu comecei a trabalhar como uma e tem sido divertido… Mas, bom, por ser um trabalho, eventualmente o ‘especial’ se torna ‘normal’, sabe?”
Após dizer tudo isso, ela se dá conta de uma coisa. Ela não tem sonhos. Embora ela tenha pensado isso, não era um assunto que ela deveria conversar com uma garota em seu primeiro dia de trabalho.
“Ah, me desculpe pelo monólogo!”
“Mayu-san.”
Mayu se virou. Kaede, que estava com uma tiara de Alice nas mãos, estava sorrindo.
“De agora em diante, sua vida será especial, esteja certa disso.”
“Eh…?”
O que ela quis dizer com isso? Seus olhos são capturados pelo sorriso de Kaede, e Mayu não consegue questionar mais a fundo. Apesar disso, seu coração pulsa ao ponto de doer. Kaede estende as mãos e entrega sua tiara.
“Pode colocá-la em mim, Mayu-san?”
“C-claro. Se não se importar por ser eu…”
Kaede sorriu como uma flor.
“Eu quero que você coloque, Mayu-san.”
Kaede fecha os olhos e inclina seu corpo para frente, abaixando a cabeça. As mãos de Mayu tremem. Ela gentilmente colocou a tiara sobre seu belo e suave cabelo. A garota, agora uma maid, levantou a cabeça e riu.
“Muito obrigada.”
A garota, que entrou na vida simples de Mayu, é especial e surreal. Mayu tem o pressentimento de que sua própria história de vida está lentamente ganhando uma nova forma.
***
Hoje, Mayu está de bom humor, mais uma vez.
(Trabalhar é tão, tão, tão divertido que não dá para não ficar animada!)
Uma semana se passou desde quando Kaede entrou para o Ambrosia. O mundo monocromático de Mayu foi claramente e nitidamente colorido com 33 milhões de tons.
“Bom dia~!”
“Bom dia, Mayu-chan!”
Por conta de Mayu ser a encarregada de instruir Kaede por um tempo, as duas sempre trabalham juntas no mesmo turno. Se isso não era felicidade, ela não sabia o que era.
Kaede, já estava vestida com seu traje de maid, sorri meigamente. De alguma maneira, ela intrinsecamente transmite dignidade. Em uma semana, Mayu se tornou consideravelmente mais íntima com Kaede. Elas até trocaram contatos!
Quanto mais ela a conhece, mais perfeita a existência de Kaede é. À primeira vista, era óbvio que ela tinha um rosto bonito, mas sua memória é excelente, sua postura interpessoal é educada, e acima de tudo, ela é bem corajosa. Mesmo quando ela serve os clientes, ela demonstra mais franqueza do que todas as outras. Se medido em escala, talvez 500 milhões de vezes mais.
Mayu nunca havia tido uma kouhai tão tranquila antes. Ela até chegou a curvar-se diante da Kaede e disse, “Quando você fala de maneira tão formal comigo, meus movimentos ficam esquisitos devido à pressão, então fale casualmente comigo, por favor!”, e Kaede concordou afetuosamente.
Sua personalidade também é agradável. Enquanto Mayu a chama de ‘Kaede-san’, Kaede a chama de ‘Mayu-chan.’ Sua honra como senpai? Fora do mapa. Nunca existiu, para começar.
“Fufufu.”
“O-o que foi? Aconteceu alguma coisa?”
“Não. É só que, sempre que venho trabalhar, você está aqui, Mayu-chan. Isso me deixa feliz.”
“I-isso é porque eu sou a encarregada de te orientar!”
Devido a mescla de alegria e vergonha, compartilhadas entre seus corações, Mayu desvia os olhos e ri desajeitadamente. Ela age como uma maid servindo uma imperatriz. Ou um anjo servindo a Deus. Parece que até seu nível espiritual se elevou estando ao lado dessa garota. É incrível.
“Por sinal, depois que você entrou, a loja tem ficado movimentada todos os dias!”
“Sério?”
“Sim, dá para ver pela gerente que está inquieta o tempo todo. Mas ela parece feliz com isso. Vários clientes também ficam inconscientes depois de receberem um “Bem-vindo, mestre *sorriso radiante*” de você Kaede-san!”
“Deixa de exagero. Você também tem qualidades, Mayu-chan. Por exemplo, seu ângulo ao se curvar é excelente. Eu tentei imitar, mas não consigo fazer igual. Por isso, gostaria que me ensinasse.”
“Claro, eu te ensino.”
Ela se afastou da Kaede, que estava acenando a cabeça, timidamente e foi para o vestiário.
Mayu, agora sozinha, deu um enorme suspiro. O sentimento que ela tinha quando sua professora do primário a tratava com todo o carinho ressurgiu.
Pensando bem, aquele foi o auge de sua vida. Todos da sua turma adoravam aquela professora. Normalmente, as crianças faziam fila simplesmente para falar com a professora, mas às vezes, Mayu ficava até mais tarde na escola até irem buscá-la, e graças a isso ela fazia origamis com sua professora enquanto esperavam. Somente as duas. Ela sentia como se fosse uma pessoa particularmente especial.
Ao refletir, ela percebe que seu desejo de ser ‘especial’ pode ter tomado forma pela saudade desses dias. Ela consegue sentir o mesmo ao lado de Kaede. Uma pessoa que a faz feliz por simplesmente trocar algumas palavras. Como uma heroína e uma protagonista, ou vice-versa. Kaede é, sem dúvidas, alguém especial para Mayu.
(Não, isso é errado… Eu posso sentir o sabor do pecado…)
Estando ao lado de Kaede, apenas por ela existir, o corpo de Mayu parece secretar endorfina em grande quantidade.
(Haah… Os cantos da minha boca não querem abaixar…)
Enquanto ela estava fazendo o possível para mudar o formato de seus lábios ao mesmo tempo que trocava de roupa, alguém entrou no vestiário.
“Um momento, Asakawa.”
“Sim~!”
Ela virou com um enorme sorriso.
“Geh”
Era a Itsushima.
“Como assim ‘geh’?”
“Não, não foi nada…”
Em contraste com Mayu, que fica mais alegre a cada dia, o humor de Itsushima só piora. Pois ela pensava que muito em breve estaria envolvida com a novata. Ou melhor, o fato dela ter suportado uma semana talvez a tenha feito se agarrar a essa crença.
Hoje ela está sozinha, sem suas seguidoras. Ao perceber isso, Mayu fica inquieta. Ela não sabia o que Itsushima poderia cometer na ausência de outras pessoas. Antes de tudo, ela age pacificamente…
“E-em que posso ajudar?”
“Não acha que está se achando demais, se aproveitando da entrada da novata e varrendo seu dever de limpar os banheiros para debaixo do tapete?”
“E-eu não estou fazendo nada disso.”
O belo rosto de Itsushima, que no passado fazia Mayu pensar “Tão fofa”, mesmo quando estava sendo encarada, simplesmente não passa de incomum depois que ela viu o rosto de Kaede. A existência de Kaede removeu toda e qualquer ostentação de Itsushima. Esse é o pecado de ser tão linda.
De qualquer maneira, enquanto Itsushima se aproxima dela, seu coração acelera de um jeito diferente de quando ela está com a Kaede.
“Ei, sobre essa novata, Kaede Kamieda.”
“S-sim?”
Mayu tem um relacionamento relativamente longo com Itsushima. Então, ela consegue, mais ou menos, adivinhar o que ela vai dizer. Itsushima tem receio de que, se as coisas continuarem como estão, seu assento como número um em popularidade no Ambrosia seja roubado. Como prova disso, ultimamente Mayu tem percebido Itsushima encarar Kaede diversas vezes.
Como Kaede ainda está em fase de treinamento, ela ainda não atendeu a certos pedidos dos clientes como jogar ‘Moe Janken’ (NT: O pedra, papel e tesoura tradicional, mas sua adversária é uma garota fofinha de cosplay) ou tirar fotos. Porém, quando essas restrições forem suspensas, em menos de uma semana… Não, no pior dos casos, em um só dia, Itsushima será instantaneamente rebaixada do topo. Por isso, o que Itsushima quer é—
“Uh, você quer me forçar, não é…? A fazer a Kaede-san ser despedida…”
Certamente, Itsushima está tentando se aproveitar de Mayu, que está encarregada de instruir Kaede. Se fosse a Mayu fraca que ela tem sido até então, talvez ela ficasse amedrontada pelo reflexo dos olhos afiados de Itsushima e obedecesse. No entanto, Mayu levantou a voz.
“Não farei isso, de modo algum!”
Se ela for a importunada, ela é capaz de suportar. Porém, Kaede é uma esplêndida garota. Determinada a não querer ver a expressão da sua kouhai perder o brilho, Mayu manifestou cada pequeno fragmento de coragem que ela possui.
“Do que está falando?”
Entretanto, ela é respondida com um rosto confuso.
“Hm…?”
Parece que era algo completamente diferente. Itsushima aproxima seu rosto da Mayu desnorteada.
“Enfim… Troque seu dever de orientação comigo.”
“Eh? Era isso?”
Itsushima timidamente entrelaçou os dedos de suas próprias mãos, suas bochechas ficam vermelhas.
“Não é óbvio…? Digo, com uma garota tão fofa como ela, não poderia ser outra coisa… Eu quero jantar em casa com ela, fazer compras com ela…”
Ela fala com uma voz semelhante à de uma donzela apaixonada. Foi a primeira vez que Mayu viu esse lado da Itsushima.
“E-então essa é sua preferência, Itsushima-san…?”
“Hã? Não entendi, como assim preferência?”
“N-nada…”
Como existia uma regra implícita de que casos amorosos eram proibidos nos tempos de Idol de Mayu, algumas delas despertavam esse lado entre as garotas. Mas Mayu não se envolveu nisso, já que ninguém a notava. Mesmo assim, ela ficou espantada. Até a Itsushima foi completamente enfeitiçada pelo charme da Kaede.
Por sinal, parece que Itsushima tem hobbies surpreendentemente femininos. Seu quarto, que ela compartilha fotos no grupo de mensagens da loja, é repleto de animais de pelúcia. Mesmo demonstrando essa diferença fofa, isso ainda era preocupante. Itsushima fez um beicinho.
“Ela só tem se dado bem com você… Isso é injusto. Até quando pretende monopolizar uma garota tão fofa? Que frustrante.”
“A-aw.”
Com relação a isso, Mayu não tem justificativas.
Coincidentemente, sua sorte melhorou e ela recebeu uma oportunidade. Ela entende muito bem esse sentimento de desigualdade. Pois Mayu, até então, nunca obteve reconhecimento. Por outro lado, Itsushima é completamente o oposto de Mayu. Ela é uma mulher carnívora, uma pessoa que terá o que deseja mesmo que seja na base da força bruta.
“Ah, mas você precisa necessariamente baixar sua cabeça e aceitar. Se você for demitida, eu automaticamente ficarei no seu lugar.”
Os olhos de Itsushima brilham com uma cor de alerta. Com certeza, um alerta de algo extremamente perverso.
“E-espere um pouco! Isso é um absurdo!”
“Você mesma sabe, não é? Você não serve. Alguém como você se dando bem com aquela garota, não importa como veja, não combina, não é?”
Essas palavras perfuram Mayu profundamente.
“I-isso é…”
Ela sente como se todos os dias da última semana tivessem sido descartados. Certamente, o lado dela que concorda absolutamente com os comentários de Itsushima também se faz presente, e seus sentimentos são violentamente influenciados pelo choque e espanto.
“Reflita bem sobre isso. Entre você e eu, quem deve estar ao lado da Kamieda? Alguém como você apenas arruinaria tudo.”
Deixando para trás nada além de um sorriso arrepiante, Itsushima deu um leve tapinha no ombro de Mayu e saiu.
“O q-o que eu faço…?”
Por enquanto, ela está em seu horário de trabalho, então ela precisa trabalhar.
Mayu trocou suas roupas pelo traje de maid com os dedos trêmulos, e então saiu do vestiário. Logo depois, ela vê Kaede tendo uma simpática conversa com Itsushima. Ao ver Mayu, Kaede a cumprimenta com um sorriso, dizendo “Bem-vinda de volta.” Porém, imediatamente ao perceber o estado de Mayu, ela inclina a cabeça confusa.
“Algum problema, Mayu-chan?”
“Hã? Não, é só que…!”
Itsushima, que está logo atrás de Kaede, encara Mayu como se dissesse, ‘Não se atreva a dizer um pio.’ Mayu não quer que Kaede seja arrastada para essa briga perversa e caótica.
“N-não é nada! Só uma leve dor de barriga!”
“É mesmo? Eu trouxe alguns remédios, vou pegá-los para você.”
“N-não! Eu estou bem! Talvez seja fadiga! Ahahaha…”
Itsushima sorri para Kaede, que parece confusa.
“É, ela está bem. Mais importante, Kamieda, o que você faz nos dias de folga?”
“Hm, bom, eu…”
Mayu escuta a conversa das duas como se fosse algo de outro mundo.
ーAah, eu sou realmente imprestável.
Ela sentiu um aperto na barriga devido a tristeza, e de fato estava começando a doer.
Para Mayu, interromper aquele momento especial, no qual Kaede e Itsushima estavam conversando, seria imperdoável. O motivo? Porque Mayu é uma pessoa comum. Sem sorte, para onde quer que ela vá, ela nunca é notada, e jamais conseguiu algo que desejasse. Essa é a vida de Mayu. Ela foi assim até então, e deste ponto em diante, certamente permaneceria igual. Mesmo neste momento, existem pessoas ganhando na loteria, ou atrizes mirins indo para a escola, ou magnatas de petróleo que se apaixonaram à primeira vista por uma garota e estão se casando. Mas Mayu não é nenhuma delas. Ela nunca teria a sua chance.
Ela silenciosamente virou as costas para as duas. Acho melhor eu pelo menos fazer algo benéfico para os outros. Como limpar o banheiro…
“Ah, eu entendo. Também adoro essa marca. Se você quiser podemos fazer umas comprinhas juntas…”
“…”
Como se estivesse empurrando Mayu, que estava andando lentamente, Itsushima levanta sua voz alegre ao ponto de reverberar. Porém, seu trágico destino não pararia por aí.
ーDaquele dia em diante, até fazer Mayu sair do trabalho, o assédio seria intenso.
*
Ou assim ela pensou, mas nada aconteceu. Nem a Itsushima, e nem suas seguidoras Nishiura e Natsuki, envolveram Mayu em nada, a não ser questões do trabalho. Cada dia passou normal e tranquilamente.
“Como…?”
Alguns dias depois, Mayu, sozinha no vestiário, murmura intermitentemente.
“Isso é o que chamam de calmaria antes da tempestade…? É extremamente perturbador…”
Ela decidiu que ao menos resistiria e responderia de volta se preciso. Porém, covarde como ela é, sob circunstâncias normais, para não se machucar, ela estava preparada com um gravador e um spray anti-moléstia para uma emergência. Claro que isso não significa que ela está ansiosa para usá-los, então seria melhor se nada acontecesse.
…Mas a questão, é que nada aconteceu.
“Hmm… Mas, para a Itsushima, perversa e persistente como é, não ter feito nada…”
Ela pensa enquanto grunhe, até que alguém se senta perto dela. É a Itsushima.
“Bom trabalho, Asakawa.”
“Hiee”
Vendo Mayu pular de susto, Itsushima ri.
“Está com medo do quê? Eu não vou fazer nada.”
“Não, é que… eehh?”
Ao recuperar a postura, ela procura o spray em seus bolsos. Mas ela o deixou no armário. Ela olha para Itsushima com os olhos meio fechados, como se estivesse esperando que ela fizesse algo. Porém, Itsushima apenas abre seus lábios com um olhar distante.
“Realmente, acho que fui muito desagradável…”
Mayu escutou a melodia do fim da sua vida. Ela relembra a voz de sua agente nos seu período como Idol, sorrindo amargamente enquanto dizia “Você… não faz mais parte do grupo…” No entanto, é como se Itsushima estivesse possuída por um espírito maligno.
“Eu agi errado, em dizer aquelas coisas para você.”
“Eh!?”
“O que foi? Não é algo que possa ser perdoado apenas pedindo desculpas, mas… Eu refleti muito sobre isso.”
“…Por acaso, você comeu algo estragado…?”
Se houvesse um ranking de palavras que Itsushima não diria, essas estariam no topo. Não é como se uma antiga colega de escola estivesse se desculpando por maltratá-la 10 anos atrás, mas sim a Itsushima se arrependendo de algo que aconteceu há cerca de 3 dias. É uma mudança e tanto.
Mayu, que é irremediavelmente gentil, fica preocupada que Itsushima tenha sido substituída por outra pessoa.
“O-o que aconteceu!? Você não é assim, Itsushima-san!”
“De fato, ser gentil com as pessoas é uma obrigação…”
“Itsushima-san, você está bem!? Você bateu a cabeça!? Quer que eu chame uma ambulância!?”
“Foi isso que aquela garota me ensinou.”
Aquela garota. Provavelmente, ela estava se referindo a Kaede. Mayu apenas achou isso, mas estava evidente. Logo depois, Nishiura e Natsuki também disseram, “Bom trabalho.” Todas estão fazendo caras relaxadas. Desde a primeira no ranking, até a terceira. Não, elas já não ocupavam mais essas posições.
“Certamente, uma atmosfera tensa em um ambiente de trabalho é desagradável.”
“Isso mesmo, todas precisam ter uma boa relação.”
“Paz e amor, sempre.”
Seus olhares são gentis. Parece que mudaram até seu estilo de maquiagem.
“O-o-o que aconteceu…?”
Mayu olha ao seu redor, sentindo como se séculos houvessem se passado desde a última vez que pisou ali, dado a gigantesca mudança. Logo depois, a porta do vestiário se abre lentamente. Quem entra é Kaede. Longe de estar acostumada com aquela beleza, Mayu sente que ela se torna mais brilhante a cada dia. Kaede sorri enquanto levanta a mão sutilmente.
“Ah, bom trabalho, meninas.”
“““Bom trabalho~!”””
Incluindo Mayu, as quatro vozes falam em uníssono. Surpresa, Mayu se levanta. Definitivamente, tem algo estranho.
“Com licença, tem um minutinho?”
“O que houve?”
Mayu pega na mão de Kaede e corre com ela para fora da sala num instante. Com as costas apoiadas na porta fechada, ela questiona Kaede enquanto suprime sua voz.
“Kaede-san, aconteceu alguma coisa com a Itsushima-san e as outras?”
“Como assim?”
Kaede não demonstra mudança alguma em sua postura.
“Digo, é que aquelas três costumam agir como madrastas perversas…”
Kaede ri.
“Nesse caso, então você é a Cinderela, Mayu.”
“F-foi apenas uma analogia!”
“Será que o papel do príncipe que a carregará nos braços fica para mim?”
Devido às brincadeiras de Kaede, Mayu fica nervosa e não consegue prosseguir com suas perguntas. Kaede sorri, como se estivesse fazendo o tempo correr novamente.
“Realmente, eu tive uma conversinha com elas.”
“S-sobre o quê…?”
“Eu simplesmente pedi a elas para “Todas nós nos darmos bem.””
Kaede, que olha diretamente nos olhos de Mayu, parece não estar mentindo em momento algum. As bochechas de Mayu fervem rapidamente.
“Foi só isso…?”
“Sim, só isso.”
Kaede aproxima seu rosto.
“Na realidade, todas são gentis, e eu apenas as fiz entenderem isso.”
Aquela belíssima figura, equivalente a uma obra divina, preenche os olhos de Mayu. Suas mãos se unem, uma sobre a outra.
“Ah…”
É macia. O calor dela, a respiração dela, a fragrância dela, Mayu sente tudo isso. Sua consciência esvazia.
“Eu me esforcei para fazer isso, porque não quero que você vá embora, Mayu-chan.”
“Isso…”
“A Mayu-chan vestida com roupas de maid é tão fofa. Além disso, nós tivemos um inestimável encontro.”
Kaede se aproxima ainda mais. Seu cabelo acaricia as bochechas de Mayu.
“Isso… Eu também… sinto o mesmo…”
Mayu dita suas palavras como se estivesse tentando corresponder às que vieram daquela pessoa radiante.
“Foi a primeira vez que conheci uma pessoa como você, Kaede-san. Pois nunca, em nenhum momento da minha vida, eu pude me aproximar de alguém tão especial.”
Por alguma razão, o peito de Mayu aperta, quase a fazendo chorar. E então, ela sente um sussurro em seu ouvido.
“Para mim, você também é especial, Mayu-chan.”
“Eh……?”
Foi um sussurro semelhante ao encanto de uma sereia. Mayu é tomada por dentro.
“Porque eu gosto de você, Mayu-chan.”
Pouco a pouco, seus rostos se distanciam. Seu sorriso, como sempre, é impecável. E ela continuou sorrindo para Mayu sempre que a via.
Poucos dias depois, uma nova linda garota apareceu. Logo, o espírito de Mayu Asakawa ficaria em completa desordem.