⋅•⋅⋅•⋅⊰⋅•⋅⋅•⋅⋅•⋅⋅•⋅∙∘☽༓☾∘∙•⋅⋅⋅•⋅⋅⊰⋅•⋅⋅•⋅⋅•⋅⋅•⋅
Tradução: Gabrielfsn | Revisão: Gabrielfsn
⋅•⋅⋅•⋅⊰⋅•⋅⋅•⋅⋅•⋅⋅•⋅∙∘☽༓☾∘∙•⋅⋅⋅•⋅⋅⊰⋅•⋅⋅•⋅⋅•⋅⋅•⋅


A Fuga Faz Uma Pausa
Faz cerca de doze horas desde que elas cruzaram o deserto no centro do continente e embarcaram no trem. Quando chegaram no destino escolhido por Momo, Akari ficou estranhamente animada.
“Francamente! Você é tão má, Momo.”
Com a voz uma oitava acima do normal, Akari deu tapinhas nas costas de Momo, seus insultos sem o tom habitual.
“Digo, eu sabia que você era uma grande babaca, sabe? Obviamente, eu sabia disso. Mas agora você passou dos limites! Sério, por que não me disse antes!?”
“É mesmo? Olha quem fala, agora que abandonou a fachada de Garota Certinha.”
“Mas, poxa!” Akari apontou dramaticamente para a cidade na qual elas chegaram e levantou a voz ainda mais. “Você deveria simplesmente ter me dito que estávamos indo para uma fonte termal!”
Ela estava praticamente saltitando. Momo a encarou friamente como se dissesse que sua empolgação em si era insuportavelmente irritante, mas o amor por fontes termais de uma japonesa nativa, gravado em seu próprio DNA, não seria acalmado tão facilmente.
“É uma surpresa tão maravilhosa que eu quase gosto de você um pouco mais agora!”
“Se eu soubesse que isso faria você gostar mais de mim, teria escolhido outro lugar.”
Akari cantarolou uma musiquinha alegre, ignorando a resposta descontente de Momo.
Como Momo mudou sua rota habitual tão drasticamente, essa era a primeira vez de Akari vindo a esta cidade. Em outras palavras, de todos os muitos ciclos temporais que Akari vivenciou, ela nunca havia visto o famoso local de fontes termais.
Os ombros de Momo caíram em arrependimento visível por ter deixado Akari feliz.
“Cometi um grave erro de cálculo… Por que você ficaria tão empolgada com uma água morna estúpida saindo do chão, afinal?”
“Não seja ridícula! Você não foi supostamente ensinada sobre toda a cultura japonesa em seu treinamento como Executora!? Isso é conhecimento básico, poxa!”
Akari estava praticamente espumando pela boca quando começou a exaltar as virtudes das fontes termais.
Afinal, ela estava vivendo principalmente na estrada desde que veio a este outro mundo. Mesmo uma chance de tomar um banho quente era um luxo no que diz respeito a banho. Akari não desfrutava de um banho quente desde aquele que ela tomou com Menou na cidade portuária de Libelle.
“Você está tão desinteressada porque não sabe o quão maravilhosas são as fontes termais, Momo. Ah, o puro êxtase de mergulhar em uma água quente e fumegante…! E termas naturais possuem ainda mais benefícios, como rejuvenescimento mental, pele reluzente, juventude perpétua… Você pode até cozinhar um ovo nelas para fazer onsen tamago! Fontes termais não são apenas saudáveis; também são deliciosas!”
“Desculpe interromper quando seu cérebro está claramente cozinhando, mas não viemos a esta cidade para mergulhar.”
“Hã?”
O corpo de Akari, que estava saltitando de empolgação, de repente congelou. Seus olhos se arregalaram em choque, ainda brilhando com o pensamento de fontes termais.
“O-o que quer dizer? Já que estamos aqui, devemos relaxar com um bom e longo banho para mostrar nosso respeito. Qualquer coisa abaixo disso seria um insulto às termas em todos os lugares… Não, aos próprios deuses que as criaram, que certamente iriam nos punir. A única coisa a fazer em uma cidade onsen, além de tomar banho, é comer um saboroso onsen tamago, entende?”
“Não, certamente não entendo. Estamos aqui para escapar da minha querida e treinar esse troço inútil que você chama de corpo no processo. Não dou a mínima para o seu lago fumegante idiota.”
“Treinar?”
Enquanto as fontes termais ainda borbulhavam no cérebro de Akari, Momo descartou as ideias dela como totalmente imprestáveis e explicou suas intenções para esta parada. Evidentemente, fazer uma pausa não estava na lista.
“Tive muitas perguntas depois de ouvir sobre seus ciclos temporais, mas notei uma coisa… Não importa a linha do tempo, você lutou muito pouco, não é?”
“Hã? Bem, sim, não sou muito chegada em combate…”
“Hah. Não me admira você ser tão absurdamente fraca apesar de ter um Puro Conceito.”
Akari caiu em um silêncio deprimido.
Momo e Akari se enfrentaram uma vez antes de viajarem juntas. Akari possuía o elemento surpresa, porém ainda sofreu para ganhar vantagem. Se elas tivessem continuado, Momo provavelmente teria se acostumado com as conjurações de Akari e tomado a vantagem.
O caráter natural de Akari simplesmente não era inclinado à violência. Além disso, ela tinha fé absoluta de que Menou a protegeria se ela tivesse problemas e a vantagem de que não morreria graças ao seu Puro Conceito de Tempo. Francamente falando, ela não precisava lutar.
Ela não podia morrer e tinha a opção de recomeçar. Essas qualidades cultivaram uma atitude excessivamente frouxa que impedia Akari de ficar mais forte.
“Então é por isso que você sempre está atrapalhando a minha querida… Para dizer o mínimo, não estaríamos todas melhor se você morresse?”
“…Por que você tem que ser tão nociva, Momo? Se tem que dizer coisas assim, poderia ao menos suavizar.”
“Porque te odeio e quero fazê-la se sentir mal.”
O tom de Momo foi tão leve que quase nem parecia mais com um insulto. Ela detestava Akari, e Akari sentia o mesmo em relação a Momo. Isso era uma verdade absoluta, um entendimento mútuo entre elas.
No entanto, agora Akari estava dando a Momo uma expressão genuinamente magoada.
“Agora entendi. Você é má comigo porque me despreza…”
“É um pouco tarde para isso, não?”
“…o que significa que, como Menou sempre foi boa e meiga comigo, ela realmente deve me amar.”
“Você conhece o termo serviço ao cliente?”
Enquanto Akari se deixava levar com uma interpretação egoísta da realidade, Momo agarrou seu ombro e a arrastou de volta para a terra.
“Quando se está trabalhando, você tem que ser educada com todos, não importa o quão tolos sejam. Minha querida deve ter tido dificuldade em lidar com você nos últimos dois meses, tenho certeza.”
“…Ah, é? Então, já que você é má comigo em serviço, acho que ainda é apenas uma criança inexperiente, né, Momo?”
“…Sim, eu suponho. Ainda sou uma sacerdotisa assistente, então não possuo o nível de conduta profissional da minha querida. Quando vejo uma pessoa idiota, não consigo evitar de tratá-la como uma… sua idiota.”
Como havia se tornado típico, a dupla estava começando outra batalha verbal, cada uma buscando os pontos fracos da outra para causar dano sempre que possível. Nenhuma das duas ganharia algo, mas continuavam polindo suas técnicas mesmo assim, tornando qualquer reconciliação entre ambas ainda mais impossível.
Não havia sentido em continuar essa briga insolúvel, então Akari levantou relutantemente uma questão diferente para Momo.
“O que exatamente você quer dizer com me treinar?”
“É simples. Você só precisa se acostumar a usar seus poderes de Puro Conceito em combate. Também devemos pensar nas maneiras mais efetivas de fazê-lo.”
Akari piscou surpresa com a sugestão de Momo.
“Mas Menou me disse para nunca usar meu Puro Conceito a menos que fosse necessário.”
“É um pouco tarde para isso.” Momo lançou à outra garota um olhar cômico. “Puros Conceitos carregam o risco de se transformarem em um Erro Humano, porém você já usa o seu o tempo todo, não é?”
“Bom, sim, eu acho… Mas como já o usei tanto, não significa que não devo abusar da sorte?”
“Bem, sobre isso. Seu Puro Conceito não parece corroer sua mente quase tão rapidamente quanto para qualquer outro Ádvena que já ouvi falar.”
“Sério?”
“Sim, sério. É uma diferença muito dramática comparada a qualquer exemplo que conheço. Talvez seja porque sua mente já é tão densa que é difícil de danificar?”
Quando Ádvenas usavam seus poderes de Puro Conceito, estes consumiam suas próprias memórias.
Por exemplo, o garoto Nulo que foi evocado juntamente com Akari foi afetado tão drasticamente por um único uso do seu Puro Conceito que este mudou toda a sua personalidade. Mas Akari, que usava constantemente conjurações em um nível global, mas ainda não havia se transformado em um Erro Humano, ainda possuía controle firme sobre si mesma.
“Puros Conceitos criam conjurações muito mais poderosas do que qualquer outro tipo. Por favor, aprenda a usá-lo em batalha também. Se tiver o devido comando do seu Puro Conceito, a maioria dos humanos não terá chance contra você.”
“É, talvez… Mas você sabe que minhas conjurações não são de graça, certo? Elas apagam minhas memórias.”
“Bom, temos um ponto simples de referência para isso. Suas recordações do seu mundo, do Japão, devem desaparecer primeiro. Em uma estimativa aproximada, contanto que você não tenha esquecido totalmente do Japão, você ainda deve ficar bem e suas lembranças com a minha querida não irão desaparecer.”
“Mmn, acho que sim… Tem certeza de que não está tramando nada, Momo?”
“Hmmm?”
Akari estava muito relutante em usar seus poderes mais do que o necessário, especialmente depois de Menou tê-la advertido repetidamente contra isso. Enquanto ela hesitava, Momo a encarava com total desprezo.
“Estou propondo isso pelo bem da minha querida, mesmo assim você se recusa a sequer tentar. Se suas lembranças do outro mundo são mais importantes para você do que a minha querida, acho que tudo beeem? Talvez seu apego a ela não seja tããão forte quanto pensei.”
“Perdão?”
Algo estalou e a raiva queimou nos olhos de Akari.
“Não sei o que quer dizer, Momo. Meus sentimentos por Menou são cerca de cem vezes mais fortes do que você imagina, só para sua informação.”
“Então vá em frente e prove. Escute com atenção, sua garota inútil! Se você se preocupasse em treinar um pouco, seria capaz de salvar minha querida algum dia, em vez de apenas deixá-la resgatar você o tempo todo!”
“Tudo bem! Eu farei isso, apenas observe!”
A isca em forma de Menou funcionou perfeitamente. Imediatamente, a motivação de Akari tomou níveis estratosféricos.
***
O cheiro de enxofre era forte no ar da cidade montanhosa.
Ela era famosa por suas termas naturais, e pousadas feitas de madeira, restaurantes e outras atrações rodeavam as ruas. Uma estação de trem servia como um ponto em uma linha que ligava várias cidades importantes, o que ajudava a cidade a prosperar como área turística.
Havia um posto avançado para os cavaleiros da Nobreza, que eram encarregados de manter a ordem na região, e uma pequena igreja para indicar a presença da Faust. Fora isso, a cidade era povoada com cidadãos da Plebe.
Como uma combinação de resort de saúde e local turístico, o assentamento desfrutava de uma torrente constante de visitantes. Isso também significava que, às vezes, fornecia esconderijo para criminosos e perpetradores de tabus que precisavam evitar atenção.
O homem conhecido como o Recrutador era um desses criminosos.
Ocasionalmente, aqueles que trabalhavam em negócios obscuros tinham desavenças com um grupo. Alguns podiam estragar um trabalho e serem banidos, enquanto outros podiam ter fugido e perdido um lugar para chamar de lar. O objetivo do Recrutador era reunir esses párias e encontrar empregos adequados para eles.
O homem chamado de o Recrutador inicialmente pertencia a um grupo ideológico conhecido como a Fourth.
Todos os cidadãos deste continente eram separados em três classes: a Faust, a Nobreza e a Plebe. Essas camadas e suas regras eram a base da ordem mundial.
A Fourth acendeu chamas de descontentamento com o sistema de classes que existia há muito tempo.
Ela agitou os Plebeus insatisfeitos, atiçou o complexo de inferioridade da Nobreza e, uma vez, reuniu muitos para enfrentar a Faust.
Por um tempo, a Fourth cresceu tão explosivamente que até ameaçou dominar a terra santa da Faust, mas suas atividades cessaram quando seu líder, o Diretor, foi capturado. Como resultado, muitos membros qualificados da Fourth ficaram sem perspectivas de emprego.
Foi então que um homem assumiu a tarefa de acolher as pessoas da Fourth e obteve lucro cobrando uma taxa pela oferta de trabalhadores temporários. Ele começou uma pousada de fontes termais como um disfarce que acabou se tornando um negócio legítimo, mas sua profissão principal ainda era o Recrutador.
A era atual era desafiadora para os ex-membros da Fourth. Ele resistiu discretamente sem se revelar até um certo dia, quando sua paciência foi recompensada com boas notícias que pareciam uma luz no fim do túnel.
O Diretor, fundador da Fourth, havia sido libertado.
Ele havia sido detido no Reino de Grisarika, uma grande potência no leste. Após provocar o caos no continente, ele foi sentenciado a execução. Sua libertação nunca poderia ter sido oficial. A notícia de que alguém o ajudou a fugir estava se espalhando como fogo.
Contudo, o Recrutador permaneceu cético sobre se o Diretor havia sido realmente libertado. A informação veio em um momento perfeito até demais para a Fourth.
Das nações espalhadas pelo continente, o Reino de Grisarika era particularmente infame. Recentemente, sua arcebispa, Orwell, foi descoberta envolvida em um tabu e, como resultado, foi formalmente condenada à morte. Não querendo criar esperanças prematuramente, o Recrutador estava reunindo informações com cautela.
Um pedido de visita do próprio Diretor.
A mensageira que deu essa notícia foi uma jovem garota usando um kimono.
Ela andava com seu cabelo de cor anil escuro em uma longa trança. Falando com uma pronúncia lenta, ela informou o homem que o Diretor estava seguro e em breve faria uma visita pessoal.
Lágrimas de alegria escorriam pelo rosto do Recrutador. Agora a restauração da Fourth poderia começar. Ele estava se preparando veementemente para receber o Diretor…
E então uma sacerdotisa de túnica branca chegou na cidade com uma garota de cabelo preto como acompanhante.
Tendo trabalhado no submundo por tantos anos, o homem suspeitou imediatamente.
Seria otimista demais presumir que elas não estavam aqui por nada além de turismo. Era muito conspícuo para ser coincidência. Membros da Faust, que praticavam a pobreza honrosa, dificilmente desfrutariam de uma viagem turística frívola, a menos que fosse parte de uma peregrinação.
Não, elas tinham que estar ali pelo Diretor.
O homem não podia simplesmente fazer vista grossa. Usando suas conexões como o Recrutador, ele reuniu alguns combatentes e emitiu uma ordem:
Eliminar a sacerdotisa que veio investigar.
*
Ao receber a ordem, os lutadores rapidamente formaram um plano.
Eles eram ativos na área e muito familiarizados com todos os tipos de trabalho desonesto. Alguns eram aventureiros que caíram para atividades mais obscuras, enquanto outros eram pesquisadores que foram levados para a escuridão por sua sede de conhecimento. Mas uma coisa que todos eles tinham em comum era que há muito haviam abandonado qualquer pretensão de decência que os faria hesitar em matar mulheres jovens—especialmente se uma delas fosse uma sacerdotisa.
Não havia necessidade de desafiá-la de frente. Eles tinham a vantagem de estarem no próprio terreno, então esperar por um momento em que sua guarda baixasse era preferível. Como o alvo entrou em uma pousada de fontes termais, atacar enquanto ela estava tomando banho parecia perfeito.
Certamente, a garota de cabelos pretos viajando com a sacerdotisa exclamava alegremente “Termas! Termas!” Durante o check-in, sua atitude em relação à sacerdotisa havia sido, na melhor das hipóteses, mal-humorada, mas agora ela estava obviamente feliz com a ideia de um banho quente.
A sacerdotisa tinha um corpo pequeno e traços infantis. Ela não poderia ter mais do que quatorze anos. O fato de que ela usava uma túnica de sacerdotisa em vez de um traje de freira, apesar da idade, significava que era seguro pressupor que ela era um prodígio natural. Mas como as vestes eram brancas, estava claro que ela ainda tinha um longo caminho a percorrer.
Os lutadores sorriram. Isso ia ser fácil.
Um deles, que trabalhava como um funcionário da pousada, sugeriu que as duas garotas experimentassem o banho ao ar livre durante a tarde. Estava fora do horário normal de funcionamento, mas a sugestão era para garantir que a dupla ficasse sozinha.
Assim que as jovens seguiram essa recomendação e entraram no banho, um homem armado entrou no vestiário.
As sacerdotisas eram praticantes habilidosas de conjurações, mas tinham que usar um receptáculo para invocá-las.
Seja uma conjuração de brasão ou de escritura, essas técnicas eram baseadas em materialogia e brasologia. Força Etérea era um grande poder extraído da alma, mas não era fácil produzir seus efeitos totais sem as ferramentas para controlá-la adequadamente. Quanto mais poderosa a conjuração, maior e mais complexo o meio necessário.
Aprimoramento Etéreo era uma exceção que podia ser invocado apenas com o corpo de alguém, mas o próprio homem era capaz disso.
Humanos com armas eram inevitavelmente mais fortes do que aqueles sem.
Não importava o quão habilidosa fosse essa sacerdotisa e suas conjurações, ela estaria em desvantagem quando totalmente nua.
Isso nem era preciso dizer, mas o agressor ainda sentiu a necessidade de explicar porque estava invadindo o banheiro feminino.
E mais, a sacerdotisa era uma suposta adolescente. O choque e o embaraço de ser atacada no banho certamente iria retardar sua reação. O homem estimou que a derrotaria antes que ela pudesse lançar um contra-ataque.
Tendo entrado no vestiário armado e com essa lógica impecável, o homem lembrou o rosto do seu alvo. A garota de cabelos pretos claramente não podia lutar, embora fosse um mistério por que ela estava acompanhando a sacerdotisa. A melhor abordagem seria fazê-la de refém para ameaçar a sacerdotisa.
Enquanto pensava sobre seu plano de batalha, o homem decidiu que seria melhor garantir que a sacerdotisa não pudesse recuperar suas armas não importa como e por isso pegou as roupas das garotas de seus armários no vestiário.
Nesse momento, a porta que levava ao banho ao ar livre abriu subitamente.
“Por queee tenho que tomar banho com vocêêê em vez de com a minha amada querida?”
“Nem começa. Você vai estragar uma fonte termal perfeitamente boa se continuar—”
Elas devem ter entrado na área de banho, percebido que havia esquecido algo e voltado para pegar. Quando a garota de cabelos pretos entrou com vapor saindo de sua pele, ela fixou os olhos no agressor que havia se infiltrado no vestiário feminino.
“……”
“……”
Houve um silêncio quase doloroso.
A garota de cabelos pretos estava enrolada em uma toalha dos seios para baixo.
Seus membros descobertos eram lisos e macios. O pano mal podia esconder seus seios amplos enquanto este absorvia uma pequena quantidade de suor de seu decote. Uma única gota de água escorreu pela linha curva de sua coxa.
Um leve plic ressoou quando a gota atingiu o chão.
O homem recuperou os sentidos com um susto.
Sua mente ficou em branco com o desenvolvimento inesperado por apenas um momento. Esse era um guerreiro que havia pisado na linha entre a vida e a morte inúmeras vezes. Suas habilidades não eram tão pobres para ele ser dissuadido pela aparição repentina de uma linda moça. Ele não havia antecipado que seu alvo voltaria ao vestiário, mas talvez essa fosse a oportunidade perfeita.
Se ele levasse a garota de cabelos pretos como refém, seria muito mais fácil capturar a sacerdotisa que ainda estava no banho. O homem avançou para agarrar a garota.
“La…”
Os olhos da garota ficaram turvos de vergonha e queimaram de raiva.
Ela mirou seu dedo indicador para o agressor como alguém faria com uma arma. Enquanto o homem observava perplexo sua tentativa estranha de ameaça, Luz Etérea se acumulou na ponta do seu dedo estendido e formou uma conjuração.
Um espanto frio tomou conta do homem. Como ela estava invocando uma conjuração sem nenhum receptáculo Etéreo? E mais, isso era uma construção de conjuração que ele nunca havia visto antes. Sua mente se debateu para compreender o que estava acontecendo diante dele, tornando sua resposta física um momento mais atrasada.

Quando a jovem de cabelos escuros berrou, uma conjuração excepcionalmente poderosa saiu de seu dedo.
*
Um dos pretensos agressores foi levado por cavaleiros.
Sua tentativa de ataque surpresa no banho ao ar livre fracassou. Um dos alvos o pegou no vestiário e conseguiu detê-lo de alguma forma. No final, ele foi preso por cavaleiros sob a suspeita de roubar roupas íntimas.
Os homens que o Recrutador reuniu, todos faziam parte da Fourth. Eles foram submetidos a treinamentos rigorosos para um dia lutar contra as sacerdotisas da classe privilegiada. Era doloroso ter um deus companheiros tratado como um criminoso repugnante, mas pelo menos significava que seus alvos continuavam ignorantes de suas verdadeiras intenções.
Era melhor que as garotas acreditassem que deteram um simples criminoso sexual no ato do que fazê-las suspeitar que suas vidas estavam em perigo. Para manter a guarda dos alvos baixa, seu companheiro capturado engoliu seu orgulho e declarou bravamente “De fato, sou um ladrão de calcinhas” quando os cavaleiros o levaram.
Quanto às garotas que reduziram um guerreiro orgulhoso a um pervertido comum, elas estavam agora passeando pela cidade das termas juntas.
O par estava usando yukatas combinando enquanto andava, talvez com a intenção de fazer uma excursão completa pelas fontes termais. Um dos assassinos, que estava camuflado como parte dos funcionários, sugeriu que elas vestissem as roupas alugadas, citando isso como parte da diversão de uma cidade de termas.
“Este lugar tem uma atmosfera super japonesa, especialmente com esses yukatas. Todos os quartos da pousada têm tatames e os prédios são feitos de madeira. Toda a aldeia é tão rústica… É quase chocantemente idêntico a um assentamento japonês à moda antiga. Talvez esta seja a primeira vez que estive em um local tão familiar. Por um lado, pode-se até dizer que é mais japonês do que o Japão moderno.”
“Uhum. Então é isso que você chamaria de japonês? Talvez a cultura local tenha sido fortemente influenciada por algumas ovelhas perdidas. Têm montanhas por todo o lado, não é? Até a estação de trem ser construída, a comunidade deve ter ficado isolada por muito tempo. As pessoas alegam que esta cidade é surpreendentemente rica em história e costumes antigos. Os edifícios podem até ser vestígios de tempos antigos.”
“Todo o povo japonês adora fontes termais, sabe? E algumas pessoas são mega entusiastas delas, então não ficaria surpresa se uma pessoa assim tivesse uma mão nesta aldeia.”
“Talvez toda esta rua seja remanescente da civilização antiga, então.”
As duas garotas conversavam distraidamente enquanto caminhavam.
Elas evitaram facilmente um encontro perigoso no banho ao ar livre na pousada, mas ainda havia mais perigos as rodeando.
O primeiro ataque surpresa falhou. Foi imprudente atacar as jovens sozinho, mesmo que o agressor esperasse pegá-las quando estivessem de guarda baixa. Portanto, a próxima emboscada foi baseada na força dos números.
Um ataque na rua principal atrairia atenção demais. Então o grupo de agressores enviou um consorte que trabalhava na área. O jovem rapaz, um garanhão bem conhecido, foi instruído a seduzir as garotas e levá-las a um beco sem vigilância.
O jovem sujeito abordou o par, com seu ar e suas características atraentes em plena exibição. Quase dez assassinos habilidosos estavam esperando na rua estreita onde ele deveria guiá-las. Mesmo que ela fosse excepcionalmente hábil, isso tinha que ser mais que o suficiente para se livrar de uma única sacerdotisa.
“Olá, senhoritas—”
“Morra.”
“Morra!?”
O belo rapaz não conseguiu esconder sua surpresa com a rejeição imediata.
Foi a sacerdotisa que respondeu tão bruscamente, deixando dolorosamente óbvio que ela não tinha intenção de continuar a conversa. Ela fez uma cara abertamente enojada, jogando suas maria-chiquinhas rosas por cima do ombro.
“Isso, só anda logo e morra, por favor. Não tenho interesse em insetos como você. Sua própria existência me irrita. Suma daqui e diga a eles para enviar alguém um pouco mais digno de derrotar na próxima vez.”
O jovem rapaz, que acreditava que geralmente tinha jeito com as mulheres, teve que lutar para evitar que seu rosto se contraísse com um insulto tão inesperado. Que tipo de sociedade distorcida faria uma jovem garota a desejar sinceramente a morte de outra pessoa simplesmente porque esta falou com ela?
O consorte engoliu a vontade de responder que não estaria conversando com uma pirralha tão imatura se não estivesse sendo pago para isso.
Enquanto isso, a garota de cabelos pretos olhava com pena.
“Calma, Momo. Dizer a ele para morrer é um pouco extremo…”
“É-é mesmo! Ah-ha-ha, seu senso de humor é certamen—”
“Pelo menos amenize para um gentil Vá embora, esquisitão.”
“Oof…!”
O belo rapaz pensou que a garota de cabelos pretos estava ficando do seu lado, mas acabou por ser uma armadilha engenhosa. A palavra esquisitão foi um duro golpe à sua confiança relativamente alta em questões com mulheres. Ainda assim, o rapaz, que ganhava a vida como acompanhante, não deixaria um ferimento leve em seu orgulho destruir seu espírito completamente.
A rejeição era a segunda natureza de um artista da sedução. Era perfeitamente normal ser ignorado inicialmente. Tentativa e erro, ambos faziam parte do processo.
Contudo, neste caso em particular, ele foi contratado para obter resultados. A quantia de dinheiro oferecida foi o suficiente para deixá-lo relutante de desistir facilmente.
Ele ainda não havia fracassado. O jovem rapaz reuniu sua força interior.
A garota de cabelo rosa já parecia irritada por ele parecer ter a intenção de falar com elas novamente, mas então seu rosto se iluminou, como se ela tivesse pensado em uma ideia. O belo consorte esperou para ver se ela poderia oferecer um tópico de conversa e ficou surpreso quando ela empurrou a garota de cabelos pretos para frente.
“Se está tentando dar em cima de nós, então tome, pode ficar com esse espécime saudável. Não consigo pensar em um único uso para ela, então fique a vontade para irem a algum lugar juntos e fazerem o que quiserem.”
“Momo?!” A garota de cabelos pretos gritou surpresa.
Mesmo o consorte veterano nunca havia testemunhado uma mulher vendendo descaradamente sua amiga para ele antes. Ele não tinha ideia de como reagir.
A garota sendo oferecida foi igualmente ousada. Assim que percebeu que sua companheira estava traindo-a, ela franziu os lábios e olhou fixamente para a jovem de cabelo rosa.
“Só porque você é pequena, achatada e antipática não significa que você deve pular direto para isso. Até onde sabemos, esse cara pode gostar disso! Na verdade, ele deve gostar ou ele não teria começado com você. Ei, moço! Se você tem algum orgulho como pedófilo, vai levar essa garota em vez de mim!”
A acusação repentina fez o rosto do consorte ficar mortalmente sério; ele preferia mulheres mais velhas.
“Não sou um pedófilo.”
“Ah, para, não precisa ser tímido!”
Ele nunca deveria ter aceitado esse trabalho.
Enquanto o homem se xingava por sofrer a acusação sem desmentir, cada garota continuava tentando entregar a outra. Felizmente, de alguma forma, ele conseguiu fazê-las segui-lo até o beco, embora tenha exigido um esforço inacreditável.
Assim que eles chegaram na ruela sem saída, os pouco mais de dez homens apareceram e bloquearam a saída.
“Iiisso, bem na hora—”
Um punho acertou o rosto do consorte, cortando suas palavras.
“Eu te disse para morrer, lembra?”
Como eles estavam fora de vista, Momo imediatamente optou por usar a violência. Sua primeira vítima foi o belo homem que as levou para o beco. Primeiro, ela o atingiu em cheio no nariz. Ela agarrou sua gola e o jogou no chão enquanto ele cambaleava. Depois, assim que ele perdeu todo o ar ao atingir o chão, Momo pisoteou impiedosa e repetidamente seu rosto.
O homem gemeu de agonia algumas vezes, mas mesmo isso logo parou. A sacerdotisa olhou friamente para o corpo inconsciente e disse, “…Agora meus sapatos estão sujos.”
Após arruinar o rosto de outra pessoa, isso era tudo que ela tinha a oferecer.
O dano nas belas feições do rapaz certamente acabaria por prejudicar seu futuro como consorte.
Momo o chutou para o lado do beco com uma facilidade alarmante e praticada, depois olhou em volta lentamente.
“Pensei que você fosse apenas um artista da sedução, mas… isso não é tão ruim.”
Enquanto Momo falava, o brilho luminoso de Força Etérea rodeou o seu corpo.
Um arrepio de medo percorreu o grupo de agressores.
Aprimoramento Etéreo. Uma técnica de manipulação de Força Etérea que elevava a capacidade física do usuário.
As sacerdotisas da Faust eram fortes. Por natureza, elas tinham que ser hábeis o suficiente para manipular a Força Etérea para operar os complexos receptáculos Etéreos conhecidos como escrituras. Havia rumores de que o caminho para ser escolhida como líder sacerdotisa era ainda mais complicado, incluindo treinamento de combate na Fronteira Selvagem.
Os homens no beco tinham consciência disso, pois aqueles que trabalhavam no submundo do crime estudavam seus inimigos mortais.
Mas a quantidade de Força Etérea que a garota diante deles estava usando para se aprimorar era visivelmente de outro nível. Era um sinal de que ela tinha mais poder de combate do que uma sacerdotisa comum.
Isso não era bom. Tomando uma decisão repentina, os homens tentaram fugir. Eles concluíram sabiamente que sua emboscada baseada exclusivamente em sobrepujar seus alvos com números não seria o bastante.
Infelizmente, Momo já estava atrás deles.
Foi um erro escolher um beco sem saída para prender seu alvo. Ao se aproximar, Momo bateu com o punho no chão.
Um estrondo abafado ecoou pela pequena rua.
O tremor que percorreu o chão não deixou margem para duvidar do poder da pequena garota—rachaduras semelhantes a teias de aranha se espalharam a partir do ponto de impacto.
O Aprimoramento Etéreo sozinho não deveria ter sido suficiente para produzir esse nível de força sobre-humana. Os homens congelaram em choque com a demonstração de superioridade.
“Se qualquer um de vocês tentar fugir, ficarei feliz em apresentá-lo ao meu punho como fiz com aquele pedaço de lixo.”
Como uma adolescente podia ser tão impiedosa? Por que seus olhos não continham um único sinal de compaixão, uma virtude supostamente apresentada por sua igreja? E ela não acabou de causar grandes danos colaterais a uma residência, tornando-a uma espécie de criminosa? Os agressores tinham muitas perguntas, mas a maioria não se atrevia a dizê-las em voz alta.
“C-como assim, se tentarmos fugir?” Um dos pretensos agressores perguntou com cautela. “O que devemos fazer, então?”
Ficou claro que seu grupo de dez não era páreo para Momo. Contudo, ela não fez nenhum movimento para atormentar os homens. Isso tinha que significar que havia algo que ela queria.
Se eles atendessem, será que ela os deixaria ir embora? O homem que levantou a pergunta certamente esperava que sim.
“Se puderem atacar aquela idiota ali e vencer, os deixarei ir.”
Akari, que não teve a gentileza de ter nada disso explicado a ela de antemão, olhou para Momo em total incredulidade. Seu olhar parecia perguntar, Você está bem da cabeça?
“Eu te disse para aprender a usar seus poderes em combate, não disse? A princípio, pensei que isso não fosse nada mais do que uma péssima tentativa de sedução, mas estou contente de ver que não era só isso.”
“…Espera, Momo, foi por isso que você quis sair?”
“É claro. Andar por aí desprotegidas certamente acabaria por atrair alguns idiotas.”
Os homens tremeram. Seu alvo havia percebido seu plano de ataque desde o início? Era inconcebível.
No entanto, eles ainda não entenderam o que Momo queria. Eles tentaram executar um ataque surpresa, mas um de seus alvos os ordenou a ir atrás de sua companheira. Nenhuma pessoa normal conseguiria entender a lógica por trás da sugestão de Momo.
“Como os efeitos das suas conjurações são tão estranhos, não importa se você não consegue controlá-las com muita precisão. Apenas experimente algumas coisas em combate real.”
“Hmm… Mas ainda não sou muito boa em regulá-las…”
“Não faz mal. Você só precisa continuar praticando. Mesmo que gaste um pouco de Força Etérea, vai funcionar, provavelmente.”
“E-espere!”
Era um plano que obviamente valorizava o poder de fogo e a força acima da sutileza. Os homens tentaram desesperadamente impedi-la.
“O mau uso da Força Etérea sem o devido treinamento é perigoso! Especialmente se houver descarga de Força Etérea!? Esse não é o tipo de coisa que uma não-combatente deva tentar!”
Ele estava certo.
Essa era, absolutamente, a resposta mais razoável. Era uma precaução básica detalhada em qualquer manual de Aprimoramento Etéreo ou de outras técnicas. A Força Etérea era uma energia produzida pela alma. As conjurações eram técnicas precisas que usavam esse poder.
Contudo, haviam muitas exceções.
“Sério?”
“Não precisa ouvir a opinião de um criminoso.”
Momo, que se preocupava pouquíssimo com o bem-estar de Akari, deu um irresponsável sinal verde.
Os homens se prepararam. Isso era muito diferente do que eles esperavam, mas não tinham outra escolha. Sua única esperança era proteger a garota de cabelos pretos sendo enganada por essa sacerdotisa perversa e correr feito loucos.
A Faust realmente era um grupo sórdido. Cheio de indignação justa, um dos homens estendeu a mão para salvar Akari.
Quando ele agarrou seu braço, ela automaticamente recuou.
“Iih!”
Ao contrário do grito curto que saiu da sua boca, os resultados foram tudo menos pequenos e fofos.
Por apenas um momento, todo o corpo de Akari brilhou com Luz Etérea e então o homem que a agarrou detectou uma conjuração estranha que ele desconhecia. Um instante depois, ele voou pelos ares.
Todos os olhos no beco seguiram o homem enquanto ele voava em uma parábola perfeita.
Esse foi o resultado de Akari balançar o braço muito rapidamente para ser visível ao olho humano. Ela arremessou o homem com tanta força que a gravidade não pôde impedi-lo de disparar para o céu.
Então ele caiu de volta com um SPLAT terrivelmente alto.
Foi um barulho extremamente doloroso de se ouvir. Felizmente, o homem não permaneceu consciente por tempo suficiente para sofrer com o impacto. Ele caiu muito rápido para qualquer tentativa de se proteger e poderia ter facilmente batido a cabeça e morrido instantaneamente. No entanto, ele teve sorte de aterrissar de tal maneira que simplesmente desmaiou e rolou pelo chão.
“Ahh…” A garota de cabelos pretos parecia sem jeito. “S-sinto muito por isso… Acho que não contive minha [Aceleração] o suficiente…?”
Akari foi quem se desculpou por seus erros. Isso não foi exatamente útil nesta situação em particular, mas ainda era melhor pedir desculpas do que não.
“O-olha, Momo. Eu realmente não sei como moderar meus poderes. Isso é mesmo certo? Não estamos meio que… cometendo um crime aqui? Tipo, tenho a ligeira sensação de que somos as vilãs neste momento.”
“Está tudo bem. Não há necessidade de se conter. Almeja máxima potência e máximos resultados a todo momento, por favor.”
“Tem certeza…?”
“Claro que tenho. Toda autodefesa é legítima, então não importa o que você faça com criminosos.”
Claramente, Momo não tinha noção de “exagero.” A julgar pela confiança com a qual ela fez essa declaração, ficou evidente que ela genuinamente não se importava com o que acontecia com os homens.
“Entretanto, a quantidade de poder que você produz realmente é notável. Suponho que isso seja inevitável com toda a Força Etérea que você tem… mas temos as cobaias perfeitas aqui. Apenas continue experimentando o que quiser.”
Os homens estremeceram ao serem designados como cobaias.
Foram eles que inicialmente armaram uma emboscada, porém agora se viram como ratos de laboratório de um experimento cruel.
Uma suposta mulher santa que sugerisse experimentos violentos em humanos era uma vergonha para o seu grupo. Mas ninguém aqui realmente pensava em Momo como uma mulher santa mais. Os homens perceberam que ela ainda era uma sacerdotisa assistente, apesar de mais poderosa do que qualquer outra típica, porque seu estado mental reduziu drasticamente sua classificação.

“E-ei, sacerdotisa! Não sente nenhuma culpa pelo que está fazendo!?”
“Culpa, você diz…?”
Momo repetiu a acusação do homem como se fosse um conceito completamente estranho.
“Hmm? Não entendo. Por que eu deveria sentir qualquer remorso por me livrar do lixo? A culpa é um sentimento negativo de quando você faz algo errado, não é? Minhas ações são justificadas, então minha cabeça está limpa.”
Os homens ficaram sem palavras perante tal distanciamento emocional.
Eles foram treinados para manter a cabeça fria, assim como ela. Empatia apenas atrapalhava quando alguém tinha que sujar as mãos ou tomar decisões cruéis. Portanto, os agressores treinaram deliberadamente suas mentes para serem frios e desumanos quando necessário.
No entanto, a garota na frente deles era uma história totalmente diferente. Ela não hesitava em machucar alguém. Alguns raros indivíduos sentiam prazer em infligir agonia, mas isso não descrevia essa garota com precisão. Ela simplesmente usava qualquer meio violento que julgava necessário, sem nenhuma reação emocional de qualquer forma. Ela não estava suprimindo suas emoções humanas; ela era meramente tão impiedosa quanto um soldado conjurado realizando suas ordens.
Isso foi o resultado de ter sido criada sob a doutrinação da igreja? A estranheza disso tudo encheu de medo os corações dos homens.
Normalmente, uma pessoa sentia relutância em machucar o próximo. Se tornar uma máquina assassina sem sentimentos era impossível. Essa jovem deve ter nascido diferente. O ambiente em que ela foi criada era totalmente isolado.
“Pois bem, vamos ao que interessa?”
“Hrmm… Bom, se é pelo bem de Menou, acho que não tenho escolha.”
Quando uma tempestade imparável de violência caiu sobre os homens, eles foram profunda e dolorosamente lembrados do quão cruel a Faust poderia ser.
*
Quase dez outros pretensos agressores foram levados por cavaleiros.
Eles foram acusados de tentativa de agressão após uma tentativa fracassada de sedução e considerados um grupo estúpido que foi frustrado por garotas que não estavam nem perto da fase adulta.
Eles provavelmente não teriam sido presos apenas por uma proposta, mas o fato de que eles atacaram uma sacerdotisa era um crime pesado. Os cavaleiros cumpriram suas funções com um nível quase incomum de eficiência e sentenciaram os homens à punição, não querendo incorrer a ira da Faust por algo tão trivial. A disciplina foi simplesmente serem rotulados como pretensos artistas da sedução. Embora fosse mais leve do que a sentença por sequestro, foi doloroso para os guerreiros experientes serem tratados como pragas comuns.
O único agressor restante do Recrutador era um disfarçado como funcionário da pousada.
Pensando em seus companheiros sendo interrogados na estação dos cavaleiros e levando sermão por tentarem apanhar garotas jovens com a idade deles, o bandido incógnito rangeu os dentes.
Ele e seus companheiros eram vanguardas da Fourth, guerreiros que lutavam pela liberdade. Era degradante demais para eles serem descartados como idiotas que cederam à luxúria. Era melhor sofrer uma morte honrosa no campo de batalha do que encontrar o fim sendo tratado como um criminoso sexual.
“Acho que sua natureza agressiva está me influenciando ultimamente, Momo.”
“Você sempre foi uma garota perigosa com afinidade pela violência. Ou não se lembra de que tentou me atacar de surpresa primeiro?”
“Ei, eu só estava sendo gentil. Tentei fazer isso sem machucá-la por pura bondade.”
“Essa é uma definição estranha de bondade. Tem certeza de que está bem? Será que não perdeu seu bom senso junto com suas memórias?”
“Não quero ouvir isso justo de você…”
Enquanto trabalhava na pousada, os sentimentos assassinos do homem em relação as garotas despreocupadas ficavam ainda mais fortes.
Elas afundaram os nomes de seus aliados na lama, mas pareciam claramente não se importar. O assassino final decidiu fazer um ataque noturno para recuperar a honra de seus companheiros remanescentes da Fourth.
Não havia necessidade de um plano complicado de ataque. Ele era um funcionário genuíno da pousada. Anos de árduo esforço lhe renderam a confiança de seus colegas, então ele podia se mover livremente pela pousada sem levantar suspeitas.
Ele iria entrar no quarto delas enquanto dormiam e as mataria.
Era um plano simples—tanto que era certamente sólido.
Logo, a noite veio e trouxe o sono consigo. Com a chave Mestra da pousada roubada do escritório, o homem entrou silenciosamente no quarto das garotas.
As duas jovens que haviam levado seus companheiros à vergonha e ao desespero descansavam tranquilamente no quarto levemente enluarado.
A sacerdotisa dormia com a maior decência. Seu cobertor estava puxado até os ombros e ela respirava suave e regularmente. Não havia um fio de cabelo fora do lugar.
Enquanto isso, a garota de cabelos pretos era exatamente o oposto. Ela havia chutado o cobertor e se enroscado nos lençóis, agarrando-se ao seu travesseiro com um pouco de baba em seus lábios e murmurando “Heh-heh, Menou…” durante o sono.
Era uma vista desleixada, para dizer o mínimo. O obi que mantinha seu yukata fechado se soltou enquanto ela dormia, revelando uma grande quantidade de pele branca pura que brilhava levemente sob o luar. Em circunstâncias normais, teria sido lascivo o suficiente para fazer alguém suar.
Contudo, o agressor só ficou furioso ao pensar que essa tola descuidada e sua amiga haviam levado seus companheiros à ruína.
Ele estendeu a mão para a garganta da garota de cabelos pretos. Usando o Aprimoramento Etéreo, ele poderia quebrar seu pescoço e acabar com isso em questão de segundos.
Acabou para você. Agora morra.
Com uma raiva fervorosa, ele começou a fechar a mão em torno da garganta da garota adormecida.
*
Na manhã seguinte…
Akari acordou completamente ilesa e exclamou indignada.
“Aaargh! Qual é o problema dessa pousada, hein!?”
Ela estava zangada o suficiente para abrir mão de sua relutância usual em acordar por causa do homem que estava congelado como uma escultura ao lado de sua cama.
“Primeiro um ladrão de calcinhas, depois um bando de esquisitões da sedução e agora um cara se esgueira no meu quarto à noite… Quantos tarados podem viver numa única cidade, afinal!? Isso é ridículo!”
Era uma ocasião rara que Akari, normalmente uma dorminhoca, acordasse tão rapidamente. Suas bochechas estavam infladas de fúria por ter que entregar um criminoso logo cedo.
“Uma cidade turística não deveria ser perigosa assim!”
“Sim, muito chocante.”
Momo, que havia mais ou menos entendido a situação a essa altura, respondeu distraidamente com um bocejo.
Após receber mais um imprestável, os cavaleiros e demais cidadãos expressaram sua simpatia. “Minha nossa, tantas pessoas mirando um par de lindas jovens viajando sozinhas!”
“Talvez você esteja exalando um feromônio que atrai criminosos?” Momo sugeriu. “Nem mesmo eu fui atacada três vezes no mesmo dia, se bem me lembro.”
“Você não acha mesmo que isso é culpa minha, acha?”
“Bom, eu acho que você é uma encrenqueira…”
Momo sabia muito bem que os crimes eram devidos à Fourth. Ela até tinha a informação de que esta pousada era gerenciada por um empresário suspeito chamado o Recrutador.
Naquela noite, os olhos de Momo se abriram assim que o homem entrou no quarto. Ela observou com as pálpebras semi-fechadas para ver se Akari morreria pelo menos uma vez, mas justo quando a mão do homem estava prestes a tocar sua pele, a conjuração Suspensão ativou automaticamente, para o horror de Momo.
“Mal posso acreditar que você fez uma armadilha automática de conjuração.”
“Pois é. Geralmente, consigo usar meus poderes para fazer o que eu quiser, mais ou menos. Isso inclui armadilhas automáticas ou algo assim.”
Se qualquer um tocasse Akari enquanto ela estivesse dormindo, a pessoa se encontraria instantaneamente na mira da Suspensão.
Por sinal, seu alvo principal era Momo. Ela usou seu Puro Conceito para instalar defesas inconscientes para punir a outra garota só para o caso da mesma tentar algo enquanto Akari estivesse dormindo.
“É mesmo, é…?”
Momo assentiu com uma expressão cuidadosamente neutra, mas por dentro ela se deixou ficar mais cautelosa com Akari. Ela presumiu pela atitude alegre em geral da garota que ela não conseguia realizar mais do que conjurações simples em um inimigo na frente dela. Isso estava completamente errado, no entanto. Conjurações que ativavam automaticamente sob certas condições geralmente exigiam muita preparação e premeditação. Se Akari podia realizar isso sem nem tentar, ela era mais perigosa do que Momo acreditava.
“E se você, acidentalmente, saísse da cama rolando e me tocasse por causa do seus péssimos hábitos de sono, hmm?”
“…E—eu teria lidado com isso de alguma forma. Sempre posso apenas desativar a conjuração.” Akari respondeu, bem ciente dos seus hábitos de sono. Na verdade, talvez ela até esperasse que sua negligência intencional levasse a tal desenvolvimento. Ela não podia dizer isso em voz alta, é claro.
“E-então, o que vamos fazer hoje?”
“Boa pergunta. Suponho que, por enquanto…”
“Por enquanto?”
Momo deu de ombros.
“Vamos dar um mergulho matinal nas termas?”
O esconderijo da dupla em fuga estava rapidamente se transformando em férias agradáveis.